Análise: Shantae and the Pirate's Curse (eShop/3DS) é o melhor jogo da série

O terceiro título da garota meio-gênio pega os melhores aspectos dos episódios anteriores e os aplica em uma aventura divertida e bem trabalhada.

em 27/10/2014

Shantae foi um marco quando foi lançado para GBC, em 2002. O jogo, que misturava plataforma e exploração, saiu já no final da vida do console e foi um sucesso de crítica por causa de sua qualidade. A garota meio-gênio que ataca com seu grande rabo-de-cavalo e se transforma em animais por meio de danças mágicas se tornou a principal personagem da produtora indie WayForward.


Shantae and the Pirate’s Curse é o terceiro título da série e foi lançado no eShop de 3DS (futuramente também chegará ao eShop do Wii U) mais de dez anos após o jogo de GBC. O novo jogo acolhe a jogabilidade básica do estilo conhecido por metroidvania, mas muda conceitos básicos: Shantae não tem mais poderes mágicos e usa equipamentos de piratas para progredir na aventura. Em conjunto com uma parte técnica impecável, Pirate’s Curse é facilmente o melhor jogo da série até o momento.

Parceria inesperada

Depois de sua última aventura, Shantae perdeu seus poderes mágicos. Mas mesmo sem poder conjurar feitiços e se transformar em animais com o poder da dança, a garota continua no posto de protetora do porto de Scuttle Town. Um dia, Shantae é surpreendida com uma visita inesperada: sua arqui-inimiga Risky Boots, responsável por inúmeros problemas no passado.


A pirata afirma que teve seus equipamentos e tripulação roubados por Shantae, que diz não saber nada disso. A dupla encontra um dos comparsas de Risky Boots, mas ele se transforma em uma criatura feroz ao entrar em contato com uma magia sombria. A pirata percebe então que o responsável pelo sumiço de suas coisas é Pirate King, um terrível ser com poder de destruir toda a Sequin Land. Risky explica que ele já tinha sido derrotado no passado, mas agora estava aproveitando resquícios do poder de Shantae para retornar à vida.


Risky Boots detesta o Pirate King e por isso quer impedir seu retorno a todo custo. Por estar sem tripulação e ser odiada por toda Sequin Land, a pirata propõe uma trégua à ex meio-gênio para que as duas trabalhem juntas. É uma situação benéfica para ambas: Risky recuperará sua glória como pirata, enquanto Shantae poderá reaver seus poderes mágicos. Diante disso, Shantae deixa as diferenças de lado e se une a Risky Boots em uma aventura por toda Sequin Land.

Explorando as ilhas de Sequin Land

Shantae and the Pirate’s Curse segue a estrutura básica dos jogos anteriores da série em uma aventura de ação e plataforma 2D. Em suas viagens, Shantae enfrenta inúmeros inimigos e explora vários locais. O estilo do jogo é do consagrado gênero “metroidvania”, contando com áreas grandes repletas de segredos — muitos deles só podem ser acessados após adquirir habilidades específicas.


Ao invés de um grande mapa com áreas interligadas, a aventura em Pirate’s Curse é dividida em várias ilhas, cada qual com um tema e localidades distintas para explorar, de maneira bem similar à Castlevania: Order of Ecclesia (DS). É uma divisão inteligente, pois torna fácil revisitar locais previamente explorados — algo que acontece com frequência, já que muitas vezes itens necessários para avançar na história estão escondidos nesses lugares.

Um mundo construído com esmero

Além dos vários segredos espalhados pelo mundo, outro detalhe torna prazerosa a exploração: o visual. Os gráficos de Pirate’s Curse são desenhados à mão e contam com pixel art detalhado. É tudo muito bonito e bem trabalhado, sendo que os personagens e inimigos têm animação fluida. O visual é complementado pelo efeito 3D, que cria várias camadas diferentes no cenário, sendo o resultado bem agradável. Até mesmo as ilustrações dos personagens têm camadas, o que mostra o esmero da produtora WayForward. Pirate’s Curse é um daqueles títulos que deve ser jogado com o efeito 3D no máximo.

A música também é destaque. Ela é de autoria de Jake Kaufmann, responsável pelo áudio dos jogos anteriores da série e outros títulos como Shovel Knight (Wii U/3DS/PC). A variedade de composições é grande e com melodias que combinam bem com as várias localidades do jogo — por mais que algumas poucas tenham uma pegada “pop” demais para alguns momentos. A trilha sonora também conta com ótimos remixes de músicas de capítulos anteriores da série.

Outro ponto alto são os diálogos: eles são divertidos e repletos de humor, contando também com referências à cultura pop. Um exemplo legal é quando Shantae encontra um dos chefes do jogo anterior, que está muito depressivo por ter sido deixado de lado nessa nova aventura e torce para ao menos ser colocado como sub-chefe. Já em outro momento uma certa “princesa espacial” de uma série muito popular é mencionada.

Meio-gênio ou pirata?

As regiões de Sequin Land estão repletas de inimigos que farão de tudo para impedir Shantae, mas isso não é problema para a garota. A principal forma de derrotar os monstros é com o grande rabo-de-cavalo da jovem: ela o usa como se fosse um chicote, atacando tudo o que encontrar pela frente. Alguns itens ajudam na sobrevivência, como uma bola com espinhos que gira em volta de Shantae e comida capaz de aumentar ataque e defesa. Inimigos derrotados deixam dinheiro, que pode ser utilizado para comprar melhorias — coisas como um xampu que aumenta a força do cabelo da garota e até mesmo novos movimentos defensivos e ofensivos. A tela de toque tem vários usos, podendo ser utilizada para exibir o mapa do local ou para utilizar itens.

Shantae perdeu seus poderes mágicos, logo ela não pode utilizar seus feitiços e danças de transformação dos títulos anteriores. Mas isso não será problema: pela aventura a jovem encontra os equipamentos da pirata Risky Boots, que lhe conferem novos ataques e habilidades. A pistola é ótima para ativar botões e acertar inimigos distantes, mesmo que os tiros sejam fracos. Já o chapéu de capitão pirata permite flutuar pelo ar e alcançar locais distantes. Vários equipamentos estão espalhados pela a aventura, trazendo uma boa sensação de progressão, além de grande variedade de ataques. Estes novos itens e habilidades são bem divertidos de usar, fato que é reforçado pelos controles precisos.

Não pense que a jornada de Shantae será fácil: mesmo com um arsenal de novos truques, a dificuldade é constante e crescente. Prepare-se para enfrentar trechos repletos de inimigos, sessões que exigem pulos complicados e calabouços repletos de puzzles. O desafio é alto e pode chegar a níveis frustrantes nas partes finais da aventura, mas em nenhum momento beira o impossível. Um ponto fraco são os chefes: eles são fáceis e protagonizam batalhas sem muita inspiração — as situações e padrões de ataques deles já foram muito explorados anteriormente em outros jogos do gênero.

Pirate’s Curse não se resume a matar inimigos e pular, o jogo conta com várias situações distintas que ajudam a quebrar o ritmo. Em um momento, por exemplo, Shantae tem que se esgueirar nas sombras para escapar furtivamente de um castelo. Já em outro, a garota tem que atravessar correndo uma sessão repleta de obstáculos complicados, parando o mínimo possível. Além disso, vários segredos e colecionáveis estão espalhados pelas ilhas, como inimigos especiais e polvos que aumentam a energia máxima da heroína. Muitos deles estão bem escondidos e é necessário explorar minuciosamente os lugares para encontrar tudo. A aventura não é muito longa, mas vários finais e um modo extra são incentivos para revisitar o jogo.

Uma aventura memorável

Shantae and the Pirate’s Curse tem tudo o que um bom jogo de plataforma precisa: belo visual, jogabilidade divertida e boa quantidade de conteúdo. É fácil mergulhar nesse mundo repleto de personagens divertidos e situações variadas em busca de todos os segredos escondidos nas várias ilhas de Sequin Land. O ponto negativo fica por conta dos chefes que não são muito inspirados — mas a dificuldade na medida certa compensa esse pequeno defeito. Se você gosta de aventura e exploração em duas dimensões, não deixe de jogar Shantae and the Pirate’s Curse.

Prós

  • Belos gráficos e efeito 3D bem utilizado;
  • Comandos precisos e jogabilidade variada;
  • Muitos segredos espalhados pela aventura;
  • Ótima trilha sonora;
  • Texto divertido.

Contras

  • Chefes fáceis e pouco inspirados.
Shantae and the Pirate's Curse — 3DS — Nota: 9.0
Revisão: Alan Murilo
Capa: Felipe Araújo
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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