Algumas
desenvolvedoras tendem a fugir de todas as tendências da indústria, criando
experiências inimagináveis e inovadoras ou até mesmo revitalizando gêneros
atualmente esquecidos. Contudo, tal movimento nem sempre resulta no sucesso
esperado pelas desenvolvedoras. A Cing sempre buscou criar títulos nessa linha:
simples, inteligentes, interessantes e extremamente divertidos! Após o
lançamento de hits do Nintendo DS como Trace Memory e Hotel Dusk: Room 215, a desenvolvedora
decidiu investir em algo um pouco mais ambicioso. Tudo começou com o anuncio de
Project 0, em 2007: o jogo consistiria em uma mistura entre os gêneros de
estratégia, simulação e aventura, e seria lançado exclusivamente para o Wii.
Pouco tempo depois, o projeto, já mais encorpado, foi anunciado como Little
King’s Story, jogo que viria a se tornar um dos mais adoráveis, divertidos e
cultuados do console.
Alpoko, o reino dos sonhos
Little King’s
Story conta a história de Corobo, uma criança tímida e sem muitos amigos que
vivia tranquilamente a sua vida. Sem grandes ambições, o garoto se divertia com
coisas simples e costumava brincar sozinho em seu quarto. Em uma noite como
qualquer outra, Corobo é incomodado por alguns ratos e decide persegui-los. Mal
sabia o garoto que sua pequena aventura o faria encontrar um continente
desconhecido e uma coroa que faz com que todos os seus habitantes lhe tratem
como um rei.
Corobo no momento de sua coroação |
Logo que
encontra a coroa, o garoto é recebido por Howser, um cavaleiro completamente
pirado montado em sua fiel vaca, Pancho. O soldado oficializa a coroação de
Corobo e automaticamente se nomeia o conselheiro real do garoto. Além disso,
Liam e Verde, os
dois melhores amigos do menino, tornam-se seus fiéis ajudantes em sua nova
empreitada. Com isso, Corobo aceita sua missão de construir um reino,
administrar sua população e de quebra conquistar novos territórios em uma terra
linda, mas cheia de grandes problemas e desafios.
Pikmin encontra Age of Empires, que encontra Animal Crossing, que enc…
Little King’s
Story é uma grande mistura de gêneros consagrados na indústria reunidos em uma experiência
única e extremamente gratificante. O jogador controla diretamente Corobo, que
deve exercer todas as funções de rei que ele acabara de se tornar. O personagem
deve desenvolver seu reino, mas, para isso, deve coletar recursos e explorar
novos territórios que permeiam a cidade. Como a tarefa não é algo simples para
uma criança com um cajado, é necessário recrutar súditos para realizar as missões
pelo continente, e aí entra o tempero de Pikmin do título: os habitantes do
reino possuem diferentes funções que vão desde cavaleiro até simples
fazendeiros, sendo que cada função lhes atribui habilidades diferentes.
Enquanto os cavaleiros possuem muita habilidade em combates, os fazendeiros são
capazes de cavar buracos em busca de novos caminhos ou até mesmo de tesouros
escondidos.
Os habitantes de Alpoko são fiéis aliados do pequeno rei |
Dessa forma, antes de sair em busca de qualquer coisa que
esteja fora do reino, é necessário recrutar os súditos mais adequados para o
trabalho. No começo, todos os personagens são fracos, mas com o passar do tempo
e o desenvolvimento de Alpoko — que ocorre com a realização de quests e
obtenção de recursos — centros de treinamento e outras novas estruturas são
construídas, de maneira que a população se especializa e evolui cada vez mais
em suas atribuições. Falando nisso, ver seu reino crescer da maneira que o
jogador desejar e com o suor do próprio Wiimote traz um sentimento de conquista
e progresso muito agradável, característica pouco explorada na vasta biblioteca
do Wii.
Diversos inimigos são encontrados em sua jornada |
Durante a jornada ainda é possível conquistar reinos rivais
para expandir seu território e aumentar a satisfação da população quanto a seu
rei. Cada um dos sete possui características únicas e líderes bastante
característicos que garantirão boas risadas aos jogadores. Aliás, bom humor é o
que não falta na criação da Cing! Com diálogos ora afiados, ora simplesmente
adoráveis, o jogo passa sempre um clima prazeroso ao jogador, que se manterá
ligado até o final da aventura, dezenas de horas depois.
A jogabilidade lembra muito Pikmin |
Além da aventura principal, que é bem direcionada o tempo
todo, o jogo ainda conta com uma vasta quantidade de side quests, que são anunciadas
em um mural de avisos perto do castelo. Apesar de não serem obrigatórias para o
desenvolvimento do enredo, as missões tornam mais fácil o progresso na
aventura, já que itens importantes e novos recursos podem ser conquistados,
além de proporcionar muito mais horas de diversão aos jogadores, principalmente
aqueles que gostam de explorar cada cantinho nos jogos.
O reino de Alpoko é muito belo e aconchegante |
Como se não bastassem todos estes elementos de jogabilidade,
o jogo ainda possibilita que o jogador desenvolva laços com os habitantes da
cidade, participe de festas e eventos e simplesmente viva sua vida de rei, algo
muito próximo do que vivenciamos ao jogar Animal Crossing. Little King’s Story
é uma experiência completa que, com sua mistura de gêneros extremamente bem
executada, consegue agradar muitos tipos de jogadores simultaneamente, algo que
poucos jogos conseguem fazer com tamanha maestria.
O único ponto a ressaltar é que, estranhamente, o jogo não faz uso do pointer do Wiimote, uma decisão óbvia que acabou ficando de fora. Pikmin teve sua jogabilidade muito melhorada após a implementação do uso do Wiimote na linha New Play Control e essa adição teria sido muito bem-vinda à já incrível jogabilidade de Little King's Story.
Bonito de se ver, incrível de se ouvir.
Logo que ligamos o jogo pela primeira vez, duas coisas
chamam a atenção logo de cara: os gráficos e a trilha sonora. Tudo é muito
colorido, vivo e bem construído. Os personagens são carismáticos e os cenários
belíssimos, de maneira que nem mesmo as limitações técnicas do Wii são capazes
de tirar o brilho do título nessa área. As construções são ricas e detalhadas,
a natureza é viva e exuberante e o conjunto dos detalhes torna o jogo um
colírio para qualquer um que tente se aventurar nele por pelo menos dez
minutos. A história é contada através de cenas que parecem ter sido pintadas a
mão, o que torna tudo ainda mais bonito e agradável.
As Cutscenes estão entre as mais adoráveis já vistas no Wii |
Os personagens possuem vozes e o trabalho de dublagem é
excelente. Contudo, o que realmente brilha na parte sonora é a própria trilha
sonora. Contando com versões incríveis de músicas clássicas, a trilha emociona,
empolga e diverte os jogadores desde a tela de título até o rolar dos créditos
ao final da jornada. Quando apreciadas em conjunto com os cenários e situações
do título, temos um conjunto tão belo que, no Wii, apenas clássicos como Super
Mario Galaxy ou The Legend of Zelda: Skyward Sword conseguem se equiparar a sua
grandiosidade.
Um clássico desconhecido
Infelizmente, Little King’s Story é um jogo pouco conhecido e
que não obteve o sucesso comercial esperado pela Cing, que acabou indo à
falência não muito tempo depois do lançamento deste maravilhoso título.
Contudo, o jogo recebeu recentemente uma sequência desenvolvida pela Marvelous,
detentora dos direitos da franquia para o Vita que, apesar de não possuir a
mesma qualidade de seu predecessor, ainda consegue agradar bastante aos que
tiveram o privilégio de jogar esta aventura, que atualmente é muito difícil de
ser encontrada pela baixa quantidade de cópias disponibilizadas para venda.
Mesmo assim, Little King’s Story se consagra como um dos mais adoráveis e
divertidos jogos que passaram pela longa vida do Wii e, com certeza foi uma
excelente adição à biblioteca de jogos hardcore do console.
Prós
- Jogabilidade mistura gêneros de forma incrível;
- Muitas horas de gameplay;
- Gráficos e trilha sonora incríveis.
Contras
- Dificuldade inicial pode afastar alguns jogadores;
- A jogabilidade seria ainda melhor caso fizesse uso do pointer do Wiimote.
Little King’s Story – Wii – Nota: 9.5
Revisão: Luigi Santana
Capa: Sybellyus Paiva