Análise: Chase: Cold Case Investigations (3DS) é curto e cativa

Nova empreitada do diretor de Hotel Dusk traz alguns traços de seus trabalhos anteriores em curta visual novel.

em 29/10/2016

Taisuke Kanazaki pode não ser um nome imediatamente reconhecível, mas seu trabalho vinculado ao finado estúdio Cing é notório. É ele o responsável pela direção de games como Trace Memory e dos excepcionais Hotel Dusk: Room 215 e Last Window: The Secret of Cape West, títulos que conquistaram mídia e público com sua estética noir e bom uso dos recursos do Nintendo DS.


Algumas das características mais marcantes desses jogos podem ser percebidas na última obra de Kanazaki, Chase: Cold Case Investigations - Distant Memories. Lançado em maio no Japão, o jogo chegou há pouco, em meados de outubro, aos 3DS ocidentais.

Rupturas e reminiscências

Em sua concepção, Chase se distancia significativamente das obras antecedentes do catálogo de Kanazaki. Embora tenha sido tratado como um sucessor espiritual de Hotel Dusk e Last Window, é um título mais conservador quando o comparamos com estes games. Enquanto seus precursores trouxeram frescor ao adventure com seus quebra-cabeças elaborados, Chase se acomoda confortavelmente no campo da visual novel, dando primazia ao desvelar de seus mistérios por meio de uma narrativa linear e com pouca intromissão do jogador.



Por outro lado, Kanazaki e sua equipe, composta por outros ex-funcionários da Cing, conseguem imprimir uma marca inerente a seu estilo. O fascínio pelas histórias de detetive continua presente, assim como o belo traço que compõe suas personagens. É impossível não notar a semelhança física entre o protagonista Shounosuke Nanase e Kyle Hyde, o anti-herói de Hotel Dusk.

A maior ruptura de Chase em relação a seu passado, no entanto, deve-se a sua estrutura. Demonstro isso mais adiante.

Seguindo as pistas

O game acompanha a história de Nanase e sua colega Koto Amekura, dois detetives da divisão de arquivo morto da polícia metropolitana de Tóquio. Ele, um veterano acomodado. Ela, desconfortavelmente encalhada em um departamento comumente assolado pelo marasmo. O conflito que reacende suas vidas surge graças a uma dica anônima pelo telefone, alertando-lhes sobre a conclusão errônea de uma investigação: um acidente em um hospital foi, de fato, um homicídio disfarçado.

Com a reabertura do caso, o game não tarda a mostrar suas raízes. Nanase, com sua impassível e quieta racionalidade, remete aos detetives durões dos filmes policiais dos anos 1940, como aquele vivido por Humphrey Bogart em O Falcão Maltês. Amekura, por sua vez, faz um contraponto a essa figura com a avidez e inocência típicos de sua juventude.

Ao fator psicológico de suas personagens soma-se uma arte que recorre a uma paleta fria, cujos tons de azul e cinza apelam a certa melancolia. O cool jazz da trilha musical, com seu arranjo que imita a formação do Modern Jazz Quartet, invade os ouvidos.

Chase, assim, opta por uma ambientação perigosa, andando cautelosamente sobre a linha que divide a referência estilística da paródia. Felizmente, o título pende mais para o primeiro caso. 

Isso se deve, primeiro, ao esmero visual, herança da Cing. O marcante traço desenhado se alia a belos jogos de luz e sombra e cria planos interessantes, eventualmente utilizando as duas telas para compor sua mise-en-scène. Ao olhar atento, um desbunde.



Em segundo lugar, ao desenrolar de seu enredo, que, mesmo contendo alguns diálogos que atestam certas obviedades, mostra-se efetivo dentro da proposta. As reprimendas sarcásticas de Nanase à novata e as réplicas de Amekura ao cansado detetive criam uma dinâmica divertida e que contrabalanceia o aspecto naturalmente sombrio do game. Maior aprofundamento na personalidade destas figuras conferiria uma complexidade bem-vinda a elas, afastando-lhes do estereótipo policial. Creio que isso, no entanto, tenha sido uma impossibilidade, devido a fatores que exponho a seguir.

Desvendando os mistérios

Como se espera de uma visual novel tradicional, em Chase, o jogador passará a maior parte do tempo lendo texto. Os momentos em que a interação com o espaço digital se acentua se encontram em pequenos puzzles e perguntas sobre elementos cruciais da história.

Acerca dos quebra-cabeças, estes exigem que o usuário analise as fotos da cena do crime para apontar fatores destoantes. Não espere um nível mais refinado de enigmas neste game como o encontrado em Hotel Dusk.

De fato, tanto os puzzles quanto as indagações que o título faz ao jogador não têm, em essência, a função estrita de entreter, mas também de retomar a atenção do usuário. Se por um lado um breve exercício de memória ou lógica pode parecer banal, por outro, este pode ser útil para que a passividade da leitura seja quebrada e o uso da mídia interativa seja justificado. No fim, é um artifício de duas facetas com suas vantagens e inconveniências.



Essa atenção da qual falamos, aliás, é fundamental a uma história como a de Chase, que se torna gradualmente mais complexa em suas últimas porções. Aos poucos, a trama se torna uma pequena peça de uma grande maquinação. Quando essa ideia atinge seu clímax, um fim súbito. Outra grande diferença em relação a seus antecessores espirituais: duração. Se Hotel Dusk e Last Window tomavam, em média, 15 horas para serem completados, Chase pode ser apreciado integralmente em uma ou duas.

A opção por essa fórmula é, no mínimo, curiosa. Ao terminar em um cliffhanger, quando uma questão vital da história é deixada em aberto, o game sugere que se desenvolverá em um formato episódico e que Distant Memories, subtítulo do jogo, seria o nome de seu prólogo. Pergunto-me se não havia uma opção melhor para sua organização: desde seu lançamento japonês, em maio, não houve notícia alguma do desenvolvimento de uma sequência. Nesses casos, a difusão de cada capítulo deveria se dar, quando muito, a cada dois meses — para evitar que o jogador se esqueça de detalhes importantes e se desinteresse pela série.

Se Chase é um piloto malfadado, não posso dizer. Seria uma pena, no entanto, se fôssemos privados da história integral de Nanase e Amekura, que, mesmo com seus defeitos, foi-me suficientemente cativante para aguardar seu desenrolar.

Prós

  • Esmero visual notável;
  • História envolvente.

Contras

  • Forma curta não favorece a história;
  • Quebra-cabeças e perguntas podem ser um pouco maçantes ao jogador.
Chase: Cold Case Investigations - Distant Memories — 3DS — Nota 7.0
Revisão: Bruno Alves 

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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