Análise: Persona Q: Shadow of the Labyrinth reúne o melhor de Persona e Etrian Odyssey em um incrível RPG

Unindo não só Persona 3 e 4, mas também a mecânica de Etrian Odyssey, Persona Q condensa o talento e o carisma da Atlus para mais uma aventura incrível no 3DS

em 29/12/2014
Como se já não bastasse Shin Megami Tensei IV, Devil Summoner: Soul Hackers e o capítulos novos e remakes de Etrian Odyssey, a Atlus trouxe ao 3DS (e felizmente, para o Ocidente também) mais um profundo, desafiante e carismático RPG. Persona Q: Shadow of Labyrinth (3DS) não é apenas um glorioso crossover entre os estudantes de Persona 3 e Persona 4 . Este primeiríssimo Persona a ancorar numa plataforma Nintendo é, mais do que tudo, uma mistura da incrível fórmula e universos desse spin-off da série Megami Tensei com a mecânica de exploração de labirintos de Etrian Odyssey. Saiba por que Persona Q é mais um motivo para amar o trabalho da Atlus no 3DS!


3+4=Q

O grande chamariz de Persona Q é justamente a junção dos personagens e elementos de Persona 3 e Persona 4, dois dos melhores títulos da série. Como muitos donos de 3DS não tiveram experiência com a série, até então exclusiva das plataformas PlayStation, é bom salientar que Persona é uma subdivisão da gigantesca franquia Megami Tensei. Nessa subsérie, a tradição de recrutar demônios efêmeros para o seu grupo e fundi-los entre si é trocada pelos Persona, entidades mais pessoais e que combinam com o aspecto mais juvenil e psicológico desses spin-offs.

No 3DS, a Atlus, ciente de que muitos jogadores não conheceriam tão bem os legados de Persona 3 e Persona 4, adicionou à mistura a mecânica de exploração de labirintos em primeira pessoa, já tradicional na franquia Megami Tensei, porém ausente em Persona. A estreia da mecânica de dungeon crawler seguiu quase que à risca o modelo de Etrian Odyssey, série de RPG exclusiva dos portáteis Nintendo. Assim, ao mesmo tempo em que Persona Q agrada os fãs da série Persona e traz mais uma boa dose de labirintos aos fãs da série Etrian Odyssey, oferece a cada um desses diferentes públicos um agrado extra.

Persona na tela de cima, Etrian Odyssey na de baixo
E, acredite, a junção é incrível! Por um lado, é fantástico ver personagens de Persona 3 e 4 interagindo, enquanto que, por outro, a mecânica de utilização de Personas casou muito bem com a estrutura de Etrian Odyssey. Persona Q é, assim, um RPG ímpar e denso, embora não seja o mais difícil que a Atlus já trouxe ao 3DS.

Em busca de respostas

O enredo de Persona Q gira em torno de uma versão alternativa do Colégio Yasogami, quando um misterioso som de um sino e uma torre do relógio trazem à tona sinistras lendas urbanas: as Sete Maravilhas do Colégio Yasogami. O badalar do sino é ouvido tanto pelos membros da SEES (de Persona 3) quanto da Investigation Team (de Persona 4), e cada um dos grupos de estudantes terá de desbravar labirintos repletos de inimigos e segredos para voltar ao mundo real. Há ainda os personagens originais Rei e Zen, que desempenham papel central na trama.
Zen e Rei são uma grande novidade até para quem já jogou Persona 3 e 4



Apesar de ser um crossover, o jogo é, na verdade, dividido entre os caminhos de Persona 3 e Persona 4. A escolha é difícil, mas tem de ser feita no momento inicial do jogo, uma vez que alterará a história, os personagens jogáveis e a trilha sonora. Felizmente, isso também dá margem a quase que dois jogos em um só, uma vez que, após viver essa aventura na perspectiva da equipe de Persona 4, é impossível não querer fazê-lo com o time de Persona 3 - e vice-versa. 


Infelizmente, quem não está inteirado nos acontecimentos e personagens desses dois games anteriores da série Persona ficará perdido em Persona Q. Claro que o roteiro permanece interessante com personagens carismáticos, mas a sensação será de estar pegando um ônibus em movimento, sem qualquer preperação ou apresentação dos personagens.

O que diabos é Persona?Além de ser o nome dessa subsérie de Megami Tensei, Persona são as entidades que auxiliam os personagens na luta contra os Shadow. Ambos, Persona e Shadow, são manifestações da personalidade e experiências de indivíduos. Porém, enquanto o primeiro funciona como um ajudante, o segundo é uma manifestação descontrolada de sentimentos negativos. Apesar dessa divisão, é possível que um Persona se rebele contra seu dono.

Para os fortes!

Não se engane achando que a Atlus aliviou o padrão de dificuldade de seus RPGs para os nintendistas pouco familiarizados com Persona. Persona Q é essencialmente um jogo desafiador, mesmo nas suas opções mais fáceis. É necessário, antes de qualquer imersão num labirinto, muito planejamento. E, uma vez lá dentro, avaliar cada passo e calcular as jogadas é sua principal arma.

Assim como em Etrian Odyssey, é possível (e altamente recomendado) usar a stylus para tracejar e colocar marcadores no mapa de cada labirinto. Pode ser meio desconfortável ficar trocando entre os botões para a ação e a canetinha para o trabalho minucioso de desenhar o mapa, mas é um recurso muito interessante. Como os labirintos podem ser imensos, é essencial desenhá-los com bastante atenção!

Algumas batalhas serão bem desafiantes. Prepare-se!
Conheça a SEES e a Investigation TeamSigla para Specialized Extracurricular Execution Squad, trata-se de um “clube escolar” do Colégio Gekkoukah, de Persona 3, inclusive com monitores e supervisores. Esse grupo de estudantes possui Persona e os usam para derrotar Shadows. A misteriosa torre Tartarus, que aparece durante a Dark Hour, é o grande foco das investigações dessa equipe. Já a Investiation Team é o equivalente da SEES em Persona 4, grupo que investiga o misterioso Midnight Channel e combate Shadows com seus Persona.

PERSONAlize

O sistema de combate segue o estilo de Etrian Odyssey, com batalhas em turnos aleatórias e eventuais encontros com FOEs, adversários especialmente fortes que podem ser evitados com um pouco de sorte e esforço. Tudo, obviamente, seguindo o padrão de magias e habilidades da série Persona. Temos também o sistema de Boost, que jogadores do recente Shin Megami Tensei 4 já estarão meio familiarizados. Essa mecânica concede bônus (como insensão de HP e SP para magias) caso o jogador explore bem as fraquezas e desvantagens elementais dos inimigos.

E, acredite, há muitos inimigos no jogo! Experimentar diferentes magias em cada um para estar mais preparado nos próximos confrontos é a chave para não desperdiçar HP e SP e se beneficiar do sistema de Boost. Para aumentar ainda mais a plasticidade de cada personagem (que já tem uma árvore natural de habilidades e pode receber equipamentos e armas diversas), agora é possível aliar sub-Persona a eles. Eles funcionam semelhantemente ao recrutamento de demônios típico da franquia Megami Tensei como um todo, mas, em Persona Q, concedem habilidades e atributos aos seus guerreiros.


Escolher seus cinco lutadores para cada exploração, buscar os melhores equipamentos e armas para cada um, selecionar o sub-Persona de cada um e conduzí-los da melhor forma possível pelos labirintos não será tarefa fácil. Após um labirinto superado, espere por uma gratificante sensação de trabalho cumprido!

A escolha de personagens é crucial

Beleza enigmática

Mesmo com o belo remake de Persona 4 no PS Vita, a Atlus soube explorar muito bem o hardware do 3DS para nos oferecer uma aventura de encher os olhos. A modelagem de cada personagem e cenários não irão desapontar quem já está acostumado com os brilhantes visuais que a franquia Persona tem apresentado até aqui. Cada labirinto e tipo de inimigo contam com um estilo de arte diferente, oferecendo sempre uma aventura mais bonita do que a outra.


A trilha sonora também é invejável! Aproveitando muito da herança musical da franquia Persona e inovando com composições novas, é um dos jogos que faz valer as caixas de som do 3DS. No meu caso, o que aliviava minha tensão ao confrontar um oponente eram justamente as belas canções temas das batalhas. De fato, Persona Q tem o selo de qualidade artístico da franquia Megami Tensei.

Q de quê?Afinal, de onde vem o “Q” de Persona Q? Acontece que, no Japão, a franquia Etrian Odyssey é apelidade de “Meikyū”, cujo sufixo “Kyū” tem o mesmo som da letra Q. Assim, “Persona Q”, em japonês, acaba sendo uma referência clara à mistura das franquias Persona e Etrian Odyssey, algo que, aqui no Ocidente, só fica claro jogando o jogo.

Bem vindo, Persona!

Persona Q é a melhor recepção que a franquia Persona poderia ter recebido numa plataforma Nintendo. Embora as referências constantes a Persona 3 e Persona 4 possam deixar jogadores novos perdidos, a mecânica de jogo já familiar aos donos de 3DS é um bom pontapé inicial. O resultado, sobretudo para quem é fã de Persona e Etrian Odyssey, é um dos crossovers mais geniais já criados.


Mas, acima de qualquer fan service ou apelo a experiências passadas dos jogadores, Persona Q não mede esforços para oferecer um RPG sólido, desafiante e original. Cheio de charme do início ao fim, trata-se de uma aventura que merece a atenção de qualquer um que gosta de se comprometer com uma boa pitada de estrategismo. Junte seu grupo de cinco estudantes e venha explorar esses labirintos!

Prós

  • RPG denso, desafiante, extenso e ímpar;
  • Junção genial das mecânicas de Persona e Etrian Odyssey;
  • Incrível para quem já jogou Persona 3 e Persona 4;
  • Enredo interessante e enigmático;
  • Subpersonas e sistema de Boost ampliam a customização e estrategismo;
  • Visuais e trilha sonora são incríveis.

Contras

  • Falta de apresentação dos personagens e universo para quem é novato na série.
Persona Q: Shadow of Labyrinth - 3DS - Nota: 9.5

Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Felipe Araujo 

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