Prévia: Professor Layton Vs. Phoenix Wright (3DS) coloca duas grandes mentes lado a lado

O tão aguardado crossover das franquias da Capcom e da Level-5 finalmente chega ao ocidente dia 29 de agosto, misturando as mecânicas e trazendo muitas novidades.

em 17/07/2014

Há quase quatro anos, na Level-5 Vision de 2010, foi anunciado um crossover que uniria duas grandes franquias com diversas similaridades e muitos dedos indicadores apontando. Level-5 e Capcom estariam colaborando para fazer com que o melhor dos arqueólogos e o melhor dos advogados se unissem lado a lado para desvendar mistérios que rondavam uma cidade fantasiosa — via julgamento e via quebra-cabeças. Depois de muito tempo se contentando com um lindo trailer de três minutos, o jogo finalmente começou a ser vendido, ao final de 2012, mas apenas no Japão. O que se deu foi muito silêncio e incerteza sobre sua localização (devido a vendas não tão expressivas no Oriente), até que, num Nintendo Direct de quase um ano atrás, veio o primeiro teaser de que a adaptação ocidental seria realmente feita. Após anos de espera, finalmente chegamos perto da data de lançamento de Professor Layton vs. Phoenix Wright: Ace Attorney, e nossa expectativa não poderia ser maior.


O melhor de dois mundos

É fato que ambas franquias são de altíssima qualidade. Para quem não conhece, ambas são visual-novels (estilo no qual o jogador passa boa parte do tempo lendo falas e acompanhando o desenrolar da história) com seções point and click. Professor Layton, entretanto, mescla essas seções com centenas de diversos puzzles a serem resolvidos para dar continuidade à trama, enquanto Phoenix Wright as intercala com seções de julgamento, nas quais devemos prestar atenção nos depoimentos das testemunhas e levantar protestos ao descobrir alguma contradição em relação a uma evidência que está em nossa possessão. Com grande foco na história e seu desenrolar e proporcionando altas doses de satisfação ao desvendar um enigma ou achar uma contradição, as empresas resolveram pegar essas duas principais mecânicas (puzzles e tribunais) e o característico forte enredo e uni-los como centro do crossover.

Alternando entre capítulos no comando de Layton ou de Wright, o primeiro com enfoque maior nos puzzles e o segundo nos julgamentos, o jogador deverá unir-se a dois dos mais perspicazes personagens do mundo dos games e seus ajudantes (Luke e Maya, respectivamente) para resolver os mistérios do título que, como era de se esperar, vai contar com muitas reviravoltas. Uma das grandes novidades é o teor fantasioso que percorre a trama. Os julgamentos agora não são “simples” acusações de assassinato, mas sim de bruxaria! Num mundo onde magia e feitiços são argumentos válidos, toda a lógica dos tribunais deve ser repensada, tal qual a da resolução dos enigmas, dando assim um ar de novidade a ambas as franquias.


Bem vindos à cidade de Labyrinthia

A história tem início na já familiar Londres, onde Layton e Luke são abordados por Espella Cantabella, uma jovem que está sendo perseguida por uma força sobrenatural. Após ser capturada pela entidade, o professor e seu ajudante se veem transportados através de um livro para a cidade de Labyrinthia. Nessa mística cidade, bruxas se escondem em plena vista, enquanto os cavaleiros da inquisição tentam caçá-las e, se provadas serem bruxas, são queimadas vivas. A caça as bruxas tem como objetivo final encontrar e destruir Bezella, a líder das feiticeiras do mal e responsável por um imenso fogo que destruiu a cidade de Labyrinthia há mil anos atrás.


Enquanto isso, ao viajar para Londres a trabalho, Phoenix Wright e Maya Fey acabam encontrando o livro como evidência para seu caso mas, infelizmente para eles e felizmente para nós, são transportados também para Labytinthia City. Ao se deparar com Espella sendo acusada de bruxaria e descobrir o que acontece com quem é condenado, Wright se prontifica a defender a garota a qualquer custo, desencadeando assim os eventos principais da trama e as interações entre o “Ace Detective” e o “Ace Attorney”. Os protagonistas juntam forças, mesmo que a contragosto a princípio, para resolver o enigma de Bezella e o grande Storyteller (o Contador de Estórias), que dizem ter o poder de tornar real tudo que ele escrever. Como vencer julgamentos com destino já escolhido? Como resolver enigmas envoltos em magias e contradições? Somente unindo o talento de ambos os protagonistas.


Um pouco de Layton em Wright e Wright em Layton

 As mecânicas já consagradas da série foram influenciadas uma pela outra, o que gerou em várias novidades sutis mas bem-vindas, em termos de gameplay. Tal qual os jogos de Ace Attorney são divididos em duas seções (investigação e tribunal), o crossover também recebeu essa divisão, contando com as partes de “aventura” e “tribunal das bruxas”. A parte de Aventura engloba a mecânica já conhecida de investigar locais e interagir com pessoas em busca de informação e evidências (característicos da franquia de Wright) com a mecânica base de Layton. O aspecto do professor incorporado faz com que o jogador percorra os ambientes na busca de enigmas para resolver e procurar Hint Coins (moedas que ajudam na resolução de enigmas) ao longo do cenário. Enigmas resolvidos podem render novas informações ou até mesmo evidências para serem usadas nos segmentos de corte.



Mas se a seção Adventure apenas uniu o que já era similar em ambas as franquias, os momentos de Witch Trial são os que trazem mais novidade. Agora, como era de se esperar de um julgamento não tão padronizado como os de hoje em dia (ou melhor, de 2016 em diante), várias pessoas podem dar seus depoimentos simultaneamente. As seções de inquérito de grupos grandes de pessoas são as que trazem mais novidade, pois como você interage com um dos indivíduos pode causar uma reação em outro — que por sua vez pode ser positiva ou não.


Além disso, as Hint Coins usadas nos enigmas foram incorporadas no tribunal. A cada moeda usada, o jogo avisa uma evidência que não se relaciona com o depoimento em questão, facilitando achar a contradição. A última novidade e também uma das mais interessantes é que além da Court Records — os autos do processo no qual se encontram todas as evidências — Phoenix também terá acesso ao Grand Grimorie, um grimório repleto de feitiços que podem ser utilizados como forma de protesto ao longo do tribunal. Como dito, numa terra onde bruxaria é dado como um fato, é necessário usar fogo contra fogo.


Arte e som literalmente de outra dimensão

Se a história já era garantia de ser envolvente, cheia de reviravoltas e com uma trama sólida — afinal estamos falando de duas franquias cujo enredo é um dos maiores atrativos —, a direção de arte e a trilha sonora não ficaram nem um pouco atrás. Embora Layton tenha traços mais caricatos, com feições e proporções exageradas, e Wright conte com personagens mais proporcionais e um estilo remanescente de animes, as empresas colocaram bastante esforço para que o universo e os personagens do crossover se mantivessem unificados.



Um Layton mais alto, com corpo mais proporcional e feições menos caricatas ainda continua distinguível mas não contrasta tanto com Wright. Interessantes são os personagens novos, que apresentam um misto de ambas direções de arte. Os próprios desenvolvedores brincam que, se prestar atenção, você pode perceber para qual dos dois estilos cada personagem pende mais. Além dos personagens em si, não podemos deixar de mencionar os belíssimos cenários e a vívida corte nas quais as seções de aventura e julgamento tomam lugar — tudo fazendo belíssimo uso do efeito 3D do portátil. Obviamente, não podemos deixar de mencionar as belíssimas animações, que chegam a um total de quase 45 minutos. Ver Layton e Wright apontando para a mente nefasta por trás dessa confusão ou ambos apontando em um último objection durante o julgamento final certamente será impagável!

 Somente ao colocá-los lado a lado podemos ver o quão diferentes o Layton original e o Layton à lá Phoenix Wright são
Um livro de dar asas à imaginação
Se dentro do jogo um livro foi capaz de causar todo esse alvoroço, na vida real outro é capaz de criar muito mais. No lançamento japonês, havia uma versão do jogo que acompanhava um belíssimo artbook cheio de artes conceituais e ideias não utilizadas no título. Um Layton robô, Phoenix e Maya desenhados no estilo de Layton, uma versão maligna do professor, uma espécie de “ladrão de rostos” que poderia assumir várias identidades e espécie de ancestrais de personagens conhecidos como Larry Butz e Miles Edgeworth mostram como o jogo tinha muito potencial não utilizado. Quem sabe, se ele fizer sucesso, não recebemos uma sequência que coloque alguma dessas ideias em prática.

E se a tela agrada a nossos olhos, a saída de áudio do 3DS massageia nossos ouvidos. Contando com faixas de ambas as franquias — as de Layton com arranjos inspirados na trilha sonora de Unwound Future e as de Wright inspirados no primeiro jogo da série —, eles acertaram em cheio ao pegar as melhores músicas que os jogos já disponibilizaram e remasterizá-las com novas composições e versões orquestradas. O jogo ainda conta com suas composições originais, que têm mérito próprio por ajudarem a dar o toque medieval à história, mas se perdem em meio às composições antigas revisitadas. Nem o mais duro coração de pedra consegue resistir ao arranjo estilo caixinha de música de Turnabout Sisters.

Outra opinião
Como fã de Layton e Wright, o que mais me impressiona foi o quanto eu, desde o início, imaginava o quão incrível seria vê-los juntos. Desde que conheci ambas as franquias, um crossover sempre me pareceu uma possibilidade desperdiçada, mas hoje vejo que Capcom e Level-5 correram atrás desse atraso. Com uma mistura incrível de estilos que beneficia tanto os puzzles de Layton quanto as cross-examinations de Phoenix, o game parece incrível. Pude jogar um pouco da versão europeia e podem confiar: é de dar água na boca… Pena que, na parte de Ace Attorney, o visual fica muito abaixo de Dual Destinies (3DS).
Rafael Neves, redator e diretor de publicações

Pra todo enigma existe um veredito de inocente

Depois de nos fazer esperar quatro anos desde que o título foi anunciado, finalmente fãs de ambas as franquias poderão revisitar seus personagens de uma forma inédita. Fãs de Layton poderão se agarrar um pouco mais a um personagem que se despediu para sempre em fevereiro. Fãs de Wright poderão experimentar novamente as interações do advogado com a médium viciada em hambúrgueres que é Maya Fey. É fato de que seria interessante ver mais rostos reconhecidos e maior interações entre os universos das franquias do que simplesmente colocar os protagonistas em um mundo que não conhecemos, mas o resultado ainda promete diversão, reviravoltas e lágrimas através dessa impecável mistura de gameplay e enredo de duas séries que, por si só, já são soberbas. Maya certa vez disse que milagres não simplesmente “acontecem”, você tem que fazer acontecer. E se rever Layton e Luke depois de seu adeus e ver Maya interagir com Phoenix novamente pode ser considerado um pequeno milagre, temos apenas que agradecer à Capcom e Level-5 por terem feito ele acontecer.


Professor Layton Vs. Phoenix Wright: Ace Attorney — 3DS
Desenvolvimento: Level-5 / Capcom
Gênero: Visual-novel, quebra-cabeça, point and click
Lançamento: 29 de Agosto de 2014
Expectativa: 5/5

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Hugo H. Pereira
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