Experiência tardia, paixão à primeira vista
Sou jogador desde 1992, e as minhas primeiras experiências foram com o encanador da Nintendo e com o ouriço azul da Sega. Sabe-se lá porque, acabei preferindo o Super Nintendo. Atitude que acabou me recompensando pois, alguns anos mais velho, acabei me apaixonando pelo mundo dos JRPGs. Títulos como Chrono Trigger e Final Fantasy III (ou VI) mudaram minha forma de enxergar as possibilidades dos jogos. Não deixei o encanador de lado, tampouco Donkey Kong, as tartarugas ninjas, Battletoads, etc. Na mesma época comecei a experimentar os adventures no PC de casa. Novamente levei um soco no estômago ao jogar Full Throttle e Day of the Tentacle. Quando Grim Fandango foi publicado no Brasil, fui um dos primeiros a comprar na loja, no dia que havia chegado o game. Depois passei por anos de PlayStation e PS2, debulhando RPGs, GTAs, FPSs, MGSs, e quase toda outra sigla que você puder imaginar. Claro, tamanha dedicação aos games não vinha sem um devido descuido irresponsável em outras áreas, como vocês podem imaginar. Eis que chegamos a sétima geração, com títulos e mais títulos obrigatórios que são "revolucionários", "ímpares" e provas de que os jogos são arte. Para mim, essa prova já havia sido dada há muito tempo, e reforçada inúmeras vezes, mas enfim. Amei GTA IV e Red Dead Redemption, me emocionei com Heavy Rain, gastei muito dedo com FIFA e continuei apostando nos JRPGs (que todos sabem, perdiam força a cada dia). No entanto, alguma chama foi se apagando dentro de mim ao longo dos anos de 2011 e 2012, e cheguei a 2013 desconfiando dos jogos, sem ânimo e cansado de todo o hype de cada lançamento. Como disse acima, Dark Souls me trouxe o ânimo de volta, mas ainda restava muito gelo a ser derretido. Precisava me apaixonar novamente.
Só tive a oportunidade de experimentar Super Mario Galaxy alguns anos após seu lançamento. Na verdade, apenas ao comprar um Wii U é que pude jogar alguns títulos que queria faz tempo, mas não podia por não ter o sistema. Posso dizer que fiquei muito feliz com essa escolha, afinal estou adorando The Legend of Zelda: Skyward Sword e The Last Story. Ainda assim, um jogo já relativamente velho (2007) de um dos personagens mais velhos da indústria, foi exatamente o game que me apaixonou. Controlar Mario pelos pequenos (ou não tão pequenos) planetas é uma das melhores sensações que já experimentei nos jogos - e acredite, já joguei muitos. Já no prólogo e nas primeiras fases podemos entender tudo que o jogo tem a oferecer; uma jogabilidade perfeita, balanceada e original; uma proposta estética e gráfica linda que respeita as possibilidades do Wii; uma trilha sonora de tirar o fôlego.
A simplicidade da galáxia do reino das abelhas, o segundo estágio do jogo, é algo único. São momentos que propõem diversão para todos. Pode parecer moralismo, mas em tempos de mulheres reificadas e seminuas nos jogos e de banalização de representações de guerra e tortura, é reconfortante ver que existem títulos capazes de tocar do mais velho jogador ao mais jovem com uma tenra proposta que simplesmente não precisa desses atributos. A nova roupa de abelha de Mario é tão fofa quanto usual para a proposta da fase, e mais uma prova da capacidade que o time de produção do jogo teve em criar e recriar experiências que emanam de uma série que está aí há muito tempo.
Saí do primeiro domo muito satisfeito com a qualidade do título, com todas as boas sensações que tive ao jogá-lo. Fui em direção ao segundo domo achando, inclusive, que já havia visto tudo do jogo...
Uma viagem inesquecível |
Um dos estágios mais geniais dos jogo
Eis que fui (ou foi o Mario, sei lá, chegam certos momentos que fica difícil divergir mãos, pés e corações) transportado para Space Junk Galaxy. A galáxia do lixo espacial já me conquistou nos primeiros segundos. Não sei se foi o lindo cenário ou a música relaxante e sensacional; não sei se foi a movimentação entre planetas, naves e lixos usando a gravidade; não sei se foi a alegria de guiar meu Wiimote em direção às pequenas estrelinhas. Como todo belo sentimento, ele simplesmente veio, sei lá de onde.
Os três estágios da galáxia são muito bem pensados e distintos entre si. Seja o primeiro passeio e a busca pela primeira estrela, ou até mesmo a briga com a aranha e a procura pelos segredos, tudo ali emana uma magia que só pode ter vindo de outro mundo mesmo. É difícil até expressar em palavras o que o game passa, por isso deixo abaixo um vídeo da primeira fase da galáxia, contando com a bela trilha sonora.
Sigo em frente, em busca de novas galáxias, com a certeza de que ainda há muito para desvendar e viver nesse brilhante título. E com a certeza de que a paixão pelos jogos pode vir do lugar mais inesperado, pode vir de uma pequena caixa esquecida há uns cinco anos no canto de uma loja não especializada em games.
E os games? E os games o que são, meu irmão?
Há quem diga que um bom jogo tem gráficos ultrarrealistas, outros dizem que o ótimo game é aquele que tem uma história e personagens dignos dos romances de Tolstoi. Tem gente que já acha que os videogames devem ter viciantes modos online. Tudo isso, e um pouco mais, não necessariamente ao mesmo tempo. Existem diversas maneiras de um jogo ser genial, de ser mágico ou simplesmente divertido. No entanto, diante de tanto hype com jogos ultrassofisticados, diante de tanto jogo que parece ser minimamente reciclado de um ano para o outro, diante de ideias que se repetem em fórmulas "novas" que são (quase que) automaticamente elevadas ao patamar da genialidade por jogadores e crítica, me parece que Super Mario Galaxy é a experiência mais autêntica e alegre que os jogos podem proporcionar. Quer saber? Eu fico com a pureza da resposta das crianças...
Revisão: Marcos Silveira
Capa: Diego Migueis