Blast from the Past: Rescue: The Embassy Mission (NES)

em 28/11/2012

Diante da concorrência feroz entre as três grandes empresas nas últimas gerações, alguns fãs da Nintendo construíram uma identidade própri... (por Lucas Palma Mistrello em 28/11/2012, via Nintendo Blast)

Diante da concorrência feroz entre as três grandes empresas nas últimas gerações, alguns fãs da Nintendo construíram uma identidade própria repleta de equívocos para se diferenciarem dos demais fãs de Sony e Microsoft. Dentre eles, o mito mais que equivocado de dizer que a Nintendo não se preocupa com gráficos em seus consoles, e, principalmente, de que alguns gêneros não são tradicionais da Big N, como, por exemplo, os FPS (tiro em primeira pessoa). Diante desse contexto, se faz necessário apresentar o primeiro, de uma longa tradição, de FPS em consoles Nintendo.

O primeiro FPS na Nintendo

Um dos gêneros mais tradicionais da história dos games, os FPS foram grandes nomes no início dos anos 90, levaram os jogo a um novo patamar de qualidade e inovação. Títulos para PC como Wolfstein 3D (1992), DOOM (1993) e Star Wars: Dark Forces (1995) foram marcos do desenvolvimento do gênero e da arte e dos games em geral, em gráficos, mecânicas e conceitos. Alguns bons ports de DOOM chegaram ao Atari Jaguar, Playstation e Super Nintendo nos anos seguintes, mas o FPS apenas chegou de fez nos consoles de mesa com o sempre célebre GoldenEye para o Nintendo 64 (1997).

Desde então, o gênero se estabeleceu nos consoles de mesa, e nos consoles Nintendo com grandes títulos exclusivos como Perfect Dark (N64 2000) e a trilogia Metroid Prime (GC e Wii - 2002, 2004 e 2007), além da presença das longas séries Medal of Honor e Call of Duty no Game Cube e no Wii. Sendo as versões do Wii, embora com limitações de hardware, possuidoras de uma jogabilidade particular e instintiva - ainda que difícil de se dominar.

Mas sendo o FPS um expoente dos games nos consoles domésticos, como foi sua trajetória? O que veio antes de GoldenEye? Eis que surge esta pérola ímpar da história da Nintendo e dos Tiro em Primeira Pessoa, Rescue: The Embassy Mission.

Hostages

Este jogo tratava-se de uma versão para o NES de um jogo francês de pouca repercussão de 1988 para alguns computadores pessoais da época (dinossauros como Amiga e Commodore). A versão para o Nintedinho saiu um ano depois rebatizado como Rescue: The Embassy Mission. Na história, que como muitos jogos da época só estava no manual, uma embaixada estrangeira em Paris é invadida por terroristas e os funcionários diplomáticos tomados reféns. Existe até uma breve cutscene onde vários bandidos saem de um único carro (aparentemente um veículo da linha dos fuscas de palhaços).

Você controlará um esquadrão de seis homens da GIGN, tropa de elite das forças armadas francesas, responsável pelo resgate dos reféns e da eliminação dos terroristas. Aliás, um problema recorrente em todo o jogo é a completa falta de instrução do que se fazer, mas esse problema identificamos hoje onde existem tutoriais nos jogos para qualquer movimento. Naquela época os gamers deveriam aprender na marra!

O GIGN - Grupo de Intervenção da Guarda Nacional - é a força de operações especiais das forças armadas francesas. Equivalente ao SAS Britânico, Força Delta nos EUA, ao Spetsnaz Russo, e aos nossos BOPE e GATE nas polícias militares carioca e paulista. Fundado após os incidentes nas Olimpíadas de Munique em 1972 (sequestro e assassinato de membros da delegação isralense) está presente em vários jogos ao longo dos anos, inclusive podendo ser controlado em Call of Duty: Modern Warfare 3 para o Nintendo Wii e DS. 

Franco Atiradores

Todo o jogo era dividido em três etapas. A primeira constituía num side-scrolling, onde você deveria guiar seus franco-atiradores pelas ruas próximas à embaixada a fim de posicioná-los em volta do edifício tomado pelos terroristas. O jogador deve seguir pelas calçadas enquanto desvia dos holofotes que simulam o local onde os inimigos estariam mirando com suas armas. Para evitá-los é possível se esconder atrás de muros, portas ou janelas, ou ainda, rolar, se agachar ou rastejar pelo chão. Um conjunto de movimentos interessantes para o NES.

Cada um dos três snipers que você tem disponível na sua equipe devem seguir a locais pré-determinados para manterem posição em torno da embaixada. Quanto mais snipers colocados, mais do prédio será possível cobrir e mais inimigos atingir, diminuindo o número de terroristas que enfrentará na etapa final. O curioso é que caso seus soldados sejam atingidos nas ruas, ele realmente morre! Há uma breve animação em seu sprite que se torna um anjinho e vai aos céus.

Na segunda etapa apresenta-se uma engenhosa simulação de FPS ou Rail Shooter onde você controla os snipers posicionados na fase anterior, mas desta vez, a partir da mira telescópica de seus rifles. Percorra cada face do edifício (para cada atirador posicionado anteriormente, mais faces estarão disponíveis) eliminando o maior número de terroristas possível para diminuir a dificuldade da próxima etapa. Sendo os terroristas aparentemente bonequinhos das placas de banheiro masculino.


Assalto à Embaixada

Depois de fazer todo esse trabalho da parte de fora da embaixada, é o momento de partir para o combate corpo a corpo. Um helicóptero deixará mais três de seus soldados no telhado do edifício, onde eles devem descer por rapel e entrarem pela janela (as que estejam quebradas por seus tiros na etapa anterior) do local. Você deve escolherá um da equipe para iniciar o ataque, e caso ele seja morto, a ação passará ao próximo.

Equipe toda posicionada preparando o ataque
Uma vez dentro do prédio, é hora da ação! Percorrendo cada andar e ambiente da embaixada será preciso enfrentar os inimigos e evitar atingir os reféns, pipocando pelos cômodos. Dependendo do nível de dificuldade, a esquerda na tela estarão disponíveis mais ou menos informações como o número de bandidos em casa piso e sua localização (de acordo com o número de atirados posicionados do lado de fora).

As mecânicas dessa etapa FPS são bem interessantes e quando relativizadas às mecânicas da época antes das engines da IdSoftware (de DOOM e Wolfstein). Casa andar é dividido em pequenos blocos quadrados, e em cada bloco você pode virar para os quatro lados em busca dos bandidos, que estão perambulando entre os locais. Também existem, claro, paredes e portas, que limitam sua movimentação entre os blocos. A decepção fica por conta da falta de uma mira real, você deve apenas ter o gatilho mais rápido e atirar antes de atirarem no jogador. Conforme o nível de dificuldade aumenta, mais rápido os inimigos são para atirar, ou entrar em campo em seu campo de visão.


Um pequeno passo para o jogador, mas um grande passo para os games

Pronto, após eliminar todos os terroristas o jogo chega ao fim, recebendo um breve relatório de seu desempenho e "ok". No nível mais fácil você pode terminar o jogo em pouco mais de cinco minutos, até sete caso consiga posicionar todos os snipers no começo. É ridiculamente curto (e também o era na versão original para os computadores). Embora cada nível de dificuldade modifique a forma como você enfrenta os elementos, como número de bandidos ou reféns, ausência de localização e quantidade de inimigos, e até mesmo diminuição do tempo limite de conclusão da missão.

Apesar deste tempo mínimo de jogo, é um título fantástico. Cada etapa tem suas próprias mecânicas, de side-scrolling, rail-shooter e first person shooter, e, especialmente cada parte interagia com as demais. Um nível de engenhosidade alto, sabendo muito bem como trabalhar e enfrentar os limites da sua época, além de, obviamente, portar um título para PC de forma satisfatória para consoles de mesa, um grande desafio naqueles tempos (embora com limitações de hardware e gráficos).

Etapa de Side Scrolling com o jogador dando uma estrelinha. 

Rescue: The Embassy Mission é uma das grande pérolas da história dos vídeo games e da Nintendo. Foi um dos únicos ports de sucesso de jogos de PC para NES e o primeiro FPS nos aparelhos da Big N, iniciando uma longa tradição de excelência e inovação do gênero nos consoles domésticos. O jogo também é um recado ao saudosismo pelos 8-bits e side scroling que eventualmente aparece em discussões internet afora. Mostrando como um jogo da terceira geração tentava ultrapassar, ou ao menos suavizar, os limites da plataforma 2D de modo a criarem e utilizarem as mais diversas mecânicas e jogabilidade. 

- Rescue: The Embassy Misson. Nintendo Entertaiment System/Famicom. Infogames/Kemco. 1988-1989.  

Revisão: Ricardo Bach
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