Voltamos 14 anos no tempo e redescobrimos a Nintendo na E3 2000

Em um tempo onde a Ubisoft era UBI-Soft, só existiam 251 pokémon, a Rare ainda era viva e o Game Cube era um sonho para o futuro, relembre como foi a E3 de 14 anos atrás!

em 09/06/2014
Como todos sabem, a Electronic Entertainment Expo (Exposição de Entretenimento Eletrônico, em tradução livre) ou, simplesmente, E3 está aí. Para celebrar o seu inicio, nada como recordar uma das maiores aparições da Nintendo na história do evento. Mas vocês podem se perguntar: “porque essa foi uma das maiores aparições da Nintendo?”.

A E3 2000 foi uma das edições do evento com mais lançamentos para video games Nintendo, contando com mais de 100 jogos apresentados. Também vale ressaltar que estávamos no ápice dos anos dourados do N64 e do GBC, época em que o lançamento de Pokémon Gold & Silver no ocidente foi oficializado e também o lançamento de nomes memoráveis como Perfect Dark, Conker’s Bad Fur Day, Banjo-Tooie e, por último mas não menos importante, The Legend of Zelda: Majora’s Mask. Então continuem lendo para relembrar como a Big N se saiu na última E3 do século XX e sonhar com o que poderá surgir na E3 2014.

“Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante…” 

A E3 2000 foi um evento muito aguardado na época e, como já havia ocorrido nas outras cinco edições, a feira realizou-se no Los Angeles Convention Center, na Califórnia (onde ocorre até hoje, com excessão da E3 2007) no mês de Maio. Na época a tecnologia de ponta eram os CDs e os gráficos do PS e do N64 eram considerados de última geração. A Nintendo passava por um período de lucratividade altíssima com os recentes sucessos de Pokémon Stadium e The Legend of Zelda Ocarina of Time no console e também com a popularidade viral dos monstrinhos de bolso no seu portátil com os games Pokémon Red Version e Pokémon Blue Version. Dessa forma, nada mais lógico do que “não mexer em time que está ganhando” e investir em peso nessas franquias. Por isso, na E3 2000 a empresa japonesa apresentou ao todo 119 jogos para os dois aparelhos.

Entre as revelações da feira, as mais marcantes envolviam a oficialização das versões americanas de Pokémon Gold & Silver (que já haviam sido lançados no Japão no ano anterior), o adiamento do novo portátil Game Boy Advance e títulos incríveis para N64 como os já citados The Legend of Zelda Majora’s Mask, Perfect Dark, Conker’s Bad Fur Day e revelações incríveis como Mario Tennis, Starcraft 64 e Turok 3: Shadow of Oblivion que veremos a seguir mais detalhadamente…

O The Legend of Zelda mais sombrio de todos!

Havia passado dois anos desde o lançamento de um dos maiores títulos (se não o maior) já lançados pela Big N: The Legend of Zelda Ocarina of Time. O primeiro jogo da franquia Zelda em três dimensões superou tanto as expectativas que até hoje é considerado um dos melhores games já feitos. Naquela época, a série ainda não tinha um título tão grandioso, mas já havia gerado lucros absurdos para a empresa, batendo a marca de 7 milhões de cópias vendidas no mundo todo. Devido ao sucesso da franquia, nada mais justo que lançarem uma continuação. E assim surgiram no palco da E3 vários seres de bata longa, cada um usando uma máscara diferente, quando um deles retira a máscara revelando ser ninguém menos que Shigeru Miyamoto. O criador de diversas franquias da Nintendo surgiu para anunciar The Legend of Zelda: Majora’s Mask que, posteriormente, ficaria conhecido como o Zelda mais sombrio de toda a franquia.
Miyamoto surge entre os mascarados, para revelar o épico The Legend of Zelda: Majora's Mask

Para quem não se lembra, o jogo é um marco até hoje para a franquia por não se passar em Hyrule e nem ser centrado na Triforce e na conhecida princesa que dá nome à franquia. A história se passa em um lugar chamado Termina, um tipo de mundo paralelo onde Link vai parar após um ladrão mascarado roubar sua Epona e a sua Ocarina do Tempo. Preso nesse mundo, Link precisava impedir que a lua caísse na terra (evento causado pelo Skull Kid, personagem controlado pela demoníaca Máscara de Majora), o que óbviamente causaria o fim do mundo.
O ponto alto do jogo eram as 24 máscaras que eram utilizadas pelo herói. Entre elas, cinco modificavam drásticamente o corpo de Link, transformando-o em um Zora, um Deku, um Goron, deixando-o gigantesco ou então transformando-o na sua forma mais épica até hoje em todos os jogos da franquia: Oni Link. O jogo foi lançado em novembro daquele mesmo ano, e foi aclamado por público e crítica. Só não faturou tanto quanto o seu antecessor, chegando ao marco de 3 milhões de cópias vendidas.
Oni Link: a forma mais épica de Link até hoje

De vermelho e azul para ouro e prata!

Outro dos maiores sucessos da Nintendo na E3 2000 foi o anúncio das versões americanas de Pokémon Gold Version e Pokémon Silver Version. Os jogos eram continuação direta de Red e Blue e traziam pela primeira vez pokémon inéditos para a franquia (100 ao todo), além de dois novos tipos (metal e noturno) e uma nova região, Johto. Na época, seu lançamento estava previsto para outubro do mesmo ano, mas acabou sendo lançado somente em abril de 2001.
Entre as novidades que Gold & Silver traziam estavam inclusos também o ciclo circadiano (dia e noite), o surgimento dos Pokémon Shiny (de coloração diferente) e a possibilidade de visitar, no final do jogo, a região dos seus jogos antecessores, Kanto. Mesmo com o atraso no lançamento, Gold & Silver se transformou em um clássico da franquia dos monstrinhos de bolso, sendo elogiado até hoje por público e crítica.
Sessão do Pokémon Gold & Silver na E3 2000


Mais um Resident Evil para N64?

Outro dos anuncios mais badalados da empresa durante a feira foi o jogo Resident Evil Zero para o Nintendo 64. O jogo contaria o começo da história que, até o momento, terminava em Resident Evil 2. A maior parte da trama se passaria em um trem antes dos eventos do jogo original e daria expliações sobre como a Umbrella Corporation conseguiu transformar uma cidade inteira em uma horda de zumbis.
Infelizmente o jogo não chegou a ser lançado em 64-bits, sendo adiado para o próximo console da Nintendo, o Game Cube. A Capcom resolveu transportar Resident Evil 0, que estava com 70% do projeto concluído, para o sucessor do N64 pelo fato do jogo exigir um processamento mais rápido, pois iria permitir ao jogador trocar de personagens durante o jogo na hora que quisesse, ao contário dos seus antecessores. Claro que o fato do Nintendo 64 ter poucos anos de vida útil para além de 2000 também influenciou a mudança e isso, é claro, não agradou nem um pouco os donos de N64 na época.

Rare na sua melhor forma!

Todos os que nasceram antes de 1994 devem se lembrar que a empresa Rare era, no final dos anos 1990, a maior parceira da Nintendo e a empresa que mais investia em conteúdo exclusivo para os consoles da Big N. Em 2000, a Rare estava à todo vapor e, em certos momentos, chegava a roubar a cena da própria Nintendo durante a E3. Entre os grandes jogos divulgados nesse ano pela empresa estavam:
  • Conker’s Bad Fur Day: um dos games mais pervertidos e censurados do N64, CBFD era um jogo de ação onde Conker the Squirrel, um esquilo alcoólatra cheio de problemas de índole, acordava em um dia de ressaca pesada e precisava voltar para a sua namorada. O jogo foi muito bem falado pela crítica e bem recebido pelos jogadores como possuidor de um dos melhores gráficos do Nintendo 64. Ele contava, inclusive, com diversos easter eggs e menções a filmes e franquias famosas dos anos 1980 e 1990. O problema é que o título só chegou às prateleiras em março de 2001, no finalzinho da era do console, o que prejudicou suas vendas e o transformou em um dos jogos mais raros de N64 atualmente.
  • Banjo-Tooie: a continuação do aclamado Banjo-Kazooie trazia grandes inovações para a série, incluindo nove novos mundos, mais de 150 personagens NPC (não controláveis) e a possibilidade de Banjo e Kazooie se separarem em certos momentos.  O jogo conseguiu se equiparar ao primeiro, transformando-se em um clássico também.
  • Perfect Dark: o jogo que disputa até hoje o posto de melhor FPS (tiro em primeira pessoa) do N64 com o famoso 007 Goldeneye. Perfect Dark teve grande divulgação e, na E3 2000, contou inclusive com a presença da atriz que representava Joana Dark nos comerciais do game. O jogo é considerado até hoje um dos melhores títulos lançados para o console da Nintendo. Ele teve uma versão lançada para GBC no mesmo ano, porém essa não teve tanto sucesso, pois não se assemelhava em nada com o título original de N64
Atriz que enterpretava Joana Dark nas propagandas de Perfect Dark comparece à feira para anunciar o jogo!

O último Turok do Nintendo 64

A empresa Acclaim Entertainment só entrou com uma novidade na feira de 2000, mas essa novidade era Turok 3: Shadow of Oblivion, quarto e último Turok a ser lançado para o N64. O jogo de FPS contava a história dos netos de Turok em uma dimensão criada a partir dos acontecimentos finais de Turok 2: Seeds of Evil.


O jogo trazia várias novidades para a série, como a possibilidade de salvar em qualquer lugar de qualquer fase, incríveis 36 fases de multiplayer (mais do que muitos FPS modernos apresentam), mais de 40 tipos de monstros para combater, personagens secretos desbloqueáveis e diferenças de jogabilidade entre os dois netos de Turok. Porém, não foi muito bem visto por alguns fãs pelo fato de ter sido reduzida a dificuldade do jogo comparado ao seu antecessor.

Donkey Kong em qualquer lugar!

Outro dos acertos da Rare, sem dúvidas, foi Donkey Kong Country. E na E3 2000 o jogo que vendera arrasadoras 9 milhões de cópias no SNES foi oficializado para o Game Boy Color. A versão para o portátil possuia as mesmas fases do jogo original, com apenas uma nova em Chimp Caverns, chamada de Necky Nutmare. O game foi um sucesso assim como o original, só não vendeu tanto quanto pois o GBC, assim como o N64, estava em seus últimos anos de vida útil.

O melhor jogo de esporte do ano!

E não podia faltar, é claro, a maior surpresa da E3 de 14 anos atrás: Mario Tennis. O jogo que ficou manchado pela performance, no mínimo perigosa, do Virtual Boy de 1995, deu a volta por cima em duas versões, uma para GBC e outra para N64. Ambas podiam trocar informações através do Transfer Pak do console de mesa e cada uma teve seu ponto alto. A versão portátil contava com elementos de RPG, como sistema de passagem de níveis, enquanto que a versão de N64, mais potente, teve o modo multiplayer para quatro jogadores como maior atrativo. O jogo foi um dos maiores sucessos da Nintendo em ambas as plataformas e abriu portas para uma franquia derivada do encanador italiano que está viva até hoje (Mario Tennis Open foi lançado em 2012 para 3DS).



Olhar para o futuro sem esquecer o passado

Esses foram só alguns dos jogos anunciados pela empresa na última E3 do século XX. Outros nomes como The World is Not Enough (007), Indiana Jones and the Infernal Machine, Eternal Darkness, Megaman 64, Star Wars Battle for Naboo, Excitebike 64, Kirby 64, Ogre Battle 64, Paper Mario, Starcraft 64, Mega Man X, Hey You Pikachu, Pokémon Puzzle League, Metal Gear Solid, Gauntlet Legends e Sun Francisco Rush deram as caras por aqui também.

Essa volta ao tempo é boa pois nos faz lembra de uma época onde a maioria de nós eramos adolescentes sedentos por novos jogos e a tecnologia do entretenimento estava dando seus primeiros passos mais largos. Praticamente tudo que vemos hoje em avanços tecnológicos envolvendo gráficos, realismo, física e jogabilidade partiram desses clássicos que revolucionaram a indústria dos games em sua época. O Nintendo 64 começou em maus lençois, assim como o Wii U, e no final da sua vida já era considerado um dos melhores consoles da época com uma coletânea de jogos que faz inveja a muitos consoles até hoje (tanto da própria empresa quanto de outras).
Olhar para o passado aqui é importante para nós enquanto fãs, jogadores, leitores e também para os cabeças disso tudo: desenvolvedores, produtores, empresários, presidentes, CEOs. Naquela época a história definiu várias gerações futuras, será que a E3 2014 terá tanto peso quanto? Será que a Nintendo vai, mais uma vez, dar a volta por cima como fez com o Wii? Só tem um jeito de descobrir… acompanhando a cobertura completa da E3 aqui no Blast!


Revisão: Jaime Ninice
Capa: Doug Fernandes
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Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).