A série criada por Satoshi Tajiri teve seus primeiros lançamentos em 1996, no Japão. Os dois primeiros jogos da série Pokémon, Red & Green, demoraram dois anos e meio até chegarem no ocidente e se tornarem o estouro que conhecemos até hoje, em sua sétima geração e, apesar de passar por alguns altos e baixos, é notável que a série parece longe de ter seu fim decretado.
Um dos segredos de sua longevidade é a forma como a linha principal de jogos se organiza, dividida por gerações simbolizadas pelo lançamento de uma nova dupla de jogos. A partir daí, no intuito de segurar o fôlego dessa nova fase, novos games são lançados, geralmente orbitando a dupla original, sejam remakes, seja uma nova terceira versão considerada a “definitiva”.
Dessa maneira, teremos como corpus inicial da nossa análise estatística os jogos da série principal ao longo de sete gerações, considerando as plataformas para as quais eles foram lançados, a função que eles assumem dentro da própria geração, o lançamento original no Japão, o lançamento original nos Estados Unidos, a desenvolvedora e a nota do Metacritic a partir de Ruby & Sapphire — que é quando os dados passaram a ser contabilizados pela ferramenta. Nota-se que estaremos considerando apenas o formato como os jogos foram lançados no ocidente, ou seja, deixando de lado a controvérsia a respeito das versões Green e Blue que foram lançadas somente no Japão.
Analisando num primeiro momento, de forma superficial, o que chama a atenção é a quantidade de jogos por geração. Apesar de haver variações, a média se mantém em quatro lançamentos, considerando as versões duplas de forma individual. Essa mesma média cai praticamente pela metade (2,2), se considerarmos as dobradinhas como uma única entrada em nossas estatísticas. Isso nos mostra que o formato de lançamento da série acaba por inchar os números finais a seu respeito, que vão se estender em outros critérios, como o número de vendas, por exemplo.
Ainda partindo de tal premissa, podemos analisar os jogos de maneira individual em relação às próprias funções dentro de uma geração, enumerando especificamente quais são versões originais, quais são remakes e quais são versões definitivas.
Dessa maneira, destacam-se as gerações 5, 6 e 7. A quinta por ser a única que conta com sequências diretas. A sexta por ser a única a não contar com versões definitivas e, na falta delas, a sétima acabou por lançar uma dupla delas. Isso pode revelar uma eventual tentativa da Game Freak em fugir dos padrões previsíveis que ela possa ter seguido nas gerações de 1 a 4. Ao todo, foram quatorze versões principais, seis versões definitivas, seis remakes e apenas duas sequências.
Observa-se também as plataformas para as quais os jogos foram lançados. As duas primeiras gerações foram lançadas em aparelhos diferentes (embora Gold & Silver pudessem ser jogadas no Game Boy tradicional). A terceira geração foi exclusiva para Game Boy Advance, enquanto as gerações 4 e 5 dividem o Nintendo DS. O mesmo ocorre com as gerações 6 e 7, que têm o 3DS como base. Dessa maneira, o Nintendo DS acabou sendo o que mais recebeu títulos, com nove.
Lembra-se quando foi dito que o fato dos lançamentos serem divididos em duas versões infla os números da série? Então, apesar de tal divisão servir para estimular a interação entre os jogadores por conta das diferenças entre os Pokémon disponíveis em cada uma, é notável que as vendas são contabilizadas de maneira global, como se os dois jogos fossem apenas um. No entanto, é difícil de mensurar o quão isso realmente aumenta as vendas dos jogos de fato, visto que são poucas as alterações de uma versão para outra que justificariam a compra de ambas. Ainda assim, as terceiras versões continuam a existir e ficam com o número final em vendas próximo da metade da dupla original.
A partir desses dados, podemos perceber que é de costume que terceiras versões não vendam tão bem quanto as da linha principal, certamente por serem apenas uma repetição do que já foi lançado anteriormente (ressaltando que UltraSun & UltraMoon tem registrado apenas o seu primeiro mês em vendas). É interessante observar a constância das vendas dos remakes. Apesar de não se compararem aos jogos principais, os três remakes contabilizados venderam aproximadamente o mesmo número de cópias. Até a presente data, a partir desses dados, a série Pokémon vendeu aproximadamente 221 milhões de jogos pelo mundo.
Outras visualizações desses números podem ser: a) vendas por geração e b) vendas por função. No primeiro caso, é possível afirmar que a geração que mais vendeu depois da primeira foi a quarta. No segundo caso, chega a ser interessante que, com apenas três conjuntos de jogos, os remakes passam, por pouco, o número de vendas das versões definitivas (composto por cinco jogos) — sendo que metade do valor em questão diz respeito apenas à versão Yellow.
Também é notável analisar as vendas de jogos por aparelho. Apesar do Game Boy original ser considerado uma espécie de “casa” da série Pokémon pelo fator de iconicidade das versões Red & Blue presente no imaginário popular, a franquia conseguiu se consolidar muito bem no Nintendo DS, com um pouco mais de 62 milhões de versões individuais absolutas.
Analisando uma questão de média aritmética (número absoluto de vendas dividido pela quantidade de jogos) a maior por aparelho é do Game Boy original, com aproximadamente 15,4 milhões por versão (23,1 se considerar a dobradinha R/B como um jogo só, ou seja, dividindo por dois em vez de três por encararmos Red, Blue e Yellow individualmente), seguida pelo Gameboy Color, com 9,83 milhões (14,745 nos números somados). Depois, o Game Boy Advance aparece na sequência com 7,3 milhões; o Nintendo DS, com 6,9 milhões; e o Nintendo 3DS, com 5,9 milhões. Nos números com as versões duplas aglutinadas, os números ficam mais estáveis e próximos, com o DS agora em terceiro, com uma média de 12,42 milhões de unidades vendidas, seguido pelo GBA com 12,18 milhões e, por fim, o 3DS, com 11,98 milhões.
Outro ponto interessante a se trabalhar é a quantidade de tempo que os jogos de Pokémon demoraram para chegar ao ocidente antes de contar com lançamentos mundiais a partir da sexta geração. Observa-se que o processo de localização passou a tomar cada vez menos tempo até quando provavelmente passou a ocorrer paralelamente ao seu desenvolvimento. O único ponto fora dessa curva diz respeito a Ruby & Sapphire, cuja localização provavelmente foi apressada no intuito de tentar segurar o sucesso da franquia que naquela altura já apresentava sinais de desgaste.
Por fim, levaremos em conta a Nota do Metacritic, que é um serviço que engloba as notas publicadas pela imprensa na época do lançamento dos jogos e tira uma espécie de média delas, a fim de traçar uma espécie de consenso a respeito do jogo por parte das críticas jornalísticas a respeito de cada versão. Chega a ser interessante como algumas versões duplas carregam notas diferenciadas — provavelmente porque alguns analistas alegaram especificamente qual dos jogos estavam testando. A plataforma não classifica as notas dos jogos das duas primeiras gerações.
Desse gráfico, é possível constatar que a geração com a menor média é a terceira, com 80,4, muito por conta de Pokémon Emerald que a puxa para baixo, visto que ostenta a menor das notas de todos os jogos. Em seguida vem a quinta geração, que apesar de ter duas das versões mais bem-avaliadas (Black & White com 87), as sequências também diminuíram a média aritmética, estacionando-a nos 83,5 pontos. O jogo mais bem avaliado é Pokémon Y, com 88 pontos.
É interessante notar que, por mais que sejam versões lançadas depois das originais, cheias de melhorias, as “definitivas” carregam uma média de 82 pontos, enquanto as originais contam com 85,7. Isso pode acontecer pelo simples fato de os analistas não encararem essa prática com bons olhos, visto que as duplas iniciais deveriam ser edições completas que não precisassem de revisões, além da questão do fator de deslumbre ao encontrar um mundo novo, o que não acontece nas revisitações. Os remakes, por sua vez ostentam uma média de 83,5 pontos.
Analisamos, nesse primeiro momento, diversos valores atrelados aos jogos de Pokémon da série principal. Em oportunidades futuras, pretendemos analisar alguns valores próprios dos jogos, como as estatísticas a respeito de seu conteúdo, como o número de monstrinhos presentes em cada versão. Por fim, ainda há um espaço para os spin-offs, que analisaremos em uma terceira e última etapa nas próximas semanas. É bem importante ressaltar que, além de alguns desses números não serem finais e absolutos (principalmente os que dizem respeito à sétima geração ainda em curso), esse levantamento não têm uma profundidade acadêmica para realizar afirmações definitivas, mas apenas considerá-los para que novos debates possam surgir acerca do fenômeno que é a franquia.
Revisão: João Paulo Benevides