Mario & Luigi Superstar Saga (GBA) reinventa os RPGs dos encanadores

Ao nos dar o controle simultâneo de Mario e Luigi nas novas terras de Beanbean Kingdom, esse clássico do GBA esbanjou carisma e novidade e deu origem a uma das melhores séries de RPG da Big N.

em 04/05/2014

Lembro como se fosse ontem estar lendo uma edição da Nintendo World que noticiava o anúncio de Mario & Luigi: Superstar Saga, para GBA, nos idos de 2000 e poucos. Eu ainda me lembro como todos ficaram ansiosos, pois o mesmo tinha sido caracterizado pela revista como “a sequência de Paper Mario (N64)”. Felizmente, o jogo tratava-se não de uma simples sequência de Paper Mario, mas sim de uma nova investida dos irmãos encanadores na área dos RPGs, que seria exclusiva dos portáteis da Big N.


Mario & Luigi é o jogo no
qual os irmãos possuem mais
personalidade.
Superstar Saga inaugurou uma nova série de spin-offs da franquia Mario que, definitivamente, estão entre os mais quistos pelo público e os mais carismáticos. Os personagens e suas dezenas de sprites em pixel art (até mesmo na versão mais recente de 3DS) nas mais cômicas e exageradas poses e expressões são tanto hilários quanto são cativantes. O Luigi sempre se ferrando, o Bowser estrelando situações mais que cômicas e os personagens há muito esquecidos fazendo retornos ‒ mesmo que na forma de pequenos cameos ‒ são apenas a ponta do iceberg que dá todo esse charme que o jogo possui.

Dois encanadores, um koopa, uma bruxa e uma terra distante


A história nada ortodoxa começa com os embaixadores de uma terra distante, conhecida como Beanbean Kingdom (algo como “Reino Feijãofeijão”), vindo dar um presente à governante do Reino dos Cogumelos, a princesa Peach. Para a surpresa de todos, os tais embaixadores eram nada mais, nada menos que uma bruxa malvada e histérica, Cackletta, e seu ajudante, Fawful, que roubam a voz da princesa e deixam no lugar apenas um vocabulário de baixo calão e (literalmente) explosivo. Cabe a um pobre mensageiro, Toad, ir chamar os irmãos Mario para ajudar a princesa ‒ mesmo que, para isso, ele precise interromper o banho deles.

O elenco do jogo está em um dos mais diversificados e interessantes de toda a franquia, talvez ficando atrás apenas de Dream Team, que faz um apanhado geral de todos os jogos anteriores da série Mario & Luigi.
No castelo, o clássico vilão, Bowser Koopa, está à espera de Mario. Sem perder tempo, ambos travam um breve duelo, até que Bowser explica que dessa vez ele não tem intenção de sequestrar a princesa ‒ ao menos não enquanto ela estiver usando aquele vocabulário deplorável. Unindo forças,Mario, unindo forças com Luigi e Bowser e a bordo do Koopa Cruiser, segue rumo ao reino Beanbean para resgatar a voz de sua amada. Não demora muito para que o grupo seja interceptado por Fawful, que destrói a nave, forçando a equipe a fazer um “pouso forçado” nos arredores de Beanbean e a, finalmente, começar a aventura de verdade.

No que se segue, Mario e Luigi descobrem que a malvada Cackletta “sequestrou” a voz de Peach para poder despertar a estrela que dá nome ao título, a Superstar, e assim se tornar invencível. Após passarem por diversas cidades e cenários que compõem o reino Beanbean  ‒ que é adornado com praias, templos submarinos, montanhas desérticas e palácios de neve e cristal - os encanadores finalmente confrontam Cackletta, o que acaba resultando na Superstar sendo quebrada em cinco partes. Cabe então aos bigodes reunir a estrela, salvar Peach ‒ que acabou sendo sequestrada de corpo inteiro no desenrolar da história ‒ e acabar com os planos de Cackletta de uma vez por todas!
Os cenários visitados são vastos e variados, tais quais os mundos temáticos dos jogos de plataforma do encanador. Infelizmente, isso não foi repetido com tanta proeza nas sequências de Superstar Saga.

Indo de Malvado a pior

Embora Luigi seja o alvo das situações mais ridículas e cômicas (ou ridiculamente cômicas) nos jogos da série, em Superstar Saga, é de Bowser, definitivamente, que devemos ter pena.
Após o pouso forçado em Beanbean Island, o pobre rei Koopa fica entalado em um canhão e cabe aos encanadores ajudar o seu inimigo. Não fosse uma situação humilhante o
suficiente, a vossa majestade, após ser lançada pelo canhão, ainda perde a memória e se torna “Rookie”, um ajudante do ladrão Popple. Quando, enfim, consegue restaurar a memória, Koopa é possuído pela essência da bruxa Cackletta e ganha um belo par de seios à mostra. É, Bowser, a vida tem dessas coisas...

Referências a transbordar pelos canos


Um dos pontos mais interessantes da aventura são as dezenas de referências a jogos e aventuras antigas do Mario e sua trupe, que se fazem presentes desde os primeiros momentos em que o cartucho é inserido e o GBA ligado. De Fighter Flie (Mario Bros.) e Rex (Super Mario World), que aparecem como inimigos nas primeiras áreas do jogo, a remixes de trilha sonora, como o do tema do castelo de Peach, de Super Mario 64, ou o da música tema de Luigi’s Mansion, o jogo é uma biblioteca de referências sem igual. Algumas delas, inclusive, realmente merecem destaque:

●     Os Border Bros.: são como uma espécie de agentes de imigração na fronteira de Beanbean e possuem o design original dos Hammer Bros. Quer passar de um lado para o outro da fronteira? Simples, basta participar de um desafio de pular corda!
●     Os Koopalings: sim! Hoje em dia eles são tão presentes que até são controláveis em Mario Kart 8, mas foi em 2003 que ocorreu a primeira aparição deles depois de um bom tempo. Foi muito interessante ver as várias referências aos seus comportamentos em Super Mario World. Agindo como chefes na parte final do jogo, você enfrenta os sete capangas de Bowser no castelo do vilão.
●     Os Vírus de Dr. Mario: na faculdade abandonada de Woohoo Hooniversity, Chill, Fever e Weird ‒ os vírus azul, vermelho e amarelo ‒ são encontrados como grupos de inimigos e, sempre que atacados, desaparecem e outro toma seu lugar. Como derrotá-los? Basta decorar a sequência na qual reaparecem e alinhar dois ou três da mesma cor.
●     História dos Blocos: uma área da universidade citada acima é dedicada aos blocos que marcaram presença através das eras e conta com exemplos de blocos desde os mais antigos e dos jogos 2D, como os blocos do Super Mario Bros. original, aos mais recentes e em 3D, como os de Super Mario 64.
●     Geno!: sim, o boneco possuído que fez tanto sucesso e cativou tantos fãs em Super Mario RPG reaparece em Starsaga, como um pequeno cameo, explicando como funciona um minigame dentro do jogo. Nos créditos, fazem questão de declarar que ele é propriedade intelectual da Square Enix.

Eu Tenho FÚRIA!

Fawful, o assistente de Cackletta, foi uma das pouquíssimas criaturas que sobreviveram à
praga que assola os vilões de jogos de RPG da franquia Mario: a de aparecer somente uma vez. Agindo como um dos principais antagonistas de Superstar Saga, Fawful retornou brevemente em Partners in Time, vivendo nos esgotos do subsolo do castelo da Princesa Peach com sua loja na qual troca feijões por itens raros. Foi somente em Bowser’s Inside Story que o alien, que faz analogias com leguminosas e adora exclamar a sua fúria, realmente ganhou destaque. Como vilão principal do jogo, Fawful finalmente completou sua promessa de realizar vingança contra todos aqueles que o derrotaram anteriormente.

Combate simultâneo… Por turno?


O sistema de combate e os ataques criativos
(tanto de Mario e Luigi quanto dos inimigos),
contribuiram muito para o sucesso da série.
Além das excelentes referências visuais e musicais, um dos pontos mais fortes do jogo é seu sistema de combate inovador. Embora o game seja, em sua essência, um RPG de turnos (ou seja, você ataca e depois é atacado pelo oponente), os altos níveis de interatividade fazem até você se esquecer disso e imaginar que os ataques estão acontecendo simultaneamente. O seu turno é, até certo ponto, bem tradicional: você pode selecionar ataques simples, especiais, usar itens ou até fugir. Contudo, a coisa muda quando é a vez do inimigo atacar: sempre que o oponente for realizar alguma investida, o jogador tem a possibilidade de escapar dos ataques e de, em certos casos, às vezes até contra-atacar.

Controlando os movimentos do Mario com “A” e os do Luigi com “B”, o jogador pode usar seus martelos ou seus pulos para rebater espinhos, bolas de fogo ou o que quer que seja lançado contra eles , podendo inclusive até saltar sobre os perigos que vêm ao seu encontro. Essa mecânica de esquiva é desafiante o suficiente para que não torne o jogo fácil, com batalhas na quais o jogador não recebe nenhum dano, mas também não é difícil de ser dominada a ponto de raramente ser executada. Com timing e prática, as batalhas se tornam muito interessantes, especialmente por você ter que ficar constantemente atento às animações dos inimigos, que dão sutis dicas de quem irão atacar: Mario ou Luigi.

A interação entre os irmãos
rende muitas gargalhadas
e prende a atenção do jogador
durante toda a aventura!
O combate e a experiência no mapa são ainda mais diferenciados quando entram as habilidades em conjunto dos irmãos. Usando suas já conhecidas ações: martelada, pulo, Fogo(Mario) e Raio(Luigi), os dois interagem entre si e, dependendo de quem estiver atrás e quem estiver na frente e qual ação for usada, as reações de causa e consequência são muito interessantes: desde Mario queimando a bunda de Luigi para que este saia correndo derrubando tudo que está no caminho a Luigi dando uma martelada na cabeça de seu irmão e o achatando para que passe por lugares apertados.

As habilidades ficam ainda mais interessantes e frenéticas quando utilizadas em batalhas. Os Bros. Moves, que custam BPs (Bro Point), são como se fossem mágicas ou poderes especiais, mas sua eficácia dependerá da sua precisão. Alternando entre “B” para Luigi e “A” para Mario, o jogador precisará apertar os botões no momento certo para que o irmão específico realize a ação em questão. Se errar, não tem problema: o ataque não será tão eficaz, mas a animação de erro é tão engraçada que faz valer a pena. O mais interessante é que, depois de utilizar o mesmo golpe por muito tempo, os irmãos desenvolvem uma versão “Avançada”, que é mais difícil de se realizar mas, em certos casos, pode até resultar em combos infinitos!

Pausa para o café

Como regra de qualquer RPG que se preze, em Superstar Saga os personagens sobem de nível e aumentam seus atributos. Uma das melhores maneiras de aumentar os stats é através dos grãos escondidos ao redor de Beanbean, que, quando consumidos, aumentam um ponto de um status específico. Para maior eficácia, entretanto, o jogador deverá ir ao Starbeans Café de Castle Town para criar infusões usando vinte e cinco desses grãos. A cada infusão nova criada, o jogador é premiado com uma cena envolvendo Luigi, E. Gadd, Poltergust e os fantasmas de Luigi’s Mansion. A parte triste é que, na versão beta, ao invés do professor sempre aparecer, quem apareceriam seriam personagens de diferentes jogos da Nintendo. Nominalmente, seriam Olimar, Wario, Samus, Fox, Link e o motoqueiro de Excitebike. Embora esse modelo de participações tenha sido limado da versão final, os itens recebidos ao criar infusões novas continuam remetendo às específicas franquias, embora agora venham da mão de E. Gadd.
 

O melhor RPG dos encanadores


A arte de McKnackus
ilustra bem toda a
história do jogo. Consegue
reconhecer todos os
personagens, cenários e
situações retratados nessa
compilação isométrica?
Mario & Luigi: Superstar Saga foi uma pérola produzida no GBA, um RPG com mecânicas, história e acabamento daqueles que você só vê a cada dez anos ‒ talvez seja até por isso que nenhum dos seus sucessores até agora conseguiu o superar. Enredo divertido, que deslancha rápido, batalhas e inimigos variados, além de dezenas de minigames e sidequests, são o que tornam M&L:SS superior aos seus predecessores de estilo, Paper Mario e Super Mario RPG. Esse excelente RPG é atemporal e a prova disso é a sua presença no Virtual Console de GBA do Wii U. Se você ainda não o experimentou, faça-o agora; e se, por acaso, já teve a oportunidade de desfrutar dessa beleza, compre-a no VC novamente para relembrar os vários momentos hilários do jogo, como aquele em que o Luigi está com o vestido da Peach ou o Bowser com seios à mostra.

Quem sabe algum dia iremos receber um remake HD (ou 3D) desse lindo jogo...


Revisão: Samuel Coelho
Capa: Wellington Aciole


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