Qual a importância de ZombiU para o gênero survival horror?

em 03/11/2013

O gênero Survival Horror se popularizou em 1996 com o lançamento de Resident Evil (PS) e desde então reuniu uma considerável base de f... (por Unknown em 03/11/2013, via Nintendo Blast)


O gênero Survival Horror se popularizou em 1996 com o lançamento de Resident Evil (PS) e desde então reuniu uma considerável base de fãs por todo o mundo. Contudo, com o passar dos anos, os jogos de terror sofreram diversas mudanças que desagradaram a muitos. Mais voltados para ação e com um ritmo mais frenético, boa parte dos jogos foram se descolando cada vez mais das características que os fizeram tão famosos outrora. Mesmo assim, algumas desenvolvedoras ainda tentam captar a essência do terror e transportá-la para os jogos sem tentar acompanhar o senso comum, o que, infelizmente, não parece estar dando muito certo. Nessa semana de Halloween, vou discutir a importância desses jogos para a indústria, utilizando como base o incrivelmente underrated ZombiU, lançado no ano passado para o Wii U. 


Guerra mundial ou sobrevivência?

A franquia Resident Evil nasceu como uma experiência que prometia assustar os jogadores. Para isso, a Capcom criou um jogo que contava com diversos elementos muito utilizados em filmes e histórias de terror: um grupo de pessoas, com pouquíssimos recursos para sobreviver, explorando uma mansão abandonada e se deparando com zumbis e outras criaturas mutantes dispostas a matá-los a qualquer custo.  É claro que, por trás disso, havia uma enorme conspiração e uma história muito mais profunda − e ainda assim maravilhosamente clichê – que fazia com que os jogadores desejassem sobreviver até o fim para testemunhar o desfecho de tudo aquilo.

Do primeiro zumbi a gente nunca esquece!
A série cresceu e se tornou uma das mais queridas da indústria, até que a Capcom decidiu mudar seus rumos. Acompanhando as tendências de mercado, a gigante japonesa decidiu dar um foco maior à ação do que ao terror, incorporando inimigos mais ágeis do que zumbis e até mesmo armados. Nestes jogos, os personagens controlados pelo jogador possuem um arsenal de causar inveja até ao exército americano e, o que era um jogo se sobrevivência, tornou-se mais um jogo de tiro em terceira pessoa, mas focado em bioterrorismo.

Um excelente jogo de ação, mas um péssimo survival horror...
Jogadores de todo o mundo protestaram, desejando que o terror retornasse à franquia, que acabou levando quase todos os títulos do gênero pelo seu caminho. A mídia também não perdoou: as avaliações se mostraram cada vez mais negativas e todos os redatores clamavam pelo retorno do terror. Mas será que é isso que a maioria deseja?

ZombiU, o legítimo jogo de terror e sobrevivência!

ZombiU foi o principal título de lançamento do Wii U. Desenvolvido pela Ubisoft, o jogo em primeira pessoa colocava o jogador em meio a um apocalipse zumbi na cidade de Londres. Com poucos recursos, os sobreviventes controlados durante a jornada deviam atravessar a cidade em busca de sua salvação e uma cura para o vírus que assolava o mundo. Por serem simples cidadãos londrinos e não soldados superpoderosos, os personagens possuíam fraquezas, uma pontaria trêmula e podiam morrer com qualquer erro estratégico por parte do jogador que os controlava, o que trazia uma enorme tensão para o jogo.

Em ZombiU cada passo deve ser milimetricamente pensado
A Ubisoft ainda fez questão de trabalhar os efeitos sonoros de maneira que o jogador sentisse medo do silêncio e de sua ruptura, com eventuais sons ecoando pelos corredores dos esgotos e becos de Londres. Com tal temática, somada à falta de recursos e fraqueza física dos personagens, é normal que os jogadores andem com cuidado e que ZombiU seja taxado como um jogo de ritmo muito lento. E foi justamente isso que aconteceu no ano passado. Acostumados com a nova tendência dos jogos de terror e nunca satisfeitos com nada, boa parte do público e da mídia se viram infelizes com um jogo tão lento e repetitivo, desejando que ZombiU fosse um bom shooter. Pera aí, shooter? Pois é, caros leitores, infelizmente foi o que aconteceu. A mesma mídia e os mesmos jogadores que desejavam o retorno do terror em Resident Evil foram os que desprezaram a incrível experiência criada pela Ubisoft no lançamento do Wii U. 

Só atirar não é a solução no jogo da Ubisoft
É claro que ZombiU não é um jogo perfeito. Na minha análise apontei alguns defeitos de jogabilidade que atrapalham bastante a experiência, mas que de maneira nenhuma tiram o brilho do conceito desenvolvido pela Ubisoft. ZombiU é um passo à frente no gênero Surival Horror e leva o significado da palavra sobrevivência ao pé da letra. Assim como em jogos de terror mais antigos, cada passo deve ser friamente calculado para que as situações sejam superadas sem grandes perdas. Mas o jogo não é apenas uma cópia de títulos antigos, pois graças à tecnologia atual e ao excelente uso do revolucionário controle do Wii U, a tensão, interação e imersão são levadas a outro patamar, de maneira que o jogador se sente parte de tudo que está acontecendo na tela, ainda mais se considerarmos que estamos falando de um jogo em primeira pessoa no qual não há um personagem principal, e sim sobreviventes anônimos tentando escapar de Londres.

Srta. Zumbi assustada ao ver como ficou Resident Evil 6
Falando em personagens, o fato de não haver um principal torna tudo ainda melhor. O jogador controla um simples avatar, morador de Londres que ainda não foi infectado. Caso o personagem morra, todos os suprimentos conquistados são perdidos e, para recuperá-los, é necessário chegar, com um novo sobrevivente, até o lugar onde o último morreu e derrotá-lo, já que ele se tornou um zumbi. O desafio do jogo é alto e o desespero por suprimentos faz com que, às vezes, o jogador tome decisões precipitadas e pague por isso. Como se pode notar, ZombiU leva o gênero a outro patamar em diversos sentidos, e mesmo assim foi bastante desprezado. Mas por que isso aconteceu?

A triste evolução da indústria

Vem acontecendo de uns tempos para cá, e é triste constatar, que diversos gêneros outrora consagrados estão sendo desconsiderados pelo mercado. Para confirmarmos isso, basta checar os jogos de maior sucesso dos últimos anos e as grandes promessas para a próxima geração: shooter ou jogos de esportes e corridas. O direcionamento é tão forte, que boa parte da mídia e dos jogadores considera a Nintendo carta fora do baralho, anunciando apenas o embate entre o PS4 e o Xbox One, desconsiderando até a existência do Wii U com as fantásticas e únicas experiências que seus jogos podem proporcionar.

O maravilhoso mundo dos shooters cinzas. Só que não...
Os jogos de terror são outros que estão sofrendo com o que está acontecendo. Há poucos meses, uma sequência do espetacular Eternal Darkness: Sanity’s Requiem foi anunciada por meio de uma campanha no Kickstarter e, depois de duas tentativas, a desenvolvedora simplesmente desistiu do projeto por falta de apoio. E agora eu pergunto: onde estão os jogadores que choram todos os dias sentindo falta de reais jogos de terror? Comprando Resident Evil 5? Porque este, curiosamente, tornou-se na semana passada o jogo mais vendido de toda a história da Capcom, superando até StreetFighter II, de Super Nintendo. Estranho pensar que esse é um dos jogos mais criticados de toda a franquia pelo abandono quase total dos elementos de terror que a tornaram famosa.

Shadow of the Eternals está fadado à escuridão...

Estamos perdidos?


Não necessariamente. Mas temos que considerar que a indústria mudou muito nos últimos anos e que os jogos estão se homogeneizando cada vez mais, de maneira que novas experiências que fujam à regra estão sendo desconsideradas por boa parte dos jogadores. O que a Ubisoft tentou realizar com ZombiU foi mal sucedido não por falta de qualidade do jogo, e sim porque grande parte dos jogadores de hoje simplesmente não está disposta a viver experiências como essas em prol de jogos de ação mais frenéticos e cheios de explosões e momentos épicos. ZombiU é um jogo introspectivo, em que os momentos épicos e experiências marcantes devem ser criados com o que se passa na tela em conjunto com a mente e imaginação dos jogadores, enquanto Resident Evil 6, por exemplo, dá de bandeja momentos épicos que fazem com que muitos jogadores tenham momentos catárticos a todo instante. Um é melhor que o outro? Não, são jogos diferentes. Mas se você sente falta de jogos como o primeiro, levante-se do sofá, compre jogos que ainda tentam ser assim e torça para que as vendas aumentem de maneira que as desenvolvedoras reconsiderem o gênero.

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Wellington Aciole
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