Apesar de uma participação competente do ano passado, a Big N não estava com um resultado favorável. O lançamento do PlayStation 4 e do Xbox One, a falta de apoio de thirdies e as baixas vendas do Wii U só poderiam significar uma coisa: era hora da companhia realizar uma grande E3. Mas desde 2012 a Nintendo não organiza uma conferência em Los Angeles, optando por um formato digital, ao contrário de suas concorrentes. O que num primeiro momento poderia parecer uma largada em desvantagem acabou se tornando ao seu favor.
Pois vejam bem, quando uma empresa faz uma grande conferência, ela está fazendo um show. Acontece que o público alvo desse show não são apenas as poucas pessoas passando por Los Angeles, e sim milhões de jogadores espalhados mundo afora. É por isso que os eventos são transmitidos ao vivo por vários canais na internet, para que você possa ver. Mas então por que não passar a informação diretamente para o grande público? É isso que a Nintendo tem conseguido fazer com seus Nintendo Direct e realizou muito bem no seu evento pré-E3 digital.
As brincadeiras do Robot Chicken tirando sarro de algumas das cobranças frequentes feitas à empresa foram muito divertidas. Aquele vídeo de luta entre o Reggie Fils-Aime e Satoru Iwata para promover os Mii como lutadores do novo Super Smash Bros.? Sensacional. Isso para não citar as diversas brincadeiras realizadas na própria feira, as várias entrevistas, a chance de entrar no estande da Nintendo e ver grandes desenvolvedores como o Miyamoto demonstrando seus jogos. Esse foi o primeiro ponto ganho pela Nintendo, ela conseguiu passar uma imagem extremamente carismática, bem-humorada e íntima ao público.
O que nos leva a outra questão, que foi o Treehouse: transmitir todo dia pessoas jogando os novos games, às vezes com os próprios criadores, foi uma excelente forma de vender a ideia ao mesmo tempo em que fica presente no radar do público de forma homogênea. E por falar nisso, a Nintendo pareceu sempre ter algo para dizer ou mostrar durante todos os dias da E3, sem permitir que sua presença no evento fosse esquecida por um só momento. E nem precisa ser apenas revelações bombásticas, o próprio torneio de Super Smash Bros. for Wii U já foi uma excelente maneira de divulgar o jogo de forma agradável e interessante.
Mas de nada isso adiantaria sem jogos. Essa E3 parece ter sido a que atestou a falta de suporte externo ao Wii U, cujos únicos anúncios de terceiros foram de séries que tradicionalmente aparecem em todas as plataformas, e mesmo assim faltaram alguns. Não é uma situação nada confortável, mas a Nintendo parece ter chamado a responsabilidade para si e mostrou que se os outros não abastecem o catálogo do seu console, ela mesma cria uma biblioteca de respeito. O interessante é que quando pensamos em Nintendo e grandes anúncios, imediatamente vem à cabeça Mario, Zelda, Pokémon… E de fato tivemos um pouco de cada, para alegria dos fãs, mas reduzir todas as novidades mostradas pela Nintendo a isso seria de uma extrema injustiça.
Mas muito bem, vamos começar pelo que já é consagrado. Super Smash Bros. for Wii U / 3DS é um velho conhecido, mas mesmo assim ganhou destaque, não só pelos novos lutadores confirmados, Palutena (em um belíssimo curta de anime), os versáteis Mii em três classes distintas e o convidado especial para a pancadaria: Pac-Man, já que o que chamou a atenção mesmo foram os bonecos amiibo, resposta da empresa para Skylanders e Disney Infinity e que terão diversas funcionalidades dentro do jogo. Embora cheguem atrasados à festa, eles possuem um enorme potencial por alguns diferenciais competitivos:
- A força da marca Nintendo;
- A compatibilidade com vários jogos, entre eles sucessos como Mario Kart 8;
- A tecnologia NFC já estar presente no GamePad do Wii U, removendo a necessidade de acessórios extras.
Nem F-Zero, nem Metroid. Quem esperava o aparecimento de uma série sumida teve que se contentar com a revelação de um novo StarFox, sendo desenvolvido por Miyamoto. Pouca coisa foi mostrada, e as atenções se focaram em Project Guard e Project Giant Robot, os outros dois projetos do mestre, que foram muito jogados na feira. Embora aparentemente divertidos, ainda é muito cedo para tomar conclusões, pois ainda estão muito conceituais.
A grande estrela foi mesmo o novo Zelda anunciado para Wii U, ao lado do spin-off e crossover Hyrule Warriors, que empolgou ao revelar novidades, entre elas a possibilidade de controlar a princesa Zelda. Quanto ao título principal, mesmo com poucas informações o curto trailer e algumas declarações de Aonuma foram o suficiente para atiçar os fãs. Definitivamente foi um dos destaques de toda a feira.
Mas o que surpreendeu mesmo foram as novas séries que a Nintendo trouxe para a E3. Embora ela sempre esteja trabalhando em IPs novas, elas normalmente não ganham atenção massiva, como é o caso de Pushmo e Dillon's Rolling Western. Mas dessa vez os novos nomes ficaram sob os holofotes. Entre eles, dois spins-off de Mario: Mario Maker, que permite criar seus próprios jogos plataforma 2D, e Captain Toad: Treasure Tracker, uma grata surpresa que retoma uma das coisas mais legais de Super Mario 3D World. Tivemos também os dois projetos do Miyamoto já citados, que exploram o uso do GamePad de formas únicas.
As duas novas IPs que roubaram a cena, contudo, foram Splatoon! e Code Name: S.T.E.A.M.. O primeiro, um shooter à la Nintendo com personagens que viram lulas (ou seriam lulas que viram humanos?) cujo objetivo é colorir a maior parte do mapa com a sua cor de tinta, recebeu bastante destaque na conferência e mais ainda no Treehouse, onde foi jogado exaustivamente. O jogo parece muito divertido, mas esperamos que exista maior diversidade na versão final. Já S.T.E.A.M. chamou atenção por ter sido revelado em um evento próprio para o 3DS, quando se especulava um novo Metroid ou remake de Majora’s Mask. O título de estratégia está sendo desenvolvido pela mesma equipe de Fire Emblem e possui características bem peculiares.
Nesta E3, a Nintendo definiu a posição do Wii U como a de experiência única. Ao possuir uma biblioteca completamente diferente do Xbox One e PS4, fica até difícil querer ver os consoles como concorrentes diretos, o aparelho da Nintendo é uma atração à parte. Se faltavam jogos que justificassem isso, parece que em muito pouco tempo esse já não será mais o caso.
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Revisão: Samuel Coelho
Capa: Bruno Feltran
Capa: Bruno Feltran