Sinta o lixo na palma de suas mãos com a Power Glove, um dos piores acessórios lançados pela Big N

em 15/05/2013

Aqui na Blast from the Trash , nossa humilde postagem semanal feita para alegrar suas noites de quarta-feira com as maiores bizarrices do... (por Thomas Schulze em 15/05/2013, via Nintendo Blast)


Aqui na Blast from the Trash, nossa humilde postagem semanal feita para alegrar suas noites de quarta-feira com as maiores bizarrices do mundo dos videogames, já vi um pouco de tudo: desde leitores defendendo o abismal sistema de pouso em Top Gun até outros alegando que Captain Planet deixou um grande legado aos jogos de plataforma. Então comecei a me perguntar se seria possível encontrar alguma pauta que fosse universalmente odiada, talvez um jogo tão ruim que fizesse todos os leitores cantarem felizes em volta de uma fogueira comendo marshmallows.

Essa semana precisei achar
algo que fosse considerado
universalmente "BAD"
Pensei em ET para Atari, quem sabe Shaq-Fu para o Super Nintendo, Elf Bowling 1 & 2 para o Nintendo DS ou até mesmo o Sonic the Hedgehog que saiu em 2006 para Xbox e PS3? Não, nada disso traria paz aos leitores nostálgicos tão dispostos a proteger suas memórias queridas. Eis que, enquanto arrumava meu armário e pensava em uma pauta incontestável, encontrei uma caixa empoeirada e, dentro dela... o lixo lixoso de todos os lixos lixosos, um acessório absolutamente medíocre, um item que, com o perdão do trocadilho, caiu como uma luva para nossa coluna, a...

“Power Glove... It’s so bad!”

Como produtora de videogames, a
Mattel é uma excelente produtora
de bonecas
Lançada em 1989 como um periférico para o Nintendinho, a Power Glove não teve qualquer envolvimento da Big N em seu processo de criação, já que a luvinha foi desenvolvida pela Abrams/Gentile Entertainment e produzida pela Mattel. Pois é, a companhia responsável pela Barbie fazendo um controle para videogames, tinha tudo para dar certo mesmo, não é?

Muito da má fama da Power Glove se deve não só à sua péssima performance, mas também ao comercial de uma hora e meia filme “The Wizard - O Gênio do Video Game”. Além de anunciar o excelente Super Mario Bros. 3 ao mundo, o filme mostrava uma criança alcançando uma partida perfeita do jogo Rad Racer graças ao uso da Power Glove, no maior exemplo de propaganda enganosa já vista até a chegada de Aliens: Colonial Marines. Um momento particularmente emblemático do filme é quando o antagonista Lucas, caricatura de criança vilanesca dos anos 1980, vestindo a Power Glove, diz que a adora porque ela é “irada” (uma tradução para a palavra inglesa “bad” vinda direto dos anos 1980). Confira a propaganda e o show de interpretação:


Como aprendemos pelas vendas de CDs do Justin Bieber, quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade, e isso se aplica muito bem à Power Glove, que graças a verdadeira febre que o NES havia se tornado no fim dos anos 1980, conseguiu vender cem mil unidades nos Estados Unidos. “Mas Thomas, cem mil nem é tanta coisa no mundo dos videogames!”. Pode até ser, mas só de imaginar cem mil lares com Power Gloves, já sinto um arrepio em minha coluna! Quantos lares e corações não devem ter sido destroçados quando as crianças ganharam essa luvinha de Natal?

Por mais que eu odeie a Power Glove, preciso admitir que esse
anúncio é a melhor coisa que já apareceu aqui no Trash.

Um sonar mais tonto que Zubat bêbado

A primeira coisa que você espera de qualquer artigo eletrônico que você compra é que ele funcione, certo? Um aparelho deve fazer tudo aquilo que se propõe a fazer, isso é o básico de qualquer tecnologia. Imagine comprar uma antena que não capta sinal, um ar-condicionado que não refresca ou um microondas que não esquenta comida. Qual a utilidade dessas coisas? É mais ou menos esse o sentimento que a Power Glove causa. Não importa qual jogo você tente controlar com ela, a jogabilidade certamente vai piorar brutalmente, e muitas vezes você nem vai conseguir apontar os controles para o lado desejado!

Poucos fios numa instalação bem discreta...
Embora a detecção de movimentos proposta pela Power Glove seja uma tecnologia inovadora, trata-se de um conceito extremamente falho. A luvinha consegue detectar o movimento dos dedos e dos punhos graças a um pioneiro sistema de detecção ultrassônico: o periférico emite sons inaudíveis aos humanos, mas captados na televisão. O problema é que os microfones de emissão da luva são de baixíssima qualidade, o que causava muita interferência e distorção e impossibilitavam um entendimento preciso dos movimentos. Pense em uma sensor bar do Wii exposta diretamente à luz solar e vai ter uma ideia do sofrimento e da imprecisão. Aliás, se você achava inconveniente instalar uma sensor bar fininha, experimente equilibrar três caixas enormes no pobre televisor! O resultado dessas emissões de sonar mais parecem um Zubat bêbado cambaleando pela Mt. Moon!

Mas quem dera a bagunçada instalação dos sensores fosse o único trabalho que você precisa ter antes de jogar... Para fazer a Power Glove “funcionar”, é preciso digitar um código na luva para que ela seja “calibrada” “adequadamente” ao game em questão. Nossa, haja aspas, hein? Mas não é pra menos, já que mesmo com o periférico novinho em folha e perfeitamente calibrado, não consegui sequer sair da primeira tela de clássicos como Super Mario Bros., Mega Man 2 ou Metroid.

Só quem ficou feliz com a Mattel foram os jogadores canhotos,
já que a Power Glove só foi comercializada em versão para destros.



Menos jogos que um PlayStation Vita

Normalmente, quando um acessório de videogames não recebe muitos jogos desenvolvidos especificamente para ele, nós ficamos tristes. A Balance Board do Wii, por exemplo, funciona perfeitamente e tinha muitos recursos legais que acabaram sendo subaproveitados pela ausência de grandes jogos feitos tendo especificamente o periférico em mente. Por outro lado, acho que todos podemos comemorar o fato de a Power Glove ter recebido uma biblioteca de jogos tão vasta quanto a do PlayStation Vita, certo?

Se você não consegue notar
que o jogo merece um selo lixoso
só por essa foto, melhor fazer
um exame de vista...
Apenas dois jogos foram lançados especificamente para tirar proveito dos recursos da Power Glove: Bad Street Brawler, um péssimo beat ‘em up e Super Glove Ball, um também péssimo jogo de... esporte? Difícil entender exatamente o que está acontecendo na tela, então eu mal saberia apontar a qual gênero pertence essa atrocidade. É curioso notar que, em mais um exemplo de sua sabedoria milenar, o Japão abriu mão de lançar todos esses jogos, o que acabou levando a PAX (responsável pela produção da luva no Japão no lugar da Mattel) à falência.

A pífia biblioteca de jogos específicos para a luva ainda poderia ter sido expandida com Glove Pilot, Manipulator: Glove Adventure e Tektown, mas os três jogos anunciados misteriosamente sumiram do mapa, graças a São Miyamoto! E assim, tanto a Power Glove como seus péssimos jogos se tornaram apenas uma página negra, porém importante, na história dos videogames.

Revisão: Bruno Nominato
Capa: Daniel Machado

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.