Os sonhos de Dream Team ou os adesivos de Sticker Star? Vamos descobrir qual o melhor RPG de Mario para o 3DS

em 01/01/2014

Até o início da oitava geração, os portáteis e os consoles da Nintendo eram suprimidos equitativamente com RPGs de Mario. Enquanto a engenho... (por Rafael Neves em 01/01/2014, via Nintendo Blast)

Até o início da oitava geração, os portáteis e os consoles da Nintendo eram suprimidos equitativamente com RPGs de Mario. Enquanto a engenhosa franquia Paper Mario trazia o universo celulósico do bigodudo para a tela da televisão, a série Mario & Luigi permitia que levássemos as aventuras dos irmãos encanadores no bolso. E nós até já confrontamos as duas séries antes, mas, com o 3DS, a Nintendo resolveu colocar as duas franquias no mesmo portátil. Nós não pudemos deixar de comparar estes dois grandes RPGs: Paper Mario: Sticker Star e Mario & Luigi: Dream Team. Será que o resultado do embate entre o quarto jogo de cada franquia pode alterar o placar geral das duas séries?


Turno 1: História

Bom, vamos, primeiramente, contextualizar. Como de praxe nas séries, Sticker Star e Dream Team não apresentam a batida história da Peach sendo sequestrada pelo Bowser e Mario indo atrás dela. Não que o lagartão não chegue a sequestrar a princesa nesses jogos, mas o enredo de ambos é muito mais complexo e envolve muito mais personagens e missões paralelas do que o mero bê-á-bá da gigantesca franquia Mario.

Sticker Star, na verdade, retorna um pouco ao básico: Bowser mantém Peach capturada, e Mario deve resgatá-la. No entanto, temos um pouco mais de tempero no roteiro. O grandalhão do mal aparece para bagunçar a Sticker Fest, festival da cidade Decalburg que acontece para todos presenciarem juntos o mágico Sticker Comet rasgar o céu noturno. Bowser não apenas mela a festa como também destrói o cometa, partindo-o em vários pedacinhos que chovem separados pelos mundos do jogo.

Quem tem medo de um Bowser brilhante e com uma coroa super poderosa, né?
O problema é que um desses pedacinhos cai sobre a cabeça de Bowser, tornando-o invencível até mesmo diante da odiada sola dos sapatos de Mario. O bigodudo então se junta à fada adesiva Kresty para derrotar o King Koopa. Pela organização em fases e mundos do jogo e pela proposta "menos RPG", Sticker Star não tem muitos personagens, cidades e tramas paralelas para explorar, o que diminui bastante o conteúdo de história do jogo. Já Dream Team oferece um mundo muito mais recheado de personagens, cidades e coisas acontecendo.

Vamos para a Ilha Pi'llo, eles disseram. Vão ser férias tranquilas, eles disseram
Em Ilha Pi'illo, o mundo dos sonhos e o mundo real são postos em xeque pelo vilão Antasma, que até se alia a Bowser para derrotar os irmãos Mario e Luigi. É interessante como o jogador vai acompanhando de perto o plano dos vilões do game e como os objetivos dos heróis vão se alterando conforme a trama se desenrola na paradisíaca ilha.
Vencedor: 

Turno 2: Mecânica de jogo


Por serem ambos RPGs, Sticker Star e Dream Team trazem uma estrutura de jogo semelhante, mas é o fator "Mario" que os faz ser tão diferente da maioria dos RPGs tradicionais. Na série Paper Mario, por exemplo, o mundo de papel dá outras formas ao esquema de batalhas em turno, de exploração de cenários e de narrativa.

Sticker Star resolveu alterar ainda mais isso, retirando muitos dos elementos clássicos de um RPG (como os pontos de experiência, atributos, etc.) e abandonando algumas tradições da própria franquia (como as Badges e os parceiros). A medida segue o que Super Paper Mario fez no Wii, mas, mesmo que Sticker Star se esforce para ser um RPG, o elemento de jogo usado para substituir todas as pendências de outros elementos de um RPG não foi lá tão proveitoso. Os adesivos são a grande engrenagem da mecânica de Sticker Star. Embora combinem com o mundo de papel, são itens descartáveis, que não oferecem tanta complexidade ao jogo. Pelo contrário, há muito pouco de RPG no jogo, a começar pela progressão dividida em mundos e fases e pela falta de grandes interações com personagens e cidades.

Para muitos, esse é o maior problema de Sticker Star
Já Dream Team tem uma mecânica muito mais complexa, embora não seja lá tão inovadora (a estrutura é quase toda de Mario & Luigi: Bowser's Inside Story). Temos os saltos e marteladas da dupla Mario e Luigi, os golpes especiais dos irmãos, as técnicas oníricas de Luigi, as batalhas com o Luigi gigantesco, as badges, os pontos de experiências, atributos customizáveis, equipamentos e armas, uma ilhada recheada de personagens únicos... enfim, é um RPG complexo, mas com o carisma de um Mario. Nesse sentido, as batalhas, a customização dos personagens e a exploração pela Ilha Pi'illo é muito mais profunda.



Vencedor: 

Turno 3: Universo e elenco

As franquias Mario & Luigi e Paper Mario sempre expandiram bastante o universo da série Mario, quebrando os tradicionais muros do Reino do Cogumelo para nos mostrar ambientes que jamais veríamos em um New Super Mario Bros. da vida e nos fazendo conhecer profundamente os habitantes desses mundos. Sticker Star e Dream Team também erguem essa bandeira, mas é hora de ver quem é o vencedor.

Em Dream Team, tiramos umas férias do tradicional Reino do Cogumelo para curtir a Ilha Pi'llo. Lá, não vivem apenas os clássicos Toads, mas também o povo Beanish (de Mario & Luigi: Super Star Saga, para GBA), o povo de blocos falantes Brock e o antigo povo de travesseiros ambulantes Pi'llo.

Além desses personagens, que trazem visuais e personalidades únicas, temos vários ambientes da ilha que exaltam particularidades interessantes, como a obscura Somnom Woods, e cidades como Wakeport. A enciclopédia de inimigos também é vasta e traz criaturas nunca antes vistas no mundo de Mario, como os ínfimos Gromba e Capnap e os estranhos Beehoss e Grumbell. O universo dos sonhos de Luigi por si só já gera uma gama ainda maior de inimigos com designs tão loucos quanto as fantasias do irmão de Mario.
E quanto a Sticker Star? No que se refere à ambientação, o jogo deixa um pouco a desejar. Só temos uma grande cidade (que não tem nada de mais) e ambientes clássicos como uma planície verde inicial, seguida por um deserto escaldante e culminando com um cenário vulcânico. No entanto, o desafio final nos céus e a floresta obscura são lugares interessantes. Mas no que se refere ao elenco que compõe esses cenários, Sticker Star também desaponta. Como não temos personagens para conversar, quase todos eles são genéricos.
Os Toads que habitam Decalburg são simplesmente Toads, e os Bob-Ombs, Fire Piranha e Koopa Troopas contra os quais lutamos são apenas Bob-Ombs, Fire Piranha e Koopa Troopas. Há algumas exceções, é claro, como os elementos do mundo real que vêm para o jogo (como tesouras e esponjas), os inimigos em versões brilhantes e raras e também os inimigos originais como o Sombrero Guy e o Maraca Guy, mas nada tão vasto quanto o que a série Paper Mario costuma nos ofertar.

Vencedor: 

Turno 4: Inovação

Embora sejam tipicamente RPGs em turnos, as franquias do Mario da Intelligent Systems e da Alpha conseguem inovar em seus estilos e mecânicas. O grande destaque em Dream Team é o mundo dos sonhos de Luigi, que traz algumas mecânicas novas de batalha, como os Luiginary Attacks e as interações com o Luigi dorminhoco da tela inferior. Mesmo que isso traga uma sensação de novidade, um jogador atento irá perceber que trata-se, na verdade, de muita reaproveitação da mecânica da série - especialmente do último jogo, Bowser's Inside Story.

Todos os elementos de RPG vêm do terceiro capítulo da franquia e alguns novos têm suas correspondências com o último jogo da série. O universo dos sonhos de Dream Team, por exemplo, corresponde à jogabilidade com Bowser's Inside Story. Isso fica claro pela locomoção em progressão lateral de ambos, pelos ataques especiais com o Luigi aproveitarem as funcionalidades do 3DS da mesma forma que os de Bowser usavam as do DS e pelas batalhas com o Luigi gigante serem muito semelhantes aos confrontos com o Bowser fermentado. Sim, são mecânicas que funcionam muito bem, mas nada muito inovador.

Embora interessantes, as batalhas gigantes não são muita novidade
para os fãs da série
Sticker Star vem com o contrário: muita inovação. Mesmo que muitas das novidades tenham causado um efeito negativo na recepção do game, os novos elementos de jogo, que destoam dos de um RPG tradicional, são inéditos. Os adesivos, por exemplo, já em sua estreia na série foram muito bem explorados em toda a aventura. Também temos a divisão do jogo em mundos e fases e os elementos oriundos do mundo real como exemplos de inovação. Não tem como não admitir que esse Paper Mario realmente mudou o padrão da série, assim como Super Paper Mario o fez.

Por mais bizarro que isso seja, que outro jogo de Mario lhe faria ver
o bigodudo segurar objetos realistas assim?
Vencedor: 


Turno 5: Direção de arte

A Nintendo é a grande responsável por mostrar a beleza capaz de ser produzida em suas plataformas para contrariar a opinião geral do público a respeito de seus aparelhos. A Intelligent Systems e a AlphaDream carregam também essa missão, mesmo que seus RPGs de Mario não tenham aquela qualidade gráfica avassaladora.
Mario, acho que não é exatamente isso que os pobres Goombas
queriam quando reclamaram do frio...
É através do carisma de seus universos, da originalidade de seus personagens e do trabalho de suas trilhas sonoras que Paper Mario e Mario & Luigi conquistam os jogadores. Em Sticker Star, pudemos ver a engine de Paper Mario: The Thousand-Year Door (GC) ser portada belamente para o hardware do 3DS, com todo o seu universo modelado em 3D e os personagens em 2D.



Rodando fluidamente e com efeitos visuais belos, Sticker Star é um jogo lindo, mas, mesmo tendo a alma do capítulo para GameCube, em ousadia artística ele não chega perto de The Thousand-Year Door ou do resto da sua série. Nada de cenários originais, personagens criativos ou cutscenes realmente encantadoras. Em vez disso, temos um aspecto visual totalmente clichê na franquia Mario. Basicamente, são gráficos bom, mas pouco aproveitados por um visual simplório. Já a trilha sonora é ótima, com ótimos temas de batalhas contra chefes e remasterizações de canções clássicas.

Dream Team, por outro lado, é o primeiro game da série a se aventurar pelo mundo poligonal, mantendo ainda seus personagens em sprites muito bem desenhados para funcionar como imagens tridimensionais. O resultado é muito agradável visualmente, e a direção de arte aproveita muito bem tal potencial. O universo onírico de Luigi, por exemplo, é um show de efeitos visuais psicodélicos. A trilha sonora também não decepciona, apresentando talvez a melhor canção de batalha da franquia.
Vencedor: 

E os pontos de experiência vão para...

... a surreal aventura de Mario pelos sonhos e fantasias de seu irmão magricela por 4x1! Sticker Star conseguiu levar a fórmula das jornadas do Mario de papel dos consoles para o 3DS e retornou ao estilo de RPG tradicional da franquia, mas algumas escolhas erradas de direção ofuscaram ele perante os grandiosos RPGs do aparelho.

RPGs como Mario & Luigi: Dream Team que, mesmo sem inovar, ofertaram uma aventura sólida, com mecânicas complexas e de fácil entendimento e um universo cativante. É, ao menos por alguns anos, matamos a nossa sede de RPGs do bigodudo, pois, seja lá quem seja o vencedor, Dream Team e Sticker Star são muito recomendados para quem carrega um 3DS no bolso. Ah, e Paper Mario pediu para esperar por sua versão de Wii U para vingar-se de uma vez de Mario & Luigi.

Parabéns, encanadores!
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Diego Migueis
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