O cenário competitivo de jogos em geral, quando eles ganham o rótulo de “e-sports”, tende a ser uma coisa meio automática. Você assiste o jogo, torce por alguém e, quando acaba, é isso. Não fica percorrendo nosso subconsciente por horas e horas a fio, é uma coisa do momento. Poderíamos argumentar que no esporte real é a mesma coisa. Tirando alguns casos, o time de futebol que você torce é algo automático. Pode ter origem em sua familia, você assiste o jogo, sabe o nome de alguns dos jogadores mas quando acaba, ele não fica fixo em sua cabeça.
Mas a mídia ajuda muito. A forma que eles noticiam cria uma pequena história, um “arco”, por assim dizer. Quando algum jogador se machuca, você fica ansioso acompanhando o percorrer da situação. É uma história boa que ajuda o interesse no jogo a continuar. E eis que isso também é traduzido para o “e-sports”, e no caso de Super Smash Bros., temos uma das histórias mais interessantes já vistas nessas competições.
ZeRo, uma “lenda”, com um nível e forma de jogar que ninguém se aproxima, perdeu. Carregando mais de 50 prêmios de primeiro lugar ininterruptamente, ele finalmente foi derrubado. E é sobre isso que iremos conversar hoje.
Como se cria uma lenda
ZeRo era surpreendente sim. Desde antes de junho de 2014, quando antes mesmo de Super Smash Bros. for Wii U. e 3DS terem sido lançados, ele já estava construindo um legado com esses jogos. Para quem não lembra, nessa data aconteceu o Invitational, torneio de Smash no qual jogadores já conhecidos foram chamados para “testar” em nível competitivo o novo jogo.ZeRo com Sakurai e Mew2King no Chokagi, em 2015 |
Os espólios da vitória já o deixaram animado. Era uma perspectiva diferente e única, que fez ele esperar o lançamento do novo jogo. Continuou jogando Melee no intervalo, mas sem resultados dignos de nota.
Então, novembro chegou. E agora, passados 11 meses desde aquela data ele virou sinônimo de Smash. Foram 55 torneios consecutivos em que ele ficou em primeiro lugar. É um número absurdo e incomparável, e com isso foi-se criando uma lenda. Com o seu nível de jogo elevadíssimo, todos começaram a torcer contra ele. Não por ele ser uma pessoa ruim ou coisa do tipo, longe disso. Eles sabiam que, para alguém ganhar dele, precisaria jogar no minimo tão bem quanto. E, reunir em uma partida duas pessoas com conhecimento sobre o jogo tão grande e execução tão perfeita seria um sonho.
Assim se criou uma “história”, um roteiro entre quem acompanha os torneios. A eterna torcida contra ZeRo uniu a comunidade, transformando cada torneio em um episódio de uma enorme série, cada final em um clímax em que todos depositavam empolgação.
E assim foi indo até o MLG de outubro de 2015.
Pressão e o lado positivo da queda
ZeRo começou a não se sentir bem durante meados de 2015. Nunca foi dito exatamente o que estava acontecendo, mas é fácil raciocinar que conforme o seu legado ia aumentando a pressão que ele sentia também sofria um acréscimo. Mas ele continuou jogando, até que, por exaustão, ele decidiu não participar do torneio Paragon.Muitos ficaram apreensivos sobre o que estava acontecendo. Apareceram comentários de que ele estava pensando em se aposentar ou que estava com problemas motores e musculares (comuns em jogadores profissionais). Mas, 1 mês depois, ele voltou. Na Big House 5, ZeRo fez seu retorno e mais uma vez saiu com seu primeiro lugar assegurado. E mais uma vez, dizia que não estava bem.
E então, dia 18 de outubro de 2015 chegou. Final do MLG. ZeRo estava nela e lutaria contra seu rival de longa data, Nairo. Era uma réplica da final da EVO 2015 que já tinha acontecido inúmeras vezes, sempre com ZeRo saindo vitorioso.
Nairo estava vindo da Loser’s Bracket, o que significa que, para ganhar, teria que vencer um total de seis lutas em vez das três normais. E, em uma final histórica, Nairo fez isso. Um nível fantástico de jogo, personagens não comuns e um clímax enorme para uma grande saga.
Zero e Nairo, em um de seus vários embates |
Assim como em qualquer esporte, o rótulo de campeão e expectativa da torcida cria uma cruz enorme para alguém carregar. ZeRo está aprendendo isso pouco a pouco e, agora que percebeu isso, tem tudo para saber como lidar. Ele é um jogador genial e incrível, e sua existência na cena competitiva de Smash é significante para ótimos torneios, com grande entretenimento. E ele, como um dos melhores do mundo, sabe disso.
Revisão: Luigi Santana
Capa: Felipe Fabricio