Um Paper Mario Bros.?
É dia de festa em Decalburg, a pacata cidade onde Toads vivem em harmonia. Todos preparam-se para presenciar o Sticker Comet rasgar o céu, um grande meteoro que seria capaz de realizar o desejo de qualquer um... incluindo Bowser. O grandalhão aparece diante de Peach, Mario e a legião de Toads para tomar para si o astro, mas acaba esbarrando-se com tanta força no objeto que o parte em vários pedacinhos que se espalham pelo Reino do Cogumelo. No entanto, um desses pedaços cai sobre a cabeça do próprio King Koopa, que, agora cheio de força, lança Mario longe e destrói toda a cidade. O bigodudo acorda um tempo depois e conhece Kresti, uma fada adesiva (comparações com Navi são inevitáveis) que acompanhará o herói em sua aventura. Juntos, ambos terão de viajar por várias fases para recuperar os pedaços do Sticker Comet e, é claro, salvar Peach - que, não preciso dizer, foi sequestrada pelo Bowser.
E quando eu digo "fases", me refiro a exatamente o que parece ser: estágios espalhados por mundos temáticos e organizados em um mapa à la Super Mario World (SNES). Como forma de melhor adaptar a franquia Paper Mario ao portátil 3D, a Intelligent Systems (desenvolvedora) trocou a livre progressão pelas áreas e cidades dos games anteriores por fases mais independentes. E, se a mudança faz da aventura melhor apreciada em curtas jogadas, acaba também reduzindo os diálogos e o elenco de personagens (que não é tão interessante e criativo como sempre foi). Ainda existem cenas cômicas e as conversas transbordam humor, mas em menor proporção. Sticker Star lança o jogador direto na ação. Mas essa ação é realmente divertida? Vamos descobrir!
Novas imagens do New Super Mario... Digo, Paper Mario |
Papel ou fraternidade?
O anúncio de um Paper Mario para uma plataforma portátil quebrou o padrão da série em ser lançada sempre para consoles de mesa, enquanto a franquia Mario & Luigi domina os portáteis. Enquanto alguns fãs ficaram ansiosos por Sticker Star no 3DS, outros prefeririam que um novo RPG dos irmãos Mario figurasse no portátil. Como resposta a essa discussão, pusemos as duas franquias numa batalha em turnos com o Blast Battle: Paper Mario vs. Mario & Luigi RPG
Colado em você
Eles dificilmente se esgotarão, já que estão em todos os lugares (embora, em batalhas com chefes, sua escassez se torna realidade), mas manterão os fãs de um RPG profundo afastados. Em suma, se Paper Mario era sinônimo de um game que, de forma simples e agradável, conseguia mergulhar o jogador no complexo mundo dos RPGs, Sticker Star fica marcado por ter uma mecânica de jogo simples que emerge o jogador num RPG de igual simplicidade.
Quem disse que adesivo era coisa de criança? |
É um acréscimo interessante à série, mas essa resolução de puzzles é, por vezes, específica demais e lhe obriga a voltar a fases anteriores sem lhe dar qualquer tipo de dica sobre como progredir. Tal problema está enraizado no pequeno número de personagens, que, nos games anteriores, eram responsáveis por amarrar os pedaços da trama e tornar divertida a resolução dos problemas locais. Se o game se propõe a ser mais direto, é paradoxal exigir esse tipo de exploração. Outras coisas também são mal explicadas, ficando a cargo do jogador descobrí-las, usar seu sexto sentido ou tirar proveito de experiências prévias com a franquia, como as mecânicas rítmicas de batalha e elementos escondidos de forma aleatória.
Recorte, cole, amasse...
Sticker Star é o Paper Mario que mais leva a sério o aspecto de papel da aventura. Mesmo The Thousand-Year Door e Super Paper Mario com suas mecânicas de origami e mudança de planos, respectivamente, não alcançam o nível de aproveitamento do fato de Mario e todo o seu mundo serem feitos de celulose como Sticker Star aproveita. Isso fica claro já no início do game, quando você deve encontrar todos os Toads escondidos de formas criativas como amassados em bolinhas de papel ou colados por adesivos do Bowser. Os cenários, mesmo que poligonais, são construídos por papelão, o mesmo para as barras de vida de Mario e seus inimigos. Já nas batalhas, é possível ser amassado e ficar alguns turnos sem atacar ou ser preso por clips de papel. Inimigos podem se arrumar em formas diferentes e formar dobraduras, aumentando seu poder de fogo. Nesse quesito, Sticker Star brilha (literalmente, pois existem adesivos brilhantes) e guarda várias surpresas.
Espera! Não era o Mario quem deveria estar nesse armário? |
E esses recursos só são possíveis por conta dos bons gráficos que levam a visuais bem acima da média do 3DS. Algumas coisas ficam estranhas quando feitas de papel (como a água) mas, no geral, Sticker Star é um game bem agradável aos olhos. Os cenários não trazem muita coisa nova, apostam mais na visão estereotipada do Reino do Cogumelo do que nas novas áreas que The Thousand-Year Door e Super Paper Mario fizeram muito bem em retratar (como Rogue Port e Boggly Woods). Felizmente, temos um ótimo uso do efeito 3D para compensar. O recurso faz com que os cenários fiquem muito profundos e há efeitos de perspectiva geniais. Sticker Star é um excelente título para se manter a chave 3D no máximo.
Além de ex-babá do Mario, ficamos sabendo agora que Yoshi foi um antigo faraó |
Canções agradáveis e tocantes enriquecem os ambientes e dão vida às situações do jogo. A qualidade da trilha sonora é alta, como sempre foi na série Paper Mario, e, em Sticker Star, a produção apostou em músicas que abusam de pianos, orquestras e vários instrumentos musicais. Se tiver um fone de ouvido, não hesite em usá-lo.
A volta dos que não foram
Mesmo que não tenham todos os amados elementos de RPG, Sticker Star nem sempre foi pensado para ser um aventura mais simples. As primeiras informações e imagens que tivemos do título mostravam parceiros de luta (um Chain Chomp) e uma estranha barra arco-íris que parecia ser algo semelhante aos Flower Points dos games anteriores.
E então, cola?
Paper Mario: Sticker Star agracia os fãs das primeiras duas sagas da série, ao mesmo tempo em que pega emprestado alguns elementos das clássicas aventuras de plataforma introduzidas em Super Paper Mario. Na tentativa de ser excepcional nessa mistura, Sticker Star não consegue ser ótimo em nenhum dos dois, apresentando algumas inconsistências que nos levam a questionar se a franquia realmente está progredindo ou meramente retrocedendo. Mesmo que os adesivos sejam interessantes e bem aproveitados ao lado de todo o aspecto papel do jogo, eles não dão conta do nível de profundidade que esperamos de um RPG.
Ainda assim, é uma aventura gostosa, cheia de humor, com um final emocionante, banhada por uma direção de arte de primeira e que ensinará um pouco sobre RPG a quem acha que Mario se resume a andar e pular. No fim das contas, Sticker Star diverte, mas, em vez de ser um jogo de Mario que se propõe a virar um RPG, temos um RPG que tenta, ao máximo, virar um jogo de Mario. Pois é, mal o aplicamos e o adesivo já está perdendo sua cola.
Depois de todos esses anos, Mario ainda não aprendeu que ficar de costas pra um Boo só piora as coisas? |
Prós
- Humor e carisma enriquecem a experiência de jogo
- Grande variedade de adesivos
- Mario e seu mundo de papel são bem aproveitados
- Visual e trilha sonora bons
- Efeito 3D bem utilizado
Contras
- Esquema de adesivos simplifica muito as coisas, tornando batalhas descartáveis
- Exploração abusiva e elementos de jogo mal explicados fazem o jogador empacar
- Personagens sem muita criatividade e em pequeno número
- Cenários genéricos não acrescem em nada à visão que já tínhamos do Reino do Cogumelo
Paper Mario: Sticker Star - 3DS - Nota Final: 8.0Gráficos: 8.0 / Som: 8.5 / Jogabilidade: 7.5 / Diversão: 8.5
Revisão: Jaime Ninice