Jornada pelo autoconhecimento
Como dito, The Cave é um título de plataforma com diversos puzzles em que sete personagens, por diferentes motivações, decidem explorar a caverna que dá nome ao jogo. Para superar os obstáculos pelo caminho, contudo, os personagens devem cooperar, e o jogador deve selecionar três dos personagens para realizar sua missão. Como já esperado em títulos assinados por Gilbert, o texto é magnífico, com toques de humor inconfundíveis e extremamente sombrios. Durante a jornada, aquelas pessoas se depararão com seus conflitos pessoais, e o roteiro é tão bem escrito, que é impossível que os jogadores não se envolvam com as situações presenciadas.Aliás, esta é a maior qualidade de The Cave: os traços psicológicos de cada um dos personagens são tão bem delineados que a aventura é facilmente uma das mais envolventes lançadas nos últimos tempos. Não espere um clima solar em The Cave. Apesar do humor, o título é bastante melancólico. Desde a caverna, que é escura e passa um clima de tristeza, e ao mesmo tempo de aconchego, até os próprios conflitos éticos e tormentos pessoais de cada personagem farão com que você se sinta parte da aventura e se comova com o que está vivenciando.
Execução problemática
Apesar do brilhante conceito, The Cave perde boa parte de seu brilho devido à sua fraca jogabilidade. O jogo é sobre experimentação, e isso está longe de ser um problema, mas a forma com que tudo é executado pode frustrar a muitos. Funciona assim: cada personagem pode carregar apenas um item (não há um inventário), e eles são necessários para a progressão da aventura. O fato de só se poder carregar um item por personagem faz com que você deva retornar para áreas anteriores diversas vezes até identificar qual é o objeto correto para aquela situação, e isso é muito frustrante e acaba comprometendo muito o ritmo da aventura. Outro problema é que você não pode controlar os três personagens ao mesmo tempo, de maneira que os mesmos lugares devem ser atravessados no mínimo três vezes para chegar ao seu destino. Títulos como Trine permitem que os três personagens controláveis estejam à sua disposição a qualquer momento, e evidenciam a falha da jogabilidade do título. Outra opção seria criar uma mecânica de comunicação entre os personagens, em que um botão faria com que o personagem controlado chamasse os outros para perto, mas infelizmente, nada disso foi pensado para The Cave.Cada um dos personagens controlados possui salas e puzzles exclusivos que refletem sua personalidade e conflitos pessoais. Esses ambientes se chamam Twilight Zone e adicionam muito conteúdo à aventura. Para aproveitar ao máximo a jornada, é recomendável que se jogue com todos os personagens, pois suas peculiaridades fazem cada nova jornada valer a pena. Contudo, o grande volume de conteúdo presente no pacote acaba evidenciando mais ainda um dos problemas já citados: o excesso de backtracking. The Cave é um jogo extenso por si só, o que torna o backtracking algo completamente desnecessário e frustrante à aventura. O problema quebra completamente o ritmo e chega a desanimar os jogadores de continuar jogando. É lamentável como um título de conceito tão promissor e escrita tão acima da média tenha que sucumbir a tantos problemas de jogabilidade.
Mesmo assim, o título não possui apenas defeitos nesse sentido. Os controles são bastante precisos e fluidos e, se você insistir, encontrará muita diversão nessa experiência completamente única. As piadas, ambientação e personagens farão com que você fique preso àquele mundo, mesmo que ele não seja perfeito. The Cave não é apenas sobre se divertir, é também uma obra a ser contemplada e analisada e, por conta disso, deve ser aproveitado por diversas óticas que não apenas a pura descontração de se jogar um videogame.
A beleza escura da caverna
Além do roteiro, se há um ponto que deva ser elogiado em The Cave é seu altíssimo nível de produção. A beleza de The Cave não reside apenas pelo seu primor técnico, mas também pela arte presente em cada ambiente explorado pelos personagens. Alguns cenários se adaptam aos conflitos pessoais de cada um dos exploradores, tornando a experiência ainda mais intimista e profunda. É impossível não se envolver com as diversas situações vivenciadas. As músicas, efeitos sonoros e dublagem contribuem ainda mais para a imersão, já que são muito acima da média com faixas envolventes e vozes que tornam os personagens praticamente reais em seu imaginário. Não há do que reclamar quanto à produção do título e, no conjunto da obra, o eShop ainda não possui nada parecido neste sentido.Único e imperfeito
Se fosse apenas por sua proposta e enredo, The Cave seria facilmente um dos mais incríveis já lançados, não só para o Wii U, mas nos últimos anos e para todos os consoles. Contudo, a fraca execução do conceito no que tange a sua jogabilidade pode afastar muito os jogadores, a ponto de abandonarem o título antes de sua conclusão. Para ser aproveitado, o título deve ser visto como uma experiência intimista que transcenda a jogabilidade e se foque em algo mais psicológico. Se jogado assim, o título pode ser considerado um dos mais encantadores já lançados. E o eShop e o Wii U precisam de mais títulos como esse.Prós
- Ambientação incrível;
- Texto envolvente;
- Personagens carismáticos;
- Humor sombrio;
- Produção primorosa;
- Jogo como transmissor de sentimentos.
Contras
- Mecanismos de cooperação falhos;
- Excesso de backtracking prejudica o ritmo da aventura.
The Cave – Wii U – Nota: 7.5
Revisão: Luigi Santana