Algumas das mais importantes franquias da Nintendo estão,
infelizmente, sendo deixadas para trás com o passar das gerações. Entre tantas
que não recebem mais lançamentos, F-Zero e Star Fox são as que mais fazem falta
nos corações e consoles dos nintendistas das antigas. A primeira sempre
utilizou ao máximo os recursos de hardware disponíveis na época em que cada
título foi lançado, desde a já longínqua estreia da série no Super Nintendo em
1991, em que a Nintendo testava o Mode 7, uma engine que possibilitava a simulação de gráficos tridimensionais em
seu console 16-bit. A franquia recebeu versões para o Game Boy Advance, a qual muito
se assemelhava à versão de SNES, e uma espetacular adaptação para o Nintendo 64
com F-Zero X, título que mostrava bastante o potencial do console e da própria
franquia, que ousava colocar 30 competidores simultaneamente nas mais insanas
pistas sem o menor sinal de lentidão. Mas só depois de doze anos F-Zero chegou
ao seu ápice com as versões AX e GX, para Arcade e GameCube, respectivamente.
Um Arcade dentro de nossa sala!
F-Zero AX foi anunciado como um ambicioso projeto
desenvolvido através de uma parceria entre Nintendo, Namco e Sega. O projeto,
conhecido como Triforce, consistia no desenvolvimento de um título da franquia
de corrida para os Arcades que abusasse de gráficos realistas no intuito de
criar um dos melhores e mais frenéticos jogos de corrida de todos os tempos. O
desenvolvimento seguiu tão bem que a Nintendo decidiu aproveitar a oportunidade
para lançar outra versão, GX, para seu console de mesa da época, o GameCube. O
desenvolvimento do título ficou sob responsabilidade da Amusement Vision,
subsidiária da Sega, e o jogo foi lançado em 2003.
Infelizmente, AX mal deu as caras no Brasil |
Durante o desenvolvimento dos títulos, as desenvolvedoras
tiveram a brilhante ideia de adicionar elementos que integrassem as duas
versões do título. Com isso, entradas para os Memory Cards de GameCube foram
incluídas no cockpit de AX para que os jogadores caseiros pudessem, quando
jogassem a versão Arcade, fazer o download de novos personagens, pistas e
recordes que podiam ser transferidos para GX. A mania tomou conta do Japão e
dos EUA, mas, infelizmente, mal chegou a dar as caras por aqui (haviam
pouquíssimas máquinas pelo Brasil).
Redefinindo um gênero
F-Zero é conhecido por suas corridas frenéticas e sua
dificuldade aterradora. Felizmente, GX e AX levavam tudo a um novo patamar até
então inimaginável e até hoje não superado por nenhum outro título de corrida.
A versão cúbica do jogo contava com um modo Grand Prix, com mais de quinze
pistas inéditas e extremamente criativas e um rol de personagens gigantesco. As
corridas, assim como na versão de Nintendo 64, eram disputadas por 30
corredores e o nível de dificuldade era altíssimo. Logo de cara, o que
impressionava era a sensação de velocidade absurdamente alta que exigia
reflexos extremamente rápidos dos jogadores. Os controles, refinados e
responsivos ao extremo, tornavam o jogo muito gostoso de se jogar, mesmo com a
grande dificuldade. Os jogadores eram instigados a tentar novamente mesmo
depois de 30 tentativas frustradas de vencer, já que os controles eram tão
perfeitos que a derrota era puramente por falta de habilidade dos jogadores. E
não pense que para vencer basta correr sem bater em obstáculos! Seus
competidores possuíam uma IA extremamente bem programada e eles faziam de tudo
para impedir as ultrapassagens. Isso adicionava mais um ponto na jogabilidade:
a direção ofensiva. Era possível, por exemplo, bater com a lateral de seu
veículo no de seus rivais, o que podia resultar até na saída dos competidores
daquela prova. As corridas de GX são selvagens e perigosas, e é praticamente
impossível vencer sem eliminar na porrada alguns dos competidores.
As corridas eram intensas, com 30 competidores se digladiando pela vitória! |
As pistas possuíam um design único e cada uma delas era
completamente diferente da anterior. Alguns cenários se passavam apenas dentro
de tubos cheios de obstáculos em que era possível correr todo o percurso de
cabeça para baixo. Outros consistiam em saltos de alturas absurdas em que era
necessário manter o controle para voltar à pista sem bater em outros
competidores ou mesmo nos obstáculos na pista. Ainda haviam pistas no meio de
rios de lava ou em túneis submersos no oceano. A variedade era tanta que o jogo
sempre parecia novo e dificilmente cansaria qualquer jogador.
As pistas eram muito variadas e cheias de obstáculos |
GX ainda possuía o Garage Mode, modo em que era possível
customizar seu veículo com novas peças, que melhoravam a performance, e até
mesmo criar designs para eles. Para os mais pacientes e aficionados por
customização, era possível criar, do zero, desenhos para serem pintados nos
veículos do jogo. Hoje isso pode parecer pouco, em uma época de jogos
completamente customizáveis pelo jogador, mas há dez anos era quase algo de
outro mundo!
Era possível customizar todos os veículos |
Como se não bastasse tudo isso, ainda havia o Story Mode,
modo que trazia um grande ar de novidade para o gênero. A Nintendo e a
Amusement Vision decidiram expandir o criativo mundo de F-Zero inserindo um
modo de missões, intercaladas com algumas das mais lindas CGs vistas no cubo
mágico da Nintendo. O universo de F-Zero era muito rico e cheio de personagens
que poderiam vir a ser tornar importantes para a Big N, e o modo Story abusa
desse potencial, apresentando com maestria as histórias e motivações de cada
corredor presente no jogo. As missões saíam do esquema tradicional de corridas
e colocavam os jogadores em situações inusitadas e extremamente difíceis. O
desafio do modo Grand Prix era muito intensificado por aqui, e só os jogadores
mais habilidosos eram capazes de finalizar o modo e destravar novos veículos e
corredores para utilizar nas competições.
O GameCube não era muito famoso por suas funcionalidades
online, sendo que apenas a franquia Phantasy Star Online tentou se aproveitar
um pouco dos limitados recursos online do console. Contudo, a Amusement Vision
conseguiu encontrar uma solução para criar leaderboards:
a cada tempo realizado, o jogador recebia um password para ser digitado na página oficial do jogo. O código
inseria o jogador em um ranking mundial, o que adicionava ainda mais ao fator
replay quase infinito do jogo. Apesar de um pouco limitado mesmo para a época,
a solução foi criativa e mostrou a capacidade da desenvolvedora em não deixar
sequer um buraco em sua criação.
Algumas fases causavam até tontura nos jogadores menos acostumados com a franquia! |
Colírio para os olhos
F-Zero GX é um dos jogos mais lindos criados para o
GameCube. Impressionante até os dias de hoje, o jogo contava com uma sensação
de velocidade absurdamente alta e com trinta corredores simultâneos na tela. Os
efeitos de luz eram dinâmicos e era possível enxergar boa parte do percurso logo
no começo da prova, sem muitos carregamentos de cenário durante o percurso.
Tudo isso rodava suavemente a 60 quadros por segundo, mesmo no modo multiplayer
Split-Screen para até quatro
jogadores. Até hoje isso é um feito incrível da desenvolvedora, já que o
hardware do GameCube apesar de forte, não parecia poder fazer milagres até
aquele momento. As CGs do modo Story eram fantásticas e cheias de pequenos
detalhes que tornavam aquele mundo crível e belo. A trilha sonora abusava de
trilhas eletrônicas que se fundiam com rock da melhor qualidade, dando o clima
perfeito para as situações presenciadas pelos jogadores. Para completar, as
dublagens eram extremamente convincentes e combinavam perfeitamente com os
personagens da franquia.
Os gráficos muito realistas davam o toque final à qualidade do título |
Pérola atemporal
F-Zero GX é um dos melhores jogos de corrida já criados, se
não o melhor! Otimizado nos mínimos detalhes e claramente desenvolvido por
grandes fãs da franquia, o título chegou a níveis estratosféricos de qualidade,
o que foi bem mostrado pela mídia na época, que esbanjou elogios e notas
altíssimas para o jogo. Com um fator replay praticamente infinito e um desafio
fora do comum, mas extremamente estimulante, o jogo levou a franquia ao patamar
de grandes clássicos da Nintendo e ganhou uma legião de fãs por todo o mundo. É
uma pena, no entanto que F-Zero não deu mais sinais de vida desde Legends para Game
Boy Advance e que em recente entrevista, Miyamoto disse que enquanto não houver
novas ideias, a franquia continuará na geladeira. Bem que ele podia aplicar
essa lógica à New Super Mario Bros. e nos presentear com uma belíssima versão
do título de corrida para o necessitado Wii U. Só nos resta torcer!
Revisão: Alan Murilo
Capa: Diego Migueis