Apesar de o encanador mais amado do mundo dos videogames ser conhecido, principalmente, por suas aventuras em busca da princesa Peach, por debaixo daquele boné vermelho se esconde alguém com talento nato para o universo artístico. Essa vocação quase que oculta do bigodudo foi revelada em Mario Paint, lançado em 1992 para Super Nintendo e que fez muitos jogadores passarem tardes e mais tardes criando os mais variados desenhos e compondo diferentes músicas. O sucesso das pinceladas na era 16-bits foi tão grande que acabaram surgindo, entre os anos de 1999 e 2000, quatro sucessores espirituais na geração seguinte, a série Mario Artist.
Quatro jogos, infinitas possibilidades
Mario Artist segue o mesmo padrão de Mario Paint, ou seja, é mais um conjunto de ferramentas de edição do que um jogo com objetivo definido. A missão é simplesmente exercitar seu lado criativo, com cada um dos quatro títulos da série oferecendo atividades em determinada área. Mario Artist: Paint Studio, o primeiro a ser lançado, é o que mais se assemelha ao seu parente do Super Nintendo, inclusive no uso de um mouse para facilitar a criação de desenhos ou pequenas animações. Seu grande diferencial é a possibilidade de editar imagens importadas da Game Boy Camera ou de um videocassete, além de um modo em que até quatro jogadores podem trabalhar juntos na mesma obra de arte. Os minigames também estão presentes em Paint Studio, e o mais interessante deles envolve um passeio em diferentes cenários, como o fundo do mar ou o mundo jurássico, para fotografar as criaturas que habitam cada uma das regiões, tudo ao melhor estilo Pokémon Snap (N64).
Olhe para câmera e diga 'xis', seu lagartão |
O segundo integrante da coletânea a chegar ao mercado foi Mario Artist: Talent Studio, que nada mais é do que um editor de avatares. Nele, é possível transferir a fisionomia de qualquer pessoa para modelos tridimensionais através de fotos capturadas pela Game Boy Camera e, após ficarem prontos, os bonecos podem ser usados como personagens de curtas animações. Apesar de a edição de avatares estar presente na grande maioria dos jogos de hoje, essa foi a primeira experiência da Big N com algo do gênero e acabou funcionando como protótipo dos atuais Miis. Outra curiosidade é que um dos garotos-propaganda de Talent Studio foi Hiroshi Yamauchi, presidente da Nintendo na época, que divulgou algumas animações estreladas pelo seu próprio avatar.
Não, os Miis não nasceram no Wii |
O último representante da série que chegou a ser lançando foi Mario Artist: Polygon Studio, um editor de computação gráfica em 3D que permitia ao jogador criar facilmente elementos poligonais em três dimensões. Brincar com as formas não é a única diversão proporcionada pelo jogo, os desenhos feitos no Paint Studio podem ganhar uma versão poligonal quando importados para o Polygon Studio. Entretanto são nos minigames do jogo que está seu maior legado, muitas das ideias lá apresentadas foram posteriormente reaproveitadas na franquia WarioWare.
Moldar formas em três dimensões nunca foi tão divertido |
O fracasso do Nintendo 64DD
Lançado em 1999, no Japão, o Nintendo 64DD pode ser considerado um dos principais fracassos da Big N. O periférico, que é conectado à porta extensora do Nintendo 64, teria o objetivo de aumentar a capacidade de processamento do console e também adicionar novas funções, como o acesso à internet. Porém os resultados de vendas foram tão ruins que apenas nove games acabaram se tornando realidade, sendo que quatro destes são os da série Mario Artist. O desempenho pífio na Terra do Sol Nascente impediu que o acessório chegasse ao Ocidente e as peças que ficaram acumulando poeira nas lojas nipônicas foram logo recolhidas e até hoje devem estar escondidas em algum lugar nos porões mais escuros da Nintendo.
Fracasso do periférico acabou cancelando ou adiando muitos games |
Uma peça de museu
É difícil afirmar se Mario Artist conquistaria ou não o público ao redor do mundo, caso o Nintendo 64DD não tivesse falhado. No mesmo período em que a série foi lançada, o software de edição de imagens Adobe Photoshop, que seria uma espécie de concorrente por realizar muitas das mesmas atividades no PC, já estava em sua versão 6.0. Mais do que pelas ferramentas de edição, o jogo merece ser lembrado por seu legado, afinal foi nele que surgiram vários conceitos usados até hoje, não é mesmo, Miis!? E esse é o motivo, aliado a sua raridade por ter sido comercializado somente no Japão, pelo qual Mario Artist merece sim um espaço no museu dos videogames.
Revisão: Alberto Canen
Capa: Felipe Araujo
Capa: Felipe Araujo