Com muitos anos acompanhando de perto a indústria de games, nada consegue me deixar mais ansioso do que a proximidade de uma E3. O maior evento de jogos eletrônicos do mundo costuma ser palco de grandes anúncios dessa indústria já há tempos, ou até mesmo de grandes surpresas que as empresas guardam debaixo de suas mangas. A Nintendo sempre foi uma das grandes estrelas da exposição, com suas conferências quase sempre bombásticas e anúncios capazes de mexer não apenas com seus fãs, mas com o mercado inteiro. Este ano, a gigante nipônica se vê diante de uma de suas exposições mais decisivas de todas. Com o Wii U vendendo cada vez menos e um prejuízo de quase meio bilhão de dólares no ano fiscal de 2013, a empresa terá que usar todas as suas armas para voltar aos holofotes e chamar a atenção do público. E como ela vai conseguir isso?
Uma rápida retrospectiva
A Nintendo sempre foi muito boa em armar grandes espetáculos, mesmo quando passa por maus momentos. Foi assim com o grande anúncio do Nintendo 64, que vinha para substituir o fracassado Virtual Boy, com a era GameCube, console que acabou amargando vendas fraquíssimas em relação ao seu concorrente principal, mesmo com jogos que todos desejavam, e foi assim durante a geração passada, quando se tornou líder absoluta de mercado com seu revolucionário Nintendo Wii.
Miyamoto e sua fiel Master Sword devem dar as caras neste ano
Exceto pelo anúncio de Wii Music, momento em que Miyamoto e companhia passaram vergonha no palco numa situação em que as pessoas aguardavam o anúncio de algum título AAA, a Nintendo sempre soube como cativar seu público e criar momentos memoráveis durante suas aparições. Quem não se lembra, por exemplo, da E3 de 2006, em que Miyamoto entrou no palco regendo a grande revolução que viria a ser proporcionada pelo Wii? O cara estava vestido de maestro e tudo! E mais ainda: quem não sentiu arrepios em todos os pelos do corpo na E3 de 2004, em que um ainda estreante Reggie revelou o primeiro trailer de The Legend of Zelda: Twilight Princess (Wii)?
O anúncio do Nintendo DS e, anos depois, o de seu sucessor, o 3DS, pegou todos de surpresa, com propostas completamente inimagináveis que acabaram tornando a nova linha de portáteis mais popular até que o lendário GameBoy. E quem não se lembra de 2002? Ano em que a Nintendo levou Star Fox Adventures, Super Mario Sunshine, Eternal Darkness, Metroid Prime e The Legend of Zelda: The Wind Waker (sim, tudo ao mesmo tempo), para promover o GameCube?
Em 2002 a Nintendo fez uma de suas mais incríveis apresentações!
Esses foram apenas alguns dos momentos mais marcantes da Nintendo em suas participações na E3. Com situações inesquecíveis, divertidas e importantíssimas para a empresa, a feira sempre serviu para que a Big N mostrasse que era capaz de lutar de igual para igual contra sua concorrência, provando que não é apenas por intermédio de números que se garante o sucesso de uma marca e a fidelização de uma legião de fãs (exceto por alguns momentos megalomaníacos da era Wii, em que gráficos de vendas era o que mais víamos em suas conferências). Mas algo começou a mudar desde o ano passado, e muitos acham que a Nintendo não sabe o que está fazendo.
Uma nova abordagem
Desde 2011, a Nintendo vem tentando se aproximar de seus fãs de uma forma bastante peculiar. Com o Nintendo Direct, programa no qual os grandes executivos da empresa realizam os mais diversos anúncios para suas plataformas, a Big N conseguiu se aproximar muito mais de seu público, eliminando a necessidade que se tinha de esperar por grandes eventos para que se conseguisse novidades sobre os seus títulos em produção. Os Directs, como esperado, fizeram um grande sucesso, já que os proprietários de consoles da Nintendo passaram a receber muitas informações no decorrer do ano, e não apenas durante a E3.
Com o Nintendo Direct, a Nintendo tentou se aproximar mais ainda de seus fãs
No ano passado, a Nintendo decidiu deixar de fazer sua tradicional conferência no Nokia Theater para apostar na mesma abordagem de Nintendo Directs para o evento. Apesar de muita reclamação por parte dos mais conservadores, tivemos um resultado surpreendentemente bom, já que o programa, de quase uma hora, focou-se exclusivamente no anúncio de novos jogos para o Wii U e o 3DS. No pavilhão de exposições, contudo, a coisa era bem diferente: contando com um dos maiores stands de toda a feira, a Nintendo permitiu que os jogadores não apenas jogassem os novos títulos anunciados como também conversassem diretamente com seus criadores, que realizaram até pequenas apresentações sobre os jogos que estavam desenvolvendo. Além disso, a Nintendo expandiu as fronteiras da feira, espalhando stands de teste de seus novos jogos por uma grande rede de varejo americana, de forma que não apenas o pessoal em Los Angeles pudesse testar seus lançamentos, mas o país inteiro.
No ano passado, todos os residentes dos Estados Unidos puderam testar os novos jogos da Big N
Este ano, a Nintendo não apenas repetirá a dose, mas aumentará seu escopo. Além de um Direct marcado para o dia 10 de junho e das estações de jogos espalhadas pelos Estados Unidos, a empresa ainda se focará numa cobertura 100% digital da feira, com reportagens, gameplays e tudo mais que puder revelar de seus novos títulos. Para completar, a empresa locará o Nokia Theater para realizar um torneio de Super Smash Bros. for Wii U, que será transmitido mundialmente. É pouco ou quer mais?
O grande foco: novos jogos
Todos sabemos que, com uma nova E3, teremos anúncios diversos para todos os consoles, mas este ano a Nintendo certamente terá que apostar pesado em novos lançamentos ainda não conhecidos pelo público, e certamente o fará. Mario Kart 8 será lançado alguns dias antes da conferência, o que dispensará qualquer informação sobre ele, exceto por algum novo DLC ou coisa do gênero; além do torneio citado acima, Super Smash Bros. teve, no mês passado, um Direct de mais de meia hora mostrando boa parte das novidades do título. Para livrar ainda mais o caminho para algo inimaginável, a empresa anunciou Tomodachi Life para o Ocidente no mês passado e também o inevitável remake de Pokémon Ruby e Sapphire, hoje mesmo. Para fechar, após rumores de que a empresa poderia estar preparando o anúncio de um novo console, a Big N fez questão de desmenti-los. A Nintendo nunca foi de esconder o anúncio de um novo console, e esta não seria a hora de mudar isto.
Super Smash Bros. for Wii U já foi exaustivamente mostrado, abrindo espaço para outros títulos
A Nintendo está claramente livrando espaço de seu Direct para anunciar muitos novos jogos. É claro que todos aguardamos novas informações de Bayonetta 2, X, Hyrule Warriors e Shin Megami Tensei x Fire Emblem, o que provavelmente ocorrerá no programa, mas também esperamos o anúncio do aguardadíssimo Zelda U, jogo praticamente confirmado no Direct pelo próprio Eiji Aonuma. E o que mais a Nintendo pode trazer de novo? Desde a VGX há rumores de que um novo Metroid pode ser anunciado para Wii U a qualquer momento, e alguns sinais, como o pin que Reggie estava usando no evento, ajudam a fortalecer as suspeitas. A Retro Studios, logo após a conclusão do excelente Donkey Kong Country: Tropical Freeze, já se pôs a trabalhar em um novo projeto, e até oferta de emprego para programador de chefes já foi encontrada pela internet. Estaria ela desenvolvendo Metroid Prime 4 ou algo completamente inédito? Só o tempo dirá.
O novo Zelda certamente fará a indústria parar novamente
Outra personalidade da Nintendo que anda sem falar muita coisa é o lendário Shigeru Miyamoto, que desde o lançamento de Pikmin 3 não dá as caras para o público. Com Eiji Aonuma envolvido de cabeça no novo Zelda, a grande mente da Nintendo pode estar envolvida em algo completamente novo, ou mesmo em um novo e revolucionário Mario tridimensional, cujo desenvolvimento já foi mencionado pela Nintendo no mês passado. Para completar, as marcas Pokken Fighters e Pokken Tournament foram registradas na Europa pela Pokémon Company. Para quem não se lembra, esses nomes deram as caras pela primeira vez após o seu registro no Japão, quando se espalhou um vídeo promocional da franquia Pokémon que terminava com um teaser de algo que parecia ser um novo Pokémon Stadium.
Seria este o novo Pokémon para Wii U?
Vale ressaltar que quase tudo o que foi dito acima, exceto pelo novo Zelda U, que já foi confirmado, e pelas patentes relacionadas a Pokémon, que realmente existem, classifica-se tão somente como um conjunto de rumores, mas de rumores que têm boas chances de se tornarem realidade no mês que vem. Além de tudo isso, é certo também que a Nintendo está planejando algo chocante, para bem ou mal. Jogos ainda não imaginados por ninguém podem (e devem) ser anunciados para que a marca Wii U ganhe força entre os jogadores, e mal podemos esperar para ver que surpresas a empresa guarda para nós.
A E3 mais importante de todas
Com os resultados ruins apresentados hoje e a projeção de menos de 4 milhões de consoles de mesa da Nintendo sendo vendidos de abril de 2014 até março de 2015, a Nintendo está passando por uma situação delicada com o Wii U. Provavelmente, a E3 não será capaz de reverter completamente esse quadro, já que muitos erros já foram cometidos e agora a Nintendo está tendo que arcar com o que ela mesma plantou, mas ainda assim os donos de Wii U anseiam por novos títulos e o console ainda é capaz de cativar novos fãs, desde que sejam lançados jogos de gêneros diversos e capazes de agradar mais pessoas.
Com anúncios de títulos de peso como Zelda, Metroid e Pokémon, a empresa será capaz de angariar novos compradores, que podem acabar espalhando a informação de que o Wii U é sim um bom console, afinal, esta nova plataforma da Nintendo só pode ser realmente entendida quando utilizada e, atualmente, muitos não querem nem ao menos ver como ela funciona. Vamos torcer para que a Big N também esteja pensando em retomar suas alianças com empresas third parties para que mais jogos multiplataforma sejam lançados para o Wii U, já que eles já se provaram fundamentais para que as vendas sejam alavancadas. Pelo menos de uma coisa temos certeza: a Nintendo sabe como ninguém dar a volta por cima quando está em apuros, e os maiores beneficiados desses momentos somos nós, os jogadores. Portanto, embarquemos desde já no Hype Train, porque a bomba está a pouco mais de um mês de cair sobre nossas cabeças.
Revisão: Vitor Tibério Capa: Douglas Fernandes
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