Mesmo obras que funcionavam perfeitamente bem em ambientes menores e mais confinados, como The Witcher e Metal Gear Solid, renderam-se ao conceito. Até franquias clássicas, outrora criadoras de tendência, parecem estar seguindo a moda — é o caso de The Legend of Zelda, que promete uma abordagem do tipo para o Wii U. Independente da idade ou tamanho do jogo, todos estão “abrindo” seus mundos.
Até tu, Link? |
O problema não é o mundo aberto em si; o problema é a cultura de pontos de lista em que vivemos atualmente, na qual o número de features descritas na contracapa de um jogo é mais importante que a utilidade deles. Todo jogo precisa ter mundo aberto, sistema de craft, veículos, elementos de RPG e MOBA, multiplayer, parkour, fazer seu dever de casa e chamar o jogador de mamãe para pode se destacar. Há uma preocupação tão grande em se incorporar conceitos e mecânicas bem-sucedidas que muitos esquecem de se perguntar: eu preciso disso? Felizmente, Pokémon sempre se fez essa pergunta.
Temos que integrar, isso eu sei!
A integração é importante em qualquer design — seja de jogos, seja de armários ou apartamentos. Os elementos de um projeto precisam ter uma razão para estar lá e se comunicar entre si, reforçando um ao outro. Caso algo seja adicionado sem que se faça essa consideração, na melhor das hipóteses ele ficará incoeso com o resto; na pior, será danoso para o produto final.Não, não esse tipo de integração! |
Um exemplo notável de integração é a forma como o jogador explora o mundo da franquia. Os obstáculos enfrentados são contornados, normalmente, fazendo-se uso das habilidades dos monstrinhos. Em vez de se usar algum item aleatório ou chaves, a solução dos problemas reside nos golpes dos Pokémon: são os infames HMs, que permitem iluminar cavernas, mover pedras e cortar árvores, dentre outras coisas.
Mais interessante ainda é como a franquia integra suas mecânicas com a acessibilidade. Em vez de possuir níveis de dificuldade predeterminados, a aventura começa com uma escolha entre três Pokémon. A decisão ali tomada determinará o quão desafiante serão os primeiros ginásios e lutas contra treinadores. Não é à toa que recomendam que novos jogadores peguem Bulbasaur ou Squirtle.
Mas as crianças legais sempre escolhem Charmander. |
Os repelentes, posteriormente, acabaram integrando-se a outras mecânicas e situações. Desde a segunda geração, eles são o método favorito para se caçar Pokémon errantes, como os cães lendários. Por repelirem apenas seres com nível inferior ao líder de sua equipe, acabam tornando a caça por essas criaturas muito mais rápidas.
Integrar tudo eu tentarei
Muito se fala na possibilidade de Pokémon ser ambientado num mundo aberto no futuro. A ideia é realmente tentadora e cheia de potencial. Entretanto, seguindo o seu legado, se a série algum dia vier a usar o conceito, não será por pressão dos padrões da indústria. Caso isso aconteça, será executado de uma forma integrada ao mundo e mecânicas que já conhecemos da franquia — tornando ele um jogo melhor com o mundo aberto, e não por causa dele.
Revisão: José Robson Júnior
Capa: Felipe Araújo