Comecei a jogar videogames quando tinha cinco anos de idade. Naquela época, no já longínquo ano de 1994, costumava jogar meus poucos jogos de Master System sem entender muito bem o que se passava na tela. Logo depois tive um Super Nintendo, e por ter apenas uns seis anos, ainda não era capaz de aproveitar completamente um jogo, de maneira que aluguei The Legend of Zelda: A Link to the Past e logo quis devolver para a locadora por não fazer a mínima ideia do que eu tinha que fazer para jogar. Considero que fui evoluindo aos poucos, mas foi com o Nintendo 64 que realmente passei a entender melhor a arte de se jogar um bom jogo. Naquela época, a Gradiente ainda representava a Nintendo no Brasil, e todo lançamento para o revolucionário console 64-bits da empresa contava até com campanhas publicitárias exibidas em horário nobre.
Lembro-me como se fosse ontem do comercial de Star Fox 64. Personagens falantes, gráficos incrivelmente realistas e ação do começo ao fim. No final do comercial até falavam de um tal de Rumble Pack, trambolho que viria incluso na caixa do jogo. Não demorou muito para que eu convencesse meus pais a me darem o título de presente, e Star Fox 64 acabou se tornando um dos jogos que não só me fizeram mergulhar a fundo no mundo dos videogames, cuja superfície ainda era só arranhada por mim e meus cinco ou seis anos de idade, mas também a entender toda a magia da Nintendo e de suas franquias.
A aventura pelo desconhecido
Logo ao ligar o título, o imponente logo da Nintendo surge na tela, seguido do pequeno anúncio de que Star Fox finalmente estava desembarcando no Nintendo 64. Com isso iniciava-se a linda abertura do título. Rob, com sua voz robótica, avisa ao esquadrão que há uma mensagem de General Pepper, líder militar do planeta Corneria, terra natal dos protagonistas. Após a sua mensagem, carregada de preocupação quanto à guerra declarada por Andross a todo o Lylat System, conhecíamos cada um dos membros do Star Fox, com direito a nome completo e tudo. Fox então decide que está na hora de todos embarcarem em suas Arwings para derrotar as forças malignas de Andross e enfim a abertura terminava. E por que eu descrevi tudo isso?Naquela época, poucos jogos se arriscavam a ter um clima mais cinematográfico, até porque os consoles ainda não tinham poder de fogo suficiente para realizá-los de forma satisfatória. Star Fox 64 não apenas chegava com lindas cenas processadas em tempo real, como também contava com diálogos completamente dublados numa época em que os cartuchos limitavam bastante o conteúdo dos jogos, dado sua pequena capacidade de armazenamento de dados. Hoje, isso pode até parecer ridículo, mas para pessoas que estavam acostumadas a jogar títulos mais simples e que dificilmente eram tridimensionais, ver a abertura de Star Fox 64 era algo quase além da imaginação!
Recheados de momentos cinematográficos, o jogo era uma revolução para seu tempo! |
Fox, líder do esquadrão, delega ordens a seus parceiros além de ser um excelente piloto; Peppy, que retorna ao seu antigo trabalho, luta ao lado de seu líder e ainda cuida da manutenção de todas as naves; Slippy Toad, o mais adorado e irritante sapo de todos os tempos, realiza análises dos cenários e inimigos encontrados pelo caminho; por fim, Falco Lombardi é um arrogante falcão azul, que tem incríveis habilidades de voo e combate espacial. Com uma equipe respeitável, o grupo parte em uma jornada por todo o Lylat System para deter os planos maléficos de Andross, sendo que para Fox, o derradeiro encontro ainda serviria para que a morte de seu pai fosse vingada.
Diferentes caminhos, mesma diversão!
Star Fox 64 é um jogo de nave sob trilhos, ou seja, os caminhos das fases são pré-determinados, exceto por uma bifurcação ou outra em que o jogador pode decidir para que lado deseja seguir. Contudo, dentro de toda sua linearidade temos um jogo que dá ao jogador diversas possibilidades de como terminá-lo. Um pouco confuso? Uma das maiores sacadas do título é que apesar de as fases serem lineares, suas ações em cada uma delas define os caminhos seguidos pelo esquadrão no estágio seguinte. O primeiro planeta do jogo é Corneria, casa do esquadrão e local que habita boa parte da população daquele sistema solar. Durante a fase, o jogador pode ou não salvar Falco de um ataque, além de escolher se deseja passar por alguns arcos de pedra sobre a água. Caso o jogador realize essas duas ações, o grupo seguirá um caminho na fase com um chefe específico, mas caso não realize, o chefe será outro e a próxima fase também.O mapa de Lylat System era cheio de caminhos alternativos! |
A batalha final contra Andross mudava dependendo do nível de dificuldade jogado para chegar até ela |
No controle da Arwing
Apesar de contar com quatro membros no grupo, em Star Fox 64 só era possível controlar Fox. A bordo de sua Arwing, Fox era capaz de realizar diversas manobras que iam desde um simples turbo até algumas manobras evasivas que deixariam Han Solo com inveja. No decorrer das fases, os personagens conversavam o tempo todo sobre o que encontravam pelo caminho, o que fazia com que o jogador se apegasse à personalidade de cada um deles.Peppy e a fala mais importante de sua vida |
Além dos céus
Apesar de quase toda a aventura se concentrar nos céus, Star Fox 64 ainda traz uma surpresa para os jogadores: fases terrestres e aquáticas! Nestes estágios, Fox deixa sua Arwing para pilotar um pequeno tanque de guerra (Landmaster) ou um submarino (Bluemarine). Com controles bastante semelhantes, mas fases muito mais difíceis, estes momentos dão um ar de novidade e emoção para o jogo, que saía de sua zona de conforto para proporcionar uma aventura mais variada e memorável para os jogadores.No controle do tanque o jogo ficava muito mais desafiador! |
E o Rumble Pak?
A Nintendo sempre foi conhecida por criar tendências no mercado que acabam inspirando suas concorrentes a seguir um caminho parecido, e podemos dizer que o Rumble Pak foi um dos acessórios mais importantes de todos. O trambolho que vinha junto com o cartucho servia para fazer com que o controle vibrasse durante a jogatina, aumentando a imersão dos jogadores em suas aventuras digitais. Star Fox 64 foi o primeiro jogo da história a suportar a tecnologia, sendo que atualmente qualquer controle de videogame possui a funcionalidade de fábrica.
O poder dos 64-bits
Em 1997, o Nintendo 64 ainda estava iniciando sua trajetória. Com poucos jogos lançados até aquele momento, os grandes hits da Nintendo eram Super Mario 64 e Mario Kart 64. Star Fox 64 foi o terceiro grande jogo da Big N para seu até então novo console, e o esmero empregado em seu desenvolvimento era notado com facilidade. Os gráficos eram muito detalhados e realistas, e o jogo apresentava pouquíssima lentidão, mesmo quando a tela estava tomada por naves e tiros em cenários complexos. Cada uma das missões possuía visual e inimigos únicos, o que mostrava que a Nintendo não estava para brincadeira ao colocar tanto conteúdo em um cartucho tão limitado.Cheio de coisas acontecendo ao mesmo tempo, o jogo tinha gráficos incríveis para sua época |
Um clássico atemporal
Star Fox 64 é uma pérola de uma época de ouro para os videogames. Trazendo diversas inovações ao mundo dos jogos eletrônicos, a aventura de Fox McCloud fez a cabeça de jogadores de todo o mundo e criou tendências que são seguidas pela indústria até os dias de hoje. Com Star Fox 64 ficou claro para mim que não gostava apenas de jogos de Mario, mas que estava encantado com a capacidade da Nintendo em divertir e encantar os jogadores com ideias simples que fazem toda a diferença na hora de nos aventurarmos no mundo dos videogames. Star Fox 64 é cheio dessas ideias, e talvez seja este tipo de coisa que está faltando na morna indústria atual.
Revisão: José Carlos Alves
Capa: Diego Migueis