Análise: Rodea the Sky Soldier (Multi) é uma desequilibrada aventura celeste

Novo jogo do criador de Sonic esbanja limitações, problemas, referências clássicas e um carisma inexplicável.

em 26/12/2015

Cercado de problemas, mistérios, atrasos e muita curiosidade, Rodea The Sky Soldier finalmente é lançado, trazendo uma aventura tecnicamente ultrapassada, mas com um pouco de carisma e encanto tão comuns aos jogos clássicos do seu criador.

Fora de lugar

Não podemos pensar nesse título sem levar em consideração sua trajetória cheia de obstáculos. Praticamente pronto desde 2011, quando foi anunciado como um dos grandes lançamentos para o Nintendo Wii, Rodea The Sky Soldier sofreu diversas alterações. De quase esquecido, o jogo passou para o recém-lançado Nintendo 3DS, mas problemas no port atrasaram o lançamento. Mais tarde, o jogo foi prometido para 2015, dessa vez incluindo o Wii U como plataforma.

Depois de tanta dificuldade, finalmente o título foi lançado, com versões para 3DS, Wii U e Wii — a versão de Wii vem como disco bônus na caixa do jogo para o Wii U. Infelizmente todos esses problemas de atrasos, cancelamentos e ports estão refletidos na versão final, que acabou muito descaracterizada, principalmente nos controles, já que Rodea foi originalmente desenvolvido utilizando o Wii Remote como controle.
Afinal, qual o motivo para tanta expectativa sobre esse jogo? Será que ele é de todo ruim? 

Brilho célebre

Criado pelo consagrado Yuji Naka, responsável pela programação da série Sonic the Hedgehog no Mega Drive, Rodea The Sky Soldier, desde os primeiros anúncios, demonstrava enorme potencial. Carregando o peso do nome de seu criador e referências aos seus principais títulos, como Sonic e Nigths, além de utilizar os controles únicos do Wii de forma inovadora, era difícil não se empolgar com o jogo.

A união de velocidade, ação e liberdade para voar utilizando os controles de movimento parecia uma mistura promissora. Além do mais, esperava-se muito do protagonista, tendo em vista o sucesso de outros personagens de Yuji Naka. Contudo, o título é bem diferente de tudo que imaginamos nesses longos cinco anos de espera.

Conflito milenar

Começamos o jogo no meio de uma grande batalha. O imperador de Naga, Geardo, busca a localização do reino de Garuda, escondido nos céus, para tomar posse do poder dos Gravitons. Em meio ao conflito, o protagonista Rodea recebe de Cecilia, filha do imperador, uma das partes da Key of Time, importante artefato para o desenrolar da trama. Para proteger o objeto e o próprio herói, Cecília transporta-os para longe da guerra, evitando que seu pai se apodere da chave e, com ela, alcance o reino de Garuda.

Após ser transportado, Rodea, que é uma espécie de robô, para de funcionar. Mil anos depois, uma jovem mecânica chamada Ion o encontra e conserta o herói, revelando que ele estava no famoso reino de Garuda. Mal as coisas são explicadas e o reino é atacado por Geardo. Com isso, a dupla recém-formada entra em ação para salvar o reino da invasão inimiga.

Sem geração

Comecei minha jornada em Rodea the Sky Soldier ignorando todas as críticas negativas da mídia especializada, pois esperava muito desse jogo. Mas bastam os primeiros minutos de jogo para perceber todos os problemas citados pelos críticos. O primeiro deles, aliás, é com os visuais.

Desenvolvido para Wii, transferido para 3DS e portado para Wii U, Rodea é um jogo sem geração. E isso fica bastante evidente nos seus visuais. Nem de longe o jogo lembra as belíssimas produções vistas no Wii U, como Pikmin 3 ou Wind Waker HD. Inclusive, vários jogos de 3DS, de Wii e até de GameCube possuem visuais melhores.

Poucas cores, efeitos de sombra e luz simples, texturas datadas e quadradas. Visualmente o jogo deixa muito a desejar, mas não chega a ser feio — apenas incomoda — pois a direção artística é boa, contornando alguns problemas com certa criatividade. A trilha sonora é competente, com músicas que passam bem a atmosfera de desconhecido e fantástico.

A dublagem, seja em japonês ou inglês, contribui para nos apegarmos aos carismáticos personagens. Eles, por sinal, são um dos pontos fortes do jogo. O jovem Rodea é cheio de vida, astuto e divertido. Temos também Ion, uma espécie de Navi, que fica passando as informações durante os estágios.

Voar é para os fortes

Assim como em Nigths, sucesso de Yuji Naka no Saturn, a essência do jogo é o voo. Rodea percorre as cidades e montanhas flutuantes enfrentando diversos inimigos, coletando itens e superando trechos de plataforma. Tudo isso enquanto salta, mira, voa e ataca. Contudo, executar esses comandos no GamePad não é nada fácil e divertido.

Enquanto que no Wii controlamos Rodea com o Wii Remote de forma suave, intuitiva e rápida, no Wii U é tudo mais travado. Para voar, por exemplo, é preciso saltar, mirar com um dos analógicos, controlar a câmera com o outro e apertar outro botão para que ele voe, e  mais um caso queira atacar — no Wii U não existe compatibilidade com o Wii Remote.

Além da jogabilidade truncada, o sistema de câmera dificulta a vida dos jogadores em vários momentos, deixando-o sem visão em alguns trechos ou simplesmente parando de funcionar. Junte isso ao fato do personagem ser muito lento e possuir poucas habilidades e teremos um jogo difícil de suportar nos primeiros estágios.

Desafio de peso

Em Rodea temos a possibilidade de sair voando, tendo cuidado em administrar a barra de energia de voo, apenas procurando a rota correta, ou explorando os cenários em busca de itens e melhorias para o personagem. Infelizmente a variedade de missões é bem limitada, focando em encontrar o caminho correto, coletar certa quantidade de itens ou derrotar todos os inimigos.

Passando pelos estágios normais, temos um chefe em cada novo mundo. Esses confrontos acontecem em campos abertos contra inimigos gigantescos. Seria épico, se os controles e câmera deixassem. É quase impossível ter total controle do que você faz enquanto voa, mira, ataca e desvia. A câmera simplesmente não permite. Alguns até que são bem divertidos e desafiadores, mas outros são chatos e fáceis.

São quase dez horas de campanha principal, e quase o dobro se você quiser completar todos os desafios do jogo. Caso você tenha muita dificuldade com os comandos, certamente esse número será bem maior, principalmente pelo sistema de vidas do jogo, que reinicia o estágio do zero após um Game Over. Talvez esse seja um desafio injusto para a geração acostumada com os infinitos save points, mas traz um desafio extra interessante para o jogo.

Um pequeno toque de magia

Mesmo com tantos problemas técnicos, Rodea the Sky Soldier ainda se mostra um jogo interessante. A ambientação que tanto lembra os contos de fantasia, os personagens cativantes, a trilha sonora inspirada, estilo retrô e as referências aos clássicos da SEGA são motivos para enfrentar todas as falhas que já comentamos.

Aos poucos, mas muito aos poucos mesmo, você conseguirá jogar melhor, entender a lógica do jogo e completar as desafiantes fases. O melhor de Rodea para Wii U, na verdade, é a versão de Wii que vem como bônus da caixa do jogo. Mais rápido, preciso e condizente com a sua geração, o título original faz bonito e seria um ótimo título na biblioteca do Wii na época que foi prometido. Mas isso é assunto para outra análise. Até lá, espere por muitos problemas e carisma de sobra nesse inusitado e interessante jogo.

Prós

  • Personagens cativantes;
  • Ótima trilha sonora e dublagem (inglês e japonês);
  • Ótima ambientação;
  • Referências a jogos clássicos;
  • Versão original de Wii inclusa no pacote.

Contras

  • Controles confusos;
  • Visuais ultrapassados;
  • Péssimo sistema de câmera;
  • Pouca variedade de estágios.
Rodea the Sky Soldier — 3DS, Wii, Wii U — 6.0
Versão utilizada para análise: 
Essa matéria foi possível graças a Big Boy Games, que gentilmente nos cedeu uma cópia de Rodea the Sky Soldier. Para adquiri-lo, visite a página do jogo na loja!




Revisão: Vitor Tibério
Capa: Felipe Fabricio


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