Desespero ou sabedoria? A Nintendo sabe o que está fazendo com o Wii U?

em 08/09/2013

Há pouco menos de um mês, defendi a ideia de que o Wii U parecia estar seguindo os passos do 3DS, portátil que iniciou sua vida com mu... (por Unknown em 08/09/2013, via Nintendo Blast)


Há pouco menos de um mês, defendi a ideia de que o Wii U parecia estar seguindo os passos do 3DS, portátil que iniciou sua vida com muitas dificuldades e problemas – que, por um momento, pareceram irreversíveis. Muitos disseram que a situação era muito diferente, por se tratarem de mercados diferentes com públicos-alvo diferentes, o que realmente poderia fazer sentido, se não estivéssemos falando de uma empresa como a Nintendo. Sendo assim, hoje tentarei, mais uma vez, mostrar de que forma a Nintendo está tentando fazer com que o Wii U obtenha o mesmo sucesso do Wii. Aliás, será que a Nintendo realmente precisa atualmente de um console com o mesmo índice de aceitação e vendas que o Wii teve em sua época?


Mercados diferentes, mesmo público     

A Nintendo é uma empresa de sorte. Diferentemente da Sony ou da Microsoft, que geralmente precisam se esforçar muito para atrair jogadores que desejem possuir seus consoles, a Big N possui uma base cativa de fãs que sempre estará disposta a jogar suas franquias exclusivas, e aí está a grande vantagem que a empresa possui sobre suas competidoras. Apesar do mercado de consoles portáteis ser bem diferente do mercado de consoles de mesa, algo que eu realmente vejo como uma verdade, a Nintendo possui know-how em ambos, de maneira que sabe adaptar seus grandes jogos para qualquer uma das duas situações.

As duas novas criações de Satoru Iwata
Consideremos, por exemplo, a franquia Luigi’s Mansion. Em sua estreia, no GameCube, a Nintendo nos entregou uma aventura curta, porém focada em sessões extensas de gameplay, de maneira que o jogo não possuía fases, e sim diferentes áreas que podiam ser terminadas em um só dia. Já no 3DS, Dark Moon apresenta uma estrutura de pequenas missões, que duram cerca de vinte minutos e que juntas formam uma aventura extensa e gratificante. Deu para notar a diferença? Enquanto a versão de GameCube foi pensada para ser jogada em uma tarde descompromissada de domingo, o jogo de 3DS foi criado sob o prisma de que jogadores de portáteis nem sempre desejam ou podem jogar por uma tarde inteira, mas sim no decorrer de pequenas partidas que podem acontecer no caminho à escola ou ao trabalho.

Luigi's Mansion funciona bem tanto em portáteis quanto em consoles de mesa

Apesar da diferença de ritmo nas aventuras, ambas são medalhões da Nintendo e qualquer fã da empresa tem interesse em jogá-las. Aí é que entra a convergência de público da Big N. Ao contrário do restante das empresas do mercado de portáteis e consoles de mesa, a Nintendo possui seu público cativo que deseja jogar seus títulos exclusivos de qualquer maneira, de forma que as vendas de um console da empresa são facilmente alavancadas pelo lançamento de suas franquias clássicas. O jogador que comprou um 3DS para jogar Super Mario 3D Land é o mesmo jogador que comprou ou comprará um Wii U para jogar New Super Mario Bros. U ou Super Mario 3D World, assim como o jogador que comprou um 3DS por Ocarina of Time 3D é o mesmo que comprará o lindíssimo bundle do Wii U que contém o remake de Wind Waker e um controle temático da franquia por um preço reduzido (outra clara referência à estratégia da Nintendo com o 3DS e seu console temático de OoT).  

A edição especial do Wii U começa a ser vendida no próximo dia 20
                                                                                                                     
Com isso em mente, é fácil perceber que a estratégia adotada pela Nintendo durante a E3, complementada pela recém-anunciada queda de preço e pelas datas de lançamento para todos os jogos, é voltada exclusivamente para aqueles que, desde o Nintendinho, são fãs cativos da empresa que ainda não tinham encontrado uma boa razão para comprar o console, já que seu lançamento não contou com nada muito grande vindo de seus estúdios internos.

Mesmo se GTA V saísse para Wii U, este seria o jogo do mês para os donos do console
Eu mesmo tenho diversos pontos em comum com esse público, o que até me caracteriza em parte como um Nintendista. Quando compro um console da empresa, busco, na maioria das vezes, seus exclusivos, sejam eles first, second ou third party. Faço isso, pois sei que títulos desenvolvidos exclusivamente para consoles da Nintendo possuem, na maioria das vezes, um nível de qualidade enorme. Além disso, se jogo videogames até hoje é por conta das franquias exclusivas da empresa, como Zelda, Mario e Star Fox. Mesmo assim, com o passar das gerações, comecei a gostar muito de multiplataformas que passam longe dos consoles Nintendo, o que me forçou a comprar outros consoles para que eu pudesse aproveitar uma geração por completo.

O melhor dos dois mundos

Com isso, você deve estar pensando: como a Nintendo vai conseguir obter sucesso na geração atual se ela está buscando apenas seus próprios fãs com esses últimos anúncios. A resposta é certeira: ela faz isso desde o Nintendo 64 e sempre obteve mais lucros do que todas as suas competidoras. Em primeiro lugar, desde o lançamento de seu console 64 bits até hoje, a Big N sofre do mesmo problema de falta de apoio de thirds em seus consoles. Uns dizem que a Nintendo não precisa delas, outros dizem que a Nintendo vai falir se não conseguir seu apoio, ambos com argumentos justos, alguns mais passionais e outros mais catastróficos.

Que dono de Nintendo 64 reclamou de falta de jogos?
A verdade é que a Nintendo acabou se tornando uma empresa de nicho, com uma base fiel de fãs e um número eventual de novos jogadores que podem ou não gostar do jeito de fazer jogos da empresa. Mesmo com vendas inferiores às de seus concorrentes, a Nintendo sempre obteve lucros imensos com seus produtos e é esse o motivo pelo qual ela ainda se mantém sozinha na indústria, se assemelhando muito à Apple. Contudo, para aqueles que dizem que a empresa vai falir caso não consiga trazer jogos multiplataforma para o console, eu pergunto: o apoio vai cair do céu?

GTA V passará longe do Wii U
A resposta claramente é: não. A Nintendo tem a ciência de que seus consoles carecem de títulos multiplataforma, mas o único jeito de atraí-los é obtendo uma boa base instalada que justifique os investimentos das desenvolvedoras. Se um console não possui uma quantidade satisfatória de unidades vendidas, é muito claro que poucas empresas vão querer gastar milhões de dólares para produzir um jogo que poderá vender no máximo cem mil unidades. Neste contexto, o único meio que a Nintendo tem de atrair desenvolvedores para seu barco é aumentando a base instalada do console. E como isso seria possível sem uma enxurrada de lançamentos exclusivamente voltados para os fãs cativos da empresa?

Splinter Cell: Blacklist é um dos poucos multiplataformas lançados para o console da Nintendo
Sendo assim, se a empresa obtiver sucesso em sua estratégia, até o fim do ano as vendas do Wii U tendem a aumentar muito, de tal forma que o console começará a se mostrar como um investimento mais seguro para as desenvolvedoras que por sua vez, começarão, aos poucos, a anunciar novos jogos para a plataforma. Com o 3DS a situação foi exatamente esta. Os grandes lançamentos de 2011, aliados à queda de preço do aparelho, fizeram com que as vendas fossem muito alavancadas, o que, por consequência, trouxe diversos anúncios de novos jogos para o console, que hoje possui uma biblioteca invejável.

E se tudo falhar?

É claro que a estratégia da Big N é um pouco arriscada, e nada do que estou dizendo pode se concretizar até o fim do ano. Mas isso é realmente um problema? Eu acho que não. Como disse há alguns parágrafos, desde o Nintendo 64, a Nintendo praticamente vive de seus exclusivos e, mesmo assim, consegue lucros astronômicos com seus produtos. O Wii, mesmo com uma quantidade absurda de consoles vendidos, não fugiu muito dessa cartilha, a não ser pela vantagem de ter cativado pessoas que nunca se aventuraram em um videogame por achá-los muito complexos ou desnecessários.

A Nintendo possui franquias para todos os gostos e idades
A Nintendo é dona de algumas das mais valiosas franquias da indústria e cativou um público fiel que nunca deixará de jogar seus títulos. Enquanto isso for verdade, com ou sem apoio de third parties, a empresa obterá lucros capazes de mantê-la no negócio. Sendo assim, a Big N está certíssima em buscar cada vez mais o apoio dos apreciadores de suas séries consagradas. O que poucos analistas enxergam (ou fingem não enxergar) é que mesmo sem Fifa e Call of Duty, os fãs de Zelda ou Mario não deixarão de possuir um Wii U, pois só nele é possível jogar as séries que justificam seu amor por videogames e, para a Nintendo, as receitas obtidas com isso ainda são suficientes.

Revisão: Samuel Coelho
Capa: Sybellyus Paiva

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