O caso que trouxemos aqui para vocês é mais um exemplo de como fãs podem ser absurdamente produtivos com as franquias que amam. O nintendista mineiro Pedro Henrique desenvolveu as regras, confeccionou as peças e criou todo o material próprio que deu origem a um jogo de tabuleiro que traduz com maestria a experiência de jogar Mario Kart para o tabuleiro. Se liga aí, pois esta matéria especial vai te mostrar tudo que você precisa saber sobre Pedro e sua criação!
O Game Designer
Pedro Henrique Espíndola é natural da cidade de Juiz de Fora/MG, mas viveu por alguns bons anos na grande São Paulo. O rapaz de 27 anos de idade trabalhou para a Gaming do Brasil como Coordenador de Vendas da equipe de promotores e supervisores do Brasil que divulgavam os produtos Nintendo nas lojas e em eventos. Também se formou em Game Design pela Universidade Anhembi Morumbi e entre as franquias que mais ama estão, claro, Super Mario, The Legend of Zelda, Kirby, Pokémon, Donkey Kong, Kid Icarus e várias outras da Big N.Em uma entrevista para nós, o game designer confessou que a sua principal inspiração para o desenvolvimento do jogo de tabuleiro não foi um arrecadamento financeiro. Ele conhece o histórico da Nintendo com produções paralelas que visam a lucro pessoal e não queria entrar na mira da empresa. Dessa forma, optou pela diversão e homenagem à franquia acima de lucros, produzindo com seus próprios materiais todas as peças do jogo que desenvolveu sozinho.
Sua inspiração foi nada menos que o jogo Mario Party (N64). De acordo com o próprio Pedro Henrique, desde criança ele gostava bastante da franquia e se fascinou pela possibilidade de pegar um universo tão característico e levá-lo para um jogo de tabuleiro. Por isso, por volta dos seus 12 anos, desenvolveu um Mario Party de tabuleiro. Mas o jogo, de acordo com ele, era bem simplório e feito por uma criança que tinha alguns papéis, lápis de cor e a imaginação como principais ferramentas.
Assim, o projeto original não chamou tanta atenção por conta da idade do rapaz e da falta de contato com pessoas que fossem inteiradas do universo Nintendo e também gostassem de boardgames. Os anos passaram, mas a paixão não. Como Mario Kart sempre foi a franquia de corrida favorita do game designer, ele resolveu então ressuscitar o sonho de criança através de uma marca um pouco mais conhecida da Big N.
As regras foram adaptadas com o intuito de traduzir para a experiência “analógica” toda a diversão e competitividade que as corridas do encanador e a sua turma nos dão nos videogames desde o SNES. Tive a oportunidade de testar o jogo algumas vezes e posso dizer com felicidade que Pedro Henrique conseguiu! A experiência de jogar Mario Kart em tabuleiro é única, mas traduz toda a emoção da corrida para a mesa com amigos, além de acrescentar um quê a mais de estratégia à jogatina.
Regras bem projetadas
As regras do jogo são simples, mas ao mesmo tempo completas. Assim como nas versões mais novas de Mario Kart, os personagens possuem pesos diferenciados, tendo carrinhos que variam entre Leve, Médio e Pesado. Cada uma das categorias possui suas vantagens e desvantagens comparadas às outras: carros leves andam quatro casas, podem mudar de pista uma vez e carregam apenas um item; carros médios andam três casas, mudam de pista duas vezes e carregam também apenas um item; já os pesados andam três casas, mudam de pista uma vez, mas podem carregar dois itens ao mesmo tempo.
Além das regras básicas de movimentação e carregamento de itens, também existem efeitos na pista que ajudam ou atrapalham os jogadores. Trampolins fazem o jogador ignorar tudo que está a sua frente até que sua movimentação cesse (a ideia é que o kart está usando a asa delta para voar por cima de tudo); já as setas de velocidade acrescentam mais duas casas de movimentação em linha reta para o jogador que passar por ela. Os cubos mágicos permitem o jogador pegar um item na pilha e, para atrapalhar, temos as poças de lama, que fazem os corredores que sejam sujos por ela perderem uma casa de movimentação, e os buracos, que fazem a movimentação do jogador acabar ali.
Tudo isso é somado também a cartas de habilidades criadas pelo desenvolvedor do jogo com o intuito de aumentar a dinamicidade das partidas. Cada categoria de carros possui determinadas habilidades que podem ser sorteadas entre os jogadores, permitindo a um jogador frear uma vez durante seu turno, usar dois itens ao mesmo tempo, controlar todas as bananas que estão na pista ou até roubar itens de outros jogadores caso colidam com eles.
Existem também as oportunidades para colidir com veículos mais leves que o seu empurrando-os para a frente ou então tirando-os da pista, fazendo com que fiquem uma rodada sem jogar. Além disso, existe uma imensa quantidade de itens que adaptam os efeitos do jogo original como Spiny Shell, Lightining, Green Shell, Tanuki, Golden Mushroom e tantos outros velhos conhecidos. Mas também o desenvolvedor teve a criatividade de adaptar outros itens da franquia Mario Bros. que nunca tinham sido utilizados no jogo de Kart, como as cerejas que estrearam em Super Mario 3D World (Wii U) e os Chain Chomps, inimigos clássicos da franquia. Como de costume, vence aquele que completar três voltas primeiro na pista.
Um capricho de primeira
O fã e idealizador do jogo foi também o seu construtor manual direto. Com habilidades ligadas à prática de Cosmaker pessoal, o jovem criou em computador e depois passou para o formato físico todas as peças do jogo, das pistas às miniaturas, passando por fichas de itens e moedas de efeitos especiais. Tudo no jogo tem um capricho notável e agrada muito ao olhar. Miniaturas como a do Kart de Luigi, que possuem em sua traseira um aspirador de pó, ou então a de Mario, que possui a arma de água do seu jogo de GameCube (F.L.U.D.D.), demonstram como o desenvolvedor do jogo é atento a detalhes e também às homenagens a todas as franquias da Big N.
Ao todo o jogo soma 40 peças de pista, sendo 20 curvas, 19 retas e uma linha de chegada, tendo sido pensado para um número entre dois e seis jogadores por partida. Ao todo, são 22 personagens distintos, sendo dez leves, seis médios e seis pesados. Cada personagem possui uma miniatura estilizada feita em biscuit e um cartão de descrição com espaço para colocar fichas. Tudo produzido por ele.
Na categoria de personagens leves estão Toad, Toadette, Koopa Troopa, Paratroopa, Diddy Kong, Bowser Jr., Boo, Shy Guy, Dry Bones e Lakitu. Entre os personagens médios estão Mario, Luigi, Peach, Daisy, Yoshi e Birdo. Por fim, na categoria de pesados estão Bowser, Donkey Kong, Wario, Waluigi, Rosalina e Wiggler. São personagens o suficiente para old schools e jogadores mais novos não botarem defeito!
Todo esse capricho e motivação, de acordo com Pedro Henrique, vieram das amizades que fez com o passar dos anos, as quais fizeram com que ele voltasse a ter interesse pelo projeto. Muitos desses amigos ajudaram inclusive a testar o jogo ao longo do seu desenvolvimento. Segundo o criador do game, o objetivo inicial era apenas se divertir com os amigos, mas com o tempo ele foi notando o real potencial do jogo. Sua principal admiração pelo projeto é a capacidade que ele possui de levar a experiência de jogar Mario Kart para pessoas que não possuem uma coordenação motora boa o suficiente para jogá-los nos videogames.
Ao infinito e além
A ideia de que jogos de tabuleiro podem ser jogados por qualquer um, independente da sua coordenação motora, agradou bastante ao desenvolvedor do jogo, que possui vários planos para além do seu projeto inicial, concluído recentemente. O nintendista de carteirinha, que pode ser encontrado pelo Facebook, está também criando agora um canal no YouTube para divulgar todos os jogos que criará, começando, é claro, com Mario Kart. Sobre o pai de todas as suas ideias, ele promete disponibilizar online os moldes para que as pessoas possam imprimir em suas casas e jogar à vontade. Confeccionando e personalizando suas peças.
Pedro ainda me contou em nossa conversa que pretende trabalhar com isso de maneira mais séria e levar diversão para todos que conseguir, seja no Brasil ou até no mundo todo. Sobre seus futuros projetos, o game designer já garantiu que está trabalhando em um Animal Crossing de tabuleiro e também que pretende voltar às origens e criar um Mario Party de tabuleiro.
E vocês, leitores? Gostaram da ideia de transformar franquias de videogame em jogos de tabuleiro que fujam do padrão “Monopoly/Banco Imobiliário”? Pretendem adquirir os moldes para confeccionar o jogo em suas casas? Compartilhem com a gente o que acharam da ideia!
Revisão: Vitor Tibério