Espaço, a lixeira final... embarque na mais fétida viagem da USS Enterprise em Star Trek the Next Generation (SNES)

em 07/08/2013

Cresci numa casa trekker, pois meu tio sempre gostou de comprar desde plantas da Enterprise até dicionários Klingon. Perdi a conta de quan... (por Thomas Schulze em 07/08/2013, via Nintendo Blast)

Cresci numa casa trekker, pois meu tio sempre gostou de comprar desde plantas da Enterprise até dicionários Klingon. Perdi a conta de quantas vezes fui intimado a assistir aos excelentes “A Ira de Khan” e “A Terra Desconhecida” em VHS e reprises do seriado na TV a cabo, então não é surpresa alguma que meu tio, também um entusiasta por videogames, tenha me dado alguns jogos inspirados em Star Trek de presente.

Os jogos inspirados em Star Trek
não têm um pingo de diversão...
E não se engane, amigo leitor: desde a celebração de 25 anos da série clássica lançada para o Nintendinho até o recente jogo inspirado nos filmes de J.J. Abrams, todos os games de Jornada nas Estrelas merecem uma jornada até a lixeira. Mas, um jogo em especial me traumatizou demais. Falo de Star Trek the Next Generation, lançado em 1994 para capitalizar em cima da série televisiva da nova geração, o game consegue ser menos emocionante que uma sessão de stand up comedy no planeta Vulcano.

A Ira de um jogador

Desde o primeiro segundo de jogo, fica bem claro que os programadores não faziam a menor ideia do que estavam fazendo. É tudo muito corrido e não existe sequer uma tela de seleção de opções. Há apenas uma imagem estática do grande Patrick Stewart anunciando que pesquisadores romulanos desapareceram na Zona Neutra e que a Federação enviou a nave Enterprise para descobrir o que aconteceu. Até aí, se você tem um pingo de apreço pelo universo de Star Trek, ainda é possível acreditar que o jogo pode ser bom, já que a imagem do grande capitão Picard ao som da linda música tema do seriado tem o poder de iludir os trekkers de plantão, mas logo na sequência aparece uma tela extremamente confusa.

É bem claro que estou a bordo da Enterprise, mas por alguma razão eu não consigo andar ou interagir com nada. Apertando o direcional para o lado só encontro algumas opções como “briefing”, “transport room” e “communications”. Aliás, eu sempre me perguntei quem diabos eu estou controlando nessas cenas a bordo da Enterprise. Posso ver Data, Picard, Riker, Worf e toda a tripulação na ponte, então quem eu estou controlando? E pior ainda, por que nenhuma das opções na tela faz o jogo começar? Ou ele já começou e ninguém me avisou? É tudo tão confuso que já estou torcendo para que eu seja um daquelas “Camisa Vermelha”, aí quem sabe uma raça hostil me mate assim que eu desembarcar no primeiro planeta e eu me livre desse jogo de uma vez.

O jogo é tão empolgante quanto olhar para essa imagem estática por horas

A fronteira final da chatice

Depois de navegar por infinitos menus cheios de informações burocráticas e inúteis, finalmente descubro que clicar em “Communications” era a escolha mais lógica, já que é preciso mandar uma saudação aos planetas antes de poder desembarcar neles. E é aqui que notamos que os diálogos parecem escritos por crianças de seis anos. Esqueça todas as tramas interessantíssimas do seriado, todas as alegorias políticas e metáforas sobre igualdade racial, pois o roteiro do jogo gira em torno de chatíssimas mensagens sem um pingo de criatividade que você é obrigado a ler de tempos em tempos. Elas se resumem a coisas como “Sou o Dr. Cocozinho e estou preso, venha me resgatar!”.
A trama é contada assim...
...mas é isso que eu vejo na tela.
Enfim, depois de receber sua missão na tela de comunicação, é preciso navegar por uma dezena de menus até a Enterprise tomar a rota certa e você poder desembarcar no único lugar dentre inúmeras opções que permitem o teletransporte. Acredite quando eu falo que acertar isso é bem complicado, pois a maioria das pessoas que conheço sequer sabiam que existem fases de “ação” e “combate espacial” no jogo. Uso aspas porque é bem estranho chamar de ação e de combate essas... coisas que o jogo proporciona.

Na parte de “ação”, você deve selecionar quatro entre as dezenas de tripulantes da Enterprise para ir ao planeta, onde meia dúzia de inimigos e de puzzles sem graça o aguardam. Na parte de “combate espacial”, você encontra alguns dos piores gráficos já vistos no Super Nintendo. Não bastasse toda a mediocridade técnica, os controles também não ajudam, e cada ação sua parece ter um pequeno e angustiante lag. Ou seja, o jogo possui três estilos de jogo, e todos são igualmente medíocres.

Uma cena de """""ação"""""

Droga Jim, eu sou médico, não desenvolvedor de jogos!

Com apenas três fases no total, o jogo pode ser considerado bem curto. Agora que penso nisso, talvez ele seja intencionalmente confuso a fim de mascarar a sua breve duração. A reunião da equipe de desenvolvimento deve ter sido algo como “E aí pessoal, como podemos fazer esse jogo curtinho durar mais? Hmmm... que tal tornarmos as três fases a coisa mais confusa já vista na história da humanidade?”, e assim nasceu esse pedaço de lixo chamado Star Trek the Next Generation.

Mass Effect: um jogo de Star Trek
feito direito
O mais triste é que fazer jogos inspirados no universo de Star Trek não deveria ser algo tão complicado. Basta utilizar um pouquinho de exploração interplanetária, meia dúzia de criaturas exóticas, um pouco de ação e de diplomacia temperados por bons diálogos... Nossa, eu acabei de descrever a saga Mass Effect, não é? Bem que o pessoal responsável pelos jogos de Star Trek podia ter feito algo parecido com o que a galera da Bioware fez em sua saga espacial, porque do jeito que as coisas estão, os resultados não poderiam ser menos fascinantes: uma vida longa mas cheia de jogos nada prósperos.
Revisão: Catarine Aurora
Capa: Diego Migueis
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