Hoje, finalmente, falaremos sobre o cenário competitivo de Pokémon

em 03/12/2013

Há anos que eu digo que, em Pokémon, o jogo só começa de verdade quando você ganha a Pokémon League. Pode parecer um paradoxo para alguns ... (por Unknown em 03/12/2013, via Nintendo Blast)

Há anos que eu digo que, em Pokémon, o jogo só começa de verdade quando você ganha a Pokémon League. Pode parecer um paradoxo para alguns que não conseguem entender como o jogo poderia começar após o fim. Mas geralmente é nessa parte que você tem acesso a todos os recursos que o jogo pode oferecer e então começar a preparar seus monstrinhos para batalhar contra seus amigos, e quem sabe, até em torneios. É sobre essa vida de Pokémon Trainer que falaremos hoje.


No Brasil isso já tem mais que dez anos

Recordo-me dos Mall Tours, pequenos eventos realizados em shoppings no fim do século passado. Torneios utilizando as versões Red, Blue e Yellow, nos quais não tinham tantas regras. Não era difícil ver equipes com Mewtwo, Articuno, Zapdos, Moltres e mais dois. Naqueles jogos, nós não tínhamos a divisão de Special Attack e Special Defense, apenas Special. Não tínhamos itens. Os Pokémon não tinham sexo. Não havia distinção visual de um Pokémon shiny. Era algo bem "cru", seco, ou até "roots" como alguns gostam de falar. Há quem diga que a primeira geração foi a melhor, que os 150 Pokémon são "os verdadeiros", mas cavalheiros, era horrível jogar em RBY, em minha opinião.

Com o lançamento dos jogos Gold/Silver, e pouco depois Crystal, no ocidente, os torneios começaram a mudar e ter algumas limitações por meio de regras. Essa época coincidiu com o lançamento da adaptação animada pra TV, sendo exibida pela Rede Record. Não demorou muito para que Eric Araki, redator da revista Pokémon Club (editora Conrad), organizasse uma Pokémon League em que os Gym Leaders seriam pessoas reais, não NPCs. Isso aconteceu pouco depois da formação do Elite Four nacional (e que podemos ousar dizer: "da América Latina").

Nessa época, alguns brasileiros já usavam irc para batalhar por meio de simuladores de combate, superando assim a limitação local do Cabo Game Link. O saudoso fórum Pokéland, conversas por ICQ, batalhas pelo irc, eram alguns dos pontos que regiam o começo do cenário competitivo de Pokémon no Brasil.

De ontem para hoje

Com o lançamento de Ruby/Sapphire, a Nintendo ainda não se preocupava com uma Pokémon League ou torneios globais, mas comunidades de simuladores como NetBattle, já podiam ver essa realidade como algo bem próximo. Sites criados por fãs como Serebii, Marriland e outros, ajudaram muitos treinadores naquela época, assim como GameFAQs. Não demorou para que os brasileiros estivessem em nível igual (ou superior) aos japoneses e outros grandes treinadores pelo mundo. E isso podia ser confirmado em batalhas pelos simuladores, já que o GameBoy Advance não possuía recurso online.

Com o tempo, a necessidade de regras tornou-se mais evidente. Apesar da Nintendo desenvolver o jogo e reconhecer o fator multiplayer como importante, eles não participam ativamente desse cenário competitivo e ainda estão bem distantes do público nessas competições. Logo, alguns Pokémon foram banidos de torneios por seu potencial ser muito além de outros Pokémon em situações comuns. E é aí que temos as "tier list": listas que classificam Pokémon em categorias por potencial e usabilidade. Outras regras relacionadas à limitação de itens, ataques ou habilidades foram inseridas com o passar do tempo e removidas depois de algum período quando algum novo recurso do jogo tornasse possível combater tranquilamente aquilo que antes era "insuperável".

Atualmente essas regras são regidas pela Smogon University, a maior comunidade de jogadores na internet. Ao contrário do que muitos podem pensar, Smogon não é composta apenas por americanos: há brasileiros lá também! Claro, no site é permitido falar apenas em inglês para facilitar a comunicação, já que é um idioma quase global. Geralmente eles realizam testes em combates, munidos de cálculos, para avaliar o potencial dos Pokémon em situações comuns. E é assim que a paz reina no mundo Pokémon.

Quero ser o maior dos mestres

Resumindo, o que é chamado de "cenário competitivo" é a união dessas comunidades, torneios com regras e debates sobre as mecânicas de combate do jogo. Entendendo isso, há quem não participava de fóruns e jogava Pokémon em emuladores até pouco tempo, mas agora tem Pokémon X/Y e muitos querem "jogar sério". Por onde começar? Como começar? E é isso que vamos tratar aqui.

Você não precisa ter uma conta em qualquer um desses fóruns, ainda mais se tiver dificuldades com idioma estrangeiro. Eu aconselho a PokEVO, um fórum nacional com torneios dentro dessas regras, além de ter muitos guias sobre as mecânicas de combate do jogo. No entanto, pra competir, você precisa ter... Pokémon. E é aí que você precisa estudar breeding, entender o que são IVs e effortar seus Pokémon. Caso contrário, será bem difícil ter sucesso nessas competições e resultará em uma experiência frustrante. IVs e Efforts trabalham direto no valor do atributo do Pokémon. Basicamente, mais defesa, mais velocidade e chance de causar mais dano. Com um Pokémon com IV 0 em vários atributos e sem effort, seus Pokémon serão mais lentos que dos oponentes, causarão pouco dano e morrerão mais fácil.

Além das condições de seu Pokémon, estratégia também é muito importante. Ela é a chave para vitória (e não estou falando do Klefki). Vamos citar alguns exemplos. Você manda um Rattata Lv37, o oponente manda um Mewtwo Lv100. O primeiro turno começa com Mewtwo ativando sua Mega Evolution e usando Psychic. O dano absurdo esvanece qualquer chance de Rattata sobreviver... exceto se ele tiver Focus Sash, que permite que ele sobreviva com 1 HP, e nesse mesmo turno use Endeavor que iguala o HP do oponente ao seu. No turno seguinte, Rattata usa Quick Attack eliminando o 1 HP que Mewtwo tinha. Em uma situação mais assustadora, Aron Lv1 pode se aproveitar do Sandstorm para usar Endeavor nos oponentes com auxilio de sua Ability Sturdy e recuperando seu HP por completo com Shell Bell. Esse tipo de estratégia não é novidade, mas é um exemplo sobre como essa é a parte mais importante do jogo. Pokémon é um jogo de RPG até passar a Pokémon League, pois, depois disso se torna um jogo de estratégia. E quem tiver a melhor, vence, mesmo que isso envolva um pouco de sorte (como em qualquer jogo).

Ontem, com ajuda do Guilherme Eric (aqui da equipe GameBlast), eu testei um Liepard. A ideia foi basicamente começar com um Ditto Imposter, copiar o lead do oponente e usar Stealth Rock, Spikes e qualquer outro entry hazard que ele tivesse a oferecer. Feito isso, recuei o Ditto e enviei Liepard com Ability Prankster que aumenta prioridade dos ataques. Usei Assist, um golpe que escolhe um ataque de algum Pokémon da sua equipe aleatoriamente. No entanto, eu montei uma equipe com golpes que não podem ser copiados pelo Assist (onde Transform do Ditto está incluso) restando apenas uma opção propositalmente: Roar. Então, usei Assist, selecionou Roar, enviou o oponente pra fora de combate e o novo que entrou recebeu Toxic Spikes e Stealth Rock. Como ele acabou de entrar, não tem turno de ataque, o turno acaba. Próximo turno, eu começo atacando (Prankster, tenho prioridade), Assist. Seleciona Roar, ele troca, toma dano, acaba turno. Foram duas vitórias sem o oponente ter direito atacar. Isso é cruel, mas é um exemplo de como usar a cabeça vale mais do que montar um time com Garchomp, Scizor e outros mais populares pensando que terá vitória garantida.
Pokémon é uma das franquias mais antigas e rentáveis do mercado. Se você assistiu apenas o desenho ou jogou apenas em emuladores, essa é uma boa época para embarcar em uma nova aventura com seus amigos e entender como esses monstrinhos carismáticos ganharam atenção por tantos anos. No campo de batalha, treinadores colocam em teste suas estratégias em uma competição por turnos, tal como uma partida de xadrez. No entanto, o espirito competitivo amistoso e o desejo de ajudar seus amigos a crescerem junto contigo é o que torna a experiência tão proveitosa e única.

Curiosidade da semana

F.E.A.R. é uma abreviação para "Focus Sash, Endeavor, Quick Attack, Rattata" (ou Fucking Evil Annoying Rodent) e é como é conhecida a estratégia do Rattata e Aron citada hoje que consiste em reduzir o HP de um oponente e matá-lo sem precisar ter um nível elevado. Essa estratégia tem diversas variações de golpes e Pokémon. Ela pode ser usada por um Mankey com Vacuum Wave, por exemplo. Doduo, Swinub, Tailow e outros Pokémon também podem fazer coisas semelhantes. Em suma, é um truque simples, assim como a jogada do Pastorzinho no xadrez.

Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Daniel Machado

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.