No Blast from the Trash dessa semana, vamos analisar um jogo dos X-men para Super Ninten- Ah, espera, não é um jogo sobre os mutantes da... (por Thomas Schulze em 03/04/2013, via Nintendo Blast)
No Blast from the Trash dessa semana, vamos analisar um jogo dos X-men para Super Ninten- Ah, espera, não é um jogo sobre os mutantes da Marvel? Então o que diabos o Ciclope está fazendo na arte de capa? Plágios e violações de propriedade intelectual à parte, esse filho bastardo de Scott Summers e do Juiz Dredd pode ocultar de um leitor mais desatento que a coluna dessa quarta-feira na verdade é sobre Timecop, um péssimo jogo baseado em um filme bem meia boca do Jean-Claude Van Damme. Então vamos juntos viajar no tempo e conhecer esse que é um dos piores jogos da história da Nintendo!
O guardião do lixo
Van Damme pagou alguns micos,
mas nada se compara a Timecop.
Desenvolvido pela Cryo Intercative Entertainment, empresa responsável por “clássicos” como Zidane Football Generation e Roland Garros French Open 2000 (Ah, vai dizer que você nunca ouviu falar deles?) e lançado pela JVC em 1995, Timecop, como você deve imaginar, foi lançado para capitalizar em cima da fama do filme Timecop - O Guardião do Tempo, até hoje o maior sucesso de bilheteria protagonizado por Jean-Claude Van Damme. Mas se você achava que participar da banheira do Gugu tinha sido o maior mico da carreira do astro do cinema de ação, prepare-se para mudar de ideia. Veja esse video:
Acredite, essa foto é menos
aleatória que o "roteiro" do jogo.
Viu? Pois bem, Timecop consegue ser pior que isso. Eu gostaria de estar brincando, mas a trama do jogo, que guarda poucas semelhanças com o filme que lhe deu origem, é tão estapafúrdia quanto a de um filme da sessão da tarde sobre cachorros praticando esportes profissionalmente. Aqui nosso herói Max Walker deve viajar através do tempo para impedir Hans Kleindast, um vião que pretende acabar com tudo simplesmente porque lhe deu na telha fazer isso. E é basicamente isso. Max se mete nas maiores confusões e enfrenta uma turminha do barulho em fases completamente insanas e sem lógica alguma. Por exemplo, no segundo nível Hans está extraindo metais do fundo do mar, então Max vai para baixo d’água lutar contra... lulas! Depois ele vai para a Wall Street e 1929 enfrentar gangsters e... um robô! Esses são só alguns exemplos, pois eu nem quero começar a falar sobre o duelo com jetpacks ou o combate contra o tanque munido apenas de uma pistola.
É você, Ciclope?
Desafiando as leis do tempo
Se existe algo que o mundo dos videogames nos ensinou é que, se o seu jogo não se chama Mortal Kombat, gravar atores e utilizá-los como personagens jogáveis não rende bons controles, ou sequer boa animação. Então no instante em que vejo atores digitlalizados se movendo em dois frames de animação na telinha do Super Nintendo, me lembro instantaneamente de toda a mediocridade de Batman Forever e me preparo para atribuir mais um selo lixoso de qualidade.
Contemple o lindo e realista visual do game.
Se o objetivo é destruir bombas,
vou quebrar esse cartucho
com um martelo!
Você sabe que os desenvolvedores não gozavam de suas perfeitas faculdades mentais quando o personagem principal pode desferir quatro socos altos em menos de um segundo, mas leva cerca de três segundos para virar da direita para a esquerda. Qual a lógica nisso? O tempo é distorcido de tal modo que Einstein se revira no túmulo. O mais legal é que por todo o longuíssimo período em que Max está se virando, ele fica vulnerável aos ataques inimigos. Bacana! Como compensação para a péssima mecânica de combate, há também armas de fogo disponíveis, mas boa sorte encontrando munição! Depois que você dispara as pouco mais de meia dúzia de balas disponíveis precisa voltar a confiar em seus socos e chutes. Se formos depender de um guardião bem equipado assim, estamos ferrados!
A viagem de David Cage
Você conhece David Cage, figurão da indústria de videogames, fundador da Quantic Dream e responsável por grandes jogos como Heavy Rain e Omikron: the Nomad Soul? Pois saiba que seu passado não foi tão glorioso assim, e ele acabou assumindo o cargo de compositor da trilha sonora de Timecop. Embora não seja possível especificar a quais substâncias o pobre coitado foi exposto nos estúdios da Cryo, podemos certamente afirmar que não deve ter sido nada saudável. Basta ouvir o tema da primeira fase para ter certeza:
Por baixo da música techno meia boca podemos ouvir um robô que inalou gás hélio falando “FBI... Get on It!”, algo como “FBI... manda ver!”. Até aí tudo bem, o grande problema é que, tanto no jogo como no filme, o FBI não tem qualquer relação com a trama, já que Max Walker trabalha para a Time Enforcement Commission! Se Max Walker viaja no tempo, parece que David Cage andava tendo outros tipos de viagem quando escrevia as músicas, não é mesmo?
Obrigado, Van Damme!
Walker e a qualidade do jogo
deslizando ladeira abaixo...
A maior parte dos pútridos niveis do jogo consiste em se deslocar para baixo o tempo inteiro, o que não deixa de ser uma bela metáfora para a qualidade do game. O layout dos cenários é terrivelmente confuso e na maior parte do tempo você vai se sentir um ratinho de laboratório num labirinto. Um labirinto infestado por inimigos que andam tão torto que parecem ter sofrido um acidente vascular cerebral que deixou sérias sequelas, de modo que dá até pena de bater neles. Você devia ter vergonha, Max Walker! Se seus inimigos mereciam alguma coisa não eram socos, mas sim assentos preferenciais no ônibus e atendimento prioritário na fila do banco! O pior é que, apesar dos inimigos presentes e do design completamente insano e caótico das fases, seu maior inimigo acaba sendo o cruel relógio, que marcha impiedosamente em contagem regressiva e acaba causando mais mortes que qualquer outro desafio do jogo.
"Por que vocês estão fazendo isso
comigo, pessoal? Chega de Timecop!"
Uma curiosidade digna de nota é que uma versão de Timecop estava planejada para o SEGA CD. Uma demo chegou até a ser lançada como brinde na revista europeia SEGA Pro, mas apesar do jogo estar completamente pronto, a JVC desistiu do projeto. Um raro ato de bom senso? Dificilmente. Prefiro acreditar que o próprio Van Damme, ultrajado com a lixosidade de seu jogo, visitou a sede da JVC e deu seu tradicional chute nos responsáveis pelo game até eles abolirem de vez o lançamento. E mais uma vez o mundo foi salvo por um dos maiores heróis do cinema de ação.
Revisão: Alan Murilo
Capa: Douglas Fernandes
Thomas Schulze
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