Na primeira vez que joguei Super Mario 64, fiquei tanto tempo apenas admirando pequenos trechos do jogo e brincando com a cara do Mario na tela inicial, que meu primo achou que eu era burro e não sabia qual botão apertar para começar logo. Na verdade não devem ter passado mais que cinco minutos, o suficiente tanto para que ele resolvesse me atazanar quanto para que eu me lembre perfeitamente da primeira vez que vi aquela simples tela até hoje.
Antes de parar de falar do meu ex-primo, só vou contar que ele apagou meu save quando eu tinha 46 estrelas, fazendo com que eu tivesse que começar de novo. Pronto, agora todos sabemos que nessa história eu seria o encanador italiano e ele o dinossauro-tartaruga que rapta princesas. Mas se demorou cinco minutos para eu resolver sair da tela inicial, quanto tempo vocês acham que eu levei só pulando pelo jardim do castelo?
Alegria de controlar e explorar
Hoje em dia é razoavelmente difundida a história de que Miyamoto quis se certificar ao máximo de que as mecânicas e movimentos do Mario nesse mundo tridimensional seriam divertidas antes de planejar e desenvolver os levels. A ideia do lendário Shigeru era que o primeiro, e talvez principal, passo para que aquele jogo desse certo, era que fosse gostoso e divertido controlar o baixinho da Kaiser italo-japonês independentemente de qualquer cenário. Sem ter qualquer consciência dessa história, muito menos da importância de mecânicas, level design, etc. (não que hoje eu tenha muita), gastei um bom tempo passeando por aquele jardim. Nesse período eu fui me acostumando e ficando completamente apaixonado pela forma que eu podia mover o Mario.Acredito que muitos de vocês também brincaram bastante naquele espaço, e é bonito pensar que se trata de um momento compartilhado por tanta gente, ainda assim único para cada um. Mas daí chega a hora de finalmente entrar no castelo e descobrir que não existem inimigos por ali, apenas portas, passagens e quadros. Pulando de cabeça no grande quadro, chegamos à Bob-omb Battlefield. A liberdade de ir conhecendo a fase no sentido que você desejar foi algo que implodiu minha cabeça mirim. A primeira ideia, é claro, foi ver se dava para chegar no alto do montanha.
Como era boa a sensação de poder ir para qualquer lado. |
E de lá a aventura foi passando por todo o castelo, chegando no mundo aquático de Jolly Roger Bay e sua música calma, na desgraçada e impossível Hazy Maze Cave (vai rindo, mas para uma criança de nove anos que pegava em um controle de 64 a cada quinze dias aquilo já era o inferno), e na inesquecível Cool, Cool Mountain que me divertiu por um bom tempo, e me deixou com uma música na cabeça por muito mais.
A espera entre esses finais de semana regados a Mario não era tão desesperadora assim, afinal foi nesse tempo que selei meu destino gamer. Eu tinha um SNES e gostava muito de jogá-lo, mas foi apenas com a chegada de um PC em casa que eu pude conhecer minhas maiores paixões: adventures e RPGs japoneses. A primeira, com jogos originais para computadores, me despertava o interesse por histórias, diálogos e, com a ajuda de meu irmão mais velho, os períodos de jogatina passaram a ser verdadeiras aulas de inglês. Já a segunda, e maior, veio a possibilidade de conhecer os grandes RPGs do Super Nintendo. Jogos como Chrono Trigger, Dragon Quest, Final Fantasy, etc., não eram lá tão comentados pelas revistas, amigos e funcionários de locadoras, e nem sei dizer se vi algum deles para vender nas lojas da época. No computador, no entanto, eles eram bastante comentados nos primeiros sites sobre games. O que me fez ir atrás desses títulos e acabar me tornando fã do gênero.
E eu também passava horas ao lado de Mario e companhia no Super Mario RPG! |
Aventura que cai como uma luva
Quando cheguei nas fases mais desafiadoras, eu ia com bastante calma, mas conseguia seguir em frente e pegar as estrelas: Tiny Huge Island, a fantástica Tick Tock Clock e a mágica Rainbow Ride. É impressionante ver como cada mundo comporta diferentes tipos de jogador. Nas minhas mãos infantis, Mario era um cauteloso tiozinho com o lema “devagar e sempre”. Com meu irmão no controle, ele se transformava em um ágil, preciso e elegante italiano. Já com speedrunners, temos um Mario extremamente veloz, um verdadeiro mito do parkour frenético.Uma das minhas fases preferidas de jogar se tornou a minha favorita de assistir, principalmente em speedruns. |
Ao dominar os movimentos de Mario e conseguir aquelas estrelas mais difíceis, eu crescia como jogador. Ao viver aquela fantástica aventura, eu era apresentado ao mundo 3D da melhor maneira possível, em uma transição perfeita. Quantas equipes e desenvolvedores conseguiram fazer jogos icônicos em 2D e 3D? Imagino que não são tantas assim.
Momento para apreciar a vista. |
E nem falei do Lakitu como câmera da aventura! |
Não posso negar que fui extremamente feliz com meu PlayStation. Jamais houve Link, Pikachu, James Bond, Banjo, Conker, Diddy Kong ou qualquer outro que me fez sentir algum arrependimento de ter escolhido Cloud, Serge, Fei, Zidane, Lenneth, Ryu, etc., apenas um Mario.
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Revisão: Luigi Santana
Capa: Felipe Fabricio