Do Super Game Boy ao Switch: unindo portáteis e consoles

A proposta do Switch de mesclar consoles de mesa à portabilidade das plataformas de bolso nasceu há muitos anos. Confira os “quase Switch” ao longo da história.

em 28/02/2017

O principal chamariz do Switch é, sem dúvida, sua portabilidade, algo até então inédito, nesse nível, em um console de mesa. Para muitas pessoas, inclusive, o Switch é mais do que um sucessor do Wii U, mas também do 3DS, unificando as linhas de portátil e console da Nintendo. Mas, seja qual for o destino das plataformas da Big N com o Switch, a possibilidade de levar no bolso a experiência de um console de mesa é o grande diferencial do aparelho. O Switch não foi, no entanto, a primeira vez que a Nintendo decidiu mesclar console e portátil. Hoje vamos relembrar as muitas (e pitorescas) tentativas de realizar esse antigo desejo.



SNES + GB = Super Game Boy

O primeiro grande periférico a exibir essa mistura de portátil e console foi o Super Game Boy, lançado em 1994. Um grande cartucho de SNES com uma entrada para fitas de Game Boy e Game Boy Color, ele possibilitava jogar títulos das telinhas na televisão usando o controle do Super Nintendo. Embora, no geral, jogos de Game Boy Color recebessem tratamento monocromático no Super Game Boy, alguns games lançados após o periférico já eram otimizados para a jogatina em cores na televisão, alguns dos quais incluíam efeitos visuais extras e multiplayer para dois jogadores.
Diferentes paletas de cores e criativas molduras melhoravam a experiência
Sobretudo, por essa falta de cores em muitos jogos, o Super Game Boy trazia opções de molduras para o display do jogo e paletas de cores alternativas para os títulos monocromáticos. Em 1998, a Nintendo lançou ainda o Super Game Boy 2, uma versão do periférico cujo principal diferencial era a possibilidade de conexão com outro Game Boy ou Super Game Boy 2 por cabo Link. Apesar de o Super Game Boy 2 ter ficado restrito ao público japonês, essa linha de acessórios permitiu que diversos jogadores experienciassem incríveis jogos de Game Boy na televisão.
À esquerda, Super Game Boy 2 e, à direita, a versão original japonesa

Wide-Boy, o primo distante

Apesar de o Super Game Boy ter popularizado a ideia de conectar o Game Boy a consoles de mesa, ele não foi exatamente o primeiro a fazê-lo. A Intelligent Systems (de Fire Emblem e Paper Mario) já havia desenvolvido uma parafernalha semelhante, porém muito menos prática: o Wide-Boy. Esse periférico existiu em versões para Famicom e N64, e sua função era a mesma do Super Game Boy.
E você reclamando dos acessórios de hoje em dia
O Wide-Boy foi feito voltado para fotografar melhor títulos de Game Boy (para revistas, por exemplo) e possibilitar a ampla exibição de partidas (como, por exemplo, em campeonatos), não tendo sido, portanto, um produto largamente vendido. A versão de N64 chegou a ser vendida por mais de mil dólares e com restrição de unidades vendidas por pessoa! Hoje em dia, ambas as versões são artigos lendários de colecionador.

Pokémon (on the) go

Houve, no entanto, outra maneira de jogar alguns games de Game Boy no Nintendo 64: o Transfer Pak, que se conectava à parte traseira de um controle de N64, deixando livre uma entrada para cartuchos de Game Boy. Embora restrito à conexão de sete jogos de Pokémon para GB e GBC ao N64 via Pokémon Stadium (N64) e Pokémon Stadium 2 (N64), o Transfer Pak também popularizou a ideia de misturar portátil e console. Seu diferencial, em relação ao Super Game Boy, era que Pokémon podia ser jogado em modos Doduo e Dodrio, que multiplicavam a velocidade do jogo. Uma verdadeira mão na roda numa época em que Running Shoes não existiam!
Mais uma vez, as molduras e colorização eram apaixonantes
A função principal do Transfer Pak, no entanto, não era jogar Game Boy no N64, mas sim transferir dados entre um cartucho de GB e um N64. Essa funcionalidade foi aproveitada por outros títulos além de Pokémon, como Perfect Dark e Mario Golf. Poder jogar Pokémon na televisão com o dobro de velocidade, entretanto, acabou sendo a imagem mais associada ao Transfer Pack.

Avançando

Na sexta geração de videogames, o Game Boy Player deu continuidade ao legado do Super Game Boy e do Transfer Pak, dando margem à jogatina não apenas de GB e GBC no GameCube, mas também de títulos de Game Boy Advance. Conectado à parte de baixo do GC, o Game Boy Player permitia jogar jogos de todas as linhas de Game Boy tanto por um controle de GC quanto por um Game Boy Advance conectado ao console. Assim como com o Super Game Boy, alguns títulos de GBA foram lançados com funcionalidades extras no Game Boy Player, como a utilização da função rumble do controle de GC.
Montando o Megazord
A partir de então, não vimos, tanto no Wii quanto no Wii U, nenhum sucessor dessa linha de periféricos. O fato de o DS e 3DS serem videogames de duas telas ajuda a explicar essa incompatibilidade, ainda que alguns jogos, como Pokémon (DS), WarioWare D.I.Y. (DS) e Final Fantasy Crystal Chronicles: Echoes of Time (DS) tenham explorado maneiras próprias de conectar portátil e console. Recentemente, a possibilidade de baixar estágios feitos em Super Mario Maker (Wii U) na versão de 3DS é também um exemplo dessa conexão.
WarioWare D.I.Y. permitira jogar, no Wii, mini-games feitos no DS

Conexão a la carte

Já que falamos nas conexões próprias estabelecidas entre console e portátil por games específicos, temos que lembrar que isso vai muito além de Pokémon, WarioWare e Final Fantasy. The Legend of Zelda: Four Swords Adventures (GC), por exemplo, conectava quatro GameBoy Advance a um GameCube para uma ímpar experiência multiplayer. A jogatina exigia uma variedade de cabos e acessórios, mas com certeza fez valer o esforço de quem foi atrás de tudo o que era necessário para fazê-la funcionar.
Lembra daquela época em que precisávamos de cabos e fios para tudo?
O serviço Virtual Console no Wii, 3DS e Wii U e o periférico e-Reader no GBA possibilitaram também que games de consoles estivessem jogáveis em portáteise vice-versa. Atualmente, assistimos ainda a uma migração de vários jogos de Wii U para 3DS quase como uma prévia do que será o Switch. Afinal, há alguns anos a Nintendo unificou suas divisões de desenvolvimento de games para consoles e portáteis.

Pra não dizer que não falei dele

Por fim, temos como outra aparente tentativa de mesclar portátil e console: o Virtual Boy. Tido como o maior fracasso da Nintendo com uma plataforma de jogos, o Virtual Boy era um videogame 32-bits que trazia um efeito estereoscópico interessante. E com “interessante” quero dizer bizarro, porque tinha como consequência a limitação da paleta de cores de todos os jogos em preto e vermelho. Após alguns pouquíssimos lançamentos e umas dezenas de cancelamentos de títulos, o Virtual Boy foi descontinuado com menos de 1,5 milhão de unidades vendidas.
O interessante do Virtual Boy para essa matéria, por sua vez, é que ele também apresentava uma relativa portabilidade. Como a tela estava embutida no aparelho e o mesmo podia ser posicionado em pé com um suporte incluso na embalagem, o Virtual Boy era “supostamente” um videogame portátil. Ainda que mais portátil do que a alça traseira do GC, o Virtual Boy pecou em sua portabilidade, o que também repercutiu em seu fracasso.

Um relacionamento enrolado

Assim como os controles de movimento do Wii e da tela estereoscópica do 3DS, a portabilidade do Switch é um namoro antigo da Nintendo. Apesar de nunca ter tido o destaque que tem tido atualmente no Switch, essa funcionalidade já pôde ser experimentada antes, sobretudo com o Game Boy. Resta saber se a integração entre as experiências de um console de mesa e de um portátil fará do Switch o sucesso que tanto almeja ser.

Revisão: Arthur Maia
Capa: Rafael Neves
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