A Nintendo não liga para Metroid nos tempos atuais. Talvez você pense nessa frase como um exagero, mas eu continuarei usando-a. Federation Force, embora um jogo ótimo, parece mais querer estar se vendendo por estar dentro do universo do que ser mesmo parte da série. Mas, de alguma forma, mesmo com todo o descaso da Nintendo para a franquia, a série ainda consegue estar suficientemente inserida no imaginário popular, não só pela qualidade de seus jogos, mas também pelo esforço dos fãs.
A internet ajudou a aproximar muitas pessoas que, em outras oportunidades, jamais se conheceriam. Grandes centros para pessoas que gostavam das mesmas coisas foram se formando e com Metroid não foi diferente. Para finalizar nosso especial sobre os 30 anos da série, iremos falar um pouco de seus fãs e o que eles têm feito pela série. Para embasar o texto, contei com a ajuda do Renan Greca, redator aqui no Blast que, desde 2007, é um membro muito ativo das comunidades de Metroid na internet.
O espaço que alimenta imaginação
A narrativa dos jogos e seus estilos iam pouco a pouco nutrindo o imaginário dos jogadores. Normalmente, tirando os RPGs da vida, os jogos deixavam muito para ser preenchido pela experiência única de cada um. Metroid, com sua solidão exploratória, conseguia passar isso muito facilmente.Foi assim que os fãs começaram a se apaixonar. Comparando com The Legend of Zelda, um universo de fantasia clássico, Metroid tinha bem mais espaço para situações imaginárias e, com isso, continuar se perpetuando além do jogo. Muitos fãs enxergaram isso, e assim começaram a escrever sobre o universo, compartilhar teorias, e, com o advento da internet, começaram a se reunir. Nos anos 1990, Samus sumiu depois de sua obra-prima, Super Metroid. Mas seus fãs, em um embrião de internet, reuniam-se e conversavam, mantendo-a muito mais viva do que a Nintendo da época imaginava que ela estivesse.
As alterações dos fãs
Conforme o tempo foi passando, os fãs começavam a ficar inquietos sobre a falta de lançamentos. Ao mesmo tempo, pouco a pouco a cultura de ROM hacks foi aparecendo na internet. ROM hacks são alterações de jogos famosos feitas por fãs, mudando desde inimigos até adicionando novas áreas para o game.Olha o Link em um Metroid (NES) completamente alterado |
O Metroid original e Super Metroid se tornaram grandes fenômenos desse movimento, ganhando desde alterações de personagem jogável (Link em Metroid de NES) até novos ambientes inteiros — como é o caso de Super Metroid Redesign. Em grandes comunidades de Metroid estas alterações começaram a ser comentadas, unindo os fãs cada vez mais para manter a série viva. Mais do que muitos outros jogos, a popularidade de Metroid em suas comunidades também esteve atrelada com as produções dos fãs.
O boom dos millenials e seus Game Boy Advance
Enquanto isso, por volta de 2002, muitas crianças começavam a receber de presente um console que, com toda certeza, marcou boa parte dos leitores do site: o Game Boy Advance. Lembrado pela experiência que se assemelhava a um SNES portátil, o console foi a casa de um título impressionante da franquia Metroid logo no seu lançamento: Metroid Fusion. Como já discutimos o suficiente sobre o jogo aqui no site, só iremos reiterar mais uma vez que ele era uma enorme expansão para o universo da franquia e, com isso, abriu mais portas para a imaginação dos jogadores.A lendária Metroid Database |
Muitos ganharam seus GBAs com Fusion. Um dos jogos mais vendidos do console, ele foi responsável por, pouco a pouco, ir aumentando a fan base de Metroid. Dois anos depois, Zero Mission sairia, e foi a partir dele que o Renan entrou na comunidade, mesmo que um bom tempinho depois do lançamento do jogo
“O ano era 2007. No auge dos meus 13 anos de idade, eu estava descobrindo um monte de coisas que eu podia jogar pela história dos games. Um belo dia, desenterrei uma Nintendo World que minha avó havia me dado em 2004, e lá tinha a análise de Metroid: Zero Mission, um belo 9.5. Arranjei uma cópia e comecei a me interessar bastante pelo jogo, então comecei a pesquisar na web por dicas, mapas, truques e tudo o mais. Encontrei algumas coisas em um site chamado Metroid Database. Curiosamente, o site tinha recentemente feito uma reforma completa no seu sistema de fórum, então estava encorajando os usuários a se cadastrarem. Então, no dia 23 de maio de 2007, Darth Naner criou uma conta no fórum do Metroid Database”.
Renan foi só um dos muitos que passaram por este processo. Eu mesmo, embora não tendo entrado diretamente na comunidade, por volta de 2006 estava procurando informações sobre Metroid Zero Mission e lendo o site chamado Metroid Database. Claro, o tradutor do Google me ajudava muito, mas mesmo assim a Database foi uma das minhas primeiras experiências com os chamados “fóruns” na internet.
Fãs que se importam mais que os criadores
No meio disso tudo, é notável algo: os fãs, com o passar do tempo, importam-se mais com a franquia do que a Nintendo. Eu abri o texto falando algo parecido, mas é interessante perceber que a série só não está morta porque fãs continuam lançando álbuns musicais cheio de remix, jogos inspirados na franquia saem e gritam aos quatro ventos que “Metroid é nossa principal inspiração”. Perguntei para o Renan sobre isso e ele respondeu:“Acho que o mais importante é o conteúdo produzido por fãs, que vai desde jogos novos até álbuns musicais”.
Enquanto a Nintendo parou de produzir coisas sobre a série, deixando somente migalhas de algo que poderia ser muito maior, os fãs chegam até mesmo a lançar jogos novos inspirados na franquia, como foi o caso de AMR2. Claro que existe toda uma noção de direitos autorais, que impossibilita a livre circulação desses jogos, mas mesmo assim é algo interessante de se ver.
Imagem do fantástico AMR2. |
E, mostrando como os fãs se importam com a franquia, o Blast produziu mais de 15 textos sobre a série para comemorar o aniversário da maior caçadora de recompensas dos videogames. Infelizmente, não é algo muito grande — acreditem, ela merece bem mais — mas todos os envolvidos no especial #Metroid30 deram o seu melhor. Agradecemos muito quem nos acompanhou durante a jornada e esperamos que vocês tenham gostado.
Revisão: Vitor Tibério
Créditos da imagem de capa: jdillo