Na entrevista ao importante portal japonês 4 Gamer, Shigeru Miyamoto deu fortes alfinetadas nos jogadores japoneses. De acordo com o lendário desenvolvedor, ele percebeu que em seus 30 anos fazendo jogos de ação a popularidade desses jogos caiu no Japão enquanto se manteve estável nos Estados Unidos. Isso seria uma característica dos próprios habitantes de sua terra natal, acompanhe a argumentação:
"A questão é que quando os japoneses não conseguem vencer um nível de dificuldade em um jogo de ação, eles não querem mais jogá-lo. Essa minha percepção pode ser aplicada a todos os jogos assim, e as pessoas os evitam por verem eles como jogos muito difíceis. No caso dos Estados Unidos, existem muito mais pessoas que realmente apreciam um nível de desafio maior e permanecerão com o jogo e tentar superar as dificuldades."
"[...] alguns jogadores gostam apenas de jogar, outros preferem terminar os jogos, e ainda outros preferem aumentar o desafio. Pessoas que procuram desafios desdenharão rapidamente um jogo considerado fácil. Mas ao fazer as coisas muito difíceis, aqueles que querem apenas jogar são afastados. Eu sempre quero acomodar a ambos nos meus jogos."
As palavras do mestre Shinja não formam bem recebidas por seus conterrâneos, veja algumas das respostas na matéria do sítio japonês:
"Sim, sim, tudo é culpa dos japoneses."
"A razão que eles desistem dos jogos é devido a esses idiotas que jogam a culpa toda nos seus consumidores."
"É porque agora eles só sabem como fazer jogos para crianças."
"Nintendo, a razão pela qual você caiu é por causa de seus intermináveis remakes, é por isso!"
"Certamente você precisa de perseverança para jogar no Wii U. Segurar aquele horrível e pesado GamePad foi demais para mim."
"Se você é uma criança sem dinheiro mas com muito tempo livre para usar jogando jogos muitos difíceis faz sentido, mas se você é um adulto com dinheiro mas sem tempo livre, o oposto é verdadeiro."
"Quem quer jogar um jogo onde você erra um pixel na tela e um toma gameover instantâneo?"
"O público dos jogadores envelheceu e não tem mais tempo para mergulhar em jogos difíceis de ação."
"Estão falando como se a dificuldade determinasse o quanto divertido um jogo é. É justamente o contrário - o jogo tem que ser divertido para manter você jogando e gostando do desafio."
"A verdadeira questão não é a dificuldade em si, mas o nível de esforço que você planeja em investir para superar um determinado nível de dificuldade."
"Os japoneses apenas se cansam mais rapidamente."
"Espere, se o que ele está dizendo sobre os japoneses serem desistentes é verdade, como é que Monster Hunter é tão popular ainda? Os estrangeiros não reclamam sobre como ele é difícil?
"Eu não consigo entendê-lo. Ele está culpando o fato dos jogos de ação venderem como água nos Estados Unidos mas não no Japão por causa dos japoneses? Culpar seus próprios consumidores dificilmente seria uma boa estratégia de negócios."
"Bom, você raramente vê jogos ocidentais tão difíceis assim que ninguém consiga terminá-los..."
"A demografia dos jogadores são diferentes nos Estados Unidos e no Japão, e os jogadores dos Estados Unidos tendem a ser mais comprometidos?"
"Supõe-se que jogos devem ser divertidos. Jogá-los não precisa ser tratado como um ato de auto-flagelação..."
"Agora a coisa está dividida entre muitos jogadores casuais e poucos hardcores. Você não pode agradar os pedidos de ambos ao mesmo tempo."
Alguns poucos, aparentemente, concordam como Miyamoto:
"Eu imagino que é por isso que os jogos sociais pay-to-win estão tão em alta agora."
"Jogos hoje são muito simples. Você deveria morrer se cometesse o menor erro."Eu me surpreendi bastante, sempre imaginei que os japoneses fossem mais devotados aos jogos. Não acho que ele esteja errado - quem sou eu para corrigir o Shigeru Miyamoto? - mas tenho algumas considerações sobre o que ele falou:
1) Como os leitores do portal responderam, nesses 30 anos os jogadores envelheceram e não dispõe mais de tempo para se dedicar como queriam a jogos muito difíceis. Principalmente, como outra resposta, o quanto de esforço você terá que realizar. Acho que deve ser o caso de muitos que ao ver que um jogo arrumará muito para sua cabeça, exigirá muito tempo para cobrir todo o conteúdo, ou ele é deixado de lado ou então você só pegará nele em férias, feriados ou folgas mais estendidas do trabalho. Não sou especialista em cultura e sociedade japonesa, mas o pouco que conheço, por lá há um ambiente de trabalho extremamente exigente e rígido que consome muito do tempo e mente dos japoneses.
2) Uma coisa é o nível dificuldade do level design das fases, dugeons e mapas, ou da IA de chefes e inimigos. Outra - que claro, também está atrelada - são os atalhos para vencer a dificuldade: pay-to-win, fim de GameOvers/Continues, checkpoints excessivos e tutoriais exagerados (este último já abordamos em um Analógico) são outros quinhentos.
3) Mas o principal é que nos 30 anos em que mestre Shinja faz seus magníficos jogos as coisas mudaram muito. Especialmente no NES e Super Nintendo o nível de dificuldade - que atingia patamares insanos as vezes - era o que mantinha você jogando justamente pela pouca duração dos jogos. Hoje os títulos têm mais meios de nos atrair: enredos mais complexos, jogos mais longos, destraváveis e etc. E mesmo assim, nos tempos de Nintendinho se sentíssemos que a dificuldade não era justa ou o jogo em si não valia a pena o esforço, obviamente ele nos afastava.
E vocês, o que acham? Miyamoto está certo totalmente? Mas ainda assim, foi sábio da parte dele dar essas declarações?
Fonte: My Nintendo News