O Professor Hershel Layton teve seu último momento de protagonismo em Azran Legacy (3DS), lançado em 2013. Na trajetória da franquia, o spin-off Layton Brothers: Mystery Room (iOS/Android) já dava indícios de que o nome Layton poderia ser associado e explorado de outras formas ao estrelar Alfendi, filho de Hershel, e a novata Lucy Baker. Layton's Mystery Journey: Katrielle and the Millionaires' Conspiracy (3DS/Mobile), mais novo jogo a levar o sobrenome do famoso professor de arqueologia, é protagonizado por mais uma dos filhos de Hershel. Katrielle (Kat) tem certas diferenças com seu pai, mas compartilha do entusiasmo em resolver mistérios e, como era de se esperar, puzzles.
‘Any mystery solved!’
Logo após terminar de inaugurar a Layton Detective Agency, o primeiro cliente que Kat recebe não foge do lado inusitado característico da franquia. Trata-se de Sherl, um cachorro falante com amnésia que busca assistência da detetive para encontrar respostas do seu passado. Em vez de ser priorizado, no entanto, outros casos aparecem e Sherl não tem outra escolha a não ser se tornar um assistente de Kat na esperança de obter pistas de sua situação ao longo do caminho — ou ao menos forçá-la a lembrar-se disso. O último (e agora humano) membro do time é Ernest, estudante universitário que faz basicamente qualquer coisa para agradar sua chefe.Juntos, Kat, Sherl e Ernest investigam uma variedade de mistérios por toda a Londres laytoniana. Nesse ponto, já há uma diferença em relação às duas trilogias focadas no Professor Layton, pois cada um dos seus jogos trazia basicamente um único mistério principal a ser desvendado dividido em vários capítulos. Entretanto essa mudança não é de todo inédita na história da franquia, pois também foi explorada anteriormente de maneira semelhante em Mystery Room.
Em minha experiência com o jogo, cada caso durou cerca de duas horas de história e resolução de puzzles. Embora sejam atendidos vários clientes distintos, o elenco do jogo não é grande; praticamente todos os casos envolvem personagens conhecidos como The Seven Dragons, sete milionários londrinos. Suas requisições levam Kat e companhia a investigar situações bem variadas, como o roubo de uma cena de filme e até mesmo a busca pelo mascote de uma madame.
Algo bastante positivo e que chama a atenção em relação aos jogos anteriores é a abertura que há de acompanhar de maneira mais próxima o raciocínio de Katrielle. A impressão que tive é que, por estar acompanhada de uma equipe de mesmo nível de maturidade (ou, às vezes, imaturidade), ela acaba sendo um tanto mais aberta quanto às suas deduções se compararmos a integração do time à relação parental de Layton e Luke.
Ao longo do jogo, até parece que Kat realmente “esbarra por acaso” na solução dos mistérios, em especial quando as peças não parecem se encaixar muito bem inicialmente. O jogo pode até trazer casos menores, mas conta com uma carga equilibrada de plot twists e resultados muitas vezes imprevisíveis, ao menos para as mentes menos criativas que a de Kat (ou seja, as de todo mundo). Para a sorte da detetive, a sorte parece estar sempre ao seu favor e sua reputação ascendente atrai cada vez mais clientes para a agência.
Novos rostos
Além de fazer o papel de construir a imagem de Kat perante os cidadãos de Londres, os casos explorados durante o jogo acabam formando uma trama principal ao se ater aos mesmos personagens e cenários. A mudança de protagonista propõe um clima mais leve e descontraído para a franquia em relação à tensão dos jogos anteriores. Por falar nisso, momentos cômicos do jogo incluem o apetite voraz de Katrielle, Ernest tendo seus sentimentos por Kat ignorados (e sendo consolado por Sherl) e o gênero de Sherl causando confusões com outros personagens.Fora os protagonistas e os dragões, Emiliana Perfetti e o inspetor Hastings também estão constantemente marcando presença. A primeira se torna rival de Kat por defender um uso de deduções mais analíticas, enquanto o segundo se mostra extremamente dependente da detetive e seus aliados para resolver os problemas nos quais se mete.
Outros NPCs também têm seus momentos de glória, dando suas contribuições para tornar o roteiro mais dinâmico e até mesmo trazendo algumas referências interessantes — é o caso da Mrs Slow, uma alfaiate. Enquanto jogava, notei que a equipe de localização do jogo teve o trabalho de inserir em todas as falas dela títulos de músicas de uma certa cantora pop. Esse é um daqueles detalhes que passam facilmente despercebidos, mas que são certamente muito apreciados quando notados e que permitem notar o carinho que foi colocado no desenvolvimento do jogo.
Quando o jogo oferece fan service que nem é referente ao jogo em si. |
Muito a se fazer
Não é exagero dizer que Katrielle and the Millionaires' Conspiracy tem muitos puzzles: ao todo são 185, envolvendo problemas puramente lógicos e outros mais interativos. A franquia passou pela mudança do designer dos puzzles com o falecimento de Akira Tago, cabeça por trás dos enigmas dos jogos anteriores. A mudança não passou despercebida; embora os quebra-cabeças num geral não fujam muito do padrão da série, estão algumas vezes menos inspirados que o normal e transmitem um ar de que a quantidade foi priorizada e a qualidade deixada um pouco de lado. Entretanto, não se engane pensando que vai ser tudo fácil. Muitos puzzles ainda exigem pensar fora da caixa — e aí vem o estresse de quando a resposta é óbvia e você não leu direito o que estava sendo pedido… O que é basicamente um resumo da minha experiência com os enigmas lógicos da franquia.Uma das novidades mais interessantes da aventura de Katrielle é que não é possível perder puzzles, pois eles permanecem nos locais em que foram encontrados para que possam ser resolvidos a qualquer momento. O jogador pode explorar qualquer caso já disponibilizado de acordo com a sua vontade, optando assim por seguir prosseguindo na história ou voltar e completar tudo o que falta. Um adicional bastante útil é que, quando um caso é concluído, cada área da cidade mostra a completude de obtenção de Hint Coins (sim, elas ainda estão presentes para dar apoio nos problemas mais complicados) e resolução de puzzles de cada área. Dessa forma, é possível verificar quando faltar examinar alguma área suspeita ou falar com algum NPC.
Minigames estão presentes no jogo para que o jogador possa se distrair um pouco com atividades distintas: montagem de menus ideais, ajuda na disposição de joias em lojas para maximizar vendas e ajuda a Sherl em seus planos de fuga. Para complementar a grande quantidade de puzzles, há ainda uma distribuição diária de novos desafios de tipos variados, incluindo uma espécie de sudoku de frutas, organização de guardas para manter toda uma cidade segura e até a montagem de espetinhos (não, você não leu errado).
Também dá para gastar algum tempo comprando roupas para Kat ou decorando a agência. |
No fim das contas, o jogo já conta com atividades suficientes para trazer mais de 30 horas de entretenimento e ainda com a promessa de mais. No tempo gasto com o jogo, a música reproduzida não deixa a desejar em relação aos demais jogos da franquia. O mesmo pode ser dito quanto aos gráficos, embora seja curioso que a versão de 3DS não faça qualquer uso do 3D. Belas cutscenes e momentos com dublagem dos personagens complementam o jogo com o bom e velho carisma laytoniano que já estava começando a fazer falta.
‘Lady Layton, English Gentlewoman of Mystery’
A trama inteligente do jogo é fechada com muitos mistérios ainda não resolvidos, abrindo brecha para o desenvolvimento de mais jogos com a filha de Hershel. Onde quer que o Professor Layton tenha se metido em suas jornadas, pode ficar tranquilo que claro que sua filha está dando conta do recado — e estou decididamente aguardando o que vem a seguir em sua jornada.Prós
- Novo elenco;
- Roteiro e diálogos bem escritos;
- Londres continua encantadora;
- Muitos puzzles, e com novos sendo lançados diariamente;
- Traz novas perspectivas para a franquia.
Contras
Layton's Mystery Journey: Katrielle and the Millionaires' Conspiracy — Nintendo 3DS/Android/iOS — Nota: 8.5
Versão usada para análise: Nintendo 3DS
Revisão: Luigi Santana