Resident Evil (RE) consolidou-se como a franquia de “survival horror” mais famosa e bem sucedida de todos os tempos. A cada novo jogo anunciado da série, uma enorme expectativa é gerada entre os fãs e profissionais da área. Com RE4 não foi diferente e muitos estavam ansiosos pela estreia do jogo, que seria exclusividade do GameCube (e o foi por quase todo o ano de lançamento). Em 11 de janeiro de 2005, a espera chegara ao fim para os jogadores norte-americanos, que tiveram o prazer de apreciar um dos melhores jogos da série (para muitos o melhor). Mesmo quem não era fã do gênero sabia que se tratava de um game especial, e os fãs não tinham dúvidas: estavam diante de um clássico instantâneo.
O retorno do herói
RE4 ocorre 6 anos após os acontecimentos de RE2 e traz de volta à série o mesmo protagonista, Leon S. Kennedy. No seu primeiro RE, Leon era apenas um policial que acabara se envolvendo naquela situação (de enfrentar os mortos-vivos) e, após sobreviver em Raccoon City, entrou para o governo norte-americano tornando-se um agente secreto altamente treinado.
Nessa nova situação, a filha do presidente dos EUA, Ashley Graham, foi sequestrada e levada para um remoto e bizarro vilarejo na Espanha. Leon tem como missão, inicialmente, encontrar e resgatar Ashley. Durante seu progresso, entretanto, ele descobre que há muito mais além de um simples sequestro, e ele terá que salvar não somente uma garota, mas também o mundo inteiro dos planos do principal antagonista, Osmund Saddler, que é líder do culto Los Illuminados. Ocorre que, graças a Saddler, os habitantes locais foram infectados com um parasita chamado Las Plagas, e agora ele planeja infectar o resto do mundo. Mas, como sabemos, o mundo está sempre a salvo, desde que haja um agente secreto dos EUA por perto (!).
Cadê os zumbis?
Eles estão nos outros jogos da franquia, pois em RE4 os zumbis dão lugar a humanos infectados por parasitas chamados Las Plagas. Esse novo tipo de inimigo é conhecido como Los Ganados (os gados, em português). Diferente dos zumbis, que eram lentos e irracionais, os Ganados são bem mais ágeis e inteligentes, capazes de tomar decisões mais complexas, inclusive podendo agir coletivamente e utilizar armas de fogo. Comparado com esse implacável novo inimigo, fugir dos bons e velhos zumbis de antigamente parece uma tarefa simples como passar o dia com a família em um domingo monótono.
Com inimigos novos e bem mais ágeis, a jogabilidade também tinha que ser alterada para que fosse possível fazer frente a essa nova forma de ameaça. De fato, se antes era necessário fugir e economizar a munição o máximo possível, já que esta era bem escassa, em RE4 existe uma fartura de armas (se compararmos com os jogos anteriores), que podem ser melhoradas, dando uma pitada de RPG ao game, e apenas fugir não é, nem de perto, uma opção. Dessa vez, o jogador não vai apenas sobreviver, mas sim, passar à ofensiva, enfrentando os inimigos e precisando matar um número bem considerável deles para poder chegar ao fim do jogo e salvar o dia.
Outro ponto que foi alterado para uma melhor adaptação ao novo tipo de inimigo mais ágil, foi a posição da câmera, que fica atrás do personagem enquanto ele se move, mas direciona-se para cima do ombro direito nos momentos que ele usa a mira de sua arma e se prepara para atirar. Dessa forma, apesar de o campo de visão ficar comprometido, a precisão do tiro aumenta bastante, e mirar em pontos estratégicos como joelhos, para retardar um inimigo, ou na mão, para que ele solte sua arma, torna-se uma tarefa mais fácil. Todas essas mudanças foram muito bem recebidas pelos jogadores, dando um novo fôlego à série.
Desenvolvimento conturbado
Com Shinji Mikami, o criador da série, à frente do projeto, o desenvolvimento do jogo teve seus altos e baixos, o que gerou uma certa desconfiança por vezes, mas também aumentou consideravelmente o hype em torno do seu lançamento. Antes de RE4 chegar a sua versão final como hoje o conhecemos, ele passou por quatro outras, inclusive com diretores diferentes, mas que por motivos diversos não alcançaram o resultado esperado pela Capcom e foram alterados de alguma forma ou simplesmente cancelados.
- 1ª tentativa - o Demônio Pode Chorar
No período entre 1998 e 2000, o diretor Hideki Kamiya - que havia dirigido RE2 - estava à frente do projeto. Como o jogo tomara uma direção diferente do que se esperava do estilo de Resident Evil, decidiram tomar uma decisão diversa da inicial. Dessa forma, arrumaram um pouco o game, que foi lançado em 2001, intitulado Devil May Cry.
- 2ª tentativa - o nevoeiro
Já estando em desenvolvimento para o GameCube desde 2001, com Hiroshi Shibata (RE3) no projeto, foi apresentado na Tokyo Game Show de 2002 a versão que recebeu o apelido de Fog (nevoeiro). A história traz Leon lutando contra inimigos que parecem feitos de névoa, enquanto ele tenta se infiltrar no quartel general europeu da Umbrella. Sem qualquer anúncio, a Capcom cancelou esse projeto e começou um novo.
- 3ª tentativa - o homem dos ganchos
Essa versão foi mostrada ao público pela primeira vez na E3 de 2003. Leon dessa vez está em uma mansão assombrada, lutando contra inimigos “fantasmas”, ou algo do gênero paranormal, como bonecas que ganham vida e atacam com facas. Mas também há os inimigos zumbis, como o Hooked Man, um zumbi que usa ganchos para atacar, daí o apelido que essa versão recebeu. Ela foi considerada tão assustadora pelo próprio Shinji Mikami, que ele chegou a avisar antes de mostrá-la: “não mijem nas calças” (de medo, claro). Seja como for, o jogo foi considerado com muita paranormalidade para o estilo de Resident Evil e também não vingou.
- 4ª tentativa - a morte de Leon
Essa versão não chegou a ser mostrada ao público e pouco se sabe dela. Entretanto, nela há o retorno de zumbis e, segundo o dublador de Leon, Paul Mercier, um vírus tomaria conta do corpo do protagonista que morreria no final. Essa versão não agradou (claro) e teve que ter o seu script alterado para aquele que viria a ser o da versão definitiva.
Um marco histórico
Resident Evil 4 é um verdadeiro marco histórico no universo dos videogames. Não apenas é um jogo muito bem feito, recebendo o título de jogo do ano de 2005, pela Famitsu e pela Spike Video Game Awards, como também levou a já bem sucedida franquia Resident Evil ao nível seguinte. O sucesso foi tão grande, que ainda hoje ports do jogo estão sendo feitos e muitos fãs e especialistas da área, não sem motivo, o consideram como o melhor RE já feito até hoje. E para você, caro leitor, qual é o melhor jogo da série?
Revisão: Lucas Oliveira
* Essa matéria foi publicada originalmente na Revista Nintendo Blast #29.