A Nintendo precisa das third parties para o sucesso do NX?

Discutimos se os jogos third-party e multiplataforma são realmente essenciais para o novo projeto da Big N.

em 09/03/2016
Fora do mundo dos portáteis, eu tive um hiato muito grande nos consoles Nintendo. Pulei do Super Nintendo para o Wii U, ficando quase 18 anos longe de um sistema doméstico da Big N. Resolvi, então, adquirir o último console esperando uma grande leva de lançamentos próprios da Nintendo, ou games feitos exclusivamente para o sistema (como foi o caso de Bayonetta 2). Não foi uma grande leva, mas posso dizer que joguei muito do que queria no Wii U (inclusive títulos de Wii). É inegável, no entanto, que o fluxo de lançamentos para o console era (e é) muito, muito baixo.




É melhor que sejam poucos jogos e que sejam bons? Claro, nesses termos é sim. O problema é que esses não são os termos da atual geração de consoles. O Wii U tem a melhor linha de exclusivos em relação ao Xbox One e ao PS4. Negar isso é desonesto. Mas é tão desonesto quanto achar que a qualidade só existe no mundo da Nintendo. Ao reunirmos jogos multiplataforma, exclusivos e games independentes, podemos constatar que os dois sistemas competidores vêm recebendo uma quantidade sólida de lançamentos a cada mês (e a qualidade não chega em abundância em todos eles, lógico, mas está lá em diferentes estilos de jogo).
As coisas não são assim, e não seriam mesmo mudando os nomes de lugar
A Nintendo deveria ter assumido o Wii U no sentido de torná-lo o mais rentável possível com venda de seus games ao longo de mais anos. Poderia ter lançado mais jogos, procurado mais parcerias, enfim, ter recheado seus trimestres com mais games. Esse problema tem influência direta no desempenho do Wii U e, acredito, pode respingar no NX (com possíveis compradores chateados pelo baixo número de games lançados e o curto ciclo do console anterior).

Alguns anos a mais insistindo no Wii U, mas compondo uma biblioteca robusta e diversificada, poderia ser um caminho melhor do que trazer um novo sistema doméstico. Minha preocupação central é com o momento delicado em que esse novo console vai adentrar o mercado.

E como será o momento em que o NX vai chegar ao mercado?

É possível especular que o NX vai chegar até março de 2017, e que o portátil ou o console podem pintar no fim do ano, aproveitando o momento de vendas dos feriados. Nesse cenário, seus concorrentes terão pouco mais de três anos, o que possivelmente representará metade de seus ciclos. Hoje (março de 2016), o PlayStation 4 vendeu mais de 35 milhões de unidades, e o Xbox One mais de 18 milhões.

É de se concluir que, entre o fim de 2016 e o primeiro trimestre de 2017, uma parte substancial dos jogadores que queiram jogar títulos multiplataforma já estejam instalados com um desses dois consoles, ou até mesmo com um PC. Nesse, sentido, o foco central da Nintendo não pode ser englobar esses games multiplataforma. Claro, parte dos clientes que quiserem sair do Wii U direto para o novo console podem estar animados com um sistema que também tenha esses jogos. E se for realmente fácil de se desenvolver jogos para o NX, não implicando em grandes gastos, é bem possível que as empresas publiquem seus novos títulos para ele.


Mas essa é uma parcela (donos de Wii U que não possuem um outro sistema da oitava geração) que não vai garantir um sucesso comercial de vendas de hardware. Ou seja, mesmo que o NX receba títulos third-party e multiplataformas a partir de seu lançamento, grande parte dos consumidores foco desses games já vai estar com um outro sistema. A Nintendo precisa fazer com o NX o que não fez com o Wii U: garantir uma vasta biblioteca de títulos exclusivos, sejam eles desenvolvidos por ela mesma ou não.

Só a Nintendo pode fazer pela Nintendo

Eu já estava com essa pauta na cabeça quando vi o artigo #debateblast com os comentários de nossos leitores no twitter. Fiquei surpreso ao constatar que 45% dos leitores apontaram que a Nintendo precisa de apoio das third-parties para ser um sucesso. Vejam bem, eu acredito que ela precise, sim, de um certo apoio, mas um, em específico, e um que não tenha que ser o foco da proposta do NX. Já falo mais disso.

Para tentar compor melhor essa tese, vou trazer alguns números de vendas de games do Wii U. Demos preferência às fontes oficiais, porém, os dados de venda de jogos não são abertamente divulgados, por isso, então, vou trazer dados do site vgchartz quando não houver uma outra fonte mais sólida. E qual o problema do vgchartz? Ele é um site com uma proposta bacana (publicizar os números de vendas), mas é basicamente um agregador de estimativas, não de fontes empíricas e dados extremamente acurados. Ora ele usa os número de compra das lojas, ora os números de venda, ora a quantidade enviada, enfim, existem problemas que não podem ser ignorados. Para quem quiser saber mais, deixo aqui dois textos de 2008, um do Gamasutra e outro do Kotaku, além de outro do Examiner, de 2010.

Um dos leitores até comentou que essa ideia de que “quem compra consoles Nintendo só quer jogar games da Nintendo” acaba afastando as thirds. A questão é que ela não é apenas uma ideia, mas faz parte de um processo empírico. Vamos olhar para alguns jogos.


Bayonetta 2 é, inegavelmente, um dos melhores jogos de 2014. Entretanto, suas vendas iniciais nas primeiras semanas no Japão ficaram abaixo do título anterior. Claro que as base instaladas do PS3 e do Xbox 360 eram bem maiores em 2009 que a do Wii U em 2014, e esse é o tipo de informação que não pode ser escondida. O título também saiu rapidamente do top 40 de vendas no Reino Unido. De acordo com a estimativa do vgchartz, Bayonetta 2 vendeu cerca de 1 milhão de cópias até o momento.

O número deve ser até maior, mas, mesmo que seja exatamente esse, é um bom número, considerando que a base instalada de consoles não era tão grande, e que, a despeito de sua grande qualidade, Bayonetta é um jogo menos acessível que Mario Kart 8 ou Super Mario 3D World, por exemplo. Contudo, Bayonetta 2 é um jogo exclusivo, vejamos como se saíram os games multiplataforma que chegaram ao Wii U.

Sabemos que Assassin’s Creed IV: Black Flag enviou 10 milhões de cópias para lojas até fevereiro de 2014. Estimativamente, o Wii U teria vendido apenas 290 mil dessa cópias até o momento, com vendas de quase 3 milhões tanto no PS4 quanto no One. Batman: Arkham City teria vendido cerca de 360 mil cópias no Wii U, 4,7 milhões de para o Xbox 360 e 5,4 milhões para o PS3.

Do lado dos exclusivos desenvolvidos pela Big N, Splatoon vendeu mais de 4 milhões de unidades, Mario Kart 8 vendeu mais de 7 milhões, Super Mario Maker mais de 3 milhões e Yoshi’s Wooly World mais de 1,3 milhão de unidades. Todos de acordo com documento veiculado pela própria Nintendo.
Tem que criar franquias novas e reinventar as antigas. Quando algo assim acontece, o resultado geralmente tem a qualidade desse aí da imagem.
Ou seja, tendo à disposição esses jogos na biblioteca, a grande parte dos jogadores de Wii U deu preferência aos títulos exclusivos e da própria Nintendo. E isso não é um problema. O problema é a ideia de que a falha do Wii U foi por falta de suporte das third-parties, quando passa por outras decisões, principalmente o baixo número de jogos lançados pela própria Nintendo e suas parceiras.

Esses números se referem apenas às vendas, mas, se pensarmos do ponto de vista da qualidade, os games exclusivos são mais atrativos do que os multiplataformas que chegaram para o console. Peraí, isso quer dizer que todo jogo exclusivo da Nintendo é melhor que todos os jogos multiplataforma? Claro que não, e isso nem importa. A questão é que esses números e a satisfação dos consumidores indicam os caminhos que a Big N precisa tomar com seu novo sistema: 1) usar suas IPs e criar um grande número de games, 2) criar novas IPs para trazer uma biblioteca cada vez mais diversa, 3) investir em parcerias e trazer jogos exclusivos de third-parties, 4) avançar com os Amiibo e aumentar a relevância deles com os novos sistemas, e 5) caso possa, se for barato e fácil, receber jogos multiplataforma.

Para fazer sucesso, tem que ter bastante jogo

Mesmo com os games desapontadores do fim de 2015, a Big N sempre demonstrou saber trabalhar muito bem com suas propriedades intelectuais. O número de títulos exclusivos criados para o Wii U, no entanto, foi bem reduzido. O principal fator para o sucesso do NX (ou qual for o nome final) é que a Nintendo use suas IPs e crie um grande número de jogos. É o momento de usar os recursos para investir em equipes de desenvolvimento e não deixar o novo sistema passar meses sem grandes lançamentos (ou lançamentos, para todo efeito). Na verdade, o ideal é que diferentes tipos de jogos sejam lançados a todo mês.

Mario (e suas variações), Zelda, Metroid, Pokémon, Donkey Kong, Pikmin, Kid Icarus, Fire Emblem, Wars, etc., são propriedades de grande valor. Os fãs sempre estão esperando novos títulos cheios de novidade. Acredito que muita gente achou estranha a inexistência de um novo Pokémon Snap para o Wii U, quando o GamePad clamava por um. Quanto à Metroid e um novo Mario, nem se fala, todos aguardaram eles ansiosamente ao longo do ciclo do Wii U. O NX não pode ser um console com poucos lançamentos exclusivos por ano, esse é o principal ponto.


Aliado a isso, a Big N tem que criar novas IPs para criar uma biblioteca ainda mais diversa. Splatoon provou que a empresa tem recursos e material humano para criar coisas novas e interessantes. Cadê o investimento nisso? É muito melhor arregaçar as mangas e desenvolver títulos pensados para o novo sistema do que ficar esperando o que eu estou chamando de “o milagre dos multi”.

Pode ser um rumor daqueles bem fora da realidade, mas se a Nintendo realmente estivesse (ou estiver) financiando Beyond Good & Evil 2 eu ficaria bem feliz. Ela precisa usar seu dinheiro para firmar parcerias que possibilitarão títulos exclusivos para seu sistema. Para mim, essa é a principal forma que as third-parties podem se fazer presentes de forma proveitosa. Isso vai ajudar a rechear o console de games e a diversificar sua biblioteca. Tem um monte de desenvolvedores bons por aí só esperando um financiamento, até mesmo grandes nomes.
Será?
Com um cenário desses, tendo os Amiibo caminhando, juntos, ao projeto, e um sistema realmente fácil de navegar, com funcionalidades online boas e modernas e um hardware robusto, vai ser mais fácil jogos multiplataforma serem lançados para o NX e, ao mesmo tempo, menos necessário.
Não deixe de nos dizer suas expectativas para o novo sistema da Nintendo. Quer primeiro o portátil? O Console? Os dois ao mesmo tempo? E qual o papel dos jogos exclusivos e multiplataformas para você em um sistema da Big N?
Revisão: Jaime Ninice
Capa: Gabrielle Mustafa
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