ATENÇÃO: O texto a seguir discute detalhes da trama de Bravely Default e contém spoilers para quem não passou do 4º capítulo do jogo. Leia por sua conta e risco!
De novo, de novo e mais uma vez
A trama de Bravely Default é bem clássica e básica, como nos primeiros JRPGs da era do NES. O mundo de Luxendarc tem quatro cristais, cada qual responsável por controlar um elemento da natureza. A escuridão corrompeu estes artefatos mágicos, o que trouxe caos e problemas. Os jogadores então acompanham um grupo de heróis que parte em uma jornada com o objetivo de purificar os cristais e recuperar o equilíbrio de Luxendarc.A aventura é dividida em capítulos. Nos quatro primeiros segmentos da história, Agnès e seus amigos conseguem purificar os cristais, superando as dificuldades e a resistência dos oficiais de Eternia. Depois de restaurar todos os artefatos, o grupo segue para o Holy Pillar, uma grande coluna de luz que resolverá todos os problemas de Luxendarc. Lá Airy, a fada que guia os heróis, realiza o ritual de purificação do mundo, mas algo dá errado: por algum motivo o grupo é transportado para Caldisla, o ponto onde toda a aventura começou. E pior: todos os cristais foram revertidos e precisam ser purificados novamente.
É nesse ponto que as coisas começam a desandar em Bravely Default. O quinto capítulo consiste em, basicamente, refazer as ações principais dos quatro primeiros segmentos da história. É necessário visitar novamente todos os templos, lutar mais uma vez com os mesmos chefes e purificar os cristais. Depois disso é o fim do jogo, certo? Errado! A situação do mundo se reverte novamente e tudo precisa ser refeito. E depois mais uma vez. E mais uma vez. Isso mesmo: os quatro capítulos finais de Bravely Default são, na essência, iguais. O jogador vai revisitar os mesmos locais e enfrentar os mesmos chefes várias vezes… haja paciência.
Repetição cansativa
Os segmentos cinco até oito não são completamente idênticos e têm alguns objetivos extras. O principal deles é a possibilidade de enfrentar novamente os generais de Eternia em batalhas que oferecem bom desafio. Estes combates têm como recompensa uma grande quantidade de Job Points e alguns itens poderosos, além de explorar um pouco a personalidade de cada oponente. Já o sexto capítulo tem um novo Job a ser adquirido e um pouco de desenvolvimento da história e do personagem Ringabel.O problema é que a única coisa que se tem para fazer nesses capítulos além de restaurar os cristais é lutar contra novamente todos esses chefes. A parte chata é que as características dos oponentes estão praticamente intocadas: eles têm os mesmos ataques, dão sempre os mesmos itens e até mesmo algumas cenas se repetem. Entre um capítulo e outro alguns fatores como HP e poder de ataque são levemente alterados, mas basta usar a mesma estratégia da vez anterior para vencer sem muita dificuldade. Além disso, os incentivos não são muito interessantes: é muito mais fácil e rápido conseguir Job Points de inimigos normais e as cenas extras mal desenvolvem a personalidade dos vilões. Nos capítulos sete e oito os chefes passam a atacar em grupo, o que deixa os combates mais complicados — isso se você ainda tiver paciência de enfrentá-los.
Por conta da ausência de novidades significativas nesses capítulos, o jogo pode se tornar cansativo, maçante e desinteressante. Ao menos é possível ir para o final da aventura de forma bem rápida: basta desligar os encontros aleatórios e somente purificar os cristais. A partir do sexto capítulo também existe a possibilidade de ativar a conclusão alternativa da história destruindo algum dos cristais, mas para ver o “fim verdadeiro” é necessário jogar todos os capítulos. A sensação que se tem é que os recursos da desenvolvedora estavam bem reduzidos e eles decidiram aumentar o tempo de jogo reciclando o conteúdo.
Oportunidades perdidas
A repetição extrema tem uma explicação dentro da história: os heróis estão visitando mundos paralelos. Os vários Luxendarcs que os personagens visitam são geograficamente idênticos e habitados por pessoas de personalidade muito similar. Teria sido interessante se cada lugar fosse mais distinto e não faltam ideias de como fazer isso: em um mundo, um dos oficiais de Eternia podia ser um aliado de Agnès e seus amigos; em outro, Edea poderia ser uma oponente poderosa e perigosa; em um terceiro planeta, vilões e heróis estariam unidos para enfrentar um mal maior. São diferenças sutis que provavelmente deixariam a segunda metade mais interessante.Outra alternativa seria condensar essa repetição em menos partes. Bastava manter os capítulos cinco e seis, incrementando as explicações. Somente eles são suficientes para concluir a trama, afinal nada de muito importante acontece nos outros dois capítulos. Ao menos tivemos a sorte de receber a versão atualizada do jogo: o primeiro lançamento japonês não tinha facilitadores como desligar os encontros e quadruplicar a velocidade das batalhas, o que devia tornar a experiência ainda mais cansativa.
Agnès já decidiu o que acha da segunda parte de Bravely Default |
Uma mancha na bela aventura
Bravely Default é um jogo muito divertido e tinha tudo para ser uma ótima experiência até o final, mas a segunda metade da aventura deixa muito a desejar. É argumentavelmente cansativo e desinteressante repetir várias vezes os mesmos desafios sem alterações significativas. Ao menos o jogo oferece opções para superar rapidamente estes trechos, por mais que a repetição não seja eliminada. Eu até derrotei todos os chefes extras dos capítulos cinco e seis, mas quando percebi que estes confrontos pouco adicionavam à trama e que eu teria que fazer tudo isso mais duas vezes, me cansei e simplesmente segui para o final da história. E vocês, o que acham da segunda metade de Bravely Default? Como lidaram com a repetição? O que vocês mudariam?
Revisão: Alan Murilo
Capa: Daniel Silva