Vamos abrir o livro
Dias atrás, preparando minhas malas para viagens de fim de ano, encontrei-me escolhendo alguns jogos e portáteis para me fazerem companhia nesse tempo fora do lar. Foi aí que encontrei meu Final Fantasy Tactics Advance, ainda com sua caixa e com meu save file de tantas e tantas horas. Aqueles breves minutos para ver como estava meu registro de progresso acabaram por se tornar algumas horas. O que mais gostei em Final Fantasy quando era pequeno, foi essa fantasia, esse ambiente mágico, criaturas impossíveis, mas com aparência amigável (ou não!) e parecendo que vieram de um livro de conto de fadas. É com essa empolgação que eu costumava jogar Final Fantasy, até mesmo aquele jogo do PlayStation com quatro CDs, em que o protagonista parecia apenas um moleque inexperiente e descolado. O visual de Final Fantasy VII já foi um choque para mim, mas ainda tinha aquele "feeling" que eu gostava nos anteriores. Depois disso, os outros títulos foram cada vez mais fracos para mim.
Em 2003, a Square Enix pegou minha atenção com Final Fantasy Tactics Advance. A mecânica seria semelhante à do jogo que eu havia conhecido no PlayStation, como o título sugere. Não depositei tanta esperança no começo, mas, sem perceber, aquela história me pegou. Você começa no mundo real, onde já é possível perceber que você frequentemente protege seu amigo mais fraco que costuma sofrer bullying pelos valentões da escola. É durante uma guerra de bola de neve que a mecânica básica do jogo é apresentada (como atacar, defender, troca de turno, etc) ao mesmo tempo em que esse contexto é passado e você faz amizade com Ritz. Com isso, está formado o trio que terá aventuras pelo jogo. A aventura começa quando o grupo senta para ler um livro que eles não sabiam ser mágico e por algum motivo vão parar dentro da história do livro, em Ivalice.
A história desenrola-se com as complicações de cada personagem. O protagonista descobre que precisa destruir os cristais para retornar ao seu mundo com seus amigos, mas se ele fizer isso, o que acontecerá com aquele mundo? Vale ele retornar para o seu mundo mesmo que isso custe eliminar aquele mundo e todos que estão nele? Em contrapartida, os amigos do protagonista não têm planos de voltar para o mundo real por seus motivos pessoais e é aí que podemos perceber que pessoas têm problemas, mesmo que não mostrem isso, o que pode ser simples e bobo para nós, pode ser razão para outras pessoas desistirem da vida. Enquanto você, o protagonista, trabalha para encontrar um meio de voltar para seu mundo, precisa solucionar as dificuldades e medos de seus amigos para que aceitem voltar contigo. E a maior surpresa fica pra batalha final, claro.
Pegue seu par e comece a dançar
A trilha sonora é uma mistura de fantasia com… piratas. Como posso dizer isso? Você tem um clã e seu clã tem uma base que é, simplesmente, um bar. E em meio à alegria desse bar, onde você recebe as missões, a trilha sonora guia você entre situações engraçadas e decisões que podem custar a vida de todos. E essa música dança bem com o ambiente: desde o bar alegre com seus amigos de clã, até uma cidade sombria e deserta onde estão acontecendo crimes misteriosos. Para quem se soltar um pouco da realidade e parar de criticar se isso ou aquilo é possível ou não, certamente será uma viagem mágica.Apesar das viagens se resumirem em um mapa global no qual você vai do ponto A ao ponto B, batalhas e encontros nessas cidades podem não ser no mesmo cenário. Anos depois, lendo mais sobre o jogo, descobri que há alguns cenários inacessíveis no jogo: estão no código do jogo, mas não fazem parte da história e em razão disso não é possível visitá-los. E que pena. Se fosse nos dias atuais, certamente esse conteúdo seria acessível por DLC ou alguma quest por meio de expansão. E por falar em "conteúdo adicional", a história não acaba quando chega ao fim! Após a batalha final, é possível recrutar alguns personagens icônicos para seu clã por meio de pequenas quests. Também há diversas missões que abrem apenas depois da história principal do jogo ser concluída. Logo, se pensarem que completando a história o jogo acabou, você deve investir mais algumas horas para realmente poder falar que completou o jogo totalmente.
Quase uma partida de xadrez
Não é apenas o visual "chibi" (pequeninos) que eu gosto nesses jogos tactics, mas também por me lembrarem tabuleiros. Em seu turno com cada personagem você tem uma quantidade de blocos (ou "casas", como diríamos em um tabuleiro) que pode se mover e então escolher atacar ou não. O posicionamento dos personagens é muito importante nesses jogos. Deixar os suportes atrás dos combatentes não é o suficiente, tendo em mente habilidades que pegam uma certa quantia de blocos a cerca do alvo. E se um dos inimigos tem uma habilidade "global" que atinge todos seus personagens? Seria interessante eliminá-lo primeiro? Caso sim, como fazer isso sem colocar seus suportes em risco?O ponto de "clã" me empolga muito. Esse é um dos pontos que eu mais gosto em MMOs: participar de um clã e trabalhar com esse clã, fazermos estratégias juntos. Dessa forma, um Final Fantasy Tactics em formato de MMO seria muito bem aceito por mim. Cada personagem pode ter uma classe e atingir alguns requisitos nessas classes abre outras classes. Algumas têm desempenho melhor se usadas de uma forma, outras de outra forma. E desse clã com tantas classes você precisa escolher um seleto grupo para formar sua equipe principal. Lembrando que algumas missões são feitas apenas por certas classes, e como missões são necessárias para abrir outras, isso deve ser levado em consideração.
Final Fantasy Tactics Advance foi responsável por resgatar minha infância e minha nostalgia sobre o estilo antigo de Final Fantasy nos dias atuais. Lighting Returns está fazendo bem, mas eu gosto muito mais de ter um grupo de soldados e poder evoluir de maneiras diferentes, o que é o oposto da solitária Lighting no próximo jogo da franquia. Um remake dando acesso aos cenários não utilizados ou personagens não jogáveis seria de bom grado já que o jogo tem pouco mais de dez anos. Um trabalho perto do que fazem com Chrono Trigger de tempos em tempos e seus finais extras.
Revisão: Luigi Santana
Capa: Igor Silva