As revisões de hardware da Nintendo

A casa de Mario possui um leque enorme de variações de sistemas que ganharam ou perderam aspectos ao longo do tempo.

em 27/05/2017

Seja por motivos técnicos ou mercadológicos, a Nintendo geralmente lança no mercado versões revisadas de seus aparelhos (consoles de mesa ou portáteis) com o intuito de abranger novos públicos consumidores, reduzir o custo de produção e também atualizar possíveis falhas não detectadas em um primeiro momento. A prática, comum na indústria, além de manter em alta o interesse, é uma estratégia para prolongar o tempo de vida de cada dispositivo.


Nesse contexto, as revisões de hardware trazidas pela empresa de Kyoto rendem uma lista interessante de aparelhos relançados desde a época do NES, alguns com grandes alterações de design, enquanto outros foram frutos de acordos com empresas parceiras. Pensando nisso, separamos dez exemplos de revisões que oferecem uma viagem pela história da Nintendo e o avanço tecnológico por trás de cada visual repaginado.

10 – Game Boy Pocket/Color

O sucesso do primeiro Game Boy no final dos anos 80 mudou completamente a indústria de portáteis e trouxe um ambiente mais que favorável para a Nintendo. No entanto, em meados dos anos 90, a tecnologia do aparelho já estava datada e mudanças eram necessárias, principalmente em relação à tela monocromática de fundo verde e ao processador Z80 de 8-bits.

A revisão fez surgir no mercado, em 1996, o Game Boy Pocket, com redução de tamanho, tela LCD que permitia a visualização de mais tons de cinza, além de diminuir pela metade o consumo de energia. Nos anos seguintes, ainda tivemos o Game Boy Light no Japão, que trazia uma luz de fundo eletroluminescente na tela, semelhante à produzida pelos relógios digitais.

Redução de tamanho, menor consumo e mais tons de cinza na tela eram as novidades do Game Boy Pocket
A questão do processador só foi resolvida, contudo, com o Game Boy Color, lançado em 1998, duas vezes mais rápido que o primeiro Game Boy e com quatro vezes mais memória. O novo portátil ainda era compatível com toda a biblioteca de jogos do antecessor, o que garantiu o interesse ainda maior dos consumidores.

09 – Wii Family/Mini

Verdadeiro sucesso de vendas e divisor de águas ao aproximar o público casual do universo dos videogames, o Nintendo Wii passou por mudanças de hardware que melhoraram aspectos da jogabilidade e também retiraram funções de retrocompatibilidade. O Wii Motion Plus melhorou os sensores de movimento do Wii Remote e passou a incorporar o controle a partir do lançamento do Wii Remote Plus, em 2010. 

O Wii teve duas revisões: a versão Family e a versão Mini, que retiraram a retrocompatibilidade com controles e jogos de GC
No ano seguinte, chegou às lojas a versão Wii Family, que mantinha a estrutura de hardware do console, porém retirava o suporte aos jogos de GC, bem como a entrada para os controles do antecessor. Sua última revisão, o Wii Mini, de 2013, manteve a retirada da retrocompatibilidade, eliminou a conexão Wi-Fi, a entrada para cartão SD e diminuiu de duas para uma a porta de entrada USB. Tal mudança permitiu a aplicação de um preço de mercado mais acessível.

08 – DS Lite/DSi

Com mais de 150 milhões de unidades vendidas em todo o planeta, o Nintendo DS conquistou seu espaço entre os sistemas de videogame mais vendidos de todos os tempos, e suas revisões de hardware ajudaram bastante a concretizar esta posição no mercado. A primeira delas, o DS Lite, lançado em 2006, reduziu o tamanho do aparelho, de modo a torná-lo mais fácil de carregar no bolso, bem como eliminou custos de produção. A mudança também trouxe o aumento da tela e autonomia superior de bateria. Versões posteriores esticaram ainda mais a tela, como no caso da linha XL.

O DS Lite, com menor custo de produção, chegou às lojas com tamanho reduzido e design que foi seguido depois pelo DSi
Em 2009, outra atualização do hardware deu surgimento ao DSi, com capacidade maior de memória e processamento, tal qual o aumento da tela em relação ao DS Lite. Outra característica marcante do aparelho foi a adição de duas câmeras, uma interna e outra externa, e a possibilidade de armazenamento de até 32 GB por meio da nova entrada para cartões SD. O DSi ainda permitia acesso à loja online DSiWare, seguindo a tendência de oferecer conteúdos online, como já praticado na época pela App Store, da Apple.

Contudo, a atualização do aparelho teve um custo alto para os consumidores mais entusiastas: a perda da retrocompatibilidade com o GBA, função disponível tanto no modelo original do DS como no DS Lite. No ano seguinte, também foi lançada no mercado a linha XL do DSi.

07 – Sharp Twin Famicom

Este modelo foi a primeira revisão de hardware pela qual o Famicom (NES no ocidente) passou, ainda em 1986. Fruto de uma parceria com a Sharp, o modelo Twin Famicom, lançado apenas no Japão, carregava uma função interessante: era capaz de reproduzir os jogos tanto no formato cartucho como os títulos produzidos para o Disk System, acessório da Nintendo que deu as caras apenas no país asiático e que permitia rodar jogos em disquetes.

O irmão gêmeo pouco conhecido do Famicom possuía entradas para cartuchos e jogos do Disk System
A estrutura de leitura deste tipo de mídia, repleta de problemas de performance e alto grau de degradação do material que compunha o drive dos discos, fez com que o Disk System, e, por tabela, o Twin Famicom, saíssem rapidamente do mercado. Alguns grandes jogos, originalmente lançados no formato de disco, como The Legend of Zelda e Metroid, ganharam versões em cartucho para o resto do mundo.

06 – GBA SP

Um dos maiores pedidos daqueles que possuíam algum aparelho da linha Game Boy anteriores ao primeiro GBA certamente era pelo lançamento de um portátil que eliminasse o problema da falta de luz na tela. Ouvindo essas preces e colocando um fim aos acessórios mirabolantes que incidiam luzes artificiais (e que tornavam a jogatina no mínimo bizarra), a Nintendo lançou, em 2003, o GBA SP.

Com um design mais parecido com a linha Game Boy anterior, o GBA SP redefiniu o modo como os portáteis da Nintendo eram produzidos
Com um design todo repaginado e dobrável, o novo modelo trazia de fábrica uma tela LCD frontal com iluminação interna, além de eliminar o uso de pilhas com a adição de uma bateria recarregável (o modelo AGS-101 do GBA SP ainda trouxe uma tela mais brilhante e colorida). O conceito de design do portátil, já apresentado na década de 80 pelo Game & Watch (que também era dobrável), serviu de base para o desenvolvimento posterior da linha DS.

Porém, o lado negativo desta grande sacada da Nintendo estava na falta de uma entrada para fones de ouvido. Removida para garantir mais espaço e redução de custo, a opção só era possível através de um acessório adicional colocado na entrada do carregador. Sendo assim, não havia como recarregar o GBA SP e jogar com os fones de ouvido ao mesmo tempo. Em 2005, o Game Boy Micro chegou às lojas, com tamanho ainda mais reduzido, tela de apenas duas polegadas e compatível somente com cartuchos de GBA.

05 – SNES Jr.

Representante da era de ouro da Nintendo durante a geração 16-bits, o SNES teve um período de vida relativamente longo. Lançado em 1990 no Japão e em 1991 na América do Norte, o console recebeu sua versão revisada apenas em 1997, com a estratégia de torná-lo um videogame de entrada para jogadores em potencial, uma vez que a geração 32/64-bits já estava no mercado.

Modelos originais e revisões do SNES lançadas na América, Europa e Japão
Com várias denominações, entre elas SNES Jr., SNES 2 e SNES Baby no Brasil, o novo hardware (modelo SNS-101) sofreu uma redução de tamanho e peso consideráveis em relação ao primeiro console, sendo também retirados o botão para ejetar cartuchos e as diferentes saídas AV presentes na traseira. O SNES Jr. tinha apenas a saída Multi-Out com opção para AV composto. Um sacrifício para chegar ao preço modesto de 99 dólares na época.

04 – New 3DS

O primeiro modelo do 3DS, lançado em 2011, recebeu críticas de parte dos consumidores pelo tamanho tanto do portátil como dos botões. Com este argumento em mente, a Nintendo trouxe ao mercado no ano seguinte a versão XL do aparelho, bem como, em 2013, o 2DS, com redução de custo e redesenhado sem o formato em “concha” característico da linha. O efeito 3D estereoscópico foi retirado como forma de aproximar-se mais do público infantil ou de pessoas que se sentiam incomodadas com a visão da tela.

A maior revisão de hardware, contudo, veio com o New 3DS XL, em 2015, e seu modelo padrão lançado poucos meses depois. O novo portátil, uma versão turbinada do 3DS, incluiu mais poder de processamento e memória RAM, o retorno do efeito 3D, assim como a adição de uma segunda alavanca analógica, periférico que fazia falta em alguns jogos, como Resident Evil Revelations, Monster Hunter 3 Ultimate e outros que necessitavam de uma movimentação mais precisa da câmera. Até então, a única forma de ter uma segunda alavanca era através do Circle Pad Pro, vendido separadamente.

Eliminando o uso do Circle Pad Pro, o New 3DS vinha de fábrica com uma segunda alavanca analógica, além de maior capacidade de processamento
A retrocompatibilidade com a linha 3DS e DS também foi mantida e o portátil recebeu suporte à tecnologia NFC, a mesma utilizada no Gamepad do Wii U para o reconhecimento dos Amiibos. Com preço mais elevado, o New 3DS não possui muitos atrativos em relação a jogos exclusivos, que até o momento resumem-se a versão portada de Wii de Xenoblade Chronicles e ao lançamento de Fire Emblem Warriors, previsto para este ano. No entanto, ele melhora o desempenho de alguns jogos que exigem mais do 3DS tradicional, como Hyrule Warriors Legends, Super Smash Bros. for 3DS, Poochy & Yoshi’s Woolly World e outros. A mais recente revisão de hardware, o New 2DS, que chega às lojas em julho, mescla funções do 2DS e New 3DS a um preço mais em conta.

03 – Game & Watch

Com dez séries de aparelhos produzidas entre 1980 e 1998, o Game & Watch foi a segunda linha de eletrônicos domésticos criada pela Nintendo. Ao todo, são 59 aparelhos portáteis diferentes (e um especial distribuído por sorteio), geralmente com um ou dois jogos na memória.

Tais títulos eram uma mescla de versões portadas dos arcades (fliperamas) com sucessos criados pela Nintendo. Os modelos, com tela de cristal líquido (alguns com duas telas) possuíam um design próprio de acordo com o título disponível, e recebiam pequenas revisões de hardware.

O Game & Watch fez escola na indústria ao introduzir o direcional em cruz do lado esquerdo
O exemplo mais notável é o aparelho que vinha com Donkey Kong, de 1982, o primeiro a utilizar o direcional em cruz do lado esquerdo. A estrutura foi utilizada posteriormente no controle do NES e no Gameboy, tornando-se padrão na indústria. Já os modelos de Game & Watch com duas telas são uma clara fonte de inspiração para o desenvolvimento do DS.

02 – NES 2

Um exemplo de como o futuro pode reimaginar o passado. Lançado em 1993, dois anos após o SNES estar no mercado, o NES 2 (ou NES Jr.) é uma revisão radical do modelo produzido em 1985. Deixando de lado a aparência do NES, o novo aparelho 8-bits se aproximava mais do visual de seu sucessor, com entrada de cartuchos na parte superior e controles arredondados no estilo “osso de cachorro”.

Concebido como console de entrada para jogadores, o NES 2 teve seu conceito inspirado no SNES, que já estava nas lojas
A estratégia da Nintendo era colocar no mercado um aparelho de baixo custo e preço acessível (50 dólares), além de remover o chip de autenticação 10NES, que centralizava na empresa o poder de autorização para o desenvolvimento de jogos. O lado negativo deste modelo estava na manutenção da conexão RF com a TV, em vez de se adaptar ao padrão AV. Por sua vez, o modelo japonês (Famicom Jr.), com estética semelhante ao NES 2, trazia a saída AV de fábrica.

01 – Panasonic Q

O primeiro representante da lista é resultado de outra parceria. Como a Panasonic havia produzido os drives de disco óptico usados no GC, a empresa foi autorizada a relançar outra versão do console como parte do acordo firmado entre a Nintendo e a Matsushita (controladora da Panasonic).

O sistema que chegou às lojas em 2001, o Panasonic Q, era um verdadeiro objeto de desejo. Tratava-se de um GC com tecnologia para também rodar DVDs. O visual, curioso e ao mesmo tempo estiloso, colocava o sistema do GC dentro de uma peça de aço inoxidável, parecendo um amplificador de som. E falando em som, a máquina era capaz de reproduzir várias conexões de áudio, entre elas o Dolby 5.1 Surround com uma tomada para subwoofer autônomo.

Híbrido entre DVD e videogame, o Panasonic Q era um GC turbinado com alta qualidade de som
Tanta tecnologia, infelizmente, teve reflexo no alto preço do aparelho no mercado, o que contribuiu para suas baixas vendas e pouca penetração entre o público consumidor. O Panasonic Q foi descontinuado em 2003 e encontrar algum exemplar do console hoje em dia tornou-se raridade até mesmo entre os colecionadores de sistemas Nintendo.

E você, o que achou da lista? Acredita que o Switch possa passar por alguma revisão de hardware no futuro com base no retrospecto da Nintendo? Não deixe de comentar e expor suas especulações sobre o caminho que a empresa percorreu ao longo de suas revisões e qual o trajeto a seguir agora.

Revisão: Ana Krishna Peixoto

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