Idealizado pelo excêntrico Hideki Kamiya, The Wonderful 101 é fruto da parceria entre a Platinum Games e Nintendo, sendo um dos grandes títulos exclusivos para o Wii U. Como definir o jogo? Pegue a ação ininterrupta de Bayonetta, adicione o visual colorido de Viewtiful Joe, o sistema de desenhos de Okami e coloque uma pitadinha dos exércitos-miniatura de Pikmin. Misture tudo e o resultado é esse jogo frenético.
Todo mundo pode ser herói
A paz e a ordem no planeta Terra já foram perturbadas duas vezes pelo grupo alienígena GEATHJERK. Os humanos conseguiram repelir os invasores em ambas as situações e a tranquilidade reina novamente. Depois de muitos anos, o GEATHJERK volta a atacar, só que dessa vez a frota alienígena é muito maior. Contudo, a humanidade está preparada: após os conflitos anteriores, foi criado o CENTINELS, um grupo secreto cuja a função é proteger a Terra. Diante uma nova crise, entram em ação os Wonderful Ones, indivíduos espalhados pelo mundo e equipados com um exosqueleto especial que provê incríveis poderes. Todos eles formam a equipe The Wonderful 100, os protetores do planeta.GEATHJERK, os terríveis invasores alienígenas |
Muita cor e exagero
Já no prólogo é possível sentir a atmosfera exagerada e divertida de The Wonderful 101. A ambientação é baseada em super sentais, aqueles seriados japoneses com super heróis coloridos, sendo impossível não se lembrar de Power Rangers. As cenas são espalhafatosas e repletas de situações absurdas e malucas, assim como o diálogo bem humorado. Os personagens então… sim, eles são estereotipados, mas é justamente isso que deixa tudo divertido. Wonder Red é o típico líder moralista e justo; Wonder Blue é o revoltado e impulsivo do grupo; Wonder Green é o gordinho com sotaque francês que sempre está comendo algo e assim por diante. Junte esse tanto de gente maluca e o resultado será ótimo. Até os vilões entram na onda, como por exemplo um inimigo que diz: “Deve haver algum engano. Eu vim em busca de combatentes e não de um grupo de cosplayers coloridos!”. Prepare-se para sorrir o tempo todo com esses diálogos.A direção de arte segue uma linha parecida: tudo é colorido, vibrante e cheio de detalhes, criando aquela vontade de explorar todos os cantos do cenário. A visão é isométrica e a ação é vista de longe, com um efeito visual que simula a aparência de uma maquete. É muito legal ver inúmeros pequenos heróis correndo e pulando de maneira coordenada. Destaque para as armas: por serem feitas da união dos vários personagens, é possível ver as pessoas grudadas dentro dos objetos, que são translúcidos e coloridos. O único porém são os modelos dos protagonistas, que não são lá muito elaborados e possuem aspectos meio "quadradões". Como a ação é vista de longe na maior parte do tempo, você acaba não percebendo isso, mas a simplicidade fica bem aparente nas cenas não interativas.
A união é a força
The Wonderful 101 é um jogo de ação e pancadaria. O jogador controla um grupo de heróis que sempre se movem juntos, seja na exploração dos estágios, seja nos combates. A jogabilidade é centrada na Unite Morph, habilidade que permite que os heróis se unam e formem armas e objetos. Para executar as transformações é necessário desenhar símbolos na tela do GamePad, ou realizar movimentos por meio da alavanca analógica direita. Um círculo cria um punho gigante, uma linha forma uma espada, já um S resulta em um chicote. Quanto maior o desenho, maior é a arma resultante. A Unite Morph tem outras funções, como criar pontes, revelar segredos e consertar objetos quebrados, ações essenciais para prosseguir nas missões. Pelos estágios, é possível recrutar pessoas comuns, que ganham uma máscara e podem ser utilizadas nas transformações.O objetivo inicial nos estágios é sempre seguir em frente, derrotando eventuais inimigos que aparecerem pelo caminho. Além das batalhas, os heróis se deparam também com alguns puzzles simples, cuja solução é obtida por meio de alguma Unite Morph. Em alguns momentos, o grupo entra em certas construções e a tela do GamePad mostra a câmera dentro do lugar, enquanto a TV exibe o exterior. Para prosseguir é necessário resolver algum puzzle, que envolve as duas telas. Por exemplo: em um momento os heróis adentram uma caverna até chegarem a um ponto onde existem alavancas que movem estruturas que estão do lado de fora e precisam ser alinhadas. Só é possível resolver o enigma com os dois ângulos de visão. Mesmo simples, estes momentos são criativos e utilizam o GamePad de maneira interessante.
The Wonderful 101 tem também uma grande variedade de situações. Em um estágio o grupo controla um veículo descontrolado por um caminho repleto de perigos; em outro momento o jogo vira um shoot’em up, com direito a power ups e tiros especiais; já em outra missão os heróis participam de uma partida de boxe entre robôs gigantes. São inúmeras as situações inusitadas e exageradas, sendo boa parte da diversão justamente a surpresa de uma nova maluquice. E não podemos esquecer dos chefes: eles são imensos e as batalhas contra esses seres possuem proporções épicas. Até nos segredos o jogo é maluco: vários Wonderful Ones estão espalhados pela aventura, um mais inusitado que o outro. São personagens como o Wonder Beer, Wonder Shopping, Wonder Locomotive e Wonder Beetle (que inclusive é brasileiro, da cidade de Manaus), simplesmente impossível não se divertir com tanta bizarrice. As tampinhas de garrafa, que funcionam como o sistema de conquistas, têm descrições curiosas. O próprio jogo não se leva a sério.
Se frustrando no caos
Mesmo com tantos lugares para explorar, puzzles para resolver e segredos para desvendar, boa parte das missões dos Wonderful Ones se passa em combate. Por meio das Unite Morphs, os heróis criam as armas necessárias para enfrentar os invasores. E é justamente nos confrontos que a maioria das pessoas acaba abandonando The Wonderful 101. Na teoria, o sistema de batalha é muito simples: escolha uma arma e ataque nos inimigos até derrotá-los. E você vai tentar fazer isso e possivelmente irá se frustrar.O que acontece é que o jogo explica tudo muito superficialmente e logo em seguida já te joga em combate. Imagine a cena: um grupo de pequenos heróis enfrenta vários inimigos, alguns pequenos, outros maiores. O resultado é um caos visual. Você tenta atacar, acerta algo no meio da bagunça e, quando menos percebe, não consegue formar mais nenhuma arma, pois o inimigo atordoou todos os seus heróis. Indefeso, o líder do seu grupo é facilmente abatido pelo oponente maior e você vai para a tela de game over. Você tenta novamente e a cena se repete várias e várias vezes. Ou então você até vence o combate, mas nem sabe muito bem como. Simplesmente frustrante.
Dominando a bagunça
Contudo, aos poucos, as coisas vão fazendo sentido. O jogador aprende quando atacar no momento certo, evitando assim que seus aliados fiquem atordoados. Aos poucos, passamos a ter domínio das particularidades das armas, utilizando-as nos momentos mais propícios. Aqueles inimigos imensos que te detonaram horas atrás? Você consegue ler seus movimentos, esquivar no momento certo e derrota-los com uma sequência devastadora de ataques. Quando menos se espera o combate se tornou algo natural e divertido.Uma vez entendida a mecânica básica, é hora de explorar as inúmeras possibilidades e nuances do combate. Combos, ataques combinados, sequências especiais e o uso de várias armas simultaneamente são só alguns exemplos. A todo momento, novos tipos de inimigos aparecem, cada um exigindo estratégias diferentes de ataque, com necessidades de muita experimentação e improvisação. O jogo incentiva também utilizar o maior número de armas possível, pois os personagens adquirem experiência e aprendem novos ataques. Técnicas especiais e equipamentos podem ser adquiridos em uma loja entre as missões, o que aumenta ainda mais as possibilidades de batalha.
Wonderful-Problemas
Mesmo dominando as mecânicas, nem tudo é perfeito. Em muitos momentos é difícil identificar onde está o seu personagem no meio da bagunça, o que resulta em ataques difíceis de esquivar. Outro problema é a câmera: por ser fixa, ela nem sempre mostra toda a ação. Perdi a conta de quantas vezes eu fui atingido por um ataque desferido por algum inimigo fora do meu campo de visão. Esse problema se agrava ainda mais no multiplayer, quando vários grupos de heróis correm pela tela.Desenhar símbolos na tela do GamePad é um conceito legal e funciona bem, mas não é muito apropriado para a ação frenética de The Wonderful 101. O que acontece é que toda vez que você precisa trocar de arma, é necessário tirar os dedos dos botões de ação, desenhar o símbolo e por fim confirmar com A. A velocidade da ação é reduzida durante o processo, mas isso não muda o fato de seu personagem estar basicamente indefeso enquanto você desenha. Para piorar, o reconhecimento de padrões não é dos melhores e os desenhos mais complexos se confundem com frequência, bastando uma pequena curva para tudo dar errado. Por exemplo, você tenta fazer o símbolo das garras (algo parecido um Z), mas acaba com um chicote. Pessoalmente preferi usar sempre o analógico direito por ser muito mais rápido e preciso.
Diversão maravilhosa
The Wonderful 101 é diferente de tudo o que você já viu. O título conta com uma aventura ousada e jogabilidade criativa, características reforçadas por uma atmosfera exagerada, inusitada e colorida. O combate pode ser intimidador em um primeiro momento, mas uma vez dominadas as mecânicas de batalha é fácil mergulhar e se divertir na sua complexidade e variedade. Alguns pequenos problemas, como a bagunça visual e desenhos reconhecidos erroneamente pelo GamePad, atrapalham a experiência de jogo. Por sorte estes detalhes são facilmente contornados. The Wonderful 101 é sim uma experiência caótica, mas também desafiante, divertida e única.
Arte: Douglas Fernandes
Prós
- Jogabilidade variada, contando com uso criativo do GamePad;
- Combate elaborado e repleto de possibilidades;
- Ambientação vibrante e única;
- Diálogos, personagens e situações divertidas;
- Grande quantidade de conteúdo.
Contras
- Caos visual atrapalha em muitos momentos;
- Sistema de identificação de desenhos impreciso.
The Wonderful 101 — Wii U — Nota: 9.0
Capa: Leonardo Correia