Os últimos meses têm sido ótimos para os fãs de James Bond. No aniversário de cinquenta anos de cinema do agente,
Skyfall consagrou-se de forma quase unânime como um dos melhores filmes do espião, abocanhando várias indicações ao Oscar e até mesmo ganhando um Globo de Ouro pela magnífica canção tema de Adele. No mundo dos videogames, a festa veio na forma de
007 Legends, mais um jogo de tiro em primeira pessoa do personagem feito para celebrar a data. Mas será que ele é digno do legado lendário do agente a serviço de sua majestade?
O nome é U. Wii U.
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Skyfall é uma linda celebração
do passado do espião. |
É impossível pensar em 007 nos videogames sem pensar em Nintendo e no
GoldenEye 007 da Rare. Qualquer análise sobre os jogos do agente secreto inevitavelmente faz comparações com esse clássico absoluto e imortal dos videogames. Então, quando
007 Legends foi anunciado para o Wii U, todos ficaram felizes e ansiosos por mais uma grande aventura de James Bond no universo da Big N, e curiosos para ver se ela poderia honrar o belo legado de
GoldenEye 007.
Se
Skyfall nada mais é que uma belíssima homenagem aos filmes anteriores, não seria nada mal se
007 Legends homenageasse o
GoldenEye 007 de Nintendo 64 e tantos outros grandes jogos do passado como
Everything or Nothing ou
The World is not Enough. O problema é que normalmente, quando se homenageia alguma coisa, o foco é realizar um trabalho bem feito que ilustre as virtudes do que se pretende homenagear, e
007 Legends parece não ter muita noção disso. Apesar de contar com seis filmes marcantes do agente secreto como pano de fundo para suas fases, o jogo acaba sendo o game de James Bond menos fiel a mais célebre criação de Ian Fleming, e possivelmente o pior jogo já protagonizado pelo personagem.
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Um dos poucos momentos do filme
registrados em 007 Legends. |
Os seis filmes utilizados como inspiração para a “homenagem” de
007 Legends são
Goldfinger,
On Her Majesty's Secret Service,
Moonraker,
Licence to Kill,
Die Another Day e
Skyfall. Peculiarmente, este último, mesmo sendo o mais recente da lista, acaba sendo o menos aproveitado de todos no pacote, contando com duas fases risivelmente curtas e sem sequer mostrar o vilão do filme. De todo modo, a sequência de abertura do jogo revive a abertura do próprio
Skyfall, com 007 sendo atingido por um tiro em um trem em movimento e caindo na água. Mergulhado, começa a ter memórias de antigas missões, e é aí que a "diversão" começa.
O espião que não me amava
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A fase de esqui consegue
empolgar bastante. |
007 Legends é provavelmente a mistura mais heterogênea que já se viu nos videogames. Parece que a equipe de desenvolvimento sofre de transtorno bipolar, ou apenas delegou certas fases para estagiários sem talento. Os níveis baseados em
Goldfinger, por exemplo, divertem bastante e passam a impressão de que teremos um jogo muito divertido pela frente. Há gadgets inteligentes para utilizar, os cenários são muito bem renderizados, especialmente os do fort knox, e a música tema de Shirley Bassey ecoando ao fundo só ajuda ainda mais o tiroteio a se tornar memorável. Do mesmo modo, as fases de
On Her Majesty's Secret Service empolgam demais em certos momentos, especialmente quando você está esquiando ao som do clássico tema orquestrado. Tudo num ritmo muito legal e adequado, indicando a possibilidade de
007 Legends ser um dos títulos mais divertidos do Wii U.
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Todo o trabalho e empenho dedicado a Goldfinger não foi aplicado
aos demais filmes de 007 Legends. |
Por outro lado, filmes como
Die Another Day e
Licence to Kill o colocam para enfrentar onda após onda de inimigos descerebrados e aparentemente infinitos. E é justamente nas fases menos inspiradas (e que infelizmente são maioria) que os problemas de
007 Legends começam a se tornar mais aparentes. Ter que passar meia hora atirando em hordas infinitas não é nada divertido e, principalmente, não faz com que eu me sinta como James Bond. Quero espionagem e engenhocas temperadas por um tiroteio moderado, e não uma reedição genérica de
Modern Warfare. Mas este nem é o maior dos problemas. Que tal enfrentar chefões de fase num esquema de controles que desde já se consagra como o pior clone de
Punch Out já feito? Blofeld, Oddjob e Gustav Graves são apenas alguns exemplos de batalhas anti-climáticas que você vai vencer em três ou quatro cliques burocráticos.
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Não espere entender a trama
apenas pelo jogo. |
Se você esperava um fio de coerência narrativa ou fases coesas e bem interligadas, pode procurar em outro lugar. Se você não assistiu os filmes, provavelmente não fará ideia do que está acontecendo na maior parte do tempo. A bem da verdade, se assistiu a todos eles a situação também não será muito diferente, já que alguns momentos chave das tramas foram colados fora de qualquer ordem lógica, enquanto outros foram completamente ignorados. Embora
007 Legends não possa de modo algum ser considerado um jogo curto, é altamente questionável a escolha de design de colocar apenas entre duas ou três fases para cada filme. Fica a impressão de que dedicar o jogo inteiro a
Skyfall ou a qualquer outro filme e construir várias fases menores para contar melhor uma só história teria rendido um jogo muito melhor.
007 contra a satânica Eurocom
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Hordas, hordas e mais hordas. |
Tive a oportunidade de testar
007 Legends também no PlayStation 3, e é com muito pesar que informo que o pessoal da Eurocom fez por merecer ter seu estúdio fechado. Se a versão da Sony e da Microsoft já não era um primor técnico, no Wii U o que já não era bom conseguiu ficar um pouco pior. Por exemplo, mesmo sem muito brilho, a jogabilidade das primeiras versões não chegava a me irritar e respondia de modo razoavelmente adequado. No Wii U, a mira simplesmente não responde do jeito que eu quero. Não fosse pelo excelente
Call of Duty: Black Ops II, eu poderia até pensar que o gamepad não foi projetado para jogos de tiro em primeira pessoa, mas fica bem evidente que o grande problema aqui foi mais um port porco e realizado às pressas e de má vontade.
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Lembra de quando a Halle Berry
ficou branca? Eu também não. |
Falando em gamepad, era de se esperar que o intervalo entre o lançamento da versão original e a de Wii U fosse gerar ao menos alguns usos interessantes do fantástico joystick da Nintendo, mas nada disso. E para completar a desgraça, até mesmo o visual do jogo consegue ser um pouco mais pobre que o das plataformas concorrentes. Algo inaceitável, levando-se em conta o imenso poderio do hardware do Wii U. O jogo ainda conta com sérios problemas de licenciamento. Daniel Craig, o ator que interpreta 007 no cinema atualmente, emprestou sua imagem ao jogo, mas não sua voz. Alguns personagens não se parecem em nada com suas versões cinematográficas, especialmente a agente Jinx, interpretada por Halle Berry no cinema, que misteriosamente se tornou uma caucasiana em
007 Legends. A captura de movimentos é risível, e vários personagens caminham como se tivessem sofrido um acidente vascular cerebral. Por fim, ainda encontrei algumas dificuldades para conseguir jogar online, graças aos servidores mal organizados.
Não, Sr. Bond, eu espero que você jogue!
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Um péssimo personagem
para um péssimo jogo. |
Diante de tantos problemas, chega a ser complicado recomendar 007 Legends a qualquer um que tenha um mínimo de apreço por seu dinheiro, especialmente quando já existem opções melhores do gênero no mercado para felizes proprietários do Wii U, como
Zombi U e
Call of Duty: Black Ops II. Mas se você é como eu e se sente obrigado a jogar qualquer coisa relacionada a James Bond, saiba desde já que Com
007 Legends Só Se Joga Uma Vez, e depois nunca mais.
Prós
- Você não é obrigado a jogar esse jogo
- Trilha sonora ocasionalmente empolgante
- Relembrar, mesmo que de forma estranha, grandes filmes.
Contras
- Enfrentar hordas infinitas de inimigos sem inteligência não diverte
- Controles sem a precisão devida e péssimo uso do gamepad
- Port piorado e preguiçoso da já fraca versão para PS3 e X360.
007 Legends – Wii U – Nota 3.0
Revisão: Luigi Santana