Análise: Pier Solar HD (Wii U) é nostalgia, mas também é repetição

Pier Solar and the Great Architects HD é uma remasterização de um jogo indie. O jogo impressiona em alguns feitos, mas nem tanto em outros.

em 21/11/2014
Pier Solar and the Great Architects é um jogo lançado em 2010 por fãs do Mega Drive como comemoração pelos 20 anos de existência do console (inicialmente o título seria lançado em 2008, mas houve alguns atrasos na produção).. O jogo foi produzido de forma totalmente independente e lançado para Mega Drive e Sega Genesis, mas sua popularidade nas plataformas faria uma versão melhorada ser produzida para vários outros consoles.


Assim, através de uma arrecadação feita utilizando o Kickstarter, foi produzido Pier Solar and the Great Architects HD, ou simplesmente Pier Solar HD, que traria a vivência dos RPGs clássicos dos anos 1980 para o PS3, PS4, PC, XB, XBO, Android, Wii U e até para Dreamcast, Sega Genesis e Ouya. O problema é que junto com o efeito nostálgico vieram pequenos problemas que interferem um pouco na diversão, mesmo sendo este um ótimo título para quem gosta do gênero.

O garoto em busca da salvação do pai

A história inicial do jogo acompanha Hoston, um jovem botânico que, ao ver seu pai chegar próximo da morte por conta de uma doença desconhecida, se une aos seus dois melhores amigos para ir em busca de uma erva rara que irá salvá-lo. Com a companhia de Alina e Edessot, seus fiéis amigos, o herói começa sua busca enfrentando problemas muito maiores do que tinha imaginado.


Como em todo bom JRPG, a história de Pier Solar HD se complica ao longo do caminho e foge bastante daquilo que seria a trama inicial. Um dos pontos positivos nisso é que, além do enredo ser bem rico, um dos desenvolvedores originais do jogo, Tulio Adriano, é brasileiro. Por conta disso, uma das opções de idioma básicos do jogo é o português brasileiro. Para a geração que cresceu jogando Chrono Trigger em japonês, jogar um JRPG em português e poder acompanhar a história é uma experiência muito divertida, sem dúvidas.

Um visual de primeira que faz jus ao “HD”

Comparado à sua primeira versão, Pier Solar possui gráficos belíssimos. Mesmo com personagens caracterizados com 16 bits, os cenários foram todos refeitos de forma que cada um parece feito à mão. As texturas dos mapas, iluminação e comportamento dos personagens causam um choque de gerações onde podemos notar as características marcantes dos jogos de 20 anos atrás em choque com texturas e qualidades mais atuais.


Além do visual, as músicas também são ótimas e fazem lembrar clássicos como Final Fantasy, Chrono Trigger e Dragon Quest. Com aquele tipo de ritmo sereno e pacífico que gruda na cabeça, ou então com aqueles “jargões em forma de música” no momento das batalhas ou das vitórias.

O único problema na estilização dos mapas é o fato da noção de profundidade ser prejudicada algumas vezes. Em certos momentos dentro de uma caverna ou andando pela cidade, é preciso parar por um momento para entender se aquela plataforma está acima ou abaixo de você. Mas com um certo tempo de jogo passa a ser mais fácil notar a diferença.


Batalhas e inimigos não tão cativantes assim

Pier Solar HD traz bastante nostalgia em vários pontos distintos do jogo. Porém, se existe algo em que não precisamos reviver o passado, esse algo é o sistema de batalha lento, cansativo e repetitivo dos clássicos. Tentando fazer uma homenagem aos jogos antigos, o título da WaterMelon trouxe um sistema de batalha desmotivador que causa certo desânimo para prosseguir a aventura algumas vezes.

Seja pelo ritmo lento das batalhas ou pelo design repetitivo das criaturas, os momentos de confronto são interessantes à primeira vista, mas enjoam rápido. Mesmo com a opção de ataque automático esse problema não é diminuído, uma vez que a AI do jogo comete determinados erros que nós, como jogadores, não cometeríamos (como curar o personagem errado durante a batalha, causando a morte do outro).


Desafio digno dos clássicos

Se nas batalhas o jogo se torna cansativo e repetitivo, na obra como um todo, ele possui um nível de dificuldade elevado e desafios dignos dos clássicos. Aquela máxima já conhecida pelos mais velhos onde “os jogos antigos eram bem mais difíceis” foi levada em consideração na produção de Pier Solar HD. Se não fosse pela opção de idioma favorável a nós brasileiros, muitos teriam sérias dificuldades para entender aonde ir ou o que fazer durante a aventura.

Fora a pequena quantidade de tutoriais, característica que Pier Solar HD pega dos títulos que o inspiraram, a dificuldade para vencer inimigos e passar de níveis também é notável. Em três ou quatro horas de jogo, onde em outros títulos seria possível alcançar algo em torno de 10 níveis, em Pier Solar você não ultrapassa o 4º. Equipamentos e magias são mais difíceis de serem conquistados também, dificultando mais ainda a evolução dos personagens.

Com um controle dos status e mapas do jogo interativo, o título da WaterMelon faz um bom uso do GamePad
Além disso, o fato dos lugares para se salvar o jogo serem bem específicos e a quantidade de antídotos e ervas curativas ser bem pequena só piora a situação dos jogadores mais casuais, sendo necessária uma dedicação um pouco maior para que consigam vencer os desafios propostos pelo jogo. Como cereja do bolo, temos baús secretos trancados e áreas escondidas que escondem artefatos, equipamentos e itens diversos raros que podem ser úteis durante batalhas mais tensas, o que influencia e estimula a exploração máxima dos mapas do jogo. O problema é que, ao mesmo tempo que essa exploração é motivada pelos segredos, ela é desmotivada pelo sistema de batalha repetitivo do qual já falamos aqui.

Acima de tudo, a nostalgia é o que nos motiva

Um fato é que Pear Solar and the Great Architects não é um jogo para todos os públicos. Não pelo seu conteúdo, mas sim pelas suas características citadas aqui. Por conta do seu nível de dificuldade elevado, gráficos estilizados focando o 16 bits, enredo com influência dos JRPG dos anos 1980 e defeitos advindos dessa mesma época, o título não é algo que vai atrair à primeira vista qualquer um que o jogue.

Tudo nele é feito para atrair os saudosistas que amaram sua infância jogando jogos como Chrono Trigger, Final Fantasy e Dragon Quest, seja no NES, no Genesis ou no Dreamcast. Para esse público, na casa dos 20 aos 40 anos, todos os defeitos do jogo conseguem ser ignorados devido ao sentimento nostálgico que esse causa. Esse foi o plano da WaterMelon desde o início e nisso, eles se saíram muito bem. O jogo não é perfeito em hipótese nenhuma, mas com certeza é um viajante no tempo, um clássico lançado na década errada.


Prós

  • Texturas belíssimas com aparência artística;
  • Enredo complexo e bem extenso;
  • Alto nível de desafio, até no processo de evolução dos personagens;
  • Linguagem em português possibilita maior envolvimento com a história;
  • Sentimento nostálgico muito positivo para os jogadores mais velhos;
  • Trilha sonora adequada e bem produzida;
  • Personagens distintos com bom entrosamento;
  • Classes variadas possibilitam várias estratégias distintas durante as lutas;
  • Boa adaptação ao GamePad.

Contras

  • Batalhas repetitivas e cansativas;
  • Estilo do jogo pode não agradar jogadores mais novos;
  • Problemas com a noção de profundidade em certos pontos;
  • Jogo se baseia muito na nostalgia.
Pier Solar and the Great Architects — Wii U — Nota: 7.5

Revisão: Alan Murilo
Capa: Doug Fernandes


Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.