Análise: Floor Kids (Switch) retrata de forma divertida toda a versatilidade do breakdance

Estiloso e com ótima trilha sonora, esse título indie oferece mecânicas de ritmo únicas.

em 30/01/2018

Breakdance é um estilo de dança de rua caracterizado por movimentos impressionantes e muita improvisação. Como transformar essa modalidade em um jogo que consiga retratar essas características? Floor Kids realiza esse feito com mecânicas diferenciadas que nos permitem montar danças personalizadas, assim como em uma sessão de breakdance. Os comandos versáteis, aliados aos ótimos visuais e música, resultam em uma experiência distinta e contagiante.

Liberdade e estilo na dança

Jogos de ritmo, em sua maioria, costumam oferecer desafios que exigem executar ações em momentos específicos, normalmente obedecendo a alguma melodia ou padrão. Floor Kids deixa isso de lado com uma jogabilidade livre e com comandos simples: basta apertar botões no ritmo da música para executar diferentes movimentos. As músicas não exigem executar os passos em ordem específicas, sendo assim, é o próprio jogador que monta a dança.

Os dançarinos têm a disposição vários movimentos diferentes. Passos do tipo Toprock são executados de pé, já os Downrock são feitos no chão — todos eles simples de executar. Manobras Freeze, como o nome indica, “congelam” o personagem em uma pose específica. Por fim, temos os movimentos Power, que envolvem algum movimento de giro mais difícil de realizar. Existem alguns outros detalhes avançados, como combos, saltos e paradas dramáticas, que ajudam a trazer mais complexidade às sequências. Cada um dos vários personagens apresentam atributos e passos de dança diferentes, alterando sensivelmente as partidas.


Cada música dura por volta de dois minutos e nesse período você está livre para montar a melhor performance possível. Não há só dança nesse meio tempo: duas vezes por composição, aparece um trecho de ritmo tradicional em que é necessário apertar botões na hora correta. Além disso, a plateia pode pedir movimentos específicos que, caso executados, rendem pontos bônus. Como a performance é livre nas músicas, a classificação final é feita por meio de vários critérios, como ritmo, estilo, variedade e engajamento. Achei notável essa escolha, claramente baseada em confrontos reais de breakdance, porém, a avaliação é um pouco obscura, sendo difícil saber exatamente como ganhar pontos em certas categorias.

Os confrontos de breakdance são divididos em dois modos. No História acompanhamos os b-boys e b-girls em uma jornada em busca de “ginga” e reconhecimento. Cada localidade conta com três músicas e novos dançarinos são desbloqueados conforme conseguimos boas classificações. Já no Multiplayer, dois jogadores se enfrentam em batalhas locais de breakdance. Como em um confronto do mundo real, os participantes alternam momentos de dança e é possível atacar o outro por meio de movimentos especiais. É um modo perfeito para curtir com os amigos e é possível jogar somente com os Joycons.


O preço da versatilidade

Pode parecer estranho um jogo de ritmo com regras tão livres, porém Floor Kids funciona muito bem. É muito divertido e fácil montar sequências de dança elaboradas de acordo com sua intuição ou preferência. Particularmente, gostei bastante da sensação de recompensa ao conseguir encadear vários movimentos complicados: começo com um passinho simples em pé, depois congelo no chão com as pernas para o ar, emendo uma bananeira e termino a sequência com um giro acrobático rápido. É tentador usar qualquer movimento sem muita estratégia, entretanto, aos poucos, fui forçado a criar coreografias mais complexas para poder conseguir boas pontuações. Ter um sistema aberto é ótimo e libertador, mas isso traz alguns problemas. Por ter poucas características únicas fora a música, os estágios podem ser vencidos do mesmo jeito, ou seja, é possível executar os mesmos combos sempre e sair vitorioso. Senti falta de mais características para dificultar o jogo e diferenciar as batalhas entre si, por mais que não deixe de ser divertido.


Além de ser gostoso de jogar, Floor Kids é ótimo de se assistir. O motivo é o visual impressionante desenhado à mão, com traço que lembra rabiscos com movimentação fluida — a combinação desses elementos faz parecer que simples desenhos ganharam vida. Fiquei impressionado com o cuidado nas animações detalhadas dos passos de dança e com a direção de arte cuidadosa que reflete muito bem a cultura do breakdancing. Gostei, também, da diversidade visual dos dançarinos. A animação dos personagens foi feita pelo animador JonJon, que já foi um b-boy, o que justifica o cuidado com os detalhes.

Como era de se esperar, o jogo conta com uma trilha sonora contagiante repleta de batidas enérgicas. Produzida pelo DJ Kid Koala, a música tem uma pegada meio hip hop que combina perfeitamente com a temática de breakdancing. Não há tanta variedade, porém cada local da história conta com elementos musicais próprios: sons 8-bits nos confrontos no fliperama, barulhos urbanos no metrô, e assim por diante. O design de som também é ótimo, com a plateia vibrando no ritmo da música e os scratches típicos de DJs em certos momentos. O resultado é um áudio viciante e imersivo — toda vez que jogo, acabo batendo o pé ou mexendo a cabeça no ritmo da música, ao mesmo tempo em que consigo decidir facilmente que movimentos funcionam com aquela batida.


Floor Kids tem várias características notáveis, entretanto, alguns pontos me incomodaram. Alguns movimentos avançados são mal explicados, e mesmo com instruções em português no menu, eu tive dificuldade para executar corretamente — mesmo depois de inúmeras partidas, ainda não sei como fazer um “reversal”, por exemplo. O sistema de pontuação baseado em características é bem vago, o que fez com que algumas vezes eu recebesse uma classificação bem abaixo do esperado mesmo achando que tinha ido muito bem. Por fim, há pouco conteúdo: 24 faixas sem opções de dificuldade ou de alteração — gostaria de mais opções, como, por exemplo, um modo de desafios com restrições.

Uma dança que deu certo

As mecânicas liberais de dança fazem de Floor Kids um título sem igual. É muito divertido arriscar passos de breakdancing por conta da facilidade dos comandos, tornando-o bem acessível. Há ferramentas para que jogadores mais avançados consigam fazer sequências mais complexas, porém, o jogo podia ser um pouco mais claro em explicar certos conceitos. O título também conquista com sua atmosfera estilosa, com o visual distinto e com a trilha sonora contagiante. Floor Kids é um representante inusitado do gênero de ritmo e é justamente isso que o torna agradável.

Prós

  • Sistema de ritmo único permite improvisação;
  • Trilha sonora repleta de composições contagiantes;
  • Visual estiloso com personagens desenhados e animados manualmente.

Contras

  • A liberdade do sistema de ritmo faz com que as partidas sejam muito parecidas;
  • Conceitos importantes mal explicados;
  • Quantidade limitada de modos.
Floor Kids — Switch — Nota: 8.0
Revisão: Ana Krishna Peixoto
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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