Análise: Crawl (Switch) — entre monstros, armadilhas e sangue no multiplayer local

Chame os amigos para controlar heróis e monstros nesse divertido título indie.

em 19/12/2017

Crawl é um título bem diferente. Neste jogo, controlamos um herói que precisa explorar um calabouço repleto de perigos em busca de uma saída. Existe um porém: os monstros e armadilhas são controlados por outros jogadores, sendo possível assumir o lugar do humano ao matá-lo. Lançado anteriormente para outros consoles, Crawl chega agora ao Nintendo Switch com suas frenéticas partidas multiplayer locais.

Confrontos em calabouços

Uma partida de Crawl é caótica e repleta de viradas surpreendentes. O título tem grande foco multiplayer (somente local) que mistura aspectos competitivos e cooperativos. Até quatro jogadores podem participar das partidas.

Em sua essência, ele é um dungeon crawler de ação, ou seja, um herói deve desbravar ruínas subterrâneas enquanto derrota monstros, fortalece-se e compra novos equipamentos. O título não seria nada demais somente com essas mecânicas, mas há um detalhe crucial: os outros jogadores assumem a forma de fantasmas capazes de controlar armadilhas e monstros. Para deixar as coisas ainda mais interessantes, a pessoa que desfere o golpe fatal retorna como o humano. Isso faz com que exista uma competição constante de quem consegue ser o herói, afinal somente ele pode vencer o jogo.


Aspectos de RPG alteram as partidas aos poucos. O herói sobe de nível e pode comprar armas e artefatos para alterar seus ataques e técnicas, como facas em chamas, uma lança capaz de soltar tornados ou um arco que dispara flechas mágicas. Já os monstros podem ser evoluídos ao avançar pelos andares. Algumas criaturas são simples atualizações, já outras são completamente diferentes: você começa a jornada controlando uma simples aranha e termina com um cavaleiro das trevas poderoso.

Ao alcançar o nível 10, o herói pode desafiar um chefe para tentar ganhar a partida. Os mestres são criaturas imensas que são controladas pelos fantasmas simultaneamente. A hidra, por exemplo, tem três cabeças com poderes distintos — cada ser espectral controla uma delas. Já outro é uma estátua com partes do corpo espalhadas pelo cenário, fazendo com que os fantasmas precisem se mover constantemente para poder atacar. Nesses momentos, a coordenação entre os fantasmas é essencial para derrotar o herói. Os chefes são bem criativos, uma pena que existam só três.


Tantos detalhes podem dar a impressão de que é complicado jogar Crawl, mas, na prática, é justamente o contrário. O título utiliza somente dois botões, um para ataques normais e outro para técnicas especiais. Além disso, as mecânicas são simples e intuitivas. Sendo assim, bastam alguns minutos para entender as regras e desbravar os calabouços.

A estética remete a títulos da era 8-bits e apresenta gráficos com pixel art em baixa resolução. Mesmo assim, há um nível de detalhe acima da média, com criaturas e localidades bem criativas. Os monstros são o meu elemento favorito: há mais de 60 bichos distintos, cada qual com alguma característica visual marcante. Essa estética traz uma atmosfera única ao jogo, por mais que alguns jogadores podssam não gostar da simplicidade dos gráficos.

Crawl foi lançado anteriormente para os outros consoles e só agora chegou ao Switch. A adaptação está ótima e sem problemas. Para mim, ele é um jogo cujo multiplayer funciona muito bem no modo portátil: o visual em pixel art em baixa resolução funciona muito bem à distância, ao contrário de outros jogos, como Puyo Puyo Tetris (tudo é tão pequeno que jogar com outros no modo portátil é complicado). Além disso, os controles simplificados permitem jogar somente com o Joy-Con sem sofrer demais com a ergonomia do controle. Por fim, o título inclui conquistas por meio de um sistema próprio.


Confusões no multiplayer

Não importa se você é o herói ou o fantasma, é muito divertido jogar Crawl.

Os heróis, em um primeiro momento, são mais limitados e precisam comprar equipamentos para conseguir sobreviver. Porém, pouco a pouco, é possível montar um personagem poderoso e capaz. Há grande variedade de armas e especiais, logo cada partida tem um ar único. Particularmente, a melhor característica de estar controlando o herói é a sensação de estar no centro da ação: todo mundo vai fazer o máximo para te matar e tomar seu lugar, afinal somente o humano pode vencer o jogo.

Ser um fantasma, em boa parte das vezes, é ainda mais divertido que controlar o herói. Os seres espectrais podem possuir armadilhas e obstáculos do cenário a fim de atacar o humano — com alguma coordenação é até possível matar um guerreiro assim. Além disso, os fantasmas também assumem o papel de monstros de tempos em tempos. As criaturas são bem variadas e cada uma delas apresenta características distintas: gnomos lançadores de armadilhas, um polvo capaz de cuspir uma gosma tóxica, um bruxo que conjura zumbis, esqueletos armados com flechas flamejantes e assim por diante. Parte da diversão é justamente dominar o uso dos monstros.


A combinação desses elementos faz com que Crawl seja uma experiência multiplayer única. Durante as partidas, alianças são feitas e quebradas a todo momento: os fantasmas colaboram entre si para derrotar o herói, porém há uma grande disputa para tentar matar o humano e tomar seu lugar. O resultado são amigos conspirando o tempo todo, com muito caos e confusão. Às vezes a ação fica bem bagunçada por conta da quantidade de elementos na tela, porém em nenhum momento as coisas ficam confusas.

Para mim, o maior problema do jogo é a sensação de repetição. O desenho dos andares é gerado proceduralmente, o que torna cada partida distinta, porém não há muita variação de elementos. Equipamentos, armadilhas e monstros são desbloqueados aos poucos, contudo não são suficientes para acabar com a repetição. Crawl é, também, um pouco desbalanceado: é possível passar a partida toda sem controlar o herói, jogadores fortes demais podem dominar completamente a partida e os chefes podem ser impossíveis de vencer. Isso incomoda um pouco, porém não atrapalha a experiência geral. Senti falta também da possibilidade de customizar parâmetros das partidas.

Crawl pode ser jogado sozinho, com o computador controlando os participantes restantes. É possível se divertir assim, mas falta um pouco de malícia no computador, o que pode deixar as partidas não muito interessantes. Por fim, há um modo em que controlamos os monstros para vencer desafios — é um extra interessante para jogadores solitários. De qualquer maneira, recomendo convidar os amigos para competir quem desbrava melhor os calabouços do jogo.


Para jogar com os amigos

Com a mistura de características cooperativas e competitivas, Crawl consegue ser um ótimo multiplayer local com pitadas de party game. Controlar monstros, armadilhas e heróis é muito divertido, principalmente por conta das várias situações malucas que aparecem pelo caminho. Há um pouco de desbalanceamento e uma leve sensação de repetição que atrapalham um pouco a experiência. Crawl é perfeito para reunir amigos e curtir o multiplayer por horas — só tome cuidado para não destruir as amizades.

Prós

  • Ótima mistura de gêneros em forma de multiplayer local;
  • Muitos monstros, armadilhas e armas trazem variedade às partidas;
  • Ambientação e visual únicos.

Contras

  • Leve sensação de repetição após algumas partidas;
  • Mecânicas de jogo levemente desbalanceadas.
Crawl — Switch — Nota: 9.0
Revisão: Vitor Tibério
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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