E o momento que todos os nintendistas ao redor do mundo
temiam chegou. O Wii U, até então único console de nova geração disponível no
mercado, não está mais sozinho e os sucessores do PlayStation 3 e do Xbox 360
finalmente estão nas prateleiras. Em uma análise rápida e sem muita reflexão,
podemos pensar que o console da Nintendo, que já não ia muito bem das pernas,
está indo cada vez mais rápido para o limbo, mas talvez estejamos redondamente
enganados. Saiba agora alguns motivos que me levam a pensar assim.
A febre do lançamento
Como todos sabemos, qualquer novo hardware no mercado causa
um estrondo imenso. As vendas chegam às alturas e é natural que boa parte dos
jogadores se empolgue muito com as novidades disponíveis. Gráficos melhorados,
novas formas de se jogar e o principal: campanhas de marketing arrebatadoras
que fazem com que os jogadores se sintam pessoalmente convidados a gastar seu
suado dinheirinho em um novo console (qualquer semelhança com comerciais
recentes não é mera coincidência).
O resultado não poderia ser diferente: milhões de consoles
são vendidos na primeira semana e isso se estende por um ou dois meses. Mas
como Ian Curtis, vocalista da excelente banda Joy Division, já dizia muito bem
há mais de vinte anos, “o que você vai fazer quando a novidade terminar?”. Na
indústria dos jogos essa resposta é bem fácil de ser respondida: praticamente
nada.
As filas imensas se repetem... |
O PlayStation 4 e o Xbox One são consoles com diversas
qualidades que certamente garantirão seu sucesso durante este novo ciclo de
hardwares, mas a verdade é que no momento não há bons motivos que nos levem a
adquiri-los. Com sistemas operacionais que parecem estar em fase beta, diversos
relatos de problemas em peças como a entrada HDMI do PS4 e os drives de blu-ray
do Xbox One e uma line-up nada impressionante, os consoles só valem ser
comprados para os mais aficionados por novas tecnologias e não aguentam esperar
o momento em que os aparelhos estiverem realmente funcionando bem e com jogos
que valem a pena ser jogados.
...e os festival de luzes da morte também. |
E não venham me dizer que o lançamento do Wii U foi muito
superior do que os descritos acima. O console da Nintendo foi lançado com uma
série de ports, um Mario em que a Nintendo fingiu que inovou e nós fingimos que
acreditamos e uma tonelada de ports de jogos que já havíamos jogado um ano
antes. Além disso, para quem não se lembra, o sistema operacional do console
era extremamente lento e algumas unidades do console sequer ligavam, defeito
que ficou conhecido com Blue Light of Dead, já que o led do console ficava
piscando sem que a imagem fosse transmitida para o televisor.
Admita: nem você se importou com a line-up de lançamento do Wii U |
A verdade é que todo lançamento de novas tecnologias são
passíveis de problemas, e com videogames a situação se torna ainda mais grave
porque simplesmente não há muitos jogos para se jogar. Aconteceu com o Wii U e
com o 3DS e vai acontecer/está acontecendo com os novos consoles da Sony e da
Microsoft, e isso não é demérito de nenhuma destas empresas.
O fim do Wii U?
Com a fraquíssima line-up de lançamento dos novos consoles e
um grande hiato de lançamentos (ou ninguém percebeu que os novos consoles não
têm praticamente nada previsto para os próximos meses?), o Wii U, até então
ovelha negra não apenas da Nintendo, mas da história dos videogames, começa a
mostrar suas qualidades. A Nintendo teve um ano de vantagem, tempo o bastante
para lançar jogos de qualidade para seu console e se vocês pararem para pensar,
fez até mais do que muitos esperavam. Apesar do início de ano morno, em que
apenas Game & Wario foi lançado pela Big N, o segundo semestre foi marcado
por títulos de imensa qualidade como Pikmin 3, The Wonderful 101, Sonic Lost World, The Legend of Zelda: The Wind Waker HD e Super Mario 3D World.
Mario, mais uma vez, pisoteando seus adversários |
Para agradar a jogadores casuais que adentraram o mundo da
Nintendo com o Wii, a empresa tratou de trazer Wii Party U, Wii Sports Club e
Wii Fit U. Para completar a enxurrada, as cruéis e boicotadoras third parties
ainda nos trouxeram Rayman Legends, Splinter Cell: Blacklist, Batman: Arkham
Origins, Call of Duty: Ghosts, Assassin’s Creed IV: Black Flag entre outros,
fazendo com que o Wii U tenha recebido todos os grandes jogos de third parties
deste final de ano. Agora pense bem nessa line-up e responda: em que geração a
Nintendo lançou tantos jogos de peso em um período tão curto de tempo? Nenhuma.
O famigerado cachorro da Actvision também debutou no Wii U |
Como se não bastasse, a Big N corrigiu diversos problemas do
sistema operacional de seu console, tornando-o mais rápido, funcional e
intuitivo. O Miiverse se integrou a outras redes sociais e se tornou ainda mais
interessante e novos aplicativos chegaram e tornaram o console mais completo. E
o problema da luz azul? Morreu. Com tudo isso, é impossível não admitir que o
Wii U finalmente se tornou um console completo, com experiências que podem
agradar não apenas a fãs da Nintendo, mas também a jogadores que curtem gêneros
que se afastem do que a Big N está habituada a produzir.
O Miiverse está evoluindo cada vez mais! |
Com uma line-up muito sólida e um console muito bem
construído, a Nintendo tratou de baixar o preço de seu console e criar uma
infinidade de bundles interessantíssimos para este final de ano. De Skylanders
a Zelda, passando por Wii Party e Mario, a gigante nipônica criou produtos que
se encaixam com diversos perfis de jogadores, o que já começa a dar resultado
tanto nos Estados Unidos quanto no Japão, países em que as vendas do console
cresceram significativamente nas últimas semanas, sendo destaque da Black
Friday, em que o console vendeu mais até que o PlayStation 4.
Os efeitos negativos do hype
A Microsoft e a Sony venderam seus novos produtos como
grandes revoluções, capazes de redefinir o conceito dos videogames para sempre.
E não foi bem isso que aconteceu. Com todos os problemas que já apontei, a
mídia não ficou calada e uma onda de artigos que tratavam os problemas dos
novos consoles começou a tomar conta dos grandes portais de todo o mundo. Sorte
da Nintendo, que antes disso era vitima das mais apocalípticas profecias de
falência que foram deixadas de lado para
que problemas no botão eject do PS4 fossem reportados. Mas a Big N foi ainda
mais sortuda: estranhamente, todos os portais não só decidiram falar de muitos
problemas e das decepções dos novos consoles como também apontar como o Wii U é
a melhor escolha para o natal de 2013.
LocoCycle ou Zelda? Escolha difícil... |
Desde o Times até a Edge, boa parte da mídia passou a chamar
o Wii U de joia escondida, verdadeiro next-gen e outros elogios que, há menos
de um mês, só eram ditos para fazer oposição ao console da Nintendo. Querendo
ou não, a mídia tem grande efeito sobre o público, e o console está começando a
ser visto com outros olhos, já que não há bom argumento para defender Ryse (XBO) ou Knack (PS4) frente a Super Mario 3D Land ou Wind Waker HD. E assim o
Wii U começa a ver uma luz no fim do túnel no momento mais improvável e temido
de sua ainda muito curta vida.
E o efeito perdurará?
Não podemos dizer que tudo isso faz com que a Nintendo será
a vitoriosa na guerra dos consoles, tampouco se o Wii U será ou não um
fracasso. Mas a Nintendo mais uma vez está com a faca e o queijo na mão.
Enquanto os concorrentes não possuem muitos jogos de peso anunciados para o ano
que vem, a Big N conta com Donkey Kong Country: Tropical Freeze, Super Smash
Bros. for Wii U, Mario Kart 8, X e com alguma sorte o antecipadíssimo novo
Zelda.
Skull Kid pedindo à Lua que o Wii U se recupere...e que a Nintendo refaça seu jogo |
Resta apenas a Nintendo não deixar a peteca cair. Com os
problemas da nova geração, a empresa ganhou mais alguns meses para emplacar de
vez seu novo console. Se a estratégia utilizada com o 3DS funcionar novamente,
o Wii U promete ter um futuro brilhante e ressurgir das cinzas e protagonizar
uma das mais incríveis viradas de mesa da história dos videogames. Resta-nos
apenas torcer para que a Nintendo esteja percebendo esta enorme chance que seus
concorrentes lhe deram.
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Sybellyus Paiva