Star Fox (SNES): 22 anos da primeira jornada espacial que mudaria o mundo dos videogames

Há 22 anos, Star Fox revolucionava a forma como se faziam jogos, ultrapassando os limites do Super Nintendo e dando origem a uma das mais queridas séries da Nintendo.

em 29/04/2015

Revolucinário e inacreditável para a época. Assim podemos classificar Star Fox, lançado para Super Nintendo em 1993. A primeira aventura de Fox McCloud e seu time espacial marcou época e chocou o mundo dos videogames com gráficos nunca antes visto em um console caseiro. E este ano, comemorando 22 anos do seu lançamento, separamos para você um especial sobre esta obra prima dos jogos eletrônicos, com histórias, curiosidades, recepção e o legado dessa maravilha. Do a barrel roll!

Gênesis espacial

O ano de 1993 começaria agitado para os amantes de videogames e tecnologia. Durante a Winter Consumer Electronics Show, importante feira de tecnologia da época, em Las Vegas, grandes empresas apresentavam suas novidades para o público. E como os videogames eram a grande febre do momento, claro que não poderiam ficar de fora.
Antes da E3, a Winter Consumer Electronics Show era uma das alternativas das empresas apresentarem suas novidades.
Dentre as empresas participantes estava a Nintendo. Ocupando um dos maiores estandes da feira, com os lançamentos para Game Boy, NES e Super Nintendo, a empresa marcava definitivamente a transição para seu sistema de 16-bit. Para isso, apresentou um título que deixaria todos de queixo caído.

[Charles Martinet, dublador do Mario, fez uma participação na CES de 1993]

Esse jogo era Star Fox. Em uma das suas primeiras aparições públicas, a nova aposta da Nintendo ocupava o maior estande da feira. Havia para ele uma sala especial, cheia de efeitos espaciais, com cabines para o jogador e tudo mais. Dali em diante aquele time de animais antropomórficos entrariam para a história dos videogames.
Sobrevoando o Brasil
Foi na edição 23 da Revista Videogame, de fevereiro de 1993, que o público brasileiro conferiu as primeiras informações sobre Star Fox. Já nas edições 25 e 26, fomos presenteados com um baita detonado. No mesmo período, a revista SuperGame, especialista em consoles da SEGA, sequer mencionou Star Fox, dando ênfase aos lançamentos do Sega CD — era a guerra dos consoles no seu auge em terras brasileiras.

A vida, o universo e tudo mais

A premissa do jogo é simples. Você controla Fox McCloud, uma raposa antropomórfica, pilotando uma nave, a Arwing, através de ambientes tridimensionais enquanto vários inimigos (naves, robôs, criaturas e etc.) tentam atacá-lo. No final de cada estágio o jogador ainda precisa enfrentar um chefe. Por fim, concluído o desafio, você recebe a pontuação (com base na quantidade de inimigos derrotados e na defesa dos seus companheiros) e avança até o próximo estágio, algo semelhante aos jogos de nave tradicionais.

As fotos não conseguem transmitir a incrível sensação tridimensional que esse cart proporciona. Star Fox é daqueles jogos que é preciso ver para crer. (Game Power, nº 10, 1995)
Seguindo o modelo do gênero scrolling shooter, em Star Fox também somos “levados” pelo cenário, que avança sem retorno numa determinada velocidade. Mas o grande diferencial desse jogo é que a Arwing pode fazer diversas manobras durante o voo, indo para frente ou para trás. Para isso, basta ativar os propulsores da nave e enfrentar os vários desafios do jogo — que são muitos por sinal.

Capa de Star Fox para Super Nintendo.
A escolha de dificuldade de Star Fox vai muito além do convencional. Enquanto outros títulos trazem a opção de selecionar, antes do início da jogo, o grau de dificuldade da aventura, normalmente divididas em fácil, médio e difícil, afetando diretamente no número de inimigos, vidas e inteligência artificial, em Star Fox as coisas fluem mais naturalmente com a escolha de rotas, que variam entre fáceis, médias e difíceis.
Escolha sua rota
A Nintendo inovou em trazer para o jogo a opção de escolher uma entre três rotas disponíveis para alcançar o planeta Venom. Na primeira, a mais fácil, existem menos etapas a cumprir e poucos inimigos no ar. Na segunda, temos obstáculos mais difíceis e naves e outros inimigos mais poderosos. Já na terceira rota, a mais longa e complexa, todas as suas habilidades no comando de Fox e seu time serão postas em cheque, com tiros, obstáculos e inimigos vindo de todas as direções. O simples fato de voar sem sofrer danos do cenário já é um desafio. É como a revista Game Power destacou na sua edição nº 10. "Só para profissionais".
Outra diferença de Star Fox para os jogos tradicionais de batalha aérea é o modelo de dano. Na maioria dos jogos, um único dano causa a destruição imediata do jogador. Em Star Fox, a Arwing pode sofrer certa quantidade de avaria, descontando da barra de vida. A complexidade do título ainda identificava danos nas asas, que quando avariadas dificultavam o controle da nave.
Codinome NESGlider
Star Fox começou como um protótipo conhecido pelo codinome "NESGlider". Inspirado no jogo de NES, Starglider. A Nintendo e a Argonaut passaram anos desenvolvendo a ideia do jogo, até ele virar um título de tiro no estilo arcade, como foi sugerido pela empresa.

Numa galáxia muito, muito distante

Toda a aventura espacial se passa no sistema estelar Lylat. Esse espaço alternativo é habitado por criaturas antropomórficas como raposas, sapos, cães, coelhos, macacos e pássaros. Nele, os planetas Corneria e Venom representam o bem e o mal, respectivamente. Além desses dois, visitaremos asteróides, estações espaciais e outros planetóides do sistema.
Star Fox contou com os desenhos de Takaya Inamura, música composta por Hajime Hirasawa, direção de Katsuya Eguchi e produção de Shigeru Miyamoto.
Ideia de mestre
Nada que sai da mente do mestre Miyamoto é normal. O criador de Mario queria que Star Fox fosse uma série com personagens animais. Não era de interesse de ele criar mais uma história de ficção científica convencional, com humanos, robôs e monstros. Por isso a decisão de usar uma raposa como protagonista e um universo infestado de outros animais. 
Tudo começa quando Andross, um cientista maluco, fé enviado para Venom depois de ser banido de Corneria. Lá, o vilão declara guerra a seu antigo lar e envia um exército para destruir o Sistema Lylat. General Pepper, comandante da força de defesa de Corneria, decide utilizar naves especiais em fase de testes, chamadas de Arwing. No entanto, por não possuir pilotos treinados para os caças, decide convocar uma equipe de mercenários de elite chamada Star Fox Team, com a missão de derrotar Andross — é aí que a missão estelar começa.

Para a criação da capa do jogo, Shigeru Miyamoto buscou inspiração na sua paixão por séries de fantoches inglesas, como Thunderbirds. 
Cartucho especial
Durante a divulgação do jogo, um cartucho promocional circulou em competições pelos Estados Unidos e Europa. Intitulados Super Star Fox Weekend (Official Competition) na América, e Star Wing: Official Competition, na Europa, o jogo, que trazia algumas pequenas modificações, servia de base para disputas acirradas em lojas de vários países. Mas tarde, os 2000 cartuchos produzidos foram sorteados pela extinta Nintendo Power. Hoje valem uma fortuna.

Viajando no tempo

Jogar Star Fox hoje, 22 anos após o lançamento no Super Nintendo, talvez não cause a mesma impressão de tempos atrás. Mesmo surpreendendo pelos gráficos em três dimensões em um console 16-bit, o detalhamento dos jogos atuais faz a Arwing parecer um borrão na tela. Por isso, voltamos um pouco no tempo, lá para o início da década de 1990, para entender melhor a sensação dessa obra atemporal.
Star Fox é capa da revista Ação Games #31.
Como a internet ainda dava os primeiros passos em território brasileiro e poucos tinham acesso, era nas revistas especializadas que a galera fica por dentro das novidades do mundo dos games. Sendo assim, recorri a algumas das mais importantes publicações da época para entender melhor o fenômeno Star Fox.

De encher os olhos

Star Fox foi feito com uma das grandes novidades da época: os gráficos poligonais. A técnica, ainda em desenvolvimento, permitia a criação de objetos em três dimensões, aparentando profundidade e realismo, características até então inéditas no Super Nintendo ou em outros consoles da mesma geração.

Star Fox conta com um sistema de Multi View Point, que permite alterar, a qualquer momento do jogo, o modo de visão do jogador entre três diferentes tipos de visão: normal, próximo da nave e de dentro do cockpit.
Nem mesmo a falta de cor e a predominância de tons escuros que afetava um pouco a beleza do jogo, causando falta de nitidez, foi capaz de evitar o estrondo daquela tecnologia. E como não podia ser diferente, a Nintendo soube contornar bem as limitações, utilizando as falhas para que parecessem elementos do cenário ou fazendo-os o mais simples possível, como a Arwing.

Star Fox é, sem exagero, o melhor jogo que a Nintendo já fez para o SNES. Perto dele, Super Mario World e até Mario Kart ficam parecendo brincadeira. (Ação Games #31, 1993)
Com movimentos complexos, aqueles poligonos branco e azul permitiam ao jogador atacar, defender e desviar com eficácia e até beleza. A Arwing foi realmente um dos grandes atrativos na época do lançamento do jogo, representando a modernidade e o salto de qualidade nos videogames. O conceito para criação da nave vem de um jogo para IBM PC, produzido pela Psygnosis, conhecida na época como uma desenvolvedora de ponta.

Você detona no espaço enquanto o chip Super FX adapta a perspectiva à sua posição. Uma piração! (Ação Games #131, 1993)
A verdadeira estrela
A Arwing é o símbolo de Star Fox. Como um veículo de F-Zero, é equipado com um dispositivo anti-gravidade chamado Gravity Diffusers (G-Diffusers). Ela pode virar e dar loopings com facilidade graças à sua rápida aceleração e controles flexíveis. A nave utiliza asas retráteis para um voo preciso durante o modo de combate. Cada Arwing tem como armamento principal os canhões lasers e as bombas como armas secundárias. (Descrição encontrada nos troféus em Super Smash Bros. Melee e Brawl.)

Trilha de outro planeta

Um dos maiores destaques do jogo fica por conta do som. Além de gráficos estonteantes, os efeitos sonoros, produzidos pelo mestre Koji Kondo, surpreendiam pela qualidade e, principalmente, pela trilha orquestrada e as vozes digitalizadas. Isso mesmo, trilha sonora repleta de instrumentos e personagens que falavam.
O Game mais detonante do ano tem deixado a galera de cabelo em pé! Boa sorte no espaço, raposa! (Ação Games #33, 1993)
Se você não vivenciou a era de ouro dos videogames (geração Super Nintendo e Mega Drive) não deve ter ideia de como ouvir as vozes dos personagens era algo raro nesses tempos. Por isso que Star Fox chocou o mundo dos videogames. Além dos gráficos poligonais, o som do jogo era de outro mundo. Tudo isso graças à grande novidade do título: o chip Super FX.

Guerra dos chips

Com toda a tecnologia que cerca os videogames hoje, com gráficos ultra realistas e possibilidades infinitas de programação, as discussões gamers acabam girando em torno da capacidade de determinado jogo rodar a 60 quadros por segundo ou se estão em resolução Full HD. Mas quando Star Fox foi lançado, lá em 1993, as rodas de conversa nas locadoras e nas colunas de revistas tinham outra pauta: a guerra dos chips.

Com o Super FX, Star Fox parece real. Deu para sentir o poder? E só para esnobar, o chip ainda melhora o som do game. (Ação Games #31, 1993)
Em 1993, na CES (Consumer Eletronics Show) de Las Vegas, o mundo assistiu a uma batalha de chips entre Nintendo e SEGA. A casa do Sonic apresentou o DPA (Dynamic Play Adjustmente), capaz de ajustar a dificuldade do jogo para cada jogador, e o BPM (Blasting Processing Mode), chip capaz de turbinar o processamento de qualquer título, que foi utilizado em Sonic 2.

Star Fox chega com tudo, esbanjando em efeitos tridimensionais, em vozes reais e muita ação. (VideoGame #25, 1993)
Já a Nintendo apostou as fichas no Mode 7 e no Super FX. O primeiro é um chip capaz de melhorar o processamento do jogo, enquanto o segundo, era um chip capaz de calcular a distância dos objetos dos cenários em relação ao personagem, dando a ideia de profundidade e realismo. Até então, esse tipo de tecnologia era exclusiva de máquinas poderosas, com cartuchos com mais de 80 MB como os do Neo-Geo. Se levarmos em conta que Star Fox possuia apenas 8 MB, dá para ter uma idéia da revolução.

Notas concedidas ao jogo pelas revistas especializadas:


EGM 8.75/10
Famitsu 34/40
Nintendo Power 4.125/5

GamePower
Gráfico 9/10
Som 10/10
Dificuldade 9/10
Fun Factor 10/10

VideoGame
Dificuldade 8/10
Gráficos 10/10
Música/Efeitos 9/9
Diversão 10/10

Universo em expansão

Já vimos que Star Fox foi um jogo muito a frente do seu tempo. Revolucionando a forma como jogos são feitos. Mas o que faz desse título tão importante para que 22 anos depois do seu lançamento ainda nos vemos tão interessados em pilotar uma nave pelo espaço na pela de uma raposa? Te respondo. Jogos de qualidade.


Após o sucesso de crítica e público do primeiro jogo, outros títulos vieram, colocando Star Fox definitivamente no posto das principais franquias da Nintendo. Mesmo que seus jogos não saiam com a mesma frequência de séries como Mario e Zelda, Fox e cia. estrelaram jogos memoráveis.

Star Fox 2

Previsto para 1995, Star Fox 2 nunca viu a luz do sol. A segunda aventura de Fox e seus amigos no SNES foi totalmente concluída mas, segundo Dylan Cuthbert, pragramador do título, o próprio Miyamoto decidiu que queria uma ruptura entre os jogos 3D no SNES, para que migrassem para o novo sistema, o Nintendo 64. Mesmo não sendo lançado, segundo o próprio Miyamoto, cerca que 30% de Star Fox 64 veio de Star Fox 2. Será que um dia veremos esse título? Seria um ótimo extra em Star Fox U, não?

Star Fox 64 (N64 — 1997/3DS — 2011)

Com gráficos completamente tridimensionais, sequências cinematográficas, novos veículos, compatibilidade com o Rumble Pack e modo multiplayer, Star Fox 64 é lembrado como um dos melhores títulos da série até hoje. Tanto é que ganhou um remake para Nintendo 3DS, em 2011, contando com melhorias gráficas e acréscimo do 3D estereoscópico e a possibilidade de controlar a Arwing através do giroscópio do portátil.

Star Fox Adventures (GC — 2002)

O que antes seria o jogo Dinosaur Planet, em desenvolvimento para o Nintendo 64, se tornou o último título produzido pela Rare para um console de mesa da Nintendo. Star Fox Adventure se passa 7 anos após os eventos ocorridos em Star Fox 64 e acompanha Fox, em posse do cajado de Krystal, encarregado da missão de buscar cristais mágicos capazes de trazer Dinossaur Planet de volta ao normal. Tudo isso ao melhor estilo The Legend of Zelda de exploração e aventura.

Star Fox Assault (GC 2005)

Produzido em parceria com a Namco, Star Fox Assault trouxe de volta a jogabilidade tradicional da série, com enfase para o combate aéreo no controle da Arwing. O jogo se passa um ano após os acontecimentos de Adventures, com os Aparoids se tornando uma ameaça ao sistema Lylat. Alternando momentos épicos e outros frustantes (missões terrestres), Assalt é considerado um dos títulos mais fracos da série.

Star Fox Command (DS — 2006)


Desenvolvido pela Q-Games, Star Fox Command é o primeiro jogo da série para um portátil e o primeiro a oferecer multiplayer online. Command utiliza um sistema de jogabilidade que mistura estratégia e ação. O jogador precisa traçar rotas de voo com a stylus e enfrentar inimigos em arenas abertas com a Arwing. Nelas, cada personagem possui seu próprio veículo, com características próprias e únicas. A história se passa três anos após os eventos de Assault e conta com nove finais distintos.

A jornada continua


A jornada ainda não terminou. 2015 é o ano do retorno da franquia. Em breve, Fox McCloud, Slippy Toad, Peppy Hare e Falco Lombardi retornarão aos combates espaciais, dessa vez no Wii U, com um título desenvolvido pelo Project Garage. Resta aguardar pelo momento que o nosso GamePad controlará a Arwing. Até lá, que tal tirar a poeira do seu SNES e reviver a batalha do Star Fox Team contra Andross e seus comparsas?

Revisão: José Carlos Alves
Capa: Diego Migueis


Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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