Ah, os anos 1990! Lembro-me de acordar cedo aos finais de
semana para ir até a locadora do bairro alugar algum lançamento ou mesmo para
aproveitar meus dias em fliperamas – duas atividades que hoje em dia estão
praticamente extintas. Apesar daquela época de ouro nunca mais voltar, estamos
vivendo atualmente uma fase em que as desenvolvedoras estão investindo pesado
em jogos retrô e em remakes de clássicos que ainda podem ser aceitos pelos
jogadores novos de hoje enquanto deliciam os fãs das antigas com um banho de
nostalgia. Foi assim com os recentes remakes de Castle of Illusion (Multi) e
DuckTales (Multi) e é assim agora com Dungeons and Dragons: Chronicles of
Mystara, coletânea produzida pela Iron Galaxy, estúdio interno da Capcom, que
reúne dois clássicos dos arcades dos anos 1990 acrescidos de um toque de
modernidade que deve agradar a elfos e cavaleiros.
Beat’em up de respeito
Chronicles of Mystara contém dois jogos: Tower of Doom,
lançado em 1993 e Shadow Over Mystara, de 1996. Com uma história simples, porém
muito acima da média para o gênero, os jogos contam a história de um grupo de
heróis que unem suas forças para salvar o mundo de Mystara, que está sob ameaça
de poderosos monstros, dark elfs e feiticeiros. Durante a jornada, os heróis
devem viajar por diversas regiões do local, lutando contra inimigos no melhor
estilo Double Dragon (NES) e enfrentando chefes ao final de cada estágio.
Ah...os velhos tempos! |
Contudo, esses jogos contam com um grande diferencial, que
consiste na adição de diversos elementos de RPG para atribuir mais conteúdo às
aventuras. Primeiramente, cada personagem – que pode ser nomeado da forma que o
jogador desejar – pertence a alguma classe, tal como nos RPGs clássicos, e isso
realmente traz diferença à jogabilidade. Enquanto o cavaleiro, apesar de lento,
é muito forte com ataques corpo a corpo e possui uma boa resistência contra
danos físicos, o mago tem mais facilidade na execução de ataques devastadores à
distância, mas possui um HP baixíssimo. Além disso, o jogo possui um sistema de
níveis que deixa os personagens mais fortes conforme vão derrotando inimigos ou
coletando itens pelo caminho. Tais itens podem variar entre armas secundárias,
anéis que fornecem poderes especiais, poções para recuperar a energia e moedas
para serem utilizadas em lojas acessadas ao final de cada fase.
É possível controlar diversas classes de personagens |
Além disso, a história da jornada dos personagens é contada
no intervalo entre cada fase, cabendo ao jogador selecionar o próximo passo da
aventura. As escolhas que fazemos durante o jogo não são simbólicas e realmente
afetam a jornada, de maneira que os jogos devem ser jogados mais de uma vez
para que seja possível conhecer todos os estágios e situações da aventura.
Um toque de modernidade
Tower of Doom e Shadow Over Mystara só foram lançados fora
dos arcades uma vez, exclusivamente no Japão, em 1999, para o saudoso Sega
Saturn. Sendo assim, essa é a primeira vez que os clássicos dos fliperamas fazem
uma aparição em consoles caseiros deste lado do globo. Com a missão de não
fazer feio, a Capcom tratou de incorporar diversas melhorias que adicionassem
ainda mais qualidade aos jogos, que por si só, já são excelentes.
As lutas contra os chefes são extremamente desafiadoras |
Ao contrário do que vem acontecendo com certos remakes de
beat ‘em ups clássicos, em que os gráficos são reformulados, tal como ocorreu
em Double Dragon Neon (PS3/X360) e Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles in
Time (PS3/X360), em Chronicles of Mystara a Capcom decidiu manter o visual clássico,
adicionando apenas um modo widescreen e a possibilidade de se jogar em uma
moldura que emula um fliperama (com inclinação da tela e tudo!). No Wii U a
história fica ainda mais legal, já que é possível jogar tudo apenas pelo
GamePad e, com ele, os gráficos ficam belíssimos. Além disso, os menus e telas
intermediárias são extremamente bem organizados e visualmente limpos e bonitos,
o que denota o esmero e o cuidado da desenvolvedora.
RAAAAWR! |
Para os aficionados por conquistas, os dois jogos contam com
um sistema unificado de pequenas missões a serem completadas no jogo, que vão
de derrotar um número específico de inimigos até coletar uma determinada
quantidade de moedas pelas fases. Tal sistema adiciona ainda mais ao fator
replay do jogo, já que sempre há estímulos para se retornar à aventura, que
pode ser jogada por até quatro jogadores em multiplayer local ou via Nintendo
Network.
O jogo é muito mais divertido se jogado em co-op local! |
Infelizmente, nem todos os campos de Mystara são tão
floridos como a Capcom desejava que fossem. Primeiramente, não é possível misturar
as duas formas de co-op em uma só partida, de forma que ou você joga online ou
com seus amigos na sua sala. Outro problema é que as partidas online caem
repentinamente, algo que força o jogador a buscar outra sala e continuar a
aventura com outras pessoas. Contudo, o jogo é mais recomendado para ser jogado
em modo cooperativo local, já que assim ficam garantidas muito mais risadas e
diversão, além de uma transmissão mais intensa do sentimento de se jogar um bom
beat ‘em up de vinte anos atrás.
Um retorno à era de ouro!
Chronicles of Mystara cumpre, com louvor, o que se propôs a
fazer. Contando com dois clássicos nunca antes lançados para consoles caseiros
no ocidente, a coletânea possui uma excelente jogabilidade, que mistura
ingredientes de RPGs clássicos aos tradicionais jogos de porrada e ainda
atualiza os jogos com um sistema competente de conquistas e multiplayer online.
Mystara é, facilmente, um dos melhores jogos lançados no eShop até agora.
Prós
- Estrutura de jogo inovadora;
- Diversos caminhos aumentam a longevidade do título;
- Modo cooperativo online ou offline para quatro jogadores;
- Jogar no GamePad é espetacular;
- Dois jogos pelo preço de um.
Contras
- Ocasionais quedas durante o modo online podem frustrar;
- Não é possível misturar multiplayer online com offline.
Dungeons and Dragons: Chronicles of Mystara – Wii U – Nota: 8.5
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Vitor Nascimento