O Wii foi um dos consoles mais controversos de todos os
tempos. Adorado por uns e odiado por outros, o console foi marcado por uma
imensa quantidade de jogos de qualidade duvidosa, principalmente quando falamos
de títulos produzidos por empresas third-parties. Contudo, se olharmos com
calma, somos capazes de encontrar muitos jogos de qualidade ímpar que acabaram
ofuscados pela grande quantidade de jogos casuais de gosto duvidoso. Este é o
caso de Cursed Mountain — um survival horror desenvolvido pela Deep Silver em
parceria com a desconhecida Sproing Interactive —, que é calcado em conceitos
jamais vistos em qualquer jogo de videogame.
A montanha sagrada
Cursed Mountain conta a história de Eric Simmons, um
alpinista americano que parte para o Himalaia em busca de seu irmão, Frank, que
desapareceu no local à procura de um artefato sagrado. A montanha em questão,
Chomolonzo, é considerada sagrada pelo povo local e é palco de diversas lendas
e folclores que permeiam o budismo. Logo que chega à montanha, Eric percebe que
o lugar não é dos mais receptivos. Isolada e arrepiante, a montanha abriga
alguns vilarejos abandonados e espíritos de monges e alpinistas que morreram no
local. Tais fantasmas estão presos em Bardo, local espiritual em que as almas
fazem a transição entre o mundo dos vivos e o além.
O terror de Cursed Mountain é puramente psicológico |
Além disso, Simmons se depara com entidades sagradas da
religião budista e a jornada em si é cheia de referências e evidencia o bom
trabalho da desenvolvedora com pesquisas históricas e culturais sobre o local
em que se passa a aventura. A história é contada por cutscenes estáticas em que
Simmons narra seus sentimentos e impressões sobre sua escalada, além de revelar
as motivações por trás da busca de seu irmão pelo artefato.
Libertando almas
Cursed Mountain é um jogo substancialmente baseado em
exploração. No controle de Eric, você deverá subir a montanha explorando cada
nicho em busca de pistas que o levem a Frank. O level design de Chomolonzo é impecável, apresentando
ambientes variados, amplos e, ainda assim, consistentes. Todos os cenários
possuem itens espalhados pelos cantos, que ajudam o jogador a entender um pouco
mais a cultura local. Tudo isso faz com que a jornada seja muito imersiva, de
modo que o jogador se manterá ligado na aventura até sua excelente conclusão.
Prepare-se para explorar diversas vilas (quase) abandonadas |
Ao contrário do que estamos acostumados, Eric não possui
nenhuma arma de fogo, tampouco uma faca ou espada. Portando apenas uma pequena
foice sagrada usada para a escalada e a habilidade de se transportar para o
Bardo para enfrentar e libertar os espíritos que lá habitam. O poder, chamado de Third Eye, é um dos pontos altos do
jogo, já que o cenário muda completamente e se torna muito mais assustador e
sombrio. Visualmente, o Bardo lembra vagamente o Twilight World de The Legendof Zelda: Twilight Princess, mas as semelhanças param por aí.
O sistema de combate é um dos pontos altos da aventura |
O sistema de combate do jogo consiste em enfraquecer os
inimigos com a foice para, em seguida, libertar suas almas por meio de gestos
efetuados com o Wiimote e o Nunchuk. A mecânica é muito interessante e bem
executada e os controles respondem de forma precisa na grande maioria das
vezes. Contudo, em alguns momentos, os gestos podem não ser reconhecidos, prejudicando
a ação, que já é tensa por natureza. Mesmo assim, o inovador sistema de combate
é único e é um passo na direção certa para jogos do gênero.
Eric também é capaz de lançar projéteis de luz contra seus inimigos |
Infelizmente, durante as passagens de exploração, as coisas
não fluem tão bem. Os movimentos de Eric são lentos e controlar o personagem
pelos enormes cenários da montanha não é uma tarefa muito prazerosa. A lentidão
em sua movimentação fica muito evidente quando desejamos fugir de inimigos ou
mesmo batalhar contra os chefes rápidos e impiedosos encontrados pelo caminho.
Mesmo assim, o jogo possui bons controles e o problema está longe de ser algo
prejudicial a um jogo criado com tanto cuidado e esmero.
"Vem logo! Nunca vi alguém andar tão devagar..." |
Um elemento interessante incorporado à jogabilidade é que,
conforme se avança na aventura, a própria montanha se torna um empecilho para
Eric, já que a altitude faz com que o personagem tenha menos oxigênio
disponível e comece a alucinar. Nesse momento, o desafio do jogo aumenta
exponencialmente e não é possível saber se os espíritos encontrados pelo
caminho são reais ou apenas fruto da imaginação de Eric. A adição desse
elemento é extremamente positiva para o jogo, que se torna ainda mais
envolvente e imersivo na medida em que se avança rumo ao final da aventura.
Quando a arte supera a técnica
Dadas certas limitações técnicas do Wii, o trabalho efetuado
pela Deep Silver é admirável. Apesar das texturas em baixa definição, os amplos
cenários do jogo são muito detalhados e possuem uma direção de arte impecável.
Os ambientes são extremamente variados dentro do tema proposto e são
extremamente prazerosos de serem explorados. Além disso, a modelagem dos
personagens e os efeitos de partículas e luz do jogo são impressionantes e se
consagram entre os melhores vistos no Wii.
Os gráficos são acima da média para os padrões do Wii |
Cursed Mountain se utiliza muito da ausência de som para
melhorar a ambientação da aventura. O recurso cria um clima muito tenso e gera
um sentimento de apreensão nos jogadores, que se sentirão o tempo todo imersos.
Mesmo assim, as poucas músicas presentes na jornada também não fazem feio e
ajudam a tornar a aventura ainda melhor, assim como os efeitos sonoros
extremamente macabros e angustiantes.
Uma renovação no gênero
Mesmo com alguns defeitos, Cursed Mountain é um dos melhores
e mais únicos survival horrors dos últimos anos. Com um enredo envolvente, uma
ambientação bastante imersiva e um sistema de combate deveras inovador, o jogo
peca por alguns defeitos em sua jogabilidade, mas que de maneira nenhuma tornam
o jogo dispensável. Cursed Moutain é um sopro de novidade para um gênero que
vem apresentando, cada vez mais, títulos de qualidade duvidosa e deve ser
jogado por qualquer um que goste de sentir um arrepio na espinha ao jogar
videogames.
Prós
- Enredo envolvente;
- Sistema de combate inovador;
- Clima imersivo;
- Cuidado com os detalhes.
Contras
- A movimentação de Eric é muito lenta;
- Reconhecimento de movimentos falho em alguns momentos.
Cursed Mountain – Wii – Nota: 8.0
Revisão: Bruno Nominato
Capa: Diego Migueis