Os jogos da franquia Lego são muito conhecidos por pegarem
histórias e personagens famosos – sejam eles do cinema, dos desenhos animados
ou até mesmo dos quadrinhos – e transformá-los em paródias hilárias e ainda
assim fiéis às suas origens. Lego City Undercover, um dos títulos mais
esperados desta primeira safra do Wii U vai por um caminho um pouco
diferente. Sendo o primeiro jogo da franquia desenvolvido pela Traveller's Tales que não é diretamente baseado em
nenhuma obra de ficção e que possui uma história original, a desenvolvedora se deparou com o desafio de conseguir trazer brilho à sua franquia sem precisar
se apoiar em histórias já consagradas, e o resultado foi um jogo
divertidíssimo, mas que ainda peca pela simplicidade do seu gameplay.
Caos em Lego City
Undercover conta a história de Chase McCain, um lendário
policial que foi capaz de deter o mais cruel e perigoso criminoso que Lego City
já teve em toda sua história: Rex Fury. Algum tempo depois da captura do
bandido, ele conseguiu escapar de alguma forma, e McCain, que já não se
encontrava mais na cidade, foi chamado para, mais uma vez, deter o vilão. Ao
chegar na cidade, o policial nota que, apesar de seu clima solar, o caos está
voltando a imperar no lugar, já que Fury comanda uma grande máfia que começa a
roubar e destruir toda a cidade. Assim, portando apenas um tablet, que muito
lembra o GamePad do Wii U, e sua coragem, McCain parte em busca da captura de Rex
Fury.
Chase McCain e um de seus carrões |
Apesar de não ser baseado diretamente em nenhuma obra
consagrada, Undercover se aproveita muito de diversas fontes de inspiração para
tornar a aventura mais divertida. Quem conhece um pouco de cultura pop se
deliciará com todas as referências a diversos filmes que podem ser encontrada
durante a jornada. E não pense que elas são simples e sem graça: algumas delas
são capazes de arrancar risadas de qualquer um que as reconheça (espere até
encontrar Morgan Freeman em uma prisão, em referência clara a “Um Sonho de
Liberdade”). Todas as cenas são belíssimas e, apesar de não chegarem nem perto
de tirar todo o proveito do hardware do Wii U, são muito bem dirigidas e
engraçadas. Este, por sinal, é o maior estímulo para jogar a aventura até o
fim.
"Are you free, man?" |
Simplicidade massiva
Lego City Undercover é um jogo imenso. Seja pela exagerada
quantidade de colecionáveis ou pela gigantesca e adorável cidade que McCain
pode explorar livremente. O senso de progresso neste jogo é muito forte, já que
a história é muito bem encadeada e você tem o controle de quantos itens
colecionáveis pegou e quantos faltam para completar sua coleção. Além disso,
durante a aventura, o policial conquista os mais diversos disfarces, que lhe
concedem habilidades exclusivas e acesso a áreas antes inacessíveis. O jogo
também possui dezenas de veículos diferentes para serem utilizados pelas
andanças por Lego City, que é uma cidade variada e, como previsto, cheia de
referências a cidades reais.
A ponte Golden Gate é só um dos lugares recriados para o título |
Você nunca ficará sem nada para fazer em Undercover.
Contudo, o jogo sofre do mesmo mal que seus antecessores sofriam: seu gameplay
extremamente simplificado e sem fatores que tragam algo novo ou significativo à
indústria. Basicamente todas as ações realizadas por McCain são executadas com
o simples toque de um botão do GamePad. Os inimigos são derrotados com apenas
um golpe (impossível de errar), cofres são arrombados automaticamente (deixando
de lado uma bela oportunidade de utilizar o GamePad de forma criativa) e o jogo
segue sem grandes novidades quanto a isso até o fim. É claro que as novas
roupas concedem novas habilidades, que são muitas, mas o problema real está na
execução delas. São grandes ideias, mas executadas de forma medíocre.
McCain admira a imensa Lego City |
O GamePad é bastante utilizado no jogo: serve como um mapa
da cidade, comunicador, para que seja possível obter dicas de seus parceiros
sobre como executar a missão, e até mesmo como um scanner para localizar
criminosos e colecionáveis pela cidade. Contudo não há alguma função realmente
diferente e revolucionária. São elementos que adicionam ao gameplay e são muito
divertidos (espere até ver as expressões adoráveis dos personagens no GamePad
enquanto eles conversam com McCain), mas que nunca chegam a revolucionar a
forma com que jogamos videogames. Nenhum desses problemas torna Lego City um
jogo ruim, mas sempre fica aquele gostinho de que certas coisas poderiam ter
sido mais bem aproveitadas.
Ninguém mandou ter comandos tão limitados... |
O maior problema, no entanto, são as telas de loading.
Prepare-se para aguardar muito tempo até poder jogar, pois algumas telas duram
até mais de um minuto. Ah! O GamePad também serve para vermos a tela de loading
por dois lugares diferentes! Bom trabalho, Traveller’s Tales! Brincadeiras a
parte, é extremamente desagradável termos que esperar tanto tempo, ainda mais
em um jogo que deveria ser o mais fluido possível para que o fator imersão
fosse elevado ao máximo.
A exuberância de Lego City
Logo que você colocar seus pés em Lego City, notará todo o
esmero da Traveller’s Tales para sua criação. A cidade é vasta, colorida, extremamente
bonita e cheia de detalhes e segredos escondidos por todos os cantos. Os
gráficos do jogo são muito belos para um título de mundo aberto que ainda faz
parte da primeira leva de lançamentos de um novo hardware. As texturas são
muito bem definidas, assim como a modelagem dos personagens e localidades que
McCain atravessa durante sua jornada.
As cutscenes são belíssimas! |
A trilha sonora é um show a parte. Com músicas que remetem a
filmes e seriados policiais das décadas de 80 e 90, a trilha passa a sensação
de estarmos participando ativamente de filmes que adorávamos – e ainda adoramos
– assistir em tardes ensolaradas de domingo. As dublagens beiram a perfeição, já
que contam com interpretações primorosas e cheias de personalidade que passam
exatamente as emoções que os adoráveis personagens de Lego estão sentindo
naquele momento.
Aventura memorável
Mesmo com alguns problemas, Lego City Undercover é um jogo
muito bom e recomendado para todos aqueles que buscam uma aventura longa e
divertida para aproveitar seu novo console. A jogabilidade muito simplificada
atrapalha um pouco a experiência, mas o problema é facilmente compensado pela
história envolvente, carisma dos personagens e pelas referências e humor
inteligentes. Com a carência de títulos novos que o Wii U está sofrendo nesta
primeira metade do ano, Undercover é um must-buy,
e entreterá a todos os donos do console que aguardam ansiosamente pelo
lançamento de Pikmin3 e outras pérolas da Nintendo que só chegarão na segunda
metade do ano.
"Será que se eu bater naquela estrela eu fico invencível?" |
Prós
- Cidade gigante e belíssima;
- Muitas coisas para fazer;
- Centenas de colecionáveis
- Humor inteligente;
- História envolvente.
Contras
- Jogabilidade muito simplificada;
- Loadings de quase um minuto de duração.
Lego City Undercover – Wii U – Nota: 8.0
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Felipe Araújo