Teria Waluigi o potencial para estrelar seu próprio jogo?

Por quê até hoje Waluigi ainda não ganhou seu jogo solo? Como reverter essa situação? Que tipo de jogo seria? Acompanhe-nos nessa especulação sobre o potencial escondido do clone malvado de Luigi

em 26/04/2014

Clones do mal são um dos maiores clichês que existem, não importa a indústria. Talvez, só percam para irmãos gêmeos do mal. Ainda assim, clones do mal correm à solta nos livros, filmes, animes e, por que não, nos jogos. Na realidade, a presença deles nos jogos já beira a linha que define algo “clichê” ou “obrigatório”, principalmente nos consoles da Big N. Já vimos Link duelar com Dark Link no inesquecível Water Temple, já vimos Phazon criar Dark Samus para enfrentar a heroína e até mesmo Pit enfrentar seu doppelganger maligno nos ares. Isso, sem mencionar Mario, que já pintou o sete (quase que literalmente) enfrentando Shadow Mario, apostou corridas em galáxias com Cosmic Mario, foi perturbado por centenas de Cosmic Clones e, se não bastasse, ainda tem que aturar seu primo, Wario que, embora atualmente só o antagonize em spin-offs - chegou a ser o vilão principal da série Super Mario Land.
Tantos clones servindo como vilões principais e formidáveis inimigos, mas existe um que só serve de oponente para batalhas em campos esportivos...

E, aproveitando o gancho de Mario-Wario, alcançamos finalmente o Luigi, o pobre “Mario Verde”, que sempre viveu à sombra de seu irmão, e que, apesar de sua inexpressividade até ganhar a própria franquia, recebeu seu próprio “clone do mal”, o infame Waluigi. Irônico, malvado, mentiroso; um verdadeiro 171, Waluigi foi criado com o único propósito de servir de dupla para Wario em Mario Tennis para o Nintendo 64 no modo 2x2 — talvez por isso até que ele seja um dos personagens menos carismáticos perante a visão do público. Ainda assim, a franquia Mario é uma das mais rentáveis da Big N e inúmeros personagens que lá tiveram suas raízes ganharam seus próprios spin-offs: Luigi, Yoshi, Peach, Wario… Teria Waluigi o potencial para realizar o mesmo feitio?
Desde sua primeira aparição, Waluigi foi renegado a Mario Party's e spin-offs esportivos

A triste perspectiva atual de Waluigi


Até mesmo a bizarra
escolha da Wii Fit Trainer
pareceu fazer mais sentido
para um personagem controlável
no Smash para Wii U e 3DS
do que o Waluigi.
Sejamos honestos: o Waluigi é um dos personagens menos quistos do universo do Mario, ao menos pela própria Nintendo. Deus do céu, eles preferiram incluir uma abelha obesa, que é um NPC de Mario
Galaxy, na lista de personagens selecionáveis em Mario Kart 7 a incluir o pobre do “Luigi Roxo”. No Monopoly (Banco Imobiliário) temático da Nintendo, Waluigi é a propriedade de menor valor (60 dólares), representando a sua baixa lucratividade à empresa. Dentre produtos licenciados não há nada inspirado no personagem, exceto um broche, duas pelúcias, alguns chaveiros e quatro miniaturas (o que, comparado aos demais, é muito pouco). Waluigi nunca deu as caras em nenhum jogo de franquia principal, seja ela um Mario plataforma (2D ou 3D), Wario Ware, Wario Land ou até mesmo como controlável em Smash Bros. e, por isso, acaba sofrendo de um “inverso dilema dos Tostines”: Waluigi vende pouco porque não tem presença ou não tem presença porque vende pouco?

Em termos de design e aparições até então, o personagem é, no mínimo, curioso. O mais alto do grupo, com ainda menos escrúpulos que Wario, amante de armadilhas e inimigos (especialmente piranha plants e bob-ombs), excelente dançarino, adorador de berinjelas (?) e capaz de nadar no ar (??), Waluigi possui um perfil um tanto caricato e com um certo potencial, se explorado corretamente. Mas jogar um personagem não muito querido pelo público como protagonista num título first party iniciando uma franquia nova não seria a melhor jogada da Big N.

 Em boa parte das imagens promocionais, Waluigi está munido de bob-ombs ou então de piranha plants. Se não está segurando nenhuma das duas, é porque está com uma raquete de tênis.
Quando Luigi estreou sua franquia, com o primeiro Luigi’s Mansion para GameCube, o camarada verde não tinha personalidade alguma e o jogo teve a possibilidade de moldar a psique do personagem - que posteriormente seria reproduzida e intensificada em outros jogos, principalmente a saga Mario & Luigi e a excelente sequência do jogo original, Luigi’s Mansion: Dark Moon, anos depois, no 3DS. Entretanto, Waluigi não pode se dar ao mesmo luxo que Luigi teve, no qual sua estreia definiu a motivação do personagem.

Luigi existiu por 18 anos antes de ganhar seu próprio jogo, mas durante esse tempo de existência, ele era, basicamente, uma paleta alternativa de Mario em modos e jogos multiplayer. Waluigi, entretanto, foi criado no ano 2000 e, de lá pra cá, embora não tenha ganhado seu próprio jogo, ele pôde tirar vantagem das diversas animações que permeiam os spin-offs de Mario e Cia. que lentamente montaram seu personagem. Waluigi, mesmo sem ganhar um jogo, já tem sua personalidade definida, mesmo que de forma superficial. Qual seria a solução então? Explorar tal personalidade ainda mais! Co-estrelando ou antagonizando jogos de séries já estabelecidas, Waluigi conseguira ganhar notoriedade sem risco de rejeição do público.


Animações como essa, embora deem mais tempo para Waluigi sob o holofote, acabaram sendo prejudiciais em relação à possibilidade de estrelar seu jogo solo.

Preparando o terreno

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Mario & Luigi: Dream Team fez maravilhas para o irmão de Mario. RPGs são, naturalmente, uma das melhores opções para contar histórias e inserir Waluigi numa franquia já estabelecida mas sem limitação de elenco seria uma ótima opção. “Mario & Luigi: Family Matters” — na qual Mario, Wario, Luigi e Waluigi realizam uma breve trégua para poder enfrentar um inimigo maior. Tal jogo seria uma forma de explorar a personalidade e habilidades do renegado roxo sem tornar tal propósito o objetivo principal por trás do jogo.


Waluigi também poderia seguir os passos de seu irmão, que começou como o antagonista principal de um jogo. Um dos principais problemas de Luigi’s Mansion: Dark Moon foram os chefes inexpressivos e irreconhecíveis. Em um universo tão rico como o de Mario, os desenvolvedores preferiam usar uma !escadaria possuida! e uma “torre-relógio inanimada” a usar, por exemplo, Dry Bowser ou a escolha óbvia que seria o Waluigi. Luigi’s Mansion já estabeleceu a rivalidade entre Luigi e King Boo, tal qual os spin-offs estabeleçaram a mesma entre Luigi e Waluigi. Seguindo o velho ditado “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”, ambos poderiam unir forças para derrotar o “Mario Verde” de uma vez por todas!

A presença de Mario em Dark Moon foi completamente desnecessária. A oportunidade de explorar o universo de Luigi e a relação do personagem com outros, como Daisy e Waluigi, era grande, mas a Big N a jogou fora.


E caso o brilhante plano concretize a imagem de Waluigi como um personagem digno da atenção e graça do público, o principal desafio viria à tona: ok, ele é material para estrelar um jogo; mas que tipo de jogo?

Os sucessos de Wario Ware e Luigi’s Mansion (além da inerente qualidade dos títulos) vêm do fato de se distanciarem descomunalmente das origens dos personagens: nada de pulos, power-ups e princesas em outro castelo. Aqui, temos minigames frenéticos e altas doses de exploração e gargalhadas em cenários fantasmagóricos. Até mesmo Yoshi’s Story e Wario Land, que se mantêm na trilha dos Super Marios em duas dimensões, possuem características que os distanciam o suficiente para se tornarem experiências únicas. Mas o potencial de erro é grande: vide os desastrosos Wario Land: Master of Disguise e Super Princess Peach.
Conseguiria imaginar a frustração de Waluigi se seu primeiro jogo não vendesse bem e a possível série fosse discontinuada? A escolha de gênero e abordagem exatos é algo imprescindível.

O ideal seria explorar algum campo que o Mario-verso ainda não adentrou…



  • Beat’em Up/Hack’n Slash: Há um certo potencial. A agressividade e ganância de Waluigi dariam espaço para uma interessante trama e pretexto para o estilo e sua predileção por armadilhas, bombas e outros inimigos concederiam uma grande gama de ataques. Talvez algo à la Epic Mickey, no qual personagens esquecidos, como Wart e Geno, se revoltam com o destaque que Waluigi recebeu e o prendem no limbo do Mario-verso e caberá ao clone malvado de Luigi derrotar hordas de inimigos para receber seu lugar ao sol.
  • Jogo de Luta: Sim, temos Smash Bros. e a Nintendo já possui Punch Out!!, mas a empresa não conta com nenhum jogo de luta tradicional, com seus combos, barras de vida e afins. Waluigi já mostrou eficiência com seus punhos no minigame de boxe no Game & Watch Gallery 4 para GBA, como o oponente final de Luigi. Tanto potencial quanto pretexto já estão prontos!
  • Pinball: A conexão do encanador roxo com mesas de pinball não seria algo novo; uma de suas pistas mais icônicas em Mario Kart é a Waluigi’s Pinball, de DS e MK7. Mas o estilo se mostraria um tanto limitado para criar uma identidade e mundo para o personagem de forma que não ficasse genérico. A fórmula pode ser bem-sucedida, tal qual Super Mario Pinball Land, mas os limites de conteúdo e público alvo não fazem dela a melhor das opções.

  • Shooters: Seja em trilhos, em primeira ou em terceira pessoa, a ideia de usar um personagem da série Mario em um jogo de tiro parece, no mínimo, errada. Mas ainda assim, eu diria o mesmo para Sonic, e Shadow já nos provou o contrário. Quem sabe munido de bob-ombs como granadas, fire-flowers como lança-chamas e o mais bizarro arsenal possível, Waluigi talvez tivesse uma chance.
  • Stealth: Sem contar com toda a discrição de um Agente 47 ou treinamento tático de Solid Snake, ver Waluigi neste cenário, seria ao menos cômico, mas não inteiramente possível. Seria interessante ver ele interagindo com outros personagens, como Popple ou Mr. L para roubar tesouros ao redor dos maiores museus de Mushroom Kingdom. Tal ideia poderia traduzir numa visão completamente nova do gênero, sem matança desnecessária e esbanjando bom humor.
Waluigi entrando furtivamente em museus e fugindo da Toad Brigade enquanto acaba na mira de uma organização criminosa internacional... Daria um bom enredo de jogo... ou de filme da sessão da tarde!
  • Survival Horror: Outro estilo complicado de simular dentro do universo Mario, o mais perto de Survival Horror que a franquia chegará será com Luigi’s Mansion e olhe lá. Talvez, como já citado, algum dia Waluigi faça uma ponta como chefe ou, quem sabe, até vilão principal.
  • Visual Novel/Point & Click: Uma área não explorada e com grande potencial, dependeria principalmente do roteiro. Mario & Luigi, tal qual Paper Mario e Super Mario RPG, já comprovaram que os encandores podem participar de jogos com enredos elaborados, então isso não seria um problema, mas o curto temperamento de Waluigi, combinado com sua agressividade seu temperamento vil fariam dele um candidato muito melhor para outros gêneros.
  • Real Time Strategy (RTS): Embora malicioso e engenhoso, Waluigi não parece estrategista o suficiente a ponto de estrelar o próximo Age of Empires. Isso parece mais algo que Bowser faria: gerenciar recursos, recrutar koopas e goombas, construir torres e castelos para dominar cada um dos 8 mundos e, enfim, derrotar a armada real dos toads e capturar a princesa… Mas isso já seria um texto completamente novo.
Um jogo de puzzles e enigmas, definitivamente, não seria a opção correta.

E teríamos então a última opção que, dado o contexto do personagem e da série, é a que mais parece se encaixar; a de:

Jogo Rítmico

Com uma repaginada visual,
tal qual Wario ganhou,
Waluigi pode se tornar
um eximio dançarino ou
até mesmo um excelente
maestro.
Sim, Waluigi já foi o vilão de um jogo de dança (embora sequer foi escolhido como vilão principal), mas jogos rítmicos não necessariamente precisam se limitar aos jogos de dança e seus caros tapetes que ainda por cima limitam o público alvo, excluindo pessoas com péssima coordenação motora nos pés (como eu). A diversidade que pode ser alcançada em um título do tipo é gigantesca e temos vários exemplos de sucesso. Elite Beat Agents (DS), que foi publicado pela própria Nintendo, é uma prova disso. Rhythm Thief and the Emperor’s Treasure, para o 3DS, apresenta diversos modos de jogo diferentes que garantem um gameplay novo a todo momento e sempre aliado a um intrigante modo história. Theatrhythm Final Fantasy, também para 3DS, já provou como é possível reunir anos de uma franquia em um jogo com apenas três mecânicas diferentes - e deu tão certo que já tem até sequência programada.

Podendo se firmar na mais que reconhecível trilha sonora da franquia e ainda podendo satirizar todos os jogos cujos temas forem utilizados - algo que Wario sabe fazer bem -, o jogo ainda poderia pular a etapa de “estabelecer o Waluigi como não apenas um clone” e contar com uma simples introdução de Wario convidando Waluigi para trabalhar em sua companhia ou Waluigi criando sua própria empresa para competir com a do irmão que lhe ignora em seus próprios jogos. E tal qual Wario mantém ambas as séries Wario Ware e Wario Land, nada impediria Waluigi de explorar outros possíveis campos na área dos games.

Sátiras como essa rodando ao fundo enquanto o jogador toca a música "Underground" de Super Mario Bros. com certeza seriam um sucesso de vendas. A série seria uma válvula de escape para o universo Mario, funcionando como o jogo no qual o rídiculo seria não apenas permitido, mas bem vindo. Algo como o Elite Beat Agents do Mario-verso.

Voltando para a realidade


Mas infelizmente, apesar de todo o potencial descrito e todo o planejamento exemplificado pelo vosso redator que não é formado nem em Marketing, Game Design ou Economia, as chances de Waluigi estrelar seu próprio jogo, infelizmente, são mínimas. A cada E3 que passa, enquanto milhões pedem para que um novo F-Zero seja anunciado, que Star Fox faça um crossover com Metroid ou que Mother 3 venha para as Américas, eu assisto às apresentações da Big N com aquele filete de esperaça de ver aquele ser roxo e de nariz rosa recebendo seu próprio jogo.

Pode ser qualquer gênero.
Controlar aquele desprezível ser de
macacão azul marinho e roxo
no seu próprio jogo já seria
bom o suficiente.
Durante o Nintendo Wii U Showcase que ocorreu no final de maio em São Paulo, eu tive a oportunidade de perguntar para o Charles Martinet (dublador de Mario, Luigi e vários outros, incluindo Waluigi), se ele gostaria de dublar mais vezes o personagem e qual ele achava que era o motivo de Waluigi não ter ser próprio jogo e sua baixa popularidade. Ele respondeu abrindo com o “Why? Everybody cheats but Waluigi!” (Por quê? Todo mundo trapaceia, menos o Waluigi!) e seguiu comentando que o personagem é realmente muito interessante de se dublar, mas que a razão de poucas pessoas gostarem de Waluigi é o fato do próprio personagem não gostar de si próprio. Na visão de Martinet, aparentemente Waluigi é um personagem pessimista e cheio de autopiedade (visto pela frase com a qual Martinet abriu, na qual o personagem mais trapaceiro reclama das trapaças dos outros), dois traços não muito acolhedores ao público. Charles não precisou dizer, mas sem suporte do público, sem jogo.

Ainda assim, embora todas as probabilidades, eu tenho esperança de que algum dia Waluigi terá seu próprio jogo em mídia física nas prateleiras de uma GameStop. Afinal, se Nina Williams (de Tekken) teve seu próprio spin-off, animais randômicos + Knuckles (de Sonic) estrelaram Chaotix e, nada mais nada menos, que Tingle (de the Legend of Zelda) teve não um, mas dois — eu disse DOIS — jogos para o Nintendo DS, pensar que Waluigi pode estampar a capa de um jogo não parece tão improvável assim.
#Beijinhonoombro #Recalque #Waluigiinvejoso


Revisão: Vitor Tibério
Capa e Texto: Hugo H. Pereira
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