A lenda merece ser recontada
Twilight Princess definitivamente foi um marco para a série Zelda. Além de uma ambientação mais madura, característica observada desde o começo por um Link adulto, o jogo também trouxe a maior Hyrule até então, com uma quantidade considerável (para a época) de elementos para preencher tanto espaço.
Na história, Link vive uma pacata vida em sua vila quando alguns monstros aparecem na floresta vizinha e colocam as crianças da vila em perigo. Após o herói salvá-las, outros monstros aparecem e submetem toda a terra de Hyrule ao mundo do Twilight (ou Crepúsculo, se você preferir), uma dimensão paralela em que tudo é escuridão. Transformado em lobo, Link deve encontrar uma maneira de acabar com o mundo do Twilight, ao mesmo tempo que tenta voltar à sua forma humana. Claro que algumas reviravoltas acontecem, e no final sabemos que há um grande vilão por trás de tudo — apesar de ser um jogo de dez anos, melhor não entregar o restante do roteiro, por mais óbvio que possa parecer. Mesmo não havendo grandes novidades para a franquia, o desenrolar da história faz o jogador querer acompanhar os próximos acontecimentos, que vão sempre apresentando personagens bem carismáticos e interessantes. E, claro, há muito, mas muito conteúdo além da história principal para explorar.
O ponto alto de TP, contudo, são indubitavelmente os diversos puzzles presentes, seja pelos itens, que são bem utilizados, ou pelas dungeons, que figuram entre as melhores de toda a série — desculpem-me os amantes de Ocarina of Time (N64), mas a Goron Mines de Twilight Princess é bem melhor que a Death Mountain.
Goron Mines em HD fica soberba. |
Detalhes que fazem a diferença
Muito foi questionado sobre se a versão em HD de Twilight Princess seria tão diferente das versões anteriores, especialmente a do Wii, e o maior responsável pela inquietação dos consumidores foi o trailer de anúncio no Nintendo Direct de novembro do ano passado.
O mundo de TP é inquestionavelmente belo, pelo menos quando jogamos no mundo da luz. Campos verdes, paisagens brilhosas, efeitos de iluminação de alta qualidade e arte impecável fazem parte da paisagem do game, que se destaca em relação a seus anteriores.
A arte de Twilight Princess se destaca positivamente em relação a seus antecessores. |
Por outro lado, há um imenso contraste quando o Crepúsculo toma conta dos ambientes. Por se tratar de escuridão — e TP já é um jogo naturalmente escuro —, todo o brilho que dava vida ao local se vai, deixando pouco para ser visto e admirado. Pode ser uma decisão de design interessante, porém muito tempo do game é gasto explorando os ambientes da nova dimensão.
Assim, quando comparamos as diferenças trazidas pela remasterização aos ambientes do Crepúsculo, só podemos destacar a boa definição dos personagens, além de detalhes no solo e nas paredes, mas nada que realmente impressione (mostrar isto foi o pecado do trailer de anúncio). É neste momento que se torna mais evidente o alto nível de serrilhado que as versões anteriores traziam, especialmente a de GameCube — tanto que, para disfarçar as imperfeições, as anteriores borravam a tela. Agora, o mundo da escuridão está tão nítido quanto deveria ser, sem que borrões tomem conta da visão.
Por sua vez, é o mundo da luz que traz todo o charme da alta definição, com destaque para os efeitos da água refletindo o sol durante todo o período diurno. A grama, as flores, árvores, itens e inimigos, ou seja, o cenário como um todo está lindo, tudo apresentado por uma imagem limpa e com cores vivas. Para melhorar, o draw distance (a distância máxima que enxergamos no game) foi ampliado, permitindo que, com todas as outras melhorias, os ambientes sejam bem agradáveis aos olhos. Ainda, novas texturas foram adicionadas, e agora as rochas e o solo deixam de ser simples blocos marrons (barro) ou cinzas (pedra), parecendo realmente com os materiais que representam.
Dois mundos, uma beleza. |
Houve também espaço para melhorias gerais e inclusão de alguns elementos. A Tentalus Media, que cooperou com a Nintendo no trabalho, resolveu facilitar o controle de nado e de Epona, além de permitir que os baús com Rupees continuem abertos quando o jogador já estiver com sua carteira cheia, mesmo que isso signifique perder algum dinheiro — que no fim não fará falta de qualquer jeito. A vantagem é que baús abertos não aparecem no mapa, então o jogador não precisará voltar lá para conferir o que deixou passar. Outra melhoria muito bem-vinda foi não fazer o jogador rever a mesma animação toda vez que voltar ao jogo e pegar um Rupee.
Felizmente você não verá esta tela muitas vezes. |
Algumas coisas também foram adicionadas. Para facilitar a jogatina, o pessoal da Tantalus adicionou o item Ghost Lantern, que facilita bastante na busca das Poe Souls. O item é como um candeeiro comum, só que nele há um fogo azul que acende quando há um fantasma por perto. A missão, apesar de ser opcional, é fonte de muitos Rupees, o que faz da Ghost Lantern um item de grande utilidade.
Para quem gosta de uma interação social, foram espalhados por Hyrule alguns baús com carimbos de figuras para postar no Miiverse, como feito em alguns jogos desde Super Mario 3D World (Wii U). A adição não passa de algo interessante, mas dificilmente você terá vontade de usar algum desses carimbos para postar — tanto que no Miiverse não é muito comum ver seu uso.
Para acompanhar tudo, Twilight Princess HD segue o modelo dos últimos lançamentos da franquia e oferece um Modo Normal e um Modo Herói, mais difícil. Interessante que, como o Hero Mode é espelhado em relação ao Normal, o jogador tem à disposição a versão em alta definição do GameCube e, mais desafiadora, do Nintendo Wii.
Brincando com amiibo
Como não poderiam faltar, os amiibo também fazem parte da festa em TP HD. Com exceção de um, os compatíveis não adicionam nada relevante ao jogo, apenas servindo como mera perfumaria. Para os que têm os amiibo de Link ou Toon Link é possível encher o estoque de flechas após pegar o arco. Zelda e Sheik garantem preenchimento de toda a vida do personagem principal. É bacana poder preencher flechas e corações sem ter que percorrer grandes caminhos à procura de lojas.
A figura de Ganondorf, por sua vez, deixa o jogo mais difícil, fazendo o jogador levar dano dobrado quando usada. O legal é que, se você quiser uma jogatina realmente desafiadora, pode usar o amiibo do vilão quando jogando no Hero Mode. Assim, o dano causado pelos inimigos chegará a quadriplicar (o dobro pelo Modo Herói e o dobro pelo Ganondorf). Haja sangue frio para zerar o jogo assim, já que TP não é dos Zeldas mais fáceis.
Junto com a remasterização, foi lançada uma nova figura de amiibo, Wolf Link. Ao usá-la, é garantido o acesso à Cave of Shadows, uma caverna nova e semelhante à Cave of Ordeals, só que deve ser passada com Link em sua forma lupina. Em poucas palavras, nas duas cavernas o jogador precisa descer por vários andares à medida que vai derrotando os inimigos de cada um, em uma dificuldade crescente, para no fim ganhar um item.
A ideia de uma nova área, mesmo que seja simples, é interessante, ainda mais levando em conta que o item adquirido ao final (uma carteira com capacidade para 9.999 Rupees) poderá ser levado ao Zelda U pelo amiibo. Apesar da cara de DLC físico, é bom que não seja nada obrigatório para aproveitar o game.
O jeito Nintendo de fazer DLC. |
Ainda podia ser melhor
Apesar de tantas qualidades, Twilight Princess HD escorrega em alguns pontos, talvez por não ter sido desenvolvido pela Nintendo, talvez (e mais provavelmente) pelo desenvolvimento do jogo ter sido apressado para alcançar uma boa janela de lançamento.
Apesar de ser um jogo bonito, quem espera uma revolução visual pode se frustrar. O tratamento dado foi apenas em diminuir (consideravelmente) a quantidade de serrilhado, mudar as texturas dos ambientes, aumentar o draw distance, o brilho, etc., ou seja, não passa de uma simples remasterização. Nenhum efeito gráfico foi adicionado ao game, algo que seria muito bem recebido se tivesse acontecido. Para citar como exemplo, GTA IV fazia explosões muito bonitas em 2008, mas as de TP HD ainda levam a marca de uma obra de 2006, só que em alta definição. Ainda, considerando a tendência da atual geração, não dá para achar que esta seria uma boa oportunidade para acrescentar alguns efeitos de partículas.
O controle sobre Epona, apesar de ter melhorado, ainda não é satisfatório. Qualquer toque mínimo no analógico faz a égua desviar muito do seu rumo, e, se ela passar perto de algum obstáculo, espere para vê-la parando e em seguida uma animação dela empinando e mudando de direção. Em momentos de muita ação (que são frequentes no game), esta demora é suficiente para irritar o jogador.
A Cave of Shadows, grande atrativo por ser conteúdo inédito, também tem suas falhas. Tentando simular a Cave of Ordeals, a nova área peca por exigir do jogador a forma lupina de Link. Sendo o objetivo apenas derrotar inimigos pelos (quase infindáveis) andares, a forma de lobo não é capaz de entreter, já que dispõe de mecânicas de ataque simples demais para a tarefa.
Por fim, o GamePad — mais uma vez — é subutilizado, sendo seu maior atrativo a jogatina Off-TV Play. A tela do controle apresenta uma aba com os itens, que o jogador deve arrastar para associar a um botão, e uma aba com o mapa. Nesta, é bem estranho navegar por Hyrule e ouvir sons saindo apenas da televisão. Há ainda uma tela no jogo que mostra os status do personagem, como roupas, escudos, espadas e colecionáveis — conhecida como Gear pelos veteranos na série. É um mistério por que a tela não é outra aba do controle, ou por que seus ícones são pequenos a ponto de desestimular o uso do touchscreen, bem diferente do que acontecia em The Wind Waker HD.
Pelo menos a tela do controle apresenta uma arte bonita. |
Os sensores de movimentos (usados para controlar a mira) do GamePad não funcionam bem, sendo bem difícil virar horizontalmente quando o controle está apontado para cima. No fim, excetuando o mapa aparecer na segunda tela (deixando a da TV mais limpa) ou o recurso Off-TV Play, o Pro Controller dá conta do recado muito bem — e sem a necessidade de ligar o acessório na tomada de tempos em tempos.
Vale a pena ver de novo
Mesmo escorregando em alguns poucos pontos, The Legend of Zelda: Twilight Princess HD é uma obra-prima que merece ser apreciada em cada mínimo pixel, tal qual foram os lançamentos do originais. Para os que nunca tiveram oportunidade de jogá-lo, este título não decepciona, mesmo que pareça datado. Para os que já conheceram esta lenda, os atrativos não são tantos quanto antes, mas ainda assim o título entretém por dezenas de horas. Aguardemos por uma próxima versão de Skyward Sword (Wii).
Prós
- A vastidão de Hyrule vale ser vista em alta definição;
- O jogo apresenta uma arte que merece ser vista e revista;
- Correção de alguns erros do Twilight Princess original;
- A história prende desde o início;
- O uso dos amiibo é legal, mas sem ser obrigatório.
Contras
- O visual quando no Twilight continua sem oferecer grandes atrativos;
- A Nintendo e a Tantalus perderam a oportunidade de adicionar efeitos gráficos;
- Cave of Shadows é repetitiva e oferece pouco entretenimento;
- GamePad podia ser melhor aproveitado.
The Legend of Zelda: Twilight Princess HD — Wii U — Nota: 8.5
Para a realização desta matéria, contamos com o apoio da Big Boy Games, parceira do Nintendo Blast. The Legend of Zelda: Twilight Princess está à venda: garanta já o seu!
Revisão: Robson Júnior
Capa: Felipe Araujo